Final Destination - Risk Of Death escrita por Paul Oliver


Capítulo 1
Remédio Ruim


Notas iniciais do capítulo

Primeiro cap da minha primeira fic! #nervous
Esse primeiro capítulo vai servir para apresentar os personagens, assim fica mais fácil para vocês gostarem ou não dos personagens, criar uma torcida ou não, antes de eu sair matando todos! Sei que o capítulo ficou meio grandinho, mas foi necessário. XD
Ah! Algo que pode parecer pequeno nesse primeiro cap, terá GRANDE importância para a fic em geral. E para quem quiser ver fotos de como são os personagens aí vai o link com as fotos deles:
https://pauloliverfd.blogspot.com/2018/04/personagens-final-destination-risk-of.html
Bom, leiam e aproveitem! :D



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Junho de 2012.



— Desde que eu me entendo por gente, eu corro risco de morte.

Carl só estava respondendo a mais uma pergunta feita por Louise. A garota estava fazendo uma entrevista com o rapaz. Ela tinha 17 anos, e estava no meio do seu último ano do colegial e deveria fazer um trabalho no qual apresentasse o que ela iria fazer depois de se formar. Ela sonhava em ser uma jornalista. Dona de uma enorme inteligência e maturidade, a jovem não se importava para sua aparência. Usava seus cabelos castanhos presos e meio bagunçados, sua roupa era simples e comum. Tinha as sobrancelhas e lábios um tanto grossos e um belo par de olhos azuis, mas eles ficavam um pouco escondidos por trás de seus enormes óculos pretos. Ela não ligava nem um pouco com futilidades. Para Louise era mais importante inteligência do que beleza. Cada um gosta do que tem. Se eu não me amar, quem vai? Esse era o lema daquela determinada garota.

Já era fim da tarde e ambos estavam em um dos quartos do hospital público da cidade, que se chamava: St. Mary of Nazareth. Louise podia ver o nome do hospital estampado no lado direito da camisola que Carl estava usando. Ele estava sentado em sua cama e Louise estava sentada em um sofá preto próximo á ele. Ela segurava um gravador nas mãos que gravava cada palavra dita pelo rapaz. Carl explicava como foi difícil viver desde pequeno no hospital sem sua mãe, que o abandonou quando criança.

Louise olhava-o nos olhos, prestando muita atenção em tudo o que Carl estava contando. Mas ela não pode deixar de dispersar-se por um momento e reparar na aparência do rapaz. Ele tinha um rosto comum, traços que faziam jus aos seus 17 anos. Tinha uma fina camada de cabelo sobre a cabeça, mas dava para perceber que eram cabelos negros, tinha olhos azuis acinzentados e lábios um pouco maltratados, devido ao seu tratamento. Louise rapidamente voltou á escutar atentamente as palavras dele.

— Foram tempos difíceis depois que minha mãe me abandonou aqui. Na época eu tinha somente 10 anos... Eu me lembro perfeitamente do último dia que a vi... — Carl respirou fundo e continuou. — Ela me colocou para dormir, neste quarto mesmo. E me disse uma frase que eu não entendi na época, mas depois de uns anos vi que fazia muitosentido. Já que uma vez, depois que o meu pai nos abandonou, ela me prometeu que nunca faria o mesmo. E nesse dia aqui no hospital, ela disse queexistiam promessas que nunca deveriam ter sido feitas, e que é triste quando não podem serem cumpridas. E que é ainda mais cruel para quem foi prometido, descobrir que foi iludido. — Carl respirou. — Ela disse isso e me deu um beijo e um abraço. Disse que me amava e se sentou nesse sofá aí. — Disse apontando para o estofado preto, onde Louise estava. — No outro dia eu acordei e não a vi mais. Nunca mais. Ela simplesmente foi embora, igual ao meu pai. Assim como ele, ela não aguentou o peso de ter um filho com um tumor no cérebro. Destinado á morrer... Sempre em risco de morte.

— Carl... — Louise disse ajeitando seus óculos. — Eu realmente não queria te fazer lembrar essas coisas ruins. Eu quando vim aqui no hospital mês passado e acabei te conhecendo nos corredores, senti uma energia muito boa vinda de você! No seu sorriso, no seu andar, no teu jeito de falar... Confesso que eu me surpreendi com a sua história, eu pensava que você tivesse família e que eles te ajudassem...

