Doppelgänger: Primeiro Dia escrita por Rauker


Capítulo 18
Capítulo 17 - ... E um outro "eu"




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Quando sua imagem no espelho toma minha vida própria...

A face amedrontada de Léo me causa espanto (afinal, é o meu próprio rosto), ainda que bem menor daquele que meu duplo está sentindo. Percebo a intensidade do susto domando suas ações, impelindo suas pernas para trás até o corpo colidir com a porta da divisória, que se moveu para dentro e foi rapidamente trancada.

Volto-me para o espelho. Significa que minha imagem refletida pode ser vista pelos outros, ou talvez apenas por ele. Será que minha voz também é percebida? Pensando nisso, me aproximo da divisória trancada, consigo escutar a respiração de Léo, certamente procurando se acalmar. Infelizmente, pode ser que eu lhe dê um segundo susto.

— Léo — chamo-o da maneira mais cautelosa possível. Ele profere algo    que não consigo discernir, talvez dizendo a si mesmo que está ficando maluco ou sonhando. Tento mais uma vez. — Léo.

— Estou ficando maluco. Isso só pode ser coisa da minha cabeça. — diz a voz do outro lado. Preciso convencê-lo de que sou real. Sou mesmo? Nem eu sei o que estou fazendo aqui. Na verdade, acho que sou eu quem está sonhando. Mas sinto que preciso compreender toda essa situação, a razão de estar vendo uma realidade que não aconteceu.  

— Léo, me escute. — Procuro falar da forma mais cuidadosa possível a fim de não atemorizá-lo mais do que já está. — Você não está louco. Pelo menos eu acho que não está. Não sou parte da sua imaginação, na verdade, nem eu sei o que sou direito nesse momento. Talvez eu seja um fantasma ou algo próximo disso. Tenho a impressão de estar dentro de um sonho e que você e esse lugar fazem parte dele… — Não consigo escutá-lo do outro lado. Suponho ter conseguido acalmar sua tensão, e agora ele está fazendo o máximo para tentar compreender o que digo. — A verdade é que eu preciso falar com você para saber o que está acontecendo. Preciso da sua ajuda. Por favor! — Dou uma leve ênfase dramática no pedido e aguardo a reposta.

Escuto o barulho do trinco, a porta se abre lentamente e um rosto desconfiado (mas percebo um quê de curiosidade nele) surge para me encarar. Viro-me lentamente na direção do espelho para que possamos nos ver. Nenhuma palavra ou ação de minha parte, cedo o tempo necessário para que ele me avalie. O outro Léo se aproxima e pára ao meu lado, seus olhos pregados no espelho. Ele levanta um dos braços e aventa o exato local onde me encontro, mas não há nada onde estou, pois sou como um fantasma. Minha existência só pode ser identificada através do vidro do espelho.

— Incrível. Sou eu, sou eu de verdade — diz ele, impressionado. Mas não há medo nele, apenas curiosidade. Lembro-me de minhas sensações com aquele corvo, a colisão com o insólito. De fato, sou do tipo que procura aceitar esses fenômenos estranhos após inicial resistência.

 Uma música japonesa direciona minha atenção para o bolso da minha calça. Meu celular está tocando. Ao pegá-lo, porém, noto que ninguém está me ligando. É o celular do outro Léo que toca. Escuto-o falar, mas sem tirar os olhos de mim.

— Oi, Marcela… O que foi?… … … Estou bem. Estou bem, sim, Marcela… Era só isso?... … Sim, tá tudo bem por aqui. — Percebo um nervosismo se espalhando pelo rosto dele.  — Olha, eu vou ter que desligar agora. Depois eu ligo pra você, tá?… Tchau!

— O que a minha (ou nossa) irmã queria? — pergunto.

— Só queria saber se eu estava bem — diz ele, guardando o celular. — É meio estranho ela perguntar isso.

— Acho que ela só está preocupada com o… nosso primeiro dia de aula. — Me recordo de ter compartilhado de minhas preocupações com Marcela, desde minha dificuldade em conseguir amigos até ser vítima de trotes.

— Não entendo. Como você pode ser eu?

— Eu também não sei o que está acontecendo. Como disse antes, imagino que tudo isso aqui seja um sonho. — Finalmente ele parece mais disposto a tentar me compreender. Creio que agora podemos ter uma conversa proveitosa. — Num minuto estava num lugar e depois apareci em outro. A primeira coisa que vi foi você sendo arrastado pelo Barril e os outros. Aliás, como você conseguiu fazer aquilo? Foi… meio estranho ver a mim mesmo se livrando daqueles garotos.

— Hm, está falando do chute que eu dei naquele barrigudo? Aquilo foi…

Subitamente, Léo e o banheiro desaparecem, escuridão e o corredor reaparecem. Da mesma forma como fui transportado para o campus de Ventura, retorno para o local inicial do que posso chamar de sonho. Minhas pernas amolecem e eu desabo no chão, enfraquecido como antes. Mas que maldito lugar é esse?

— Você quer saber? — diz aquela voz maliciosa. — Foi porque você morreu.

— Como assim? Do que você está…

Uma forte pontada no peito faz meu rosto vergar-se de dor. Inclino a cabeça e arregalo os olhos ao mesmo tempo em que um som de pânico sai da minha boca. O vermelho começa a se espalhar no centro da camisa enquanto uma risada nociva caçoa de meu desespero.


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Notas finais do capítulo

Próximo capítulo: 14/07

Quem quiser conferir, estou disponibilizando o começo de um livro que venho trabalhando há anos. Ele é de um gênero diferente dessa fic. xD http://fanfiction.com.br/historia/385802/Nerikia_-_Arco_I/



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