Ameixeira escrita por Nyuu D


Capítulo 1
único




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No primeiro aniversário de Sanji junto ao bando após dois anos de separação, estavam todos planejando fazer uma festança. Luffy já sonhava com a carne de churrasco – que teria de ser preparada pelo cozinheiro, já que os demais não se arriscavam a mexer nos apetrechos de trabalho de Sanji –, Nami pensava nos docinhos e no bolo que iria comprar com Robin na ilha onde se encontravam.

Era um local pacato, com poucos habitantes, mas muitos artesãos e pessoas vivendo de plantações e pequenos criadouro de animais. Sendo assim, em meio a esses moradores, havia uma conhecida senhora por cuja loja Nami passara dois dias antes. Ela preparava bolos, tortas e doces sob encomenda e dependendo da ocasião podia até fazer algo personalizado. Mas, não era exatamente do interesse do bando algo assim, bastava ser um bolo bem gostoso com velinhas para o cozinheiro assoprar.

Franky e Usopp preparavam uma decoração, Chopper ia ajudar as meninas e Brook ia ensaiar umas músicas com Luffy.

Já Zoro... Zoro não tinha nenhuma função. Ele não sabia bem o que fazer. Podia pensar em algum presente, talvez; ou dar uma trégua de uma semana das discussões incansáveis entre os dois. Quem sabe presentear o cozinheiro com uma caixa de cigarros especiais. Não, ele não gostava dos cigarros. Não gostava porque faziam mal a Sanji e quem gostaria deles, levando isso em consideração? Mas não dava para enfiar isso na cabeça de jumento daquele homem, então que assim fosse.

Optou por não comentar nada a ninguém a respeito, mas Nami foi logo percebendo o seu ócio e chegou para abordá-lo enquanto Zoro tratava de suas katanas.

– O que vai fazer para o aniversário do Sanji-kun?

– Cantar parabéns – ele sugeriu com sarcasmo.

– Não. – Nami irrompeu com um suave sorriso de espertinha, causando em Zoro um tremor inexplicável. – Você vai comprar o bolo.

– Eu?! – Ele se ergueu. – Achei que essa fosse sua função.

– E era, mas Franky e Usopp estão fazendo uma decoração bizarra que vai precisar de um toque feminino. Então, eu e Robin vamos ficar para ajudar, você pode ir com o Chopper. – Ela enfiou a mão no bolso da calça e tirou dinheiro de lá. – Tome, você pode usar tudo isso para comprar os doces e o bolo. Mas o Sanji-kun está pela cidade, então tome cuidado para não topar com ele, ok? Estamos tentando fazer disso uma surpresa. – Entregou os berries na mão do espadachim.

Zoro olhou a quantia em dinheiro, surpreso com a confiança com a qual Nami lhe entregava sua preciosa e pequena fortuna. Claro que o dinheiro não era só dela, mas todos naquele bando sabiam que, além de navegadora e imediata, Nami era a mestre das moedas.

– Faça seu melhor. – Ela lançou uma piscadela no ar e ajeitou os cabelos ruivos. – Vou chamar o Chopper e vocês podem ir.

 Não devia ser difícil encontrar o lugar onde a mulher dos doces se instalava. Chopper já sabia o caminho e guiou Zoro, sentado no ombro do espadachim, explicando que ela tinha uns doces muito apetitosos, inclusive uns camafeus que ele e as meninas comeram com café no dia em que foram visitar o lugar. Zoro estava um pouco distraído enquanto a pequena rena tagarelava sobre os docinhos. Tão distraído que sequer viu Sanji vindo pelo outro lado da praça.

– Zoro! – Chopper falou num sussurro de desespero. – É o Sanji, rápido, se esconda – a rena agarrou na cabeça do nakama para ele se espertar; Zoro tentou se esquivar e cambaleou meio cego para algum canto, apoiando-se numa parede de uma loja para se esconder. Chopper o largou apenas assim.

– Não faz mais isso – Zoro o pegou pela gola da regata que usava, deixando-o pendurado no ar. – Da próxima vez capaz de eu trombar no cook antes de encontrar um lugar pra me esconder.

– Desculpe – disse Chopper. – Acho que a barra tá limpa, podemos ir.

