Final Destination - Risk Of Death escrita por Paul Oliver


Capítulo 3
The Selly Diaries


Notas iniciais do capítulo

Aeeeeeeee mais um cap pra vcs! :D
GIGANTE, mas realmente não é intencional! Dessa vez não demorei muito, mas aproveito para avisar que o cap 4 pode demorar um pouco mais que esse. Mas enfim, esse cap segue da parte que parou o 2 (avá), e está BEM drámatico, e sem mortes, já adiantando. Mas isso não quer dizer nada, ou quer? kkkkkkk
Algumas explicações nas notas finais, mas leiam somente após ler o cap todo, hein!
Leiam e aproveitem! :)



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/339927/chapter/3

— Achei Carl! Nossa a gente ficou vinte e três minutos conversando ontem. — Louise disse enquanto checava a contagem dos minutos no gravador.

Carl abriu os olhos, suava e tremia muito. Meu Deus! Carl olhou a sua volta, tudo estava calmo como antes, todas as pessoas continuavam sentadas nas cadeiras da recepção do St. Mary. O elevador... Johanna. Carl virou-se para o elevador e viu quando a ruiva saiu e disse algo reclamando sobre as portas. O rapaz se assustou ao perceber que já sabia disso. Vai acontecer. Shaniqua estava vindo até eles.

— O que houve, Carl? Você está tremendo. — Louise percebeu o estado do garoto.

Titanium! A Shaniqua vai vir aqui, e vai cantarolar essa música... — Louise olhou confusa para Carl. Shaniqua chegou próxima a eles com o fone de ouvido, ajeitou o cabelo e cantarolou uma música:

Ricochet, you take your aim. Fire away, fire away. You shoot me down but I won't fall... I am Titanium...

Louise olhou confusa para o rapaz, que tremia intensivamente. — Como você sabia que ela ia fazer isso?

— Eu vi isso, não só isso... Eu vi o hospital desabar, eu vi a gente morrer. — Carl dizia com os olhos cheios de lágrimas.

— Viu aonde? — Louise insistiu um pouco assustada. Enquanto Shaniqua tirou o fone de ouvidos, percebendo algo de errado com o garoto.

— Eu vi no... No meu pensamento.

— Viu o quê? — Shaniqua perguntou, mas Carl não respondeu. Pois viu Rosie, Selly e Angel saírem do corredor esquerdo, e Leonel vindo atrás com uma pasta em mãos. O momento está chegando. O médico ia explanar algo, mas foi interrompido pelo garoto que correu para próximo de Angel e Selly. — Eu vi, Angel! O prédio vai desabar, nós vamos morrer se ficarmos aqui! Nós vamos morrer!

— Calma Carl, o que houve?! — Angel disse surpresa, enquanto Rosie e Leonel se olhavam confusos. Selly ficou parada, estática, como se aquelas frases tivessem entrado em seus mais secretos e escondidos pensamentos, e os revelado.

— Alguém tem que cortar os remédios desse garoto! Ele está dopado! Por Deus! — Johanna disse já que conseguiu ouvir Carl.

— Cala boca, Johanna! — Shaniqua gritou se aproximando da ruiva.

— O que está acontecendo aqui? Eu pude ouvir ali do consultório! — Jeff surgiu do corredor direito, se aproximando do grupo. — Você sabe o que está acontecendo, Phil? — Perguntou para o rapaz de cabelos castanhos que já estava em pé próximo a ele, Wen estava ao seu lado, na cadeira de rodas.

— Com essas enfermeiras inúteis que trabalham aqui no St. Mary, não é de se estranhar que tenham errado na dosagem do remédio do garoto! — Johanna disse e Shaniqua voou pra cima da ruiva, jogando-a no chão, puxava seu cabelo, ou o que dava para puxar dele. Jeff interveio segurando a prima, e Phil correu para segurar Shaniqua, que estava nitidamente descontrolada.

— Levem elas pra fora, agora! — Leonel gritou, então Jeff e Phil levou-as para fora do prédio, Leonel foi atrás enquanto todos os pacientes olhavam a cena.

Selly se aproximou de Carl. — Tem certeza, querido? Tem certeza que o que você teve foi uma... Visão? — O rapaz assentiu ainda muito assustado. Selly ficou pensativa por alguns segundos.

— Eu vou ajudar a Shaniqua... — Angel ia dizendo.

— Leva o Carl para fora, agora! — Selly gritou.

— O quê? Mas ele...

— Angeline! Leva ele agora! Eu sou sua superior e estou mandando! — Angel olhou à senhora nos olhos, ela estava apavorada. A loira ainda confusa, puxou o rapaz pelo braço e correu com ele para fora do prédio.

— Ei! Aonde ela vai? — Rosie disse percebendo que Angel tinha levado Carl dali. — Eu preciso filmar isso, algo está errado, está errado... — A francesa disse procurando o celular no bolso. — Droga! Não acho... Louise! Me dá seu gravador e vem comigo!

— Mãe? O quê? — Louise disse meio atordoada. — Vem logo! — Rosie pegou o gravador das mãos da filha, e correu até saída do prédio, Louise a seguiu.

— Angel! Você não pode levar um paciente pra fora desse jeito! — Rosie gritava já descendo a escada do lado de fora do prédio, com Louise correndo ao seu lado. A francesa tentava ligar o gravador, conseguiu. — O que houve, Angel? — Ela conseguiu alcançar à loira.