Carl então a interrompeu por um momento.

— Eu não tenho ninguém. Digo... De família de sangue não. Meus pais pelo que eu sei, eram órfãos. — Riu um pouco. — E agora eu sou também.

— Bom, mais e a escola? Roupas? Você sempre viveu aqui? Digo... Desculpa mas, era pra você ter ido para um orfanato. —A garota disse tentando não ser grossa.

— Bom... Eu acho que pela minha doença. Os médicos diziam que eu iria viver até os 12 anos. E eu como odeio que me ponham limites, estou aqui até hoje. — Disse sorrindo.

Louise ajeitou seus óculos e deu um risinho. — Você é um sobrevivente, Carl.

— Eu só gosto de viver cada minuto de vida que tenho. Aproveitar ao máximo. E com a ajuda da minha família aqui do hospital, fica tudo mais fácil. Foram eles que me ajudaram á estudar e muitas outras coisas. São os meus anjos. — Disse com um sorriso envolvente no rosto.

— Que bonito isso. Mas quem são eles? — A garota de óculos perguntou.

— Bom... O Dr. Cook me ajuda me dando as roupas velhas do filho dele. Ás vezes a Selly, aquela velhinha que você deve ter visto por aí... — Louise assentiu. — Ela me leva pra passear no parque aqui perto. E foi ela também que me ajudou com os estudos.

Louise olhava-o com um sorriso e ele continuou.

— Tem também a Dora e a Shaniqua, elas são enfermeiras e me ajudam muito. A Shaniqua é muito engraçada! Você tem que conhecê-la! — Carl riu e continuou. — E tem a Angel...

Louise não pode deixar de reparar no quanto os olhos de Carl brilharam ao dizer aquele nome. — É um nome muito bonito. Deixa-me chutar... Ela é a sua enfermeira favorita?

— Garota por acaso você tem visões? — Carl disse rindo. — Eu amo a Angel, em todos os sentidos. Ela é muito especial.

— Como? Ela não é bem mais velha que você?

— É. Mas eu não ligo.

— Você é muito engraçado. — A garota disse sorrindo e continuou. — Agora fiquei curiosa em conhecer essa Angel. Pelo nome e pelo que você disse, ela deve ser educada, doce, meiga...

Carl nem deixou Louise terminar de falar e caiu na risada. A garota de óculos olhou-o meio espantada.

— O que eu disse de errado?



XX-XX-XX

Your love is like bad medicine

Bad medicine is what I need

Shake it up, just like bad medicine

There ain't no doctor that can cure my disease.

I ain't got a fever

Got a permanent disease

It'll take more than a doctor

To prescribe a remedy

[...]

O celular de Angel tocava e vibrava em cima da mesinha perto de sua cama. De repente uma mão jogou-o longe, fazendo parar de tocar. Angel se virou de volta a cama para voltar a dormir. Ah droga! Não enche o saco Jon Bon Jovi!

A loira mantinha os olhos bem fechados tentando dormir novamente. O flat de Angel era grande e todo mal organizado, com roupas e objetos jogados por cima de móveis. A moça morava sozinha e não se importava com a bagunça. Tinha acabado de voltar do expediente no hospital e voltaria somente na manhã seguinte, então precisava descansar e não atenderia chamada alguma. Nem se fosse a minha vó!

O vento entrava calmamente pela janela aberta de seu quarto, passou lentamente pelo rosto de Angel. A loira tinha muita beleza. Um rosto angelical: Olhos grandes e azuis e uma pele tão clara quanto à Lua, uma boca bonita e carnuda e cabelos lisos tão dourados quanto o Sol. Mas poucas pessoas viam a loira dessa forma. Angel costumava passar muito lápis de olho de cor preta, desviando a atenção do azul de seus olhos. Exceto no hospital, usava em todos os lugares que ia, roupas escuras e quase sempre algo por cima dos cabelos, ás vezes até escondendo-os.

— Droga não consigo mais dormir! — Angel levantou de súbito. Ela estava vestida com uma camisola preta com doze caveiras estampadas, a camisola era larga e comprida e não se via o seu belo corpo por baixo da veste. A única coisa que era perceptível era o quanto a loira era magra.

Ela foi em direção ao celular que estava jogado do outro lado do cômodo, pegou-o e olhou de quem era a chamada perdida.