Zoro verificou o lugar e Sanji ia à direção oposta, carregando uma porção de sacolas. Pôs Chopper no ombro novamente e tornou a caminhar, seguindo as instruções do nakama para chegar à loja. E quando finalmente chegaram, Zoro empurrou a porta e deixou que Chopper saltasse para o chão. Um barulho de sino fez notar a presença de dois novos clientes e uma senhorinha de cabelos brancos, óculos redondos e expressão sorridente veio lhes atender.

– Tanaka-san – Chopper a cumprimentou, acenando alegremente.

– Oh, você. Bem-vindo. Trouxe um amigo novo?

– Esse é o Zoro – ele indicou o nakama com a patinha. – Viemos comprar o bolo que contamos pra senhora no outro dia.

– Sorte a sua que estou com alguns bolos já prontos para a venda – ela se curvou lentamente na direção da geladeira frontal que ficava aberta às vistas dos clientes. Zoro olhou para baixo vendo uma porção de bolos confeitados, alguns já cortados ou abertos e outros ainda inteiros. – O que estão procurando?

– Vamos por partes – Chopper tomou a dianteira. – Precisamos de alguns docinhos. Os camafeus e as trufas que encomendamos no outro dia.

– Isso já está em estoque, querido.

– Então o bolo é com o Zoro aqui – Chopper pegou na barra da calça do nakama. – Eu vou cuidar da porta para ver se o Sanji não aparece.

Zoro olhou Chopper como se quisesse esganá-lo e, apesar de sentir um pouco de medo, a rena fez o possível para ignorá-lo e foi para a porta da confeitaria. Sendo assim, o espadachim ficou por conta encarando a velhinha simpática que sorria suavemente em sua direção, aguardando uma posição sobre o bolo de aniversário. – Eles não deviam ter encomendado isso com antecedência?

– Pois eu falei, mas parece que eles tinham outro plano em mente.

Zoro revirou os olhos. Robin e Nami davam uma bela dupla de bruxas.

– Que tipo de bolos a senhora tem? – Ele apoiou a mão nas katanas.

– Tenho marta rocha, floresta negra, coco com abacaxi e suspiro, bolo de sorvete com morangos...

Zoro franziu o cenho. – Como eu vou escolher um bolo?! – Ele mostrou-se um pouco desesperado. Francamente, Zoro nunca escolhia comida. Sanji era sempre o responsável pelas refeições e desde que o loiro entrou para o bando, Zoro não imaginava qualquer outra pessoa responsável por essas coisas. Quanto mais ele próprio.

– Escolha um bolo com carinho, você sabe do que o seu nakama gosta?

– Ele gosta de cigarros e mulheres.

A mulher deu um risinho. – Um sedutor, huh? E você, gosta de quê?

– Saquê.

– Ok, vamos por partes – a mulher andou para perto de Zoro, ajeitando os óculos. – O que você imagina que seu nakama ia gostar de saborear? Alguma dessas opções? Quem sabe algo diferente...

Zoro parou para pensar em Sanji por um instante e no que possivelmente vinha a sentir por ele.

O tipo de relacionamento que ele e Zoro tinham era mantido a partir de brigas e rixas infinitas, transformando-se numa amizade forte e fiel em diversos momentos e quando precisam um do outro. Zoro sabe que pode contar com ele. Tem certeza disso. Por mais que Sanji não se importe e por vezes insinue querer largá-lo na primeira ilha que encontrar... Certamente não seria assim caso o espadachim se encontrasse realmente em apuros. E Zoro podia dizer o mesmo com todas as letras. O bando não seria o mesmo sem Sanji.

Enquanto ele pensava, a senhora Tanaka foi para trás do balcão pegar os docinhos. Zoro deu uma andada pela loja olhando alguns pacotes de bolachinhas já prontas para levar, pães doces e salgados embalados cuidadosamente com laços caprichados. A mulher era bem dedicada, apesar da clientela não ser tão grande... Ou talvez a cidade inteira comprasse lá.

Quando pensava em Sanji o que vinha à sua cabeça eram os enormes banquetes, o cigarro nos lábios e a sobrancelha enrolada. O que mais poderia ser?!

Quem sabe...