— Eu não sei!

POW!

O barulho vindo do alto do prédio assustou as pessoas no estacionamento. Rosie, Angel, Louise e Carl correram mais para trás para tentar visualizar algo acima do grande prédio.

Johanna, Shaniqua, Phil, Jeff e Leonel estavam um pouco mais a frente, perto da caminhonete do médico, que estava estacionada um pouco mais próxima do prédio. O médico pode ver seu filho sair correndo enquanto guiava a cadeira de rodas de um homem. Wen, logo lembrou. Oliver correu com a cadeira de rodas, descendo os degraus todo desengonçado, o cadeirante reclamava algo, mas não era audível. Antes mesmo de se aproximarem da caminhonete vermelha, aconteceu.

O grande gerador despencou do alto do prédio, e como numa reação em cadeia o prédio foi rachando, os andares de cima foram os primeiros a caírem. Logo a fumaça da poeira dos escombros foi levantando e as pessoas no estacionamento correram mais e mais para trás, Phil se apressou para ajudar seu irmão a fugir também. Corriam como se algo estivesse atrás deles, fugiam dos escombros que instintivamente caiam para todos os lados, enquanto algumas ambulâncias e carros saíam do estacionamento às pressas. Poucos segundos depois, o prédio havia sucumbido totalmente, sobravam apenas... Escombros.

Apenas escombros?

Angel olhou mais atenta, como se estivesse lembrado de algo. Os grandes olhos azuis da loira se arregalaram.

Escombros e mortos.

XX-XX-XX

Leonel dirigia sua caminhonete, por sorte nenhuma parte do prédio caiu sobre ela, a não ser o pó. O pó daquele lugar que o médico exercera sua amada profissão por anos, o local que o ajudou a salvar muitas vidas. Mas agora aquele lugar estava caído, derrubado, vencido. Era como se tivessem tirado as asas de um avião ou então as vigas de sustentação de uma ponte. Assim que o médico estava se sentindo. Incompleto.

Oliver estava sentado no banco de trás, Carl estava ao seu lado. O rapaz estava com a cabeça encostada no vidro do carro, estava com vontade de gritar, de chorar, mas se segurava. Tentava fechar bem os olhos, mas tudo que vinha à sua mente era a visão, o acidente... O pós-acidente.

Carl ainda podia sentir a sensação após ver o prédio caído, podia lembrar-se da reação de um por um dos demais no estacionamento. Lembrava-se de como o rosto sorridente daquele rapaz de cabelos castanhos, mudara completamente para uma face de medo e pavor, e de como a expressão inexpressiva do cadeirante tomara um emanharado de ponto de interrogações. Viu quando Angel e Shaniqua gritavam desesperadas, por nomes de enfermeiras, empregados e pacientes que haviam ficado no prédio. Viu também o estado de choque que Jeff e Johanna ficaram. Pôde lembrar quando Rosie e Leonel, cada um de uma forma, deram apoio aos filhos, seja do simples fechar de mãos entre o médico e o filho, quanto o mais caloroso e intenso abraço entre a francesa e a francesinha. Carl pôde sentir novamente a pior sensação de sua vida, pode quase que escutar Angel gritar o nome novamente, e ele sentiu-se de novo desabando no chão do estacionamento, pode sentir outra vez a mão macia de Shaniqua sobre a sua, enquanto as suas lágrimas e as dela, caiam e se tornavam uma só no asfalto. Pôde visualizar novamente, Leonel segurando Angel pela cintura, impedindo-a de chegar até os destroços do prédio. Isso era um dos motivos para Carl estar com Leonel ali no carro, a loira simplesmente perdeu o controle de si mesma. Ali no carro, essas sensações voltavam a todo segundo à sua mente e em seu coração. Era como se ele ainda estivesse lá. Como se alguma parte de si ainda estivesse no St. Mary. Junto... Junto com Selly.

Lágrimas escorriam do rosto do garoto, muitas, muitas, muitas lágrimas. Oliver pôde ouvir um gemido de Carl, um gemido de dor, de medo, de saudade. O filho de Leonel sentiu seus olhos encherem de lágrimas também. Não, Oliver não conhecia Selly. Para ele, ela era apenas a enfermeira chefe do hospital em que seu pai trabalhava, mas estava impossível para ele ouvir e ver uma pessoa sucumbindo ao seu lado. Oliver acabou descobrindo, ali naquela situação, o quanto era emotivo. Pegou na mão de Carl, e o garoto de cabeça raspada a apertou o mais forte que pôde. Ele estava dando apoio, mais que apoio, estava oferecendo um saco de pancadas para Carl poder extravasar tudo, ou pelo menos amenizar a angústia. Carl apertava cada vez mais e mais forte a mão dele. Oliver não sentiu dor, sentiu-se melhor.

XX-XX-XX

Wen estava deitado no sofá da sala do apartamento que ele e seu irmão moravam, estava usando um pijama cinza e vendo TV. Era como se já estivesse esquecido tudo o que ocorrera na manhã daquele dia. Assistia a um programa quando a programação foi interrompida por um boletim de notícias, uma repórter se preparava para falar. Wen bufou.