— Kurt? O que esse babaca quer agora! — Angel fez uma cara de raiva e resolveu ligar de volta á ele.

Kurt era seu namorado.

— Alô? — Uma voz grossa era omitida do celular.

— Como alô? Sou eu, Angeline! Por que você me ligou agora á pouco? Já não te falei que não é pra me ligar depois que eu chego do hospital! Caramba cara, você me acordou! — A loira disse com o seu jeito grosso e estúpido de sempre. E foi em direção no lugar que ficava á cozinha do apartamento.

Me desculpa amor, é que era importante, e eu até ia ligar pra Shaniqua pra ela te avisar depois.

— Bom, me desculpe. Mas o que é? O que é tão importante assim? — Angel disse enquanto abria a geladeira e pegava uma bebida.

— É que eu vou ter que viajar hoje á noite, e devo voltar somente semana que vem. Tudo bem?

Ok, mais aonde você vai? Pra casa dos seus pais, né?

Não, eu vou visitar um amigo que não vejo á um bom tempo.

Nossa, você nem me convidou né? — Angel disse rindo um pouco. — Você sabe o quanto eu detesto viajar, né? E nem daria pra eu ir por causa do St. Mary. E o Carl vai se preparar pra cirurgia. Eu preciso estar com ele.

De novo esse Carl?! Você só fala dele! Parece que até gosta dele!

E gosto mesmo! Sou como uma irmã pra ele! O garoto lutou á vida toda para sobreviver! Essa cirurgia pode dar de vez a chance de ele viver normalmente, como nós! Porra Kurt!

Ok, eu não vou brigar com você agora. Eu estou de saída e não vai dar para me despedir pessoalmente. — A voz silenciou-se por uns segundos. —Agora tenho que desligar, beijo Angel. Adeus!

Angel estranhou, não somente aquele "adeus", mas também Kurt não ter continuado a briga. O relacionamento dos dois sempre fora conturbado, enfrentavam diversas brigas e vai-e-voltas. Angel não era uma pessoa fácil de conviver e Kurt também não.

A loira sentou no sofá da sala de seu flat, ligou a televisão e bebeu um gole de sua cerveja. Essa Hice Pale Ale é uma delícia.

— Que filme eu vou assistir hoje... Terror é claro! — Disse falando sozinha. — Bem que a Shaniqua podia estar aqui. Droga... Bom, vou ligar pra Dora, sei que ela não está trabalhando.

Angel se levantou do sofá e pegou seu celular. Procurou na agenda do telefone e discou o número da amiga enfermeira.



XX-XX-XX

Dora estava deitada apenas com um lingerie na cama de um quarto todo enfeitado com rosas e lençóis dourados. Olhava com um olhar inseguro para alguém.

— Era a Angel, Kurt? — Dora perguntou para o homem que estava em pé próximo á cama. Kurt era um moço negro e com um corpo atlético, tinha olhos negros e cabeça raspada, tinha tanto o nariz quanto a boca extremamente grossos. Vestido apenas com uma cueca boxer vermelha, o negro acabara de encerrar a ligação com Angel.

— Era sim, a sua amiguinha. — Kurt disse deitando na cama ao lado de Dora.

— Não fala assim que eu vou me sentir ainda pior...

— Ué? Por quê? Vai desistir de ir embora comigo, gata? — O negro perguntou passando a mão na coxa da mulher.

— Não, mas ela é minha amiga. Já não basta eu fugir com o namorado dela, ainda vou usar o dinheiro das joias que você roubou dela... Eu tenho medo que dê errado. — A moça de cabelos castanhos disse com olhar preocupado.

— Pare de pensar negativo, Dora. Essas joias a Angel nunca usou e nunca vai usar, ela detesta e ela nunca vai perceber que foi roubada! Se um dia ela resolver checar as joias, aí vai perceber... Mas será muito tarde para ela ligar um fato ao outro. Além do mais, semana que vem eu venho pra terminar com ela, e aí nós nunca mais voltaremos a essa cidade. — Kurt sorriu maliciosamente. — Você só tem que ligar pra ela falando que vai visitar seus pais hoje, e depois de uns dias você liga e fala que não vai voltar mais. Que arranjou um emprego lá e que vai ficar cuidando deles. É um plano perfeito.

— Sim, e essa é a única maneira que tenho pra conseguir a fiança e tirar meu irmão da cadeia. Você já sabe dessa história...