Zoro apertou a ponta dos dedos contra a testa forçando-se a pensar em algo menos estúpido. Não conseguiria nenhum progresso escolhendo o bolo se fosse continuar assim. Poderia simplesmente pegar algo de chocolate que agradaria a todos, mas sua missão não era assim tão simples. Primeiro: Nami o havia confiado dinheiro para ir à compra do bolo e dos doces. Segundo: era o cook.

Simplesmente isso.

Quando a mulher voltou com a caixa de doces, Zoro olhou para ela e respirou fundo. Não sabia mais o que queria... Mas queria algo diferente. Algo com o sabor que Sanji tinha para ele... Algo que ele sabia que Sanji iria gostar.

– Tem algum bolo de ameixa?

– Hum... – A senhora olhou para o estoque de bolos, depois para o espadachim. – Não vou ter para agora, mas posso preparar um bem gostoso de ameixa e marshmallow para o final da tarde. O que acha?

Zoro sorriu, orgulhoso de si mesmo. – Eu e o Chopper vamos aguardar. Posso deixar essa caixa de doces aqui?

Mais tarde, Zoro retornou à confeitaria. Teve que se esquivar de Sanji duas vezes. Chopper o alertou a tempo, então foi tudo um sucesso. Mas agora tinham que se apressar, pois o cozinheiro logo voltaria para o navio com o restante das compras que fizera na cidade. Pelo den den mushi bebê, Zoro se comunicava com Nami, que agora o apressava porque Sanji já não voltaria mais à cidade após a segunda viagem com produtos para a cozinha.

– Aqui está, querido – Tanaka pôs as coisas no balcão. Três caixas; uma mais alta, com o bolo, e duas com os docinhos. E por cima de tudo uma caixa com velinhas brancas de aniversário. – Espero que seu amigo goste bastante do bolo, e as velinhas são de presente.

Zoro pagou e Chopper agradeceu entusiasticamente, prometendo que voltaria para buscar uns bolos para levar embora no Thousand Sunny. A mulher desejou a eles uma boa festa e Zoro agradeceu, também, porém, com mais sutileza. Quando saíram da loja, Chopper verificou os arredores e cheirou o ar, tentando identificar Sanji, mas ele não parecia estar por perto. Liberou a saída e guiou o nakama pelo caminho de volta ao navio.

– Por que escolheu ameixa, Zoro? – Chopper olhou de canto para Zoro, acomodado nos ombros do espadachim.

– Não queria nada comum, como morango ou uva. Queria um bolo diferente. E a ameixa é um fruto do meu gosto – explicou. – Deve ser do cook, também. – Acrescentou, embora talvez não estivesse falando cem por cento da verdade.

Chopper fez um biquinho de compreensão e eles logo chegavam ao Thousand Sunny.

– Zoro! Já era tempo! – Nami apressou-os com a mão. Zoro subiu no navio carregando as caixas numa mão e Chopper no ombro. – Cuidado pra não derrubar, cuidado... – A ruiva pegou as caixas da mão do nakama assim que ele pousou no deque. – Do que você escolheu o bolo, hein?

– Ameixa com marshmallow.

– Uau! – Ela mostrou-se surpresa com um sorriso doce. – Que criativo. Gostei.

Zoro fez pouco caso e deixou os outros irem preparar as coisas. Em breve Sanji deveria chegar e era para todos estarem na cozinha. Quando o espadachim entrou no cômodo avistou a decoração pomposa de Franky e Usopp, que obviamente receberam uma ajuda das meninas, já que aquelas bexigas e os peixes não viriam das cabeças deles. Ficaram aguardando em silêncio até que ouviram a voz de Sanji chamar pelas meninas lá embaixo.

– Ele chegou – Nami abanou as mãos no ar. O bolo se postava no centro da mesa com as velinhas e Franky acendeu-as rapidamente com suas técnicas. Todos ficaram parados aguardando, ouvindo Sanji subir as escadas e questionar onde raios estavam todos até...

– Seus idiotas, onde—

Todos gritaram felicitações e alegrias, Brook começou a cantar e Luffy voou no pescoço de Sanji junto de Chopper num abraço carinhoso. Sanji ficou estático olhando a festa toda, não estava esperando mesmo, aparentemente. Ele largou as sacolas no chão e retribuiu os abraços, aceitando o carinho de todos que vinham em seguida, especialmente os das meninas, que foram recebidas com muito amor.