—Foi na manhã de hoje, que o Hospital St. Mary of Nazareth, desabou. Faz algumas horas apenas. Estima-se que mais de 90 pacientes e empregados estavam presentes no local, por enquanto não foi encontrado sobreviventes, e o número de mortos ainda não foi informado. A polícia ainda está investigando as causas, mas é mais que certo para as autoridades que o prédio sucumbiu exatamente pela sua estrutura antiga que estava precisando de reformas. E vale lembrar que o prefeito da cidade, o Sr. Leonard Riley, estava abrindo o processo para a demolição do prédio. E um fato curioso: A advogada do prefeito, Rosie Di Fontana, estava presente no hospital e saiu minutos antes do desabamento, acompanhada de sua filha, Louise Di Fontana, e outras pessoas. O Jornal tentou se comunicar com a Doutora Fontana, mas ela negou dar qualquer depoimento sobre o caso...

Wen desligou a tv. Estava pensativo. Se aquele garoto, o filho do Dr. Cook, não tivesse feito o que aquela velha falou, e não ter corrido comigo para fora do St. Mary, eu estaria morto...

Eu finalmente estaria morto.

XX-XX-XX

Phil estava sentado em uma mesa na cafeteria do bairro de seu prédio. Jeff estava sentado ao lado do rapaz.

— Caramba, Phil. Eu estou surpreso até agora. Tinha tanta gente naquele prédio. Até agora não foi achado um sobrevivente sequer. — Jeff falou e bebeu um pouco de seu café.

— Eu estou totalmente pasmo. — Phil foi dizendo. — Você parou pra pensar, Jeff? A gente saiu minutos antes de tudo cair. Minutos!

— Sim, eu penso nisso a todo momento. E o mais estranho foi o que a Johanna me disse depois que eu a levei pra casa. Eu falei pra você, né?

— Da visão daquele garoto? Você me contou. — Phil disse com o olhar distante. — Ela te disse que o Carl... — O rapaz falou devagar para ver se esse era mesmo o nome do garoto. — Que ele teve uma visão do prédio caindo, e...

— E depois caiu. — Jeff completou a frase, e continuou. — Eu me arrepio quando penso que se ele não tivesse feito aquele escândalo, a Johanna e a Shaniqua não teriam brigado. E nós todos, eu você, elas, o Leonel e talvez até os outros... Estaríamos mortos agora.

— Faz sentido. Mas e o meu irmão? Ele saiu porque aquela senhora, a Senny...

— Selly. — Jeff corrigiu o rapaz, e deu um suspiro. Phil continuou. — A Selly... O Wen disse que ela, basicamente obrigou o filho do Dr. Cook levar ele dali. Ele disse que ela falava pra todos saírem, na verdade ela gritava, mas ninguém mais saiu. Só eles.

Jeff calou-se por um instante. — Por que ela fez isso?

— Ela deve ter acreditado no Carl. — Phil disse tomando um gole de seu café.

— De uma forma ou outra, nós estamos vivos por causa dele. Mas sabe no que eu fico feliz, Phil? — Jeff perguntou, mas ele mesmo respondeu. — Que a vida, o destino... Ou o Carl. — Sorriu. — Me deu a oportunidade de estar aqui com você, de poder continuar te conhecendo melhor, de poder começar uma história com você, Philipe. Uma história que eu sinto que vai ser longa.

Phil olhou para Jeff, e viu seus olhos e os dele chegarem cada vez mais e mais perto, até seus lábios se encontrarem em um beijo.

XX-XX-XX

O celular de Rosie não parava de tocar. A francesa estava exausta, não era nem oito horas da noite e a mulher estava deitada em sua cama. Pegou seu aparelho celular e tirou a bateria, não atenderia mais chamada alguma naquele dia. Ela já havia falado com o prefeito e mais algumas pessoas, mas agora estrava com uma horrenda dor de cabeça e não falaria mais com ninguém. Rosie fugira do local do estacionamento com a filha assim que chegaram os repórteres que insistiam em querer falar com ela. Passou a tarde toda fugindo de jornalistas. Jornalistas... O quão irônico é minha filha querer ser um deles? Rosie deu um sorriso torto.

A mulher sentia como se aquele dia tivesse passado muito depressa. Porém, as lembranças daquela manhã ainda estavam bem frescas em sua memória. Principalmente de Selly. A imagem da senhorinha não saía de sua cabeça. Pobre senhora, que pena que ela não conseguiu sobreviver. A Angel, o Carl e aquela mocinha negra choraram tanto. Meu Deus, foi de cortar o coração. A mulher sentiu novamente sua cabeça doer e virou para o canto da cama para poder descansar.

Louise entrou no quarto da mãe, ela estava vestida com um pijama, havia acabado de tomar banho e seus cabelos estavam soltos e um pouco úmidos. Louise estava sem os óculos. Esse era um dos segredos da garota, ela não precisava usar óculos desde seus 12 anos, quando fez uma cirurgia a laser, ela usava-os mais como um acessório, achava que não era a mesma pessoa sem eles. Louise se aproximou da mãe. — Mamãe, a senhora está com dor ainda?

Rosie se assustou um pouco com a filha ali, mas logo voltou ao normal. — Estou, mas não se preocupe, eu já tomei um remédio. Obrigado por se preocupar, amor.