Kurt assentiu e disse em seguida:

— Então você não ia embora comigo se não fosse isso? — O negro disse num tom irônico.

— É claro que ficaria com você, eu te amo! Mas ia fazer do jeito certo. Esperar você terminar com a Angel! Jamais pensei que pudesse trair minha amiga e olha agora...

Dora não terminou a frase, pois percebeu que o seu celular tocava em cima da cama. Pegou-o e virou a tela para que Kurt pudesse ver quem ligava.

— Angel. — O negro disse. — Vai atende! E fala tudo o que a gente combinou.

Dora se levantou da cama e dirigiu-se para perto da janela do quarto. Kurt guiou-a com olhar, não pode deixar de notar o corpo feminino e sexy da amante. Dora tinha traços extremamente sensuais, olhos verdes e lisos cabelos castanhos que balançavam com a força do vento que entrava pela janela, o vento também fez uma parte da lingerie se levantar e deixar parte de seu bumbum á mostra. Kurt a olhava com olhar de desejo. Ninguém pode negar que eu fiz uma boa troca, essa é mais gostosa e o melhor... Faz tudo que eu mando.



XX-XX-XX

Uma caminhonete vermelha estava estacionada em frente á um prédio.

Um colégio.

No interior do veículo estava Leonel, esperando seu filho, Oliver, sair do prédio. Leonel era o tão falado Dr. Cook, seu sobrenome. O homem tinha 38 anos e trabalhava como médico no St. Mary desde que se formou. Ele tinha uma boa aparência, tinha um rosto comprido e bem masculino, olhos negros e cabelos negros usados num topete bagunçado. Ele mantinha a barba e bigode grandes, e isso, com certeza era o que mais chamava atenção nele. Mas também era perceptível em seu olhar, um vazio. Um vazio que ficara em sua vida desde que sua mulher morreu no parto de seu filho. Parto esse, que ele mesmo fizera.

Leonel viu seu filho sair do prédio, o garoto vinha sozinho na multidão de jovens. Oliver tinha 17 anos e assim como o pai, tinha olhos e nariz pequenos. Seus olhos eram idênticos aos de Leonel, só que castanhos. Seus cabelos, também castanhos, eram distribuídos em uma franja pouco arrumada. Oliver usava uma camiseta cinza meio amarrotada e uma calça jeans, trazia nas costas uma mochila preta. Usava o tênis da moda, os famosos tênis Reyals, importados de Miami.

Meu filho, como eu te amo. Sua mãe ficaria orgulhosa de ver como você está hoje... Eu daria a minha vida por você. Ah! Como me arrependo do que te fiz no passado...

Leonel recebeu seu filho com um sorriso no rosto, sorriso esse que não fora retribuído. Oliver entrou no carro e sentou no banco de trás sem dizer uma palavra. Um silêncio ficou no ar, e Leonel ligou o carro e saiu da frente do prédio. A caminhonete já estava em movimento.

— Como foi o dia meu filho? — Leonel perguntou.

— Legal. — Oliver respondeu seco.

— Tem algum trabalho ou tarefa?

— Não.

Novamente o silêncio rodeava o carro. Oliver, porque você não me dá abertura. Leonel sabia o quanto o filho era difícil, a relação dos dois era amena. Sem brigas, mas também sem carinho. O homem trabalhava demais e o pouco tempo que ambos ficavam juntos, o garoto dava um jeito de se trancar no quarto ou sair para algum lugar. A culpa não é dele, eu sou o culpado. Trabalhei de mais quando ele era pequeno, quase não o via.

— Amanhã faz um ano que seu tio morreu. — Leonel disse olhando o filho pelo espelho de cima do carro.

— Eu sei. — O garoto disse com a mesma fisionomia séria de sempre.

— Lembra? Ele ficava com você quando você era pequeno. Naquela época eu era novato no St. Mary e tinha muito serviço...

— Não precisa se desculpar, pai. Eu entendo que o seu trabalho é mais importante. — Oliver disse num tom levemente irônico, mas mantendo a expressão séria.

Leonel não tinha resposta para aquilo, ele realmente amava seu emprego. A ponto de viver somente para isso. Justamente por conta do trabalho, o médico jamais ficou com nenhuma outra mulher depois da esposa, sua vida era corrida e cansativa. Talvez o que o Oliver precise sempre fora uma mãe, alguém que possa dar á ele a atenção e o carinho que ele merece. Porque eu não consigo.



