Doppelgänger: Primeiro Dia escrita por Rauker


Capítulo 9
Capítulo 08 - Contato


Notas iniciais do capítulo

Último capítulo da primeira parte da história. A fic retornará com o capítulo 9 no dia 05 de maio.



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Uma imponente nuvem cinzenta vagando pelo firmamento azul cobriu a estrela do dia que iluminava o campus de Ventura; uma nuvem que se formara misteriosamente há poucos minutos sem o conhecimento de qualquer estudante.

Léo permanecia à mercê dos veteranos, sem se dar conta do contato iminente.

Os espectadores se foram após algum tempo.

A tinta cobre totalmente meu rosto, pescoço e ambos os braços. Enfim, eles terminam o trabalho. Sinto-me arrasado, infeliz e irritado (sem conseguir demonstrar ou extravasar este último sentimento). Mal tenho ânimo para erguer a cabeça de tanto desalento. Olho a grama, o verde gradualmente perdendo seu brilho, tornando-se mais escuro… escuridão… pesadelo! Sim, o pesadelo dessa madrugada que não conseguia me recordar depois de acordado. Porém, é apenas um fragmento ou quase nada. Sei apenas que estava alvejando a escuridão por alguma razão, algo naquele breu me interessava.

O verde escuro do gramado, de repente, estimula uma curiosa dedução. O que eu busco na escuridão? Alguma razão. Qual a razão do gramado ficar escuro durante o dia? Uma nuvem.

Levanto a cabeça e olho para o céu. Realmente há uma nuvem sob o círculo solar, porém não aparenta ser qualquer uma. Através da imaginação, é simples formar algum tipo de imagem com as formas das nuvens por mais vagas que se sejam: geralmente animais ou criaturas que não existam nesse mundo. Eu vi um pássaro gigantesco.

O trote parece um evento distante e irrelevante se comparado ao teor fantástico evidenciado por aquela nuvem similar a um pássaro colossal, como se oriunda de alguma história de Fantasia populada por raças fantásticas, incluindo seres feitos de nuvens. Eu permaneço a olhando, hipnotizado por sua aparição inesperada, esquecendo-me completamente do Barril e dos outros. Parece que o tempo não avança enquanto mantenho o foco sobre ela. É como o instante com aquela gralha: os segundos alongavam-se a proporções irracionais.

Subitamente, um grasno igual ao daquele pássaro negro pousado no ombro da estátua ecoa pelo céu com a mesma potencialidade sonora de um trovão. Meu coração dispara achando que o barulho foi apenas imaginação. A nuvem em forma de ave, no entanto, permanece majestosa no céu, e já não tenho certeza se o grasno foi um ribombo real ou fruto da minha cabeça. Meus olhos não conseguem relaxar, mantenho-os arregalados. Recuo três passos e caio.

— Tá doidão, cara? — pergunta Barril, começando a rir junto aos demais de meu estado atemorizado. Encontro-me tão impressionado, que a presença deles, o grande problema que me assolou há poucos instantes, não é mais tão relevante. Minha atenção volta-se apenas para a nuvem no céu e o bizarro grasno celestial. — Que tanto você olha pro alto?

O próximo movimento irrompe de maneira inesperada. Uma segunda manifestação sonora ecoa, mas em tonalidade natural. Vejo então que se trata de um pássaro negro adejando sobre a cabeça do Barril, bicando seu cabelo semelhante à Bombril.

— Não, não. Pare! — grita o gorducho se sacudindo e cobrindo a cabeça com as mãos.

Observo o desespero configurado no rosto do Barril e me lembro de um conto envolvendo gralhas negras. No conto havia uma lenda que dizia que quando uma delas resolve atacar uma pessoa, a ave transmite sete dias de má sorte, reveres que vão desde a uma pisada em falso numa poça d´água até a morte.

O gordo sai em disparada levando os amigos consigo. Ele realmente fugiu de uma ave? Creio que ele e os colegas poderiam dar conta de repelir o pássaro.

A gralha, tenho certeza que é mesma que me encarou, pousa no gramado e me lança aquele mesmo olhar frio. O que essa coisa quer de mim? Ela começa a andar vagarosamente até mim. Meu desejo é distanciar-se desse animal agourento, mas estou sentado e a tensão do momento me impede de ter coragem para me erguer. Imagino se ela também não me atacará. Se o fizer, arrisco a presumir que um agouro nefasto cairá sobre mim. Permaneço estupefato enquanto nossa distância se encurta.

Há um papel seguro no bico do pássaro. Percebo-o quando ele se aproxima mais e mais até parar a centímetros de onde estou. Encara-me duramente, o papel firme em seu bico escuro. Respiro fundo e elevo tremidamente a mão direta.

Meus dedos agarram o papel. Contrariando a expectativa do momento, não sinto nada de anormal, exceto uma dose de confusão e nervosismo. No papel retangular, pequeno, duas vezes menor que a carteirinha do colégio, visualizo uma palavra datilografada, escrita em fonte cursiva: “Despertar”. O que quer dizer? Procuro a gralha e percebo que continua me olhando com afinco como se esperasse alguma ação minha. O que ela quer?

Viro o papel e me deparo com algo ainda mais ininteligível: uma sequência de oito números zeros. O verbo e essa série vazia eram as únicas coisas informativas no papel.

— O que é isso?

Nem ligo para o fato de estar falando com uma gralha. Obviamente, não recebo nenhuma resposta; pior, a ave ignora a pergunta e alça voo. Contemplo-a novamente até sumir do meu campo de visão. Volto minha atenção para o papel.

“Despertar”… mas despertar o quê?


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham curtido a história até aqui. O capítulo 8 encerra um arco da fic. Não deixem de acompanhar os capítulos seguintes a partir do dia 05 de maio ;D