Lembranças De Sangue escrita por Sammy Martell


Capítulo 2
Turnê da Pequena Vitoriosa




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Tara acordou com a luz do sol ofuscando sua visão, levantou-se e arrumou sua cama rapidamente. Foi até o banheiro para observar o calendário e percebeu...SUA TURNÊ DA VITÓRIA! Como podia tê-la esquecido? Droga, droga, droga. Em pouco tempo...


— Querida! - disse a voz esganiçada de Andy, uma parte de sua equipe de preparação. - Nossa, percebi que alguém seguiu nossas recomendações, pele perfeita e cabelos arrumados e sem nenhuma alteração. Está perfeita querida!


Andy Volemont era irmã dos outros dois da equipe de preparação. Com o tempo Tara se acostumara a eles e agora até permitia que conversassem com ela, os tornou íntimos o bastante para se aproximar dela, mesmo que não gostasse de afeto nenhum. Andy, Kalled e Gabby.


— Venha, Andy e Gabby prepararão seu banho enquanto você come o café da manhã. - disse Kalled passando seu braço pelos ombros da garota e conduzindo-a para baixo.


Não havia cura para o trauma da Arena, mas mesmo assim Tara tentava ao máximo controlar os surtos para que não saísse machucando pessoas. Sua irmã e mãe estavam sentadas à mesa esperando por ela.


— Bom dia Tara! - exclamaram ambas ao mesmo tempo.


Tara limpou a garganta, reunira coragem bastante para dizer aquilo.


— Bom dia. - sua voz saiu mais fraca do que esperava, a garganta estava seca depois de tanto tempo sem uso, desde que voltara para casa.


Todos a olharam surpresos por suas duas primeiras palavras depois de meses sem falar. Tara apenas se permitiu um sorriso tímido.


— É bom estar de volta. - disse calmamente saboreando cada palavra que dizia. Era realmente bom falar novamente, mas tudo tinha um preço, qual seria o de Tara?


— Você está falando! - exclamou a irmã a abraçando e levantando no ar.


— É, acho que estou. - deu de ombros.


Ela se sentou em uma cadeira e passou manteiga em um dos pães da cesta tecida a mão, colocou-o na boca e saboreou-o acompanhado de um bom suco de laranja.


— O café estava ótimo, mãe, mas tenho mesmo que ir me arrumar.


Tara descobriu seu preço muito rápido, talvez até demais. Ela já sabia que agora que conseguia falar teria que dizer algo para todos, teria que ser social e falar com Caesar, não poderia se fingir de muda. Infelizmente, teria que ser assim.


— Vamos, Tara, temos que lhe arrumar para as câmeras! - exclamou Kalled.


O homem a levou para o segundo andar onde Andy e Gabby já haviam preparado a banheira. Ela despiu-se e entrou na água morna e espumante enquanto os outros lhe arrumavam. Andy arrumava seu cabelo, Gabby sua face e Kalled suas unhas. Ela acabou o banho e os três a ajudaram a se secar e se hidratar.


— Muito bem, sente-se aqui. - disse Gabby indicando a poltrona da penteadeira, enquanto Andy colocava em Tara o roupão azul.


Tara sentou-se e os três a maquiaram e arrumaram seu cabelo do mesmo jeito que Tara entrou na Arena, então ela apagou. Sua mente ficou nebulosa, parecia que tinha perdido o controle de tal.


***


Ela estava na sala de lançamentos quando os pacificadores entraram com sua estilista, Faye Damngood. Ela se aproximou de Tara e lhe deu um abraço.


Sua estilista fora sua mãe durante todo os pré-jogos e agora estaria ali ao seu lado, em seus prováveis últimos momentos de vida.


60, 59, 58, 57, 56, 55, 54, 53, 52, 51, 50...


A contagem continuava, Faye foi rápida em arrumar Tara, colocou-lhe um casaco e fechou-o bem fechado.


— Isso irá te aquecer, mas se precisar, tire. - disse ela.


Sua estilista colocou seu bracelete no pulso da garota, ele era prateado e confortável, Tara olhou dentro dos olhos castanhos da mulher que sorriu.


