A Caçadora - O Despertar escrita por Ketlenps


Capítulo 5
Capítulo 4 - 2 de Abril


Notas iniciais do capítulo

Olá, meus caros leitores! (nossa, muito formal)
Aqui está mais um capítulo, eu espero que vocês gostem. Ele foi betado pela Anne Claire LF (Uuuh! tenho uma beta! kk) ela é muito diva.
Enfim, eu adorei escrever ele, principalmente o final.
Mas chega de enrolação, vão logo ler =)
P.S: caso o link da besta da Katrina não funcione: http://www.topguns.com.br/ecommerce_site/arquivos10363/arquivos/1358278503_1.jpg



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A noite estava estranha.

E por mais que todas as noites sejam estranhas, aquela estava conseguindo superar o nível de “esquisitice”. Por que será que…?

Ah, lembrei por que ela se encontrava estranha.

– Você está com o Sol? – ela perguntou brevemente.

Sim, Katrina era o que provavelmente estava deixando aquela noite bem estranha.

–Porque eu não quero que o próprio François seja o responsável por nós duas só por não nos livrarmos dos corpos das Criaturas - Katrina resmungou consigo mesma.

Sol era o nome do produto que queimava os corpos dos vampiros sem fazer fumaça ou fogo; fazia apenas virar cinza. O nome do produto era Sol, claro, por que vampiros viram cinza ao se expor à luz solar e o produto faz a mesma coisa. O Sol que eu levava era um pequeno pacote que estava no bolso interno de meu casaco.

Jogue este pó laranja sobre a pele de porcelana de um vampiro e você verá o buraco que ficará.

É como ácido e é também parecido com pó de prata, que causa um grande estrago caso eu o jogue num lobo, a diferença é que o Pó de Sol mata uma Criatura da Noite e não apenas fere como o pó de prata faz no lobo.

– Não se preocupe, está aqui comigo - eu disse, rolando os olhos para cima enquanto caminhava ao seu lado.

A noite estava fria - mesmo que fosse verão -, por isso apertei meu casaco ao meu corpo. Hoje não havia trago nenhuma das minhas queridas Beths, porém eu estava com um chicote de aço que neste momento estava no cinto de minha calça. Só que nós Caçadores não andamos apenas com uma arma, por isso eu estava com minhas típicas lâminas na lateral de minha bota e também uma estaca no bolso de fora de meu casaco.

Katrina segurava apenas uma besta nas mãos. Ela mascava um chiclete enquanto os olhos claros fitavam atentamente a rua em que nós nos encontrávamos. Eu encarei Katrina de cima a baixo curiosa, o que me fez rir. Ela rodou a cabeça para trás e me olhou com a testa franzida.

– O que foi? - Ela levantou as mãos, confusa, apontei meu dedo para seus pés. Ela acompanhou meu olhar.

Talvez, crê a minha sábia mente, que Katrina era a primeira Caçadora que eu via usando All Star em noite de Caça. Não que isto seja errado, na verdade é engraçado, algo hilário, contando que Katrina tem vinte e cinco anos de idade, mas vestia-se como uma adolescente de quinze. Não que isto também importasse, tinha vezes que eu me vestia como uma criança de nove anos em momentos de solidão e TPM depressiva.
– A maioria das Caçadoras usa bota com salto ou apenas bota. - Eu disse, explicando meu súbito interesse por seu sapato branco.

Ela girou a cabeça de volta para a frente, fazendo movimento de indiferença com os ombros. Katrina usava uma blusa de frio preta com touca, jeans pretos e seus cachos ruivos estavam num coque atrapalhado, fazendo com que fios caíssem sobre suas têmporas sardentas.

–All Star é mais confortável que botas, seja com salto ou não. - Katrina respondeu.