Louise sorriu. — Mãe, você não acha estranho o Carl ter dito que o hospital ia cair, e depois cair mesmo?

— Claro que eu acho, mas não acredito em visões. — Rosie encostou suas costas na cabeceira da cama. — Eu acho que ele deve ter visto o teto se rachando, ou conseguiu ouvir algum ruído que ninguém ouviu, aí a sua mente o alertou de alguma forma que ali era um ambiente perigoso. — Louise a olhou confusa, e Rosie continuou. — Eu vi um documentário a respeito na TV, que os animais quando sentem que um ambiente está perigoso para eles, eles presentem o perigo. Com os humanos é a mesma coisa, ou vai me dizer que você nunca pressentiu algo, alguma situação que te fez recuar, minha filha?

— Faz sentido. Muito sentido, mas acho que a senhora está procurando explicações. Eu acho que nem tudo tem uma explicação, nem tudo precisa de uma explicação. — Louise suspirou. — Eu vi o Carl, mãe, ele estava do meu lado. Eu estava falando com ele, e depois de um segundo, ele parecia que tinha saído dali e voltado totalmente diferente. — Rosie olhava para a filha. — Ele só queria sair dali.

— É muito curioso isso tudo, mas eu continuo não acreditando em visões. — Rosie disse séria para a filha.

— Tudo bem mamãe, o importante é que nós estamos bem. — Louise sentou na cama ao lado de Rosie e abraçou-a.

— Sim, nós estamos bem, meu amor. É só o que importa agora. — Rosie abraçou a filha com mais força. — Eu te amo filha.

— Eu também te amo mamãe.

XX-XX-XX

Dora tinha acabado de tomar banho. Deitou-se na cama do hotel em que ela e Kurt estavam hospedados, já havia algumas horas que o casal havia chegado. Ele estava deitado na cama assistindo à televisão. Dora sentou-se na beirada da cama, Kurt a agarrou-a por trás e começou a beijar a sua nuca.

— Kurt pára... Aumenta o volume da TV! — Dora se desvencilhou do negro. Estava interessada na notícia que estava passando no televisor. O homem mesmo não entendendo direito, o fez. Dora acompanhava atenta cada palavra dita pelo repórter, que dizia mais uma vez sobre o desabamento do St. Mary, dando mais detalhes e atualizações sobre a catástrofe. Enquanto assistia, seus olhos se arregalarem cada vez mais, Kurt também se assustou.

— Meu Deus! Kurt! O St. Mary desabou! — Dora se levantou atônita e chocada com o fato. Com as mãos nos cabelos a mulher andava de um lado para o outro. — Será que a Selly, a Shaniqua, a Angel, todo mundo... Será que eles estão mortos?!

— Calma, Dora! Relaxa! Se algo de muito grave aconteceu à gente ia saber. Só não faz nenhuma burrada agora. — O negro disse com receio de Dora estragar seus planos. Bem que a Angel podia morrer nesse acidente mesmo. Eu poderia até voltar ao apartamento dela e pegar mais algumas coisas, ninguém desconfiaria, eu sou o namorado dela mesmo. Kurt pensava enquanto disfarçava o sorriso.

— Nossa! Todas as pessoas que estavam lá, os pacientes, as enfermeiras... Por que isso aconteceu? — A moça estava chocada com o acidente, sentou de novo na cama e reparou na tv, uma mulher ruiva dava uma entrevista ao vivo de frente ao prédio caído, Dora logo se lembrou. Johanna.

— Boa noite. Estamos aqui com Johanna Steverson. — O repórter dizia na tv. — Ela era uma das recepcionistas do St. Mary e estava no prédio na hora do acidente, mas saiu minutos antes do prédio desabar. O que te fez sair do hospital, Johanna? Você percebeu que o prédio ia ruir?

— Bom, boa noite. — Johanna estava ao lado do repórter e foi dizendo, ou melhor, mentindo. — Foi exatamente isso, eu realmente percebi que o prédio estava começando a cair. E eu tentei avisar todo mundo, mas ninguém acreditou em mim, mas por sorte eu consegui sair e levar meu primo, o Dr. Jefferson Torres, e o namorado e o cunhado dele para fora do prédio. Algumas outras pessoas também me seguiram, mas elas não têm muita importância.

— Sim, a senhora disse...

— Senhorita. — Johanna passou a mão levemente sobre o peito do repórter. Ele meio sem graça continuou.

— A se-senhorita disse que mais algumas pessoas conseguiram sair. Você chegou a ver a Doutora Fontana deixar o prédio?

— Sim, eu pude ver ela do lado de fora, com certeza ela deve ter me visto avisar o pessoal e me seguiu. Por nada, Doutora Fontana. — A ruiva disse olhando diretamente na câmera. — Ah! Eu quero deixar um aviso para o Sr. Prefeito. — Johanna se lembrou, e pegou o microfone da mão do repórter.

— Eu queria avisar, que eu estou entrando com um processo contra o hospital, e como o St. Mary é um órgão público, o processo vai diretamente contra a prefeitura da cidade. — Johanna dizia olhando fixamente para a câmera, enquanto o repórter educadamente tirou o microfone da ruiva, e perguntou:

— E qual é o motivo deste processo, senhorita Steverson?

— Como qual é o motivo?! Eu quase morri hoje de manhã! Se não fossem meus instintos em sair do prédio, eu estaria morta! Sem contar em todos meus objetos e documentos pessoais que ficaram lá.

— Então a senhorita acha que a culpa do desabamento é da prefeitura? — O repórter perguntou.

— Com certeza! Porque se o Sr. Prefeito tivesse levantado o processo rapidamente, e já demolido o St. Mary, isso não teria acontecido. Mesmo que fosse pra construir um estádio, shopping ou autódromo que seja, ninguém estaria morto. Ninguém. A culpa é toda da prefeitura e eu vou correr atrás dos meus direitos e principalmente da indenização!

— Bom, está deixado o recado. Muito obrigado Senhorita Steverson pela atenção, e nós voltaremos caso haja qualquer nova notícia sobre a tragédia do Hospital St. Mary of Nazareth.

Dora desviou o olhar da tv. Ainda pensativa disse: — Eu preciso saber se está tudo bem com eles, eu... Eu tenho que voltar pra lá!

— Não! Isso não! — Kurt a interrompeu rudemente. — Você tá maluca, Deodora! Isso pode estragar nossos planos!

— Eu preciso saber se elas estão bem! Eu preciso!

— Precisa porra nenhuma! — O negro levantou o tom de voz, completamente irritado, e continuou. — Eu juro que eu não te entendo, Deodora! Como que você pode se preocupar com a pessoa que você está roubando, enganando e fazendo de idiota! Como pode isso?! É a mesma coisa dessas pessoas que se esbaldam de tanto comer carne e depois tem a cara de pau de dizer que ama os animais! Eu mesmo sou vegetariano e não saio por aí dizendo e fazendo manifestos contra açougues ou fábricas de roupas de pele de animais. E olha que desde que nasci não coloquei um pedaço de qualquer carne na boca, devido a minha religião!

— Eu não sei o que isso tem a ver... — Dora disse acuada.

— Tem tudo a ver, Deodora. — O negro a segurou pelos ombros. — Se você gosta de alguém ou alguma coisa, você não faz mal a essa coisa. Agora me olha nos olhos, Dora. — A moça o fez. — O que você está fazendo com a Angel, é bom ou ruim?

— Ruim.

— Sabendo de tudo isso que te falei, me responde, você gosta ou não dela?

A moça fechou os olhos por alguns milésimos de segundo. Abriu-os. — Eu não gosto da Angel. Eu a odeio. — Dora respondeu olhando diretamente nos olhos do negro.

— Por que você a odeia? — Kurt perguntou sorrindo.

— Eu tenho inveja dela... Do cabelo dela, do olho dela, do rosto dela... Tinha inveja do namorado dela também. — A moça respirou como se estivesse soltando tudo que tinha negado sentir todos esses anos.

— Eu a odiava! — Dora fez ênfase nessa palavra. — Odiava a Shaniqua gostar mais dela! Da Selly gostar mais dela! Até o Carl gostava mais dela! — Dora gritou e jogou no chão um vaso de flor que estava numa mesinha.

— Todos gostavam mais da Angel! Eu era invisível naquele hospital!

— Isso Dora! Solta tudo o que você está sentindo! Se liberta! — Kurt falava enquanto Dora ainda gritava as coisas.

— Todos preferiam a Angeline! A Angel! O anjo! O anjo que de anjo não tem nada, que se vestia de preto! O anjo que gostava das trevas, que gostava da morte! — Dora continuava extravasando, se libertando de tudo que escondia de si própria.

— Eu, Kurt. Sempre fui educada, boa, gentil... E mesmo assim todos gostavam mais daquela coisa ridícula, mal educada, escrota!

— Então confessa, Dora! Confessa! Diz o que você espera que tenha acontecido com a Angel nesse desabamento! — Kurt a indagou, com um sorriso maquiavélico no rosto.

Dora fechou os olhos por um tempo. Abriu-os, seus olhos estavam um pouco molhados. Uma ou outra lágrima caía.

— Eu quero que ela esteja morta.

XX-XX-XX

Angel e Shaniqua saíram de um táxi, a loira não tivera sorte e seu carro fora afetado pelos destroços do prédio, já a negra não tinha carro. Já havia passado uma noite após o acidente. As duas seguiam andando nas calçadas de uma rua, uma enganchada na outra. Estavam a caminho da casa de Selly, a senhora morava sozinha e não era disponível a informação de que ela tinha parentes, sendo assim Angel e Shaniqua ficaram responsáveis por realizar o funeral e enterro da senhorinha.

Ambas estavam completamente abaladas, tanto visualmente como internamente. Tanto a loira quanto a morena tinham para com Selly um carinho especial, um carinho materno.

— Sabe, Angel... — Shaniqua foi dizendo cabisbaixa. — Desde que eu me mudei para essa cidade, pra fazer a faculdade de enfermagem, trabalhar, construir minha vida... Eu sentia muita falta da minha mãe, e por mais que eu a visitasse todos os finais de semana, não era a mesma coisa. Eu tinha minha vida e eu tinha que crescer, mas eu me sentia tão sozinha aqui, e mesmo estando em baladas e festas, eu sentia muita solidão... Sabe Angel, parecia que quanto mais as pessoas estavam ao meu redor, mais eu me sentia sozinha. — A moça suspirou. — Mas aí quando eu fui trabalhar no St. Mary e conheci você, a Dora, a Allie e várias outras pessoas, eu me senti feliz de novo, mas com uma puta raiva por nunca ter visto vocês na faculdade. — Shaniqua deu um risinho e Angel também. — Mas mesmo assim, vocês eram somente minhas amigas, e foi na Selly que eu pude me apoiar, ela me deu tanto força, tanto apoio, puxões de orelha... — A negra foi dizendo com a voz embargada. — Eu tô sentindo como se a minha mãe tivesse morrido.

Angel segurou a mão da amiga. — Eu também estou arrasada Shani, a Selly me deu mais carinho que a minha própria mãe. E não que eu queira diminuir sua dor, mas você ainda tem a sua mãe. Eu não. — Angel disse e lágrimas escorreram de seus olhos. As duas se engancharam e levantaram a cabeça, continuaram o caminho até a casa de Selly, ainda tinham muito que fazer naquele novo dia.

XX-XX-XX

Johanna foi atender a porta de sua casa, Jeff estava esperando.

— Olha só! O que traz meu priminho aqui na minha humilde casa. — A ruiva disse e o moço foi entrando.

— Vim ver se está tudo bem com você.

— Nossa, mas esse seu namoradinho novo está te fazendo bem, hein? — Johanna sentou no sofá vermelho da sala de sua casa, Jeff sentou ao seu lado. — Mas fala aí, já fez sexo com ele?

— Que isso, Johanna? Por que você quer saber?

— Ué? O que é que tem? Eu sou sua prima e além do mais, o que você gosta eu também gosto queridinho. — Johanna levantou. — Eu vou pegar uma bebida pra gente, Jeff. Aceita?

— Claro, um café, por favor. — Jeff pouco se assustava com o jeito da prima, já estava acostumado.

— Café? Eu estava falando de vodka!

Vodka? Você tá maluca, Johanna? São nove horas da manhã! — O médico disse se assustando verdadeiramente agora.

— Isso não tem nada a ver, eu sempre tomo um bom copo de vokda ou tequila de manhã. Quando eu não passava a madrugada naquele hospital, né?

— Isso de você tomar bebida alcoólica de manhã, explica muita coisa sobre você... — Jeff arregalou os olhos. — Ah, nossa... Nem me lembre do St. Mary! Eu ainda tô chocado com tudo isso.

— É Jeffinho, eu também estou chocada com isso. Mas sabe que eu gostei? — A ruiva disse indo para cozinha, Jeff a seguiu.

— Você gostou do hospital ter desabado? — Jeff ficou surpreso novamente.

— Nesse sentido não! Por mais que eu odiasse aquelas enfermeiras, eu jamais queria que elas morressem. — Jeff suspirou aliviado. — Bastava elas continuarem sendo ridículas como eram que eu continuava feliz. — Jeff soltou uma risada, mas depois se conteve.

— Sério, prima, eu não sei se eu rio dessa sua personalidade ou se choro.

— Tanto faz... Mas você me viu ontem na TV? Eu não estava linda? — Johanna perguntou enquanto procurava algo nos armários.

— Vi sim, você estava bem. Disse algumas mentiras, mas tudo bem. — O médico riu baixinho.

— Que mentiras?

— Você disse que saiu por que sentiu que tudo ia desabar... Quem fez isso foi o coitadinho do Carl. — Jeff disse para a ruiva.

— Ah, você queria que eu dissesse o quê? Que eu sai por que briguei com uma doida e me tiraram de lá a força? Jamais eu ia falar isso na TV! — Johanna deu uma pausa. — Eu achei que a historinha do Carl ia dar mais sucesso, o povo tá achando que eu sou meio sensitiva. Cara, teve uma velhinha que me parou na rua ontem e...

— Tudo bem Johanna, mas o que eu quero saber é se é sério mesmo que você vai processar a prefeitura? — Jeff perguntou, interrompendo a prima.

— Sim, é muito sério! Bom tirando a parte que eu só vou fazer isso pelo dinheiro da indenização. — Sorriu maliciosamente.

— Prima você é maluca, você vai mexer com a prefeitura. Você pode até ganhar o processo, mas depois emprego você não vai mais arrumar lá. — Jeff disse se sentando numa cadeira.

— Querido, eu pesquisei. Eu posso pedir indenização por várias coisas, por danos psicológicos e materiais. Olha, não é de abusar que eu consiga pelo menos uns 50 mil dólares. — A ruiva dizia com os olhos brilhando. — Imagina Johanna Steverson com essa grana! Eu não iria querer saber de trabalho tão cedo. Eu iria viajar sair dessa cidade, viver! Eu tenho a vida toda pela frente, eu acabei de escapar de um desastre! Eu tenho que aproveitar a vida, não é não?

— Você está certa, embora um dinheiro desses não dure pra sempre. — Jeff alertou.

— Ai, ai, você é muito certinho primo. — Jeff sorriu enquanto Johanna pegou a garrafa de vodka da geladeira e pôs em cima da mesa. — Vai, eu juro que não faço nenhuma piada. Me conta sobre o Phil, eu sei que foi isso que você veio fazer aqui. E também sei que é um mal de família não ter muitos amigos. — A ruiva disse séria, olhando para o médico.