— É sua lembrança agora, quando se sentir sozinha é só passar a mão em cima. - Faye deu-lhe um beijo na testa.


— Obrigada, por tudo, Fay. - Tara lhe abraçou mais uma vez até que...


14, 13, 12, 11...


Tara entrou no tubo que fechou a porta e começou a subir, a última coisa que ela fez foi acenar para sua estilista.


A contagem dos dez segundos havia começado, a cada número o coração de Tara palpitava nervosamente, a garota achava que iria cuspi-lo pela boca.


10, Tara lembrou-se de sua família, irmã, amigos, embora tivesse poucos, e de seu pai, há muito tempo falecido.


9, Tara lembrou-se de Esperanza, por quem havia se voluntariado para que a amiga cega não morresse nos Jogos.


8, Tara lembrou-se de sua mãe, o jeito como ela havia chorado na visita, o jeito como havia manchado o vestido de sua filha de lágrimas.


7, Tara lembrou-se de Abby, sua irmã, por quem faria de tudo. Ela era a pessoa mais corajosa que Tara conhecia, mas a irmã mais velha foi impedida de se voluntariar por Tara.


6, Tara lembrou-se de seu pai, que havia tentado fugir, mas fora pego e morto na praça.


5, Tara lembrou-se de Willa, a representante de seu distrito, muito diferente das outras, Willa não tinha sido irritante, mas tinha demonstrado uma coisa que Tara não sabia o que era, algo como rebeldia.


4, Tara lembrou-se de Andy, Kalled e Gabby, que haviam a preparado para tudo, que a ajudavam a conter suas lágrimas nas piores horas.


3, Tara lembrou-se de Faye e do bracelete que estava em sua mão, talvez porque agora o presente parecesse a coisa mais importante no mundo.


2, Tara lembrou-se de seu mentor, Finnick Odair, que a ajudara em suas piores horas, que virou um grande amigo para ela.


1, Tara lembrou-se do garoto que dissera para ela que uma garotinha como ela não poderia vencer os Jogos, seu parceiro de distrito, Peter.


O som ecoou por toda a Arena.


— E que comece a Septuagésima Terceira Edição dos Jogos Vorazes. - exclamou a voz.


Tara começou a correr com a adrenalina subindo pelo sangue. Mesmo que fosse burrice, Tara insistiu em entrar na Cornucópia e esconder-se atrás de caixotes. Os carreiristas passaram sem nem percebê-la e foram matar outros tributos fora do local. Quando finalmente todos pareciam ter ido embora, Tara pegou a única mochila que sobrara, a de primeiros-socorros. Ela ouviu passos vindos de trás, virou-se e deparou com Peter sorrindo sadicamente com uma lança ensanguentada em mãos. Tara correu, porém Peter lançou a arma contra ela, a garotinha rolou para o lado e pegou um dardo perdido no chão, mirou-o no brutamontes de seu parceiro de distrito e atirou. Não sabiam se foi sorte ou boa mira, mas o dardo atingiu o pescoço de Peter que logo sentiu os efeitos do veneno. Finalmente ele caiu morto no chão.


Tara se ajoelhou em meio aos cadáveres, ela tinha matado uma pessoa...Ela realmente seguira seus instintos e havia matado uma pessoa, não era mais tão pura quanto achava que seria. Ela era só mais uma assassina no meio da Arena. Naquele momento qualquer um podia tê-la matado, mas para sua sorte os carreiristas estavam bem ocupados no momento.


Quando ouviu o aerodeslizador, Tara saiu correndo para a floresta, embrenhou-se na mata até achar uma bela árvore, entrou ali e percebeu que o mundo na Arena realmente era gigante, pois um buraco que naturalmente seria para pássaros, parecia uma boa caverna. Tara deitou-se em cima de seu casaco e usou alguns galhos para tapar a entrada, não fez nenhuma fogueira, com medo de atrair os carreiristas, apenas ficou ali, descansando em seu esconderijo, até finalmente ouvir o canhão, ela se aproximou da abertura e olhou para o céu na esperança de ver os tributos mortos.


Ela contou, doze tributos, metade da Arena estava morta, a aliança de carreiristas estava viva, isso era um problema.