Ela apontou com sua besta para a minha direita, numa rua, eu a segui. Nós estávamos num bairro longe do grande centro de Las Vegas com seus vários cassinos e hotéis. Ali havia poucas casas de madeiras desgastadas, comidas pelos cupins. Algumas sem portas, outras com portas arrombadas, janelas quebradas; tudo aos pedaços. Ninguém vivia ali. Éramos como duas almas penadas vagando sem rumo no meio de uma tortuosa rua. Ao longe, erguendo o rosto, eu podia ver a areia arenosa do deserto, sua vasta vista seca dava-me uma agonia apenas por me imaginar andando pelos vários desertos de Las Vegas sem água, sem ninguém, sem vida..

– Pare de olhar uma terra estúpida. - Katrina chamou-me na frente, interrompendo meu ligeiro e inútil pensamento. Ela estava parada com uma das mãos nos quadris.
Caminhei ao seu encontro revirando os olhos para ela.

– É areia não terra.

Katrina bufou.

– Dane-se. - Ela mostrou com a mão a última casa da rua. - É ali que os novatos estão.

– ‘Tá parecendo a casa da colina, só que sem a colina - Comentei sem precisão.

Saímos do meio da rua e caminhamos pelos poucos arbustos que havia na beira da calçada. Eu sempre olhava para o chão no caso de pisar em algo desagradável, pois naquele lugar havia muito entulho e lixo. Franzi meu nariz ao passar ao lado de várias sacolas plásticas abertas com comidas estragadas saltando das mesmas, vermes se rastejando sobre ela, o que me deu um calafrio.

Odeio qualquer tipo de inseto que se rasteje.

Um sofá com um grande rasgo na parte debaixo servia de casa para um vira-lata, ele acabou acordando e erguendo as orelhas quando eu e Katrina passamos por ele de longe. Uma ratazana surpreendeu Katrina passando correndo na frente dela, a ruiva parou bruscamente de andar levando um pequeno susto. Murmurou um palavrão, apontou sua besta para o chão e atirou. A flecha passou pela cabeça da ratazana fazendo com que pequenos miolos se espalhassem pelo asfalto.

– Precisava matar? - Eu perguntei enojada enquanto Katrina aproximava-se da ratazana e pegava sua flecha.

– Não gosto de ratos. - Ela disse, fazendo uma bolha com o chiclete rosa e voltando a andar, porém parou endireitando sua besta no peito.

A casa à frente era grande, a única da rua que tinha dois andares, a madeira era escura e aparentava estar úmida. Todas as janelas, de cima a baixo, estavam com toras de madeira as fechando, qualquer brecha que deixassem aberta para a entrada da luz solar já seria possível para causar um grande estrago em suas peles perfeitas. Demoraria pelo menos dois dias para se curarem. Se eles tivessem se alimentado no dia, seria no mínimo algumas horas. Argh!

Por que vampiros têm de se curar tão rapidamente?

Tudo estava praticamente silencioso, ou pelo menos Katrina poderia estar achando. Eu conseguia ouvir murmúrios dentro da casa, podia ouvir passos também, mas eram poucos. Eles não sabiam que estávamos lá, pode ser idiota, bobo, mas nós Caçadores usamos um tipo de perfume que impossibilita o vampiro de sentir nosso cheiro e saber que estamos por perto. A questão de como as Criaturas da Noite não nos ouvia é na verdade falsa, claro que nós Caçadores somos treinados desde crianças para sermos o mais silenciosos que for possível, porém os vampiros mais velhos e experientes são capazes de ouvir nossa aproximação. Os recém-nascidos, bem, são tão estúpidos que me enjoam.

Sim, eu sou muito convencida pela parte de achar os vampiros idiotas e eu melhor que eles, e nada, eu repito: nada, me fará mudar de opinião sobre essas Criaturas.

Levei minha mão até meu cinto onde o chicote de aço estava, segurei forte em seu cabo de couro preto o guiando para frente de meu corpo. Com minha outra mão livre, peguei o saco transparente com o pó laranja: o Sol.

