Pequenos Infinitos escrita por Uriba


Capítulo 9
CAPITULO 9


Notas iniciais do capítulo

Oioioioioi



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Depois de ter aquele sonho estranho. Uma febre estranha e forte me abateu. De repente, vinda do nada. Meu peito doía, minha garganta parecia queimar. A tosse não cessava, eu estava quase desmaiando quando comecei a gritar, debilmente pela minha mãe. Olhei de relance para o relógio. Eram cinco e quarenta e cinco da manhã. Eu gritei mais ou menos seis vezes até ela aparecer na porta, vestida com um pijama. Eu resmunguei algo sobre estar passando mal e ela se aproximou. Colocou a mão na minha testa e constatou que, provavelmente estava mais quente do que eu mesmo conseguia sentir. Minha garganta doía a cada palavra, cala gota de saliva que passava por ela. Meu peito parecia ter um ogro respirando dentro dele. Ela falou algo para que eu me arrumasse e voltou para o próprio quarto.  Eu me levantei as pernas um pouco bambas. Meu corpo todo, de uma hora para outra estava dolorido. Me arrastei até o guarda roupa e tirei de lá uma camiseta de botão e um calça. Calcei um tênis sem a meia e desci as escadas. Devagar e segurando no corrimão de madeira.

  Deitei no sofá sem aguentar mais nada. Depois disso só me lembro de ter ido para a garagem abraçado com minha mãe. Ela falava coisas que eu não entendia. Meu peito estava praticamente roncando como meu Vô quando dormia. Cada músculo dolorido. Entrei no carro e me deitei no banco de trás. Adormeci por alguns minutos. Enquanto minha mãe dirigia até o hospital. Acordei quando ela  brecou de repente e eu fui jogado para trás e por sorte consegui me segurar no banco da frente. Me ajeitei de volta no banco, sentindo a dor muscular de novo e gemendo baixinho. Uma dor de cabeça de repente tinha se juntado aos sintomas.

  Meu peito chiava ensandecido. Coloquei a mão no bolso. O maço de cigarros estava lá. Minha mãe sempre deixava uma agenda pequena no carro, encostada perto da marcha. Eu peguei sem ela perceber. E peguei a caneta que eu sempre carregava no bolso desde o dia em que tinha conhecido Grace. Escrevi uma breve explicação com a letra que consegui sobre os cigarros com uma letra horrível, coloquei a agendinha, o maço e a caneta na bolsa dela sem que ela percebesse e fechei os olhos de novo. Mas antes de eu conseguir pegar no sono ela parou e disse que tínhamos chegado. Depois foi uma total confusão de médicos me examinando com instrumentos que eu desconhecia os nomes, minha mãe respondendo perguntas a e eles e eu debruçado sobre a mesa. Balançando a cabeça para responder o que eles me perguntavam. Só me lembro de ter que dormir em uma cama de hospital e ouvir minha mãe falando que viria me visitar de manhã.

  Os dias se seguiram com monotonia. Eu tinha recaídas de vez em quando. Passava mal, voltava a ficar bem. Meu Quadro Médico se parecia com uma montanha. Enquanto eu melhorava pouco a pouco. Me davam remédios com gostos horríveis que eu logo me esquecia porque eles me davam sono. Eu entrei nas férias do meio do ano doente, e passei elas dormindo. Até que no fim do mês eu comecei a melhorar de verdade. E pude receber visitas que não eram minha mãe, apesar de ela estar sempre presente. Luke veio me visitar no dia 28 de julho, se não me engano. A febre e as dores tinham cessado, não sumido totalmente, mas cessado. 

- Achei que fosse morrer. – falei sorrindo. 

  Minha mãe olhou para a porta, vigilante e deu a Luke meu maço de cigarros. Tinha até me esquecido deles todo aquele tempo. 

- Você passou seu aniversario aqui cara! – ele riu – Tem que ter muito azar para isso sabia?!

- Tenho ideia – estendi a mão para o maço.

- Sua mãe começou a fumar... - Eu arregalei os olhos – Ela me pediu que eu não contasse, mas... Cara, minha mãe fumava. Era horrível.

- Ela é adulta – falei simplesmente – Não se preocupe com isso.

  Na verdade eu estava preocupado. Minha mãe ter começado a fumar não era uma coisa nem um pouco boa. Meu pai tinha morrido por causa daquilo. E eu me senti culpado de certo modo, porque quando Luke me deu o maço ele estava praticamente vazio. Ela tinha usado todos. O problema é que ela havia de fato fumado.

  Me detive por um tempo, antes de tirar o ultimo cigarro da caixinha ligeiramente amassada. Resolvi fecha-la.

- Eu sabia que você faria algo do tipo, e quem iria fumar com um “Objeto Traumático” como esse. Então eu resolvi te trazer isso aqui. Como presente de aniversario sabe?

  Ele jogou um maço novo em volto num plástico transparente. Fechado.

- Valeu.

 Na manhã seguinte minha mãe explicou que eu tinha pegado uma pneumonia ou algo assim. Mas eu não estava dando a mínima atenção para aquela explicação e tal. Só queria sair daquela cama desconfortável e me mexer um pouco, mas ela me disse que eu não podia levantar ainda. Nesse dia Luke voltou, ele estava matando aula. Mais tudo bem, porque eu estava pensando em fazer algo parecido. Talvez nem tão parecido.

- Você deveria parar de faltar a escola. – falei, mesmo assim.

- Ah. Esta tudo bem, quase ninguém esta indo. E as aulas começaram ontem, as férias deveriam ser mais longas.

- Pois é... – falei pensativo.

- O que você vai fazer cara? 

-Como assim?

- Você suspirou com um olhar de bobo. Quando você isso é por que esta pensando em fazer alguma coisa que não devia.

  Eu ri quando percebi que tinha suspirado sem notar, e suspirei de novo.

- Eu estou pensando em sair de casa.

- Por quê?

  Não respondi por um tempo. Olhando para o teto. EU queria ficar perto de Grace. Esse meu episódio com a doença e tudo mais me fez perceber como a morte pode ser rápida e súbita. E eu tinha medo de não estar perto quando isso acontecesse com ela, eu nem ao menos sabia o que ela tinha, como poderia saber como ela estava? Ou se iria morrer logo, ou se ia demorar?

- Nada. Eu preciso pensar nisso ainda. Como a Grace esta?

- Na mesma...

- Morrendo?

- Cada dia mais rápido. Cada segundo é um passo para o abismo, de acordo com Lili.

- Entendo. Eu vou ir ver ela.

- Hum... Talvez ela não goste. Tipo, ela esta morrendo cara, eu não sei se...

- E dai? Por que o fato de ela estar morrendo incomoda tanto vocês? Todos nós vamos morrer um dia! – gritei.

- Tá.

  No dia seguinte passei o dia todo sozinho. Minha mãe ia ficar comigo no quarto do hospital, mas eu pedi para “ficar sozinho com meus cigarros” