Doppelgänger: Primeiro Dia escrita por Rauker


Capítulo 19
Capítulo 18 - O Chamado


Notas iniciais do capítulo

O final da segunda parte se aproxima. Boa leitura o/



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O momento da tentação é arrebatador quando consola a fraqueza do Homem.

— Você reconhece as sangrias que um ser humano aplica em sua própria vida? Consegue antever um recipiente vazio após a realidade ter devorado todo o seu conteúdo?  Pode ver o fim se aproximando?

As perguntas daquele estranho se alojam em minha mente como hóspedes malditos e vandalizam meus âmbitos racionais. Sinto como se fossem atear fogo nos restos de minha sanidade para contemplarem meu futuro desespero. Se eu tivesse as respostas para essas perguntas conseguiria expulsá-las da minha cabeça.

— Léo Ventura, você é meramente o resultado de infinitas combinações, uma escolha decidida, consciente e inconscientemente, pela infinitude de sua alma.

— Eu… não entendo. — A dor em meu peito não se parece com a de um ferimento real, mais se assemelha às dores imaginárias de um sonho. Afinal, quem nunca levou um tiro na vida real pode apenas supor essa dor quando a experimenta dentro de um sonho. Além dessa simulada dor no peito, ainda tenho que me esforçar para compreender o que aquele desconhecido me explica.

— Ao ser transportado para o campus de Ventura agora há pouco, você ficou frente a frente com um igual, com outro resultado de combinações. Apesar de serem idênticos, ele te deixou impressionado, não foi? A verdade era que ele carregava particularidades diferentes de você. Ele fez escolhas diferentes de você, e essas escolhas geram outros tipos de pessoa. Está entendendo?

Eu compreendo que, ao contrário daquele Léo, nunca teria conseguido se safar do trote. Na ocasião, eu apenas aceitei os fatos após alguma resistência. Mas ele não se entregou até o último segundo, e por isso conseguiu um final diferente. Só não consigo entender aonde ele pretende chegar com essa história enquanto a dor no peito não pára de crescer.

— E esse ferimento? O que é? Eu… — Imagens saltam na mente (embora eu provavelmente já esteja dentro dela). — Me lembro de ter levado um tiro.

— Sim. Você foi atingido por uma bala no peito, mas… não é exatamente essa a origem deste ferimento.

— Então o que é? — indago com uma voz mais forte.

— É a morte de um resultado que não mais satisfaz as condições da vida real. Estou errado? Por acaso, não se sente impotente e patético frente a algumas situações?

Quero negar essas suposições, mas não consigo rebatê-las. Porque no fundo sei que são verdadeiras. Sim, eu sou patético e impotente. Nunca levo fé em minhas próprias ações, e a cada nova situação sempre cogito as falhas futuras. Sou pessimista demais para ver as coisas de maneira favorável. Por mais que tente mudar minha atitude perante a realidade, por mais que eu queira ver a vida de outra forma… eu não consigo.

A escuridão pronuncia o que não tenho força para dizer:

— Você odeia o que é agora… Mas, sem perceber, teve várias chances para mudar o que é. E eu lhe mostrei uma delas. — Ele deve estar se referindo ao Léo que vi fugir do grupo do Barril. — Só que agora é tarde demais para mudar. Por causa de uma fatalidade, você está bem próximo da morte. — Agora está se referindo ao tiro que me atingiu.

— Então… por que ainda estou aqui? — indago, desalentado. — Por que ainda não morri?

— Porque eu estou aqui — disse a sombra, e pela primeira vez sinto um teor afetuoso em sua voz, como o de uma mãe, amante ou amigo que protege alguém amado. — Léo, essa é a única chance que tem para mudar o seu destino, a oportunidade que possui para mudar a si mesmo pensando apenas no presente e no futuro. A capacidade de mudar sua própria realidade e ser dono dela.

— O que quer dizer?

— Poder!

Não compreendo claramente as intenções dele, mas sinto um desejo crescente em mim. Será esse “poder” que ele mencionou? Eu realmente quero isso, uma segunda chance, uma última chance… Sim, eu quero.

— Léo, levante-se. Caminhe até a escuridão, e lhe darei o poder de libertar todos os seus anseios.

Não consigo resistir a essa tentação. Eu preciso… eu quero esse poder! As pernas estão fracas, mas fico de pé. Lentamente, ando para aquela escuridão que antes me amedrontou e agora me alicia.

— Isso mesmo, Léo. Venha! Me deixe sair, me deixe existir, me deixe despertar!


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Notas finais do capítulo

Próximo capítulo: 21/07



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