Katrina virou parcialmente o rosto e indicou para que entrássemos na casa. Ela foi na frente pisando levemente sobre a pequena escada que subia para a varanda que rangeu muito fracamente e eu fui logo atrás dela. Desta vez, a escada velha e quebrada não rangeu.

A porta, por incrível que pareça, estava sem toras de madeira.

Katrina abaixou o braço esquerdo que segurava sua besta - ela é canhota - e com o ombro empurrou a porta com tanta força que a mesma se abriu, quebrando as dobradiças enferrujadas. A garota era magra, mas era forte.

–Vamos, rápido! - Ela chamou-me apressada, fazendo um movimento com a cabeça.

Um corredor obscuro era o que eu via. Havia portas nesse corredor - mesmo no escuro eu podia enxergar o suficiente para identificar o que havia ali - uma escada com degraus quebrados estava a alguns metros da porta, do lado direito a mim. Katrina entrou na frente com sua besta, abri o saco do pó e fui despejando sobre o piso de madeira velha. Eu já não ouvia mais murmúrios e passos.

Tudo estava num silêncio sepulcral e assustador.

Meu chicote continuava firme em uma de minhas mãos. As portas do corredor pelas quais eu e Katrina caminhávamos apressadas estavam fechadas.

–Prepare-se. - Katrina avisou erguendo sua besta.

Nós duas ficamos de costas uma para a outra, ouvidos e olhos atentos. Eu já podia escutar os passos dos vampiros aproximando-se; eles começaram no andar de cima e foram aumentando conforme andavam; eles iam se aproximando, aproximando e aproximando...

Katrina atirou, uma flecha certeira no peito de uma vampira que aparecera em sua frente pronta para dar o bote, havia vindo das escadas. Ela gritou antes de cair no chão, ressecando-se. Mais quatro surgiram; três foram para cima de Katrina - eu poderia estar feliz da vida em saber que eles queriam matar ela, não eu - e um veio para mim. Neste momento, Katrina já havia dizimado os três usando uma lâmina e arrancando-lhe as cabeças. Fora hilário.

Usei meu chicote e lancei na direção do vampiro, ele era um senhor, talvez na casa dos sessenta anos de idade. Seus olhos estavam negros (como de todos), porém os recém-nascidos parecem zumbis: ele tinha orelhas extremamente roxas, os olhos estavam fundos, a boca salivava junto com sangue por causa das presas que lhe rasgaram a gengiva. Elas ficarão assim até que ela saia da fase de recém-nascido para novato.

–Tenho pena por ter se transformado nesta... Coisa - eu disse ao senhor.

Ele apenas grunhiu mostrando os caninos, apesar de que os recém-nascidos não conseguem fazer com que as presas voltem de volta para a gengiva, então eles ficam com os dentes a mostra o tempo inteiro.

Os recém-nascidos são sempre lerdos para um vampiro, mal sabem dos poderes que têm. Os vampiros que realmente podem assustar a nós, Caçadores, são os líderes de clãs. Já ouvi histórias sobre eles, a mãe de Dan, Abigail, costumava dizer. Londres, antigamente e talvez até hoje, era o lugar onde eles gostavam mais de ficar e se esconder.

É claro, afinal, a cidade na maioria do ano é invernosa de céu nublado. Tudo que um vampiro adora.

Quando dei por mim, tiraram o chicote que eu segurava. Senti um líquido espirrar em meu rosto e vi a cabeça do senhor vampiro rolar até meus pés, com a boca aberta sangrando e os olhos arregalados de fome.

Levantei meu rosto e Katrina se encontrava na minha frente com meu chicote prateado na mão, o mesmo esbanjava a cor escarlate do sangue, pingando no piso de madeira. Ele brilhava sob a luz da lua minguante.

Luz da lua? Mas como se não havia janelas abertas?

– Você é lerda, garota. - Katrina brigou comigo.