Zoro foi o último que veio, mas não chegou a tocar em Sanji.

– Espero que goste do bolo.

– Por quê? – Sanji cruzou os braços, desconfiado.

– Fui eu quem escolheu.

– Ai meu Deus, você cuspiu no meu bolo!

– Lógico que não, cook, mas mais uma dessas, eu cuspo daqui mesmo.

Sanji revirou os olhos e deu um tapinha no ombro de Zoro que, talvez interpretasse aquilo como sarcasmo, mas foi um toque cúmplice.

– Apague as velinhas, Sanji! – Luffy incentivou. – Faça um desejo.

Sanji olhou o bolo todo decorado de marshmallow e curvas arroxeadas, com ameixas pretas nas beiradas. Sorriu sutilmente e assoprou as velas. Fizeram um pouco mais de algazarra, mas Sanji não cortou o bolo. – Eu vou fazer o melhor assado de rei dos mares que essas duas bocas já comeram – ele anunciou, orgulhoso. – Preparem-se!

Luffy e Usopp alegraram-se e foram dançar junto de Brook, sendo depois acompanhados de Franky e Chopper. As meninas sentaram-se para tomar um café e comer uns docinhos antes do jantar, porque afinal... Não eram de ferro, não é mesmo?

E mais uma vez Zoro ficava desocupado, pelo menos um instante.

Encaminhou-se para trás do balcão sentindo que ninguém estava preocupado com sua movimentação e parou ao lado do cozinheiro. Ele temperava carinhosamente um enorme pedaço de carne para colocar no forno.

– Escolheu um bolo de ameixa. – Sanji o olhou de esguelha, um cigarro pendurado nos lábios.  – Sabe que gosto de ameixa.

– Nós dois gostamos de ameixa, cook. – Zoro deu um passo adiante, o peito encostou-se aos braços do cozinheiro.

– Estávamos debaixo de uma ameixeira.

– Você lembra.

– Como eu ia esquecer? – Sanji fez uma expressão de falso desagrado enquanto passava a carne para a forma a fim de enfiá-la no enorme fogão do Sunny. Feito isso, ele lavou as mãos na pia e secou-as numa toalha, depois tirou o cigarro da boca e olhou para o espadachim com uma expressão serena e satisfeita. Parecia sentir-se genuinamente bem.

Zoro o olhou com tranquilidade e Sanji chegou mais perto, escorando-se no balcão. Eles ficaram bastante próximos, um palmo de distância entre os narizes. Sanji encarou-o profundamente nos olhos, pelo menos no que ainda restava, e pôs uma das mãos no peito do espadachim, querendo dizer alguma coisa. Qualquer coisa que expressasse sua gratidão ou seus sentimentos por aquele dinossauro verde. Mas não sabia o que dizer. Talvez sequer precisasse fazer uso de palavras.

– Feliz aniversário, cook – Zoro disse e curvou-se para alcançar os lábios de Sanji num breve beijo. Foi o suficiente para causar um embrulho no estômago do cozinheiro, ele não acreditava que aquele marimo estava fazendo isso na frente de todos... Como ele se atrevia?! Queria morrer?!

Mas o que aconteceu não mudou a situação do que acontecia ao redor deles. Brook continuou cantando, os rapazes dançando e as meninas rindo das palhaçadas. Então Sanji sentiu-se mais confortável do que nunca. Nem mesmo a presença de Nami e Robin afetou a calmaria em seu coração.

Foi um beijo rápido e não demorou mais que alguns instantes, mas deixou em Sanji um sorriso tranquilo quando Zoro interrompeu o toque.

– Obrigado. Estou louco para comer aquele bolo. – Ele sorriu. – Mas antes... Deixe-me cuidar dos acompanhamentos da carne. – Sanji afastou-se por fim e foi cuidar da sua cozinha. Zoro encostou-se à ilha que separava a mesa do lugar onde o cozinheiro trabalhava e ficou olhando para ele enquanto punha-se a trabalhar, apreciando o carinho que ele investia em cada prato.

Porque ele não se incomodava em trabalhar no dia do seu aniversário. Não... Alimentar aquele bando era tudo em sua vida. Eles eram tudo em sua vida. E Roronoa Zoro só dava mesmo um sabor especial.


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