XX-XX-XX

Rosie estava sentada numa mesa do restaurante Le Cafe Miro 81. Ao fundo dava pra ver a logomarca do local no vidro de fora. Mas o nome estava ao contrário, como num espelho.

A bela mulher de 34 anos estava esperando alguém. Um homem que a convidara para um jantar. Bobby, você está atrasado. A mulher já estava um pouco irritada com a enorme demora, mordendo os lábios e balançando a perna. Rosie era dona de muita beleza e nem de longe aparentava a idade que tinha. Seus olhos eram verdes e seu nariz pequeno e tinha sedutores lábios carnudos. Seu cabelo castanho era sedoso e brilhante, brilhante também era o colar que usava. Ela vestia um elegante vestido azul escuro, tão discreto quanto à sofisticação da mulher.

Rosie era de uma família tradicional francesa. Morou na França até seus 18 anos, mas com ainda 17, conheceu um americano e engravidou dele. Sua família ficou muito descontente com Rosie e assim que atingiu a maior idade, ela veio morar com o americano nos EUA.

Quando ainda morava na França, sua mãe ensinava boas maneiras para Rosie e suas irmãs. Rosie aprendera como uma mulher sofisticada deveria se comportar, com elegância, simpatia e educação. Aprendi o quanto é importante ser pontual. Rosie relembrou olhando para seu relógio mais uma vez. Bobby, você terá que me dar boas explicações para esse atraso.

Rosie permanecia sentada, quando seu celular vibrou em cima da mesa. A mulher pegou-o, viu uma nova mensagem. Abriu, nela dizia:

Oi mamãe! Sei que você está no jantar então resolvi não ligar para não te incomodar. Só quero dizer que vou pegar um táxi para voltar para casa, já terminei a entrevista com o Carl. Ele é uma graça! Você tem que conhecê-lo. Mas não se esqueça de passar aqui no meu quarto quando você chegar, preciso falar com você. Mas fique tranquila, não é nada de grave. Beijo. Te amo.

— Como a Louise é um amor. — Rosie disse e voltou a colocar o celular na mesa. A Louise é tão madura, tão inteligente! A mãe sentia orgulho da filha. Quando Rosie se separou do marido, o pai de Louise, a garota tinha 11 anos mas soubera lidar com muita maturidade esse distanciamento do pai. Louise foi forte... Mais forte que eu. Desde então Louise viu o pai somente mais duas vezes, depois disso se comunicavam somente por telefone e pela internet. Isso fez que mãe e filha se aproximassem cada vez mais uma da outra.

Foram tempos difíceis depois do divorcio. Rosie era advogada e trabalhava em um escritório de advocacia, mas acabou perdendo o emprego. Passou a ter um escritório próprio, mas o novo negócio não vingou. Finalmente a mulher acabou aceitando um emprego na prefeitura da cidade, trabalhando para o prefeito como sua advogada particular.

— Eu não posso esperar muito tempo, amanhã cedo tenho que ir naquele hospital. — Rosie disse enquanto se preparava para sair da mesa. Eu realmente não entendo porque o prefeito quer derrubar o St. Mary. Tá certo que o hospital daqui do centro é mais equipado, mas se o prefeito conseguir o que quer, imagina quantos trabalhadores vão ficar desempregados. E o que vai ser dos pacientes... Desse tal de Carl. Espero não contribuir para algo errado, espero que esse prédio esteja realmente em um estado ruim. Mas se bem que o prefeito não quer fazer reforma, quer construir um novo estádio. Esse vai ser um caso difícil...



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Johanna mexia no computador do hospital.Ela era a recepcionista do St. Mary, o hospital não tinha muito movimento, a maioria dos habitantes da cidade sempre ia ao Hospital do Centro. Somente quem morava próximo usava o St. Mary, mas ele era um hospital completo: Tinha área de gestantes, faziam-se cirurgias e tratamentos contra doenças, entre diversas outras coisas.

— Ei moça! Meu filho está passando mal! Preciso fazer uma ficha para ele... Ei! — Uma mulher chegara à bancada da recepção, tentando comunicar-se com Johanna. Mas a moça continuava de costas mexendo no computador. Então se se virou.