***


— Tara! Tara, querida, você está bem? - perguntou uma Andy desesperada.


Tara balançou a cabeça.


— Sim, foi só um flashback.


Sua equipe de preparação prendeu o ar.


— Calma, está tudo bem. - ou não, pensou ela consigo mesma.


Quando finalmente Andy, Gabby e Kalled se recuperaram voltaram a fazer um bom trabalho, quando terminaram a deixaram sozinha na cadeira até que Faye entrou.


— Veja se não é minha pequena vitoriosa! - sorriu ela.


Tara a abraçou fortemente e logo depois indicou o bracelete prateado que continuava em seu pulso.


— Continuo com ele. - sorriu.


— É, eu sei. - sorriu a mulher de volta. - Agora é o seguinte, fiz seu conjunto para o começo da turnê desde que eu soube que você saíra viva daquela arena, se você manchar eu juro que pinto seu cabelo de rosa.


Tara riu.


— Tudo bem, calma, não precisa me matar. - pediu ela.


— Acho bom. - afirmou a mulher assentindo. - Agora vamos colocar sua roupa.


Tara não pode deixar de notar como a roupa era simples. A garota usava uma blusa branca com listras azuis esverdeadas, um short jeans e sandálias.


— Ok, Tara, você vai lá fora, coloca os óculos escuros e acene para os fotógrafos, lembre-se de sorrir, alguém pode se apaixonar por seu sorriso. - ela deu tapinhas no ombro de Tara e a conduziu para o primeiro andar até o lado de fora.


Os flashs ofuscaram a visão de Tara assim como o Sol, ela se lembrou do que Faye havia dito e colocou os óculos acenando para os fotógrafos. Aproveitou para sorrir. Quando seu maxilar já doía de tanto tempo sorrindo a maça de fotógrafos correu para a casa ao lado, a casa do mentor de Tara, Finnick Odair e após alguns minutos fotografando eles se dispersaram.


— Finn! - gritou Tara acenando.


Finnick pareceu notá-la.


— Olha só se a baixinha muda não está falando! - exclamou ele rindo.


Tara o acompanhou, como sempre fazia, mesmo que discretamente, quando o tal ria. Finnick tinha sido o melhor mentor que ela poderia ter, foi gentil com ela e entendeu sua timidez para as palavras melhor do que ninguém.


— Vamos para a estação andando? - perguntou Tara.


Finnick sorriu.


— Não sei você, mas eu vou. - disse ele desviando um olhar.


Tara seguiu seu olhar e percebeu que o mesmo estava direcionado para a garota de cabelos castanhos e pele pálida, outra vitoriosa do 4.


— Vai falar com ela. - Tara o cutucou com o cotovelo.


— Ahn...Não sei não... - disse Finnick inseguro.


— Argh! Que saco, Finn. - exclamou a garota e marchou até a vitoriosa.


Ela era ainda mais bonita de perto, quando percebeu a presença de Tara gritou de susto e tentou se controlar. Tara sabia que ela ficara louca após a Arena, mas resolveu não mencionar o fato.


— Sou Tara Fringe. - estendeu a mão.


— Annie...Cresta. - disse a outra apertando cuidadosamente a mão de Tara.


— Prazer, Annie. - sorriu.


A garota pareceu um pouco mais segura.


— Ei, ahn...Tara, aquele garoto é seu amigo? - perguntou Annie insegura.


— Ele é meu mentor, Finnick Odair. - respondeu Tara sorrindo de canto.


— Ele é bonito. - disse Annie inconscientemente.


Tara riu.


— É, é. Foi um prazer Annie! - exclamou voltando para perto de Finnick que andava de um lado para o outro nervosamente.


Quando percebeu a volta de Tara olhou alarmado para ela.


— Calma, calma. - começou ela rindo - Ela é Annie Cresta, mas você já deve saber disso, ela disse que você é bonito.


Só faltava o garoto pular de felicidade após aquelas palavras, Tara lhe deu tapinhas de brincadeira no ombro.


— Vamos, Willa é bem capaz de nos matar se não formos. - riu a garota acompanhada de Finnick.


Os dois seguiram para a estação brincando sempre entre si.


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