Oh, sim. Mais vampiros haviam entrado pelas janelas, quebrando e fazendo toras de madeiras voarem. Provavelmente, estes dez vampiros novatos estavam nas ruas e ouviram os berros dos "amigos" e como estavam por perto, vieram para cá.

Katrina jogou o chicote para mim e pegou sua besta que estava presa atrás de suas costas.

Mais vampiros começaram a vir descendo das escadas. Eu e Katrina não estávamos ali para matar um por um, não.

– O Sol, Camille! - Gritou Katrina comigo.

Saímos correndo pelo longo corredor, por cada porta que passávamos, elas se abriam revelando pelo menos três Criaturas.

Para dar tempo para nós duas, pequei um pouco do Sol de dentro do saco e o soprei para trás, provocando uma nuvem de fumaça laranja. Os berros das Criaturas ficaram mais altos e os baques de muitos deles caindo no chão foram estrondosos.

Eu fui obrigada a parar, pois um vulto preto empurrou Katrina fazendo com que ela voasse para dentro de um quarto ao lado, passando pela porta e se chocando na parede. Assustada, eu olhei para minha frente para poder ver o que havia feito a ruiva voar.

Era um vampiro, claro, mas o que me fez ficar assustada foi por ele ser tão rápido que nem Katrina e nem eu o percebemos. Ele era alto e musculoso, mesmo sobre o terno preto e elegante que usava eu pude perceber. ‘Pera aí, terno? Elegante?

Lancei o chicote na direção dele, como Maria havia me ensinado, mas apenas consegui enrolá-lo no braço do ser das sombras. Fiquei frustrada por não lhe arrancar a cabeça, mas pelo menos podia decepar seu braço. Porém, as coisas não saíram como o planejado.

Ele puxou o chicote e eu fui junto. Meus pés tropeçaram repentinamente e eu cai no de cara no chão, sentindo meu nariz se chocar fortemente contra o piso de madeira.

Droga! Droga!, eu me xinguei mentalmente.

Gemi. O sangue escorreu pelo meu nariz, mas este acidente não fora o pior que já me aconteceu. Uma vez quebrei uma perna e uma mão por causa de um vampiro recém-nascido, pode? Logo por causa de um novato?

Ainda de barriga no chão, a Criatura me puxou pelos cabelos. Senti meu couro cabeludo ser dolorosamente puxado para cima. Instantaneamente, eu gritei, xingando aquela ser por todos os nomes possíveis.

– Seu filho de uma p...

O vampiro me jogou contra a parede onde bati forte com as costas. Eu não morri, é claro. Dor é apenas um apelido para nós, Caçadores, e, se for para morrer, que seja.

Morra jovem, morra dolorosamente, mas morra junto com a Criatura do mesmo modo.

Este era o ditado da Organização para os jovens Caçadores, por mais horrendo que seja, esta é a verdade. E se fosse para eu morrer naquela noite, o vampiro iria junto comigo para seja lá aonde vamos quando morremos.

Para o céu? Eu duvido. Para o inferno eu também duvido, por quê? Por que não acredito nisto, não acredito em Deus e o paraíso, muito menos em capeta e seja lá o que mais. Só acreditarei no dia em que estes dois lados me provarem que existem, só quando provarem...

Senti sua mão gélida apertar meu pescoço e me levantar do chão, ele estava tão próximo de mim que podia sentir sua colônia. Agora eu podia ver seu rosto e… Merda! Merda, merda! Se ele quisesse, me matava agora mesmo. Ele não era nem recém-nascido, nem novato, ele já havia passado dos cem anos. Disto eu sabia, com certeza.

Seu rosto era angular, a boca parecia ter sido desenhada do mesmo modo que a face, os olhos não estavam totalmente negros e eles eram azuis, os cabelos eram curtos e louros. Ele parecia um anjo, só que de anjo não continha nada.

Ele me fitava zombateiro, mesmo sério eu sabia disso.

Sua mão mexeu-se em meu pescoço, meus pés já não tocavam o chão, minha respiração estava falhando...