— Ok! Cadê os documentos do seu filho. — Johanna disse irritada. Ela tinha os cabelos bem curto e vermelhos, olhos pretos e nariz e boca pequenos. Era um pouco baixinha e tinha um corpo comum. Mais isso tudo estava escondido atrás do balcão, assim como seu uniforme branco.

— Estão aqui na minha bolsa... Meu filho está com febre, garganta inflamada, dor de cabeça... O que será que ele tem? Eu acho que é gripe e... — A mulher falava com uma voz preocupada, quando Johanna a interrompeu:

— Os sintomas você fala para o médico, eu sou a recepcionista... Se não está vendo. — A ruiva disse grossa. Terminou de fazer a ficha e deu um número para a mulher. — Espere ser chamada, o Dr. Torres vai te atender.

— Obrigada. — A mulher disse friamente e saiu para sentar-se próxima ao filho na sala de espera, que estava quase que completamente vazia.

— Ai, como eu odeio esse emprego! — Johanna disse baixo enquanto arrumava alguns papéis.

— Então porque não pede demissão, bitch? — Quem falara era uma moça negra com um uniforme de enfermeira branco, ela segurava alguns papéis em suas mãos. Shaniqua era mais uma das enfermeiras do hospital, amiga de Angel e Dora, ela ficava de vez em quando com o turno da noite e madrugada, após a demissão de outra enfermeira. Tinha uma pele negra extremamente bonita, olhos grandes marrons, uma boca grossa com um batom um tanto exagerado no brilho. Tinha um nariz largo que ela costumava usar um piercing nele, mas quando estava no hospital não podia. Também tinha longos cabelos negros e ondulados. Shaniqua tinha 26 anos, mas seu corpo de adolescente contradizia essa informação.

— E porque você não cuida da sua vida... Bitch? — Johanna retrucou um pouco irritada. Ela já estava acostumada com as briguinhas que ela tinha com Shaniqua e Angel. Dora era a única que não batia boca com a ruiva, mas pra Johanna eram todas garotas ridículas. Detestava não somente esse trio, mas também todas as outras enfermeiras do St. Mary. Como são ridículas... Fico pensando o quanto é frustrante ser enfermeira. Aposto que todas queriam ser médicas, mas não tinham dinheiro pra faculdade. Ha ha ha!

— Por que você está sorrindo aí, hein Johanna? — Shaniqua perguntou vendo o sorriso no rosto da recepcionista.

— Isso também não é da sua conta. Porque você não vai fazer um curativo num velho ou brincar de pega-pega com o Carlcer? — A ruiva disse usando o apelido que dera para Carl.

— Você é uma ridícula! Eu só não pulo no teu pescoço agora, porque se não perco o emprego. — A negra falava baixo próxima ao rosto da ruiva. — Você não tem coração não? O Carl é um garoto guerreiro! Ele tem câncer sim, mas pelo menos não tem tantas amarguras que nem você. Ele com 17 anos, órfão e morando num hospital, tem mais amigos que você que tem quase 30. Requalcada! — Shaniqua disse continuando bem próxima á Johanna e virou-se jogando seus longos cabelos pretos no rosto da ruiva. Deixou uns papéis no balcão e entrou num corredor branco.

A moça que estava com seu filho na sala de espera, deu um leve sorriso vendo a cena. Johanna viu e voltou a olhar para o corredor que Shaniqua tinha acabado de entrar. Sua macaca ridícula! Pensou.



XX-XX-XX

Wen mantia o semblante frio como de costume, sentando em uma espécie de cadeira de plástico, a água quente do chuveiro caía sobre seu corpo nu. Wen se ensaboava como podia, era teimoso e negara a ajuda do irmão para tomar banho. Porque isso aconteceu comigo? Eu preferia ter morridonaquele acidente a ter ficado assim... Um homem pela metade.

Wen ficara paraplégico em um acidente doméstico aos 18 anos. Antes do acidente o rapaz vivia sua vida loucamente, era um jovem cheio de vida, feliz e com muitos sonhos. Tudo foi interrompido após o acidente. Agora com 28 anos, já era um homem. Um homem rancoroso e cheio de amarguras, nunca mais se interessou por nada, nunca mais quis saber de correr atrás de seus sonhos, nunca mais sorriu. Ele apenas vivia sua vida, até o momento que ela acabasse.

Desde o acidente, ele nunca se preocupou com sua aparência. Wen tinha uma pele tão branca quanto a Lua, sua pele clara fazia contraste com seus olhos e cabelos bastante pretos. Sua boca era fina e de um vermelho meio pálido, o rapaz tinha um corpo magro e alguns pelos no peito. Tinha um visual doente, mas somente o visual.

— Wen? Precisa de ajuda? — Phil disse, próximo a porta do banheiro do quarto do irmão. Não obteve resposta, mas já estava acostumado com o jeito do rapaz.

Phil, como todos seus conhecidos chamavam, era o único irmão de Wen. Mais novo, o rapaz tinha 22 anos. Phil não se parecia quase em nada com Wen, o moço tinha os cabelos castanhos claros e bem arrumados numa franja. Tinha os olhos pretos e pele clara. Sempre com um sorriso no rosto era difícil encontrá-lo triste.

Ele cuidava como podia do irmão, desde que seus pais morreram num acidente de carro. Ele amava e se preocupava tanto com Wen, que desistiu de entrar na faculdade após terminar o colegial, pois queria dar atenção total á ele. Mas Wen ao invés de tratar Phil bem, fazia exatamente o contrário, parecia que descontava toda a amargura que tinha nele.

Eu sei que você me ama Wen. Só que se expressa de forma diferente. Phil pensava enquanto preparava o pijama que seu irmão vestiria após sair do banho. De repente Phil percebeu que a água do chuveiro havia parado de fazer barulho, e ouviu um pequeno estrondo. Correu até o banheiro. Viu Wen caído no chão do banheiro e correu para socorrê-lo.

— Ô meu irmão, por que você não me chamou? —Phil perguntou enquanto ajudava seu irmão á sentar-se na cadeira de rodas.

— Eu queria pelo menos uma vez fazer algo sozinho!

— Mas Wen, você sabe que...

— Que eu não consigo?! — Wen gritou interrompendo o irmão.

— Não, eu ia dizer que você sabe que é perigoso. — Phil disse calmamente.

O rapaz de cabelos castanhos pegou uma toalha para secar o corpo do irmão. Depois o trouxe para dentro do quarto, e vestiu o pijama nele.

— Amanhã cedo nós vamos ao St. Mary, Wen. Temos uma consulta com o Dr. Cook.

— Consulta pra quê? Pra ele dizer mais uma vez que eu vou ficar assim pro resto da vida?

Phil ficou em silêncio, não tinha resposta para aquilo. Ele sabia que eram pouquíssimas as chances de Wen voltar á andar novamente. O Dr. Cook havia advertido que a cirurgia que poderia fazer isso, era extremamente perigosa e que as chances de melhora eram menos de vinte e cinco por cento.

— Bom, amanhã a consulta é bem cedo mesmo. Eu tenho que encontrar uma pessoa depois. — Phil dissera enquanto ajudava seu irmão deitar na cama.

— É seu namorado? — Wen perguntou. Ele sabia que Phil era homossexual. No começo foi difícil para ele, mas depois acabou aceitando a orientação sexual do irmão.

— É um amigo... Por enquanto. — Phil respondeu.

— Espero que ocorra tudo bem. — Wen disse e virou-se para o canto da cama. Phil ficou-o olhando por alguns segundos. Isso foi tão gentil.

— Obrigado. Boa noite Wen. — Phil disse com um sorriso.

— Boa noite. — Wen retribuiu.

Phil desligou a luz e saiu do quarto. Uma brisa gelada entrou rapidamente no cômodo. E a lâmpada do abajur próximo á cama de Wen, se apagou sozinha. Deixando o quarto numa completa escuridão.



XX-XX-XX

Shaniqua correu até um dos quartos vazios do hospital para atender o celular. Estava em horário de expediente, e não podia nem andar com o aparelho no bolso.

— Oi Angel, o que você quer? Fala rápido, garota!

Tá bom. Você sabia que a Dora vai viajar amanhã?

— Não. Ela vai? Na onde?

Então, acredita? Eu liguei agora á pouco pra ela e ela me disse que não vai nem trabalhar amanhã, porque vai ter que visitar os pais. Parece que estão com alguns problemas de saúde.

— Ah, então tudo bem. Tomare que eles melhorem né, roqueira?

Sim sim, Beyoncé.

— Engraçadinha... Ei, é amanhã que a tal advogada vai vir aqui né?