— Ah, eu só queria dividir com alguém a minha felicidade. Eu sei que é até meio inoportuno se sentir feliz no meio de toda essa tragédia, mas... — O médico sorriu. — Sabe, eu acho que o Phil é o companheiro que espero a minha vida toda, eu sinto que vai dar certo com ele. Diferente dos outros, como o David...

— O seu ex-namorado, né? — A ruiva perguntou.

— É, ele simplesmente desapareceu... Já o Philipe, eu... Eu sinto que me ele ama de verdade. Que é reciproco, sabe?

— Eu fico feliz por você, Jeffinho. De verdade. — Johanna olhou diretamente nos olhos do primo. — Muito obrigado, Johanna. — O médico disse sorrindo.

— O bom é que você pode me ajudar a dar uns pegas no carinha irmão do Phil. O da cadeira de rodas, ele é tão sexy. — A ruiva revirou os olhos após dizer isso.

— Wen. Wen... — O médico ficou sério. —Ele é uma pessoa difícil.

— E eu não sei? Eu vi o jeitinho dele no hospital, me fiz de durona, mas se ele quiser... Eu tô aí. — A ruiva disse enchendo o copo de vodka.

— Sabe Johanna, eu sinto que ele não gosta de mim, que ele possa ter um tipo de ciúmes do Phil, sabe? Aquele ciúme de irmãos?

— Xiii... Cunhado assim é uó! Mas relaxa, não deve ser muito assim, não.

O médico olhou pro alto e falou. — Ah, sei lá. O Wen me olha estranho, como se a qualquer momento fosse tirar uma faca do bolso e matar.

Johanna deu uma gargalhada. — Se eu fosse você Jeff, só me preocuparia com ele no dia que ele voltasse a andar.

Jeff deu um sorriso de leve. E olha que isso pode ser possível.

XX-XX-XX

Shaniqua revirava a gaveta do armarinho do quarto de Selly, ela e Angel ainda procuravam documentos e pertences da senhora. As duas já haviam vindo muitas vezes na casa de Selly, então já sabiam mais ou menos onde ficava tudo.

A negra viu um porta-retratos do lado da cama, nele Angel e ela estavam abraçadas com Selly. Shaniqua sorriu ao ver a careta que Angel fazia na foto, enquanto ela e Selly estavam sorrindo. A moça percebeu que a foto havia sido tirada no estacionamento do St. Mary esforçou-se sua mente e lembrou que Dora é quem tinha tirado a foto. Dora... Dora!

— Angel! — A negra gritou chamando a amiga. Que logo apareceu no quarto.

— Que foi?

— A Dora, Angel! Nós não avisamos ela ainda!

— Nossa é mesmo. — A loira sentou-se ao lado da amiga na cama. — Lembra, Shani? Ela tinha ido cuidar dos pais dela que estavam com uns problemas de saúde... Ela viajou toda apressada, tadinha. Se nós ligarmos, ela vai se preocupar ainda mais, e nós não sabemos o estado dos pais dela... Eu acho melhor nós esperarmos ela dar alguma notícia, se ela não estiver muito ocupada, a essa altura ela já deve ter visto na tv.

— Eu acho isso correto... Uma vez ela disse pra mim que não gostava de funerais. Depois do memorial de amanhã, nós ligamos pra ela. — Shaniqua disse cabisbaixa. Angel ficou pensativa por alguns segundos.

— O Kurt também viajou, ele foi visitar um amigo. Eu não vou incomodar ele também. — Angel disse, mas mudou seu semblante calmo após dizer isso. — Peraí! Ele não tem nenhuma desculpa para não ter visto a notícia do desabamento! Porque ele não me ligou ainda? — A loira disse um tanto irritada.

— Calma Angel, vai ver ele não está acompanhando o noticiário. — A negra tentou acalmar a amiga.

— Isso não é desculpa! Essas notícias de desastre todo mundo comenta! — A loira levantou-se, já bem irritada. — E ele não foi cuidar dos pais doentes como a Dora! Ele foi só visitar um daqueles amigos idiotas dele!

— Pensando bem... Você tem razão, amiga. A gente podia ter morrido, o mínimo que ele tinha que fazer era vir correndo pra cá para te dar apoio. Principalmente agora que a Selly morreu.

— Eu vou terminar com ele, eu não aguento mais esse homem!

— Eu nunca fui com a cara do Kurt, te dou total apoio. — Shaniqua concordou.

Angel suspirou e pediu um segundo para Shaniqua e saiu do quarto, um momento depois ela voltou com uma caixinha em mãos. — Aproveitando pra gente espairecer um pouco, olha o que eu achei aqui, é da Selly... — A loira sorriu e abriu a caixinha.

Shaniqua sorriu delicadamente ao ver os objetos dentro da caixinha. Nela havia presilhas, laços, pulseiras, colares, entre outros acessórios femininos. — Ela deve ter usado isso quando era adolescente. — A negra disse admirada com os objetos.

— Sim, é tudo muito bonitinho. — Angel concordou. E sorriu ao perceber algo. — Sabia que quando tinha uns nove ou dez anos, eu usava esses acessórios, os mais coloridos possíveis... Dá pra acreditar?