Morra jovem, morra dolorosamente, mas morra junto com a Criatura do mesmo modo.... Morra jovem, morra dolorosamente, mas morra junto com a Criatura do mesmo modo....

Eu repeti o ditado para mim, repeti diversas vezes. Eu não iria morrer em vão. Não ia. Peguei a estaca que estava em meu bolso externo do casaco e num movimento automático o levei ao seu abdômen. Ele me largou e eu pousei meus pés de volta no chão. O vampiro gemeu de dor curvando a coluna e ficando de quatro no chão.

A estaca havia lhe acertado o estomago e ele não morreria por ela.

Eu não sabia o que este loiro elegante estava fazendo numa casa cheia de novatos idiotas, mas eu também não poderia ficar ali o esperando retirar a estaca e tentar me matar novamente.

A fumaça laranja ainda pairava no corredor lá atrás e as Criaturas continuavam gritando, só que a fumaça ia começar a se dissipar. Corri e peguei o chicote que estava caído no chão juntamente com o saco de Pó de Sol. Soprei novamente no ar, causando outra fumaça laranja e ainda o joguei no chão enquanto percorria o caminho até o quarto onde Katrina ainda estava. Ao chegar, ela estava se levantando.

– Vamos, Katrina! - Eu a puxei pelo braço. Meio desnorteada, ela pegou sua besta que estava no chão a alguns metros dela. Havia uma janela no quarto vazio e oco.

Peguei a besta de Katrina e fui quebrando a madeira que trancava a janela.

– Mas quem foi que me...

– Um vampiro, oras. - Eu respondi a Katrina, batendo com mais força na janela.
Ela franziu o cenho. Os cachos ruivos estavam bagunçados e assanhados.

– Mas um novato não faz...

– Ele não era nem recém-nascido, nem novato.

– Ele já era velho? - Katrina estava surpresa, do mesmo jeito que eu havia ficado quando descobri a mesma coisa.

Por fim, consegui retirar toda a madeira da janela, um céu negro e com pequenos pontos brancos foi a primeira visão que eu tive. Um vento frio atingiu meu rosto.

– Katrina, o isqueiro. - Eu disse a ela, antes de sairmos.

Ela afirmou com a cabeça e tirou um isqueiro cinza do bolso da calça jeans, o acendeu e jogou pela porta do quarto, para o corredor. Pulamos pela janela como duas loucas, caímos desajeitadas nos fundos da casa, na grama abatida. Eu e Katrina nos erguemos e corremos, pelo menos um pouco. A casa explodiu e fomos obrigadas a nos jogarmos no chão, cobrindo nossas cabeças com os braços, num ato de proteção própria. Pedaços de madeira que ainda pegavam fogo caíram sobre minha cabeça e corpo. Eu as joguei longe me chacoalhando e me levantando.

A casa estava se incendiando. O fogo salpicava a madeira fazendo brasa e fumaça negra subir ao céu noturno de Las Vegas. Este era o resultado que o Pó de Sol fazia, caso colocasse fogo nele.

A chama parecia estar crescendo, eu franzi minha sobrancelha confusa com aquilo. A chama ficou mais vermelha, a fumaça negra já não existia, o calor aumentou e eu fui obrigada a dar um passo para trás. Não havia quase madeira para se queimar, porém o fogo continuava forte e alto, foi então que eu senti uma queimação em meu ombro. Automaticamente, levei minha mão até o mesmo, passando ela por ali cuidadosamente.

Era como se eu estivesse aproximando fogo da minha pele, porém eu sentia apenas o calor.

– Ai! Que bosta é essa...?

Um rugido horripilante me fez calar a boca e paralisar. Até mesmo Katrina que já estava em pé xingando o próprio cabelo enquanto o arrumava, se quietou.

–Que diabo foi isso? - Katrina perguntou, estarrecida, os olhos inquietos caçando o lugar que emitira o som.