É! Que raiva! Se esse prefeito pensa que vai demolir o hospital, ele está muito enganado!

Calma aí, loirinha! O que você pode fazer?

Eu não pensei ainda... Mas nem que precise causar o maior barraco com essa advogada... Ela que me aguarde! Jamais que esse hospital se transformará em um estádio ridículo.

Tô contigo, amiga. — Shaniqua conversava com Angel pelo celular, e nem percebeu que uma senhora entrou no quarto.

— Trabalhando muito, Shaniqua? — A senhora falou.

A negra tomou um susto. E virou-se de frente á senhora.

— Han... Boa noite, amiga. Tenho que desligar agora, beijo. — A enfermeira desligou o celular e colocou-o no bolso do uniforme.

— Ai, desculpa Selly. É que a Angel ligou e...

— E você sabe muito bem que não pode andar com o celular pelo prédio. Não enquanto você estiver usando esse uniforme. — A senhora disse e pegou o aparelho no bolso de Shaniqua.

— Você gosta desse uniforme, Shaniqua?

— É claro! Eu lutei muito pra conseguir vir trabalhar aqui.

— Eu sei querida, então siga ás regras para não perdê-lo.

Selly era a enfermeira chefe do St. Mary. Trabalhava no hospital desde seus 25 anos. Agora com 61, tinha muita experiência, e não somente no hospital, mas também na vida. Não somente levava marcas internas, mas também externas: Sua pele era enrugada, e seus cabelos eram curtos e brancos. A senhora tinha lindos olhos azuis e um olhar doce. Embora com idade avançada, Selly transpirava gentileza. Mas como chefe das enfermeiras, tinha que ser firme. Principalmente com Shaniqua.

— Ai, me desculpa Selly! Você sabe que eu te amo, eu te tenho como uma mãe. — A negra disse com um olhar triste e se pendurou no pescoço da senhorinha. — Ou seria como uma avó?

— Tá bom, chega de bajulação. Toma seu celular e vê se não apronta mais nada. — Selly disse enquanto Shaniqua desfazia o abraço. Então a negra deu um gritinho comemorando.

— Vai logo! Que tem muito trabalho hoje.

Shaniqua assentiu e quando chegou à porta resolveu perguntar. — O que a senhora acha dessa história do prefeito fechar o St. Mary?

— Eu acredito em destino, querida. E acho que o que acontecer, é que tinha que acontecer.

Shaniqua concordou e saiu do quarto. Selly ficou encarando o quarto vazio e guiou-se até a porta.

— Ah... O destino.

A senhora saiu do quarto e fechou a porta.



XX-XX-XX

Carl já estava deitado na cama de seu quarto. Já fazia algumas horas após a visita de Louise. A aspirante á jornalista, prometera voltar na manhã seguinte para conhecer Angel. Carl insistiu muito para a garota, que acabou aceitando.

A cabeça de Carl estava á mil. Dali á algumas semanas, ele iria fazer a tão aguardada cirurgia de remoção do tumor de seu cérebro. Desde pequeno isto sempre fora prometido, mas pela sua pouca idade era muito perigoso e ele corria sérios riscos. Mas agora já tinha idade suficiente para a cirurgia e os riscos eram menores. Eu sei que essa cirurgia é importante. Eu quero fazer... Mas eu tenho tanto medo. Eu sou feliz assim, mesmo com esses tratamentos médicos. Eu sou feliz aqui com a Angel, a Shaniqua, Selly, Dora... Por todo esse tempo eu consegui sobreviver, e se quando mexerem na minha cabeça algo der errado. Eu tenho tanto medo. Tanto medo.

O garoto virou-se para o canto da cama, tentando dormir. Além de toda a história da sua cirurgia, algo mais encomodava Carl. Algo que ele não podia ver nem ouvir, algo que ele apenas sentia. O garoto sentia-se estranho, como se não precisasse se preocupar mais com nada. Como se todos os seus problemas fossem se distanciando, como se não precisassem mais de uma solução. Como se tudo fosse acabar.

Como se tudo fosse acabar.










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Notas finais do capítulo

Bom e isso aí, espero que vocês tenham gostado. O próximo capítulo sim, é do acidente. Sim esperem muitas mortes! XD
Aguardo reviews, e é muito importante para mim saber o que acertei e principalmente no que posso melhorar. :)
Abs e prox cap em breve! o/