Lembranças De Sangue escrita por Sammy Martell


Capítulo 1
Pesadelo de Uma Noite de Verão




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Os soluços vinham de todos os lados, Tara mal conseguia se concentrar enquanto ouvia o choro dos tributos que estavam lá embaixo. Seu cérebro trabalhava a mil enquanto ela tentava achar uma possível saída para não ser pega pelos Carreiristas. Esse eram os Jogos Vorazes. 

— Sabe... - disse cruelmente a garota do dois, Lavínnya Bergman, enrolando o cabelo na ponta do dedo sensualmente. - Vocês poderiam ser mais inteligentes. Por mais árvores que tenham, toda fogueira lança fumaça. 

Tara sentia sua barriga pedindo comida, já fazia dois dias que ela não comia nada além de cascas de árvore. Então ela percebeu as mochilas dos Carreiristas, lotadas de suprimentos, como maçãs, castanhas e carne seca. Porém Tara não tinha aliados, armas ou, sequer, uma pedrinha, enquanto os carreiristas carregavam suas enormes armas. 

— Por favor, não nos mate. - choramingou a garota do distrito 12 - Te damos tudo que temos.

Lavínnya sorriu cruelmente para seus companheiros e, enfim, virou-se para a garota.

— É matar ou morrer. - disse sorrindo sadicamente. 

Em uma questão de segundos os garotos do 1 e 2 cravara suas espadas no corpo das garotas.

BOM. BOM. 

A última que ainda restava da aliança era a baixinha do doze

— Você não terá tanta sorte como suas amigas. - disse a cruel tributa do 2.

Dizendo isso colocou suas perfeitas mãos com seus dedos longos e frios em volta do pescoço da tributo do Distrito 12. Pressionou-a contra a árvore em que Tara estava escondida e mandou que seus dois companheiros a amarrassem. Em uma questão de segundos, a fraca garota estava imobilizada na árvore chorando por piedade. 

— Por favor! Eu te imploro! - choramingava ela. 

Lavínnya não deu ouvidos, apenas deixou que seu parceiro de distrito tomasse a dianteira, se Tara bem relembrava o nome de tal era Jared. 

O garoto pegou uma faca e cortou as cordas, uma expressão de surpresa tomou o rosto de Lavínnya enquanto a garota do 12 não perdia tempo e fugiu. 

— Seu imbecil! - gritou Lavínnya furiosa. - POR QUE DEIXOU ELA FUGIR? 

— Ela vai morrer mais cedo ou mais tarde. - Jared deu de ombros.  

Ele era muito mais baixo que Lavínnya, tinha treze anos, mas parecia ter mais. Por isso, naquela hora, Tara não pode deixar de lamentar pelo garoto do 2.

— Você, vai perder a vida por isso, seu besta. Não, espere, vou fazer melhor. - Lavínnya pegou um pote com cinco teleguiadas. 

Tara prendeu o fôlego quando ela abriu a tampa e, em um movimento rápido, colocou sobre a perna de Jared que foi toda picada. 

A garotinha do 4 estava com à beira das lágrimas quando Lavínnya pegou uma faca e passou em cima das picadas antes de ir junto com o restante de seus subordinados.

Jared gritava, mas não chorava, Tara se certificou de que Lavínnya tivesse ido embora para pegar uma das poucas coisas que carregava em sua mochila, ataduras e medicamentos. Ela desceu de sua árvore habilmente e se aproximou cuidadosamente de Jared. 

— Quem está...aí? - perguntou em uma voz fraca e rouca de dor.

Tara se aproximou mais para que ele pudesse vê-la, o garoto pareceu relaxar, afinal uma garotinha de doze anos desarmada não parece uma ameaça. 

— Sou Tara, distrito 4. - disse ela delicadamente. 

— Jared, distrito 2. - respondeu o garoto. 

— Não precisa ter medo de mim, só quero ajudar. - Tara se aproximou dele e olhou para a perna. - Tente, dormir. 

Dito e feito, Jared fechou seus olhos e deixou-se levar pelos sonhos, ou talvez alucinações causadas pelo veneno de teleguiada. Tara podia perceber sua agonia, pois tal suava muito e resmungava algo sobre uma tão de Zoë. 

Tara procurava se concentrar exclusivamente em seu ferimento. Pegou algumas ervas em sua mochila e mastigou-as até que ficassem perfeitas para o tipo de ferimento de Jared. Colocou-as cuidadosamente na atadura e enrolou-a na perna do garoto. 

Quando ele finalmente adormeceu calmamente, Tara resolveu fazer o que esperara tanto para fazer. Tudo tinha um preço, não importava o quão boazinha ela fosse. Se aproximou furtivamente da mochila que Jared carregava e retirou-a dos ombros do garoto. Era melhor do que a sua, havia um saco com biscoitos; um pote com carne seca; um saco de castanhas e uma garrafa com água, além de um estojo de vinte facas, era mais do que o bastante. 

A garota colocou tudo em sua mochila e correu, correu para longe de Jared, para qualquer lugar menos ali. Sentia um peso no coração, algo que nunca havia sentido na vida. 

***

Essa lembrança atormentava Tara Fringe em uma bela noite de verão. 

Nunca havia sido querida por ninguém, todos diziam que ela não tinha chance, até que a garota foi a primeira a vencer os Jogos com apenas doze anos. 

Era um dia triste para Tara, chovia intensamente lá fora e isso sempre a fazia lembrar que no dia seguinte aconteceria a colheita. A garota vivia no distrito 4, antes do Jogos era pobre, mas agora via a pobreza enquanto nadava em dinheiro, praticamente. 

— Querida? Está bem? - perguntou sua mãe entrando em seu quarto. Tara suspeitou que tivesse gritado durante o sonho. 

A garota negou com a cabeça. 

Sua mãe, Ashey Fringe, sofrera muito desde que Tara fora escolhida no ano passado. Sofreu de depressão por semanas, até que soube da noticia: sua pequena filha de apenas doze anos havia vencido os Jogos Vorazes. Era uma mulher forte, cabelos castanhos escuros e a pele pálida muito bonita por sinal. 

E também tinha sua irmã mais velha, Abby Fringe, que queria se voluntariar pela irmã, mas a pequena não deixou. 

— Querida, pode me contar o que quiser. - sua mãe se aproximou, porém Tara se encolheu abraçando as pernas. 

Na Arena desenvolvera uma fobia de toque humano e animal, principalmente e de demonstrações de carinho. 

— Quer que eu cante uma música? - perguntou sua mãe gentilmente, desistindo de abraçá-la.

Tara deixou escapar um sorriso e fez que sim com a cabeça. 

Sua mãe pigarreou e cantou a canção da família. 

A essa altura Tara adormecera profundamente, talvez porque essa música a acalmasse ou talvez porque sua mãe a acalmasse, não sabia. Pode ouvir os passos de sua mãe enquanto saía do quarto e fechava a porta.

A garota Fringe não voltou aos seus pesadelos, mas não teve sonhos, nenhum.  Uma noite tranquila sem as perturbadoras lembranças da Arena. 


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