Então, eu vi de onde vinha o som enquanto encarava o fogo ardente.
Cada músculo, cada nervo, cada vertebra minha, congelou-se aterrorizada.

– Meu Deus... - Minha voz falhou, já Katrina não disse nada. Sua boca formava um perfeito O, como os olhos que pareciam duas bolas de sinuca de tão arregalados.

Atravessando a chama, uma estranha criatura surgiu voando.

Suas asas eram imensas, talvez três metros cada uma, eram como asas de morcegos: negras, nojentas e repugnantes. Parecia uma gárgula de igrejas góticas, uma gárgula gigante que tinha olhos do tamanho de bolas de beisebol, os quais eram puro fogo. Pareciam estar queimando. Eu jurava poder ver a profundidade deles. Na ponta das asas da coisa, em cada uma, havia duas garras imensas e afiadas, elas eram tão pretas quanto a própria criatura. Em sua boca aberta, enormes dentes amarelados e quase pretos rosnavam para mim e acho que a boca nem se fechava de tão grande que eram seus caninos.

Ele voou diretamente para mim, seus olhos me encaravam terrivelmente, era como se Katrina não estivesse ali e a criatura apenas me visse. Como se apenas se importasse comigo.

–Camille! - Katrina berrou ao meu ouvido e eu acordei.

Dei passos para trás e tropecei em algo que me fez cair, a criatura passou de raspão por mim, um cheiro podre ficou ali por segundos. A coisa sobrevoou o céu e voltou se abaixando com suas garras em direção a mim. Eu gritei com todas as minhas forças quando a "gárgula" ficou sobre mim, fincando suas garras em cada lado de mim na grama. O bafo da coisa atingiu meu rosto e eu quase vomitei: era uma mistura de comida podre, carne estragada queimada e esgoto. Eu estava impossibilitada de me mexer, a criatura abriu a boca mostrando aqueles dentes para mim, a baba nojenta dele caiu sobre meu rosto.

– Deus do céu... - Eu murmurei, e então senti uma coisa me atravessando na lateral de meu abdômen.

Eu berrei.

A garra da coisa perfurava minha barriga, e eu, incrédula, encarei o sangue vermelho e límpido esvaindo de mim.

Era assim? Eu iria morrer assim?

Eu vi um fiasco prateado voando sobre o ar, em direção a criatura em cima de mim. Era um chicote. Ele arrancou a metade de uma das garras da coisa, a que estava fincada na grama. A gárgula rugiu grossamente e virou a face para olhar Katrina.

– Vem, coisa feia, - Katrina provocou. - Vem!

A gárgula lhe mostrou os dentes e Katrina devolveu com uma chicotada na cara dele. Sangue negro e gosmento espirrou sobre minhas roupas e rosto. Katrina foi dando chicotadas seguidas no monstro. Acho que ele se cansou, pois mesmo quase todo decepado bateu asas e voou. Ou então simplesmente desistiu.

A dor era visceral em meu abdômen, porém eu não perderia meus sentidos, eu iria aguentar firme, pois é isso que um Caçador faz. Nós nunca desistimos e não é hoje que desistirei de minha vida; não hoje.

Eu berrava por ajuda para que aquela dor insuportável fosse embora. Berrava pela queimação que eu sentia, onde a criatura me perfurou, sentia uma dor tão forte que por um segundo eu desejei a morte.

Ao girar minha cabeça naquele momento de desespero, eu vi Katrina correndo até mim, contudo outra coisa chamou minha atenção quando meus olhos passaram por uma árvore que havia ali distante.

Alguém observava tudo.

Eu podia ver meia parte de seu corpo e seu rosto e eu tive a leve impressão de que era o vampiro louro que me atacou na casa minutos atrás. Mas quando olhei novamente, com mais atenção, não havia nada além de escuridão.







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Notas finais do capítulo

Então?
Espero que vocês tenham gostado ^^
Deixem comentários, pode ser?
Kissus, Ketty.