Shaniqua deu um risinho ainda mexendo e olhando na caixa. — Você devia ser uma fofura! — A negra olhou para amiga, agora notando os acessórios que Angel usava desde que a conheceu: Brincos de caveiras, colares pretos, pulseiras de cores escuras e etc. — Você ainda continua fofa, amiga. — Angel sorriu e fez uma careta não entendendo. A negra continuou.

— Eu nunca me importei com que tipo de roupa você usava quando eu saía com você, as pessoas podem até não gostar de você e te achar má somente porque você usa uma caveira no pescoço. Mas elas não te conhecem de verdade, eu conheço! E sei que você é uma pessoa maravilhosa, justa e muito fofa, sim! — Shaniqua disse fazendo a loira se emocionar.

— Você está mentindo. — Angel disse sorrindo e secando os olhos marejados. — Eu já tô sensível e você ainda me fala essas coisas. — Shaniqua sorriu e olhou para a caixa, viu algo debaixo de todos aqueles acessórios.

— Ei! O que é isso? — A negra pegou uma espécie de caderno nas mãos, tinha a capa encapada com um papel cor de rosa já um pouco desgastado, e na capa dizia com uma letra bem bonita: The Selly Diaries.

— É o diário da Selly! — Angel disse enquanto Shaniqua o folheava.

— Dá pra perceber pelas datas nos inicios de cada texto, que ela começou a escrever quando tinha uns 12 anos, olha. — A negra disse dando nas mãos da loira.

— Sim, mas olha aqui a data deste último texto. — Angel disse apontando com o dedo.

— Mil novecentos e sessenta e nove. — Shaniqua leu. — Bom, ela já devia ter uns 18 anos nesse ano, daí parou de escrever, não tem nada de estranho.

— Não, isso não é estranho... Mas esse último trecho do texto é. Olha. — Angel mostrou:

[...] Espero que tudo isso realmente tenha acabado agora. Espero que eu realmente tenha conseguido derrotá-la, eu só quero viver em paz agora, só isso... Provavelmente eu nunca mais escreverei neste diário, não quero ter mais nenhum contato com o que eu escrevi aqui nesses últimos meses, quero apagar toda essa "aventura" da minha memória... Para sempre.

Shaniqua e Angel olharam-se confusas. — Eu não entendi nada, Angel.

— Eu vou levar esse diário, eu quero entender isso.

— Angel a gente não pode pegar nenhum pertence dela, o policial falou, a gente não é da família. — Shaniqua disse. — Isso não deve ser nada demais, não tem sentido nenhum.

— É claro, nós só lemos o final! Eu vou ler desde o começo, aí sim vai fazer sentido. — A loira disse levantando-se da cama.

— Isso não vai acabar bem, amiga.

— Relaxa, não vai dar problema não. — Angel disse enquanto ajudava a negra a arrumar a caixa dos acessórios. — Shani, você não lembra que sempre que nós perguntávamos sobre a adolescência dela, ela se contradizia?

— É verdade, uma vez eu perguntei se existia baile de formatura na época dela, brincando, e ela disse que não. Mas depois ela disse, em outra ocasião que não foi ao baile porque a irmã dela tinha morrido, lembra? — Shaniqua dizia enquanto chegavam à sala da casa, que era relativamente pequena.

— Não só isso, tudo dessa época ela se confundia. Sobre namorados, último ano de colégio, amigos, quando ela não desviava do assunto ela dava respostas incoerentes. Aposto que nesse diário está o porquê disso tudo. — Angel disse e colocou o diário na bolsa preta que ela carregava no ombro.

— Bom, a responsabilidade de levar isso é sua. — Shaniqua foi dizendo e pegou uma pasta que estava sobre uma mesinha. Abriu-a, eram os documentos. — Olha Angel os documentos aqui. — A negra se arrepiou. — Parece até que a Selly já sabia que nós víamos aqui, deixou num lugar tão fácil.

— Bom, vamos embora, Shani. — Angel disse um pouco arrepiada também. A loira abriu a porta e Shaniqua saiu. E antes de fechar a porta, a loira encarou por uns instantes um retrato de Selly que estava pendurado na parede. Nele a senhora estava uns dez anos mais jovem e estava ao lado de seu único marido, este Angel chegou a ir ao seu funeral. Mathew. Lembrou-se.

A loira fechou a porta e enganchou-se em Shaniqua, as duas foram andando na rua, até desaparecerem numa esquina.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

LEIAM SOMENTE APÓS TER LIDO O CAP!


Uou! Sim, Selly morreu. :( Fico MUITO feliz que vcs tenham gostado da personagem, mas era necessário. E sei que ela não era a primeira da lista, e quanto à isso podem ficar tranquilos, será explicado, enquanto isso chutem o que vcs acham! XD
Quanto a Dora... Ela é uma personagem fascinante de escrever, porque ela muda de opiniões e ações muito depressa, e eu AMO personagens assim! :D Tanto isso que ela teve pode ter sido apenas um surto, como não. Espero que entendam que eu precisava que a personagem fosse assim, bem dúbia, isso vai fazer grande diferença no final da fic. E me dar diversas opções para o final.
E quanto ao diário, as respostas (algumas) virão de lá!Bom espero reviews, e qualquer erro gramatical ou textual, me avisem! Me ajuda MUITO quando vcs avisam! :D
Abraços e a até o próx cap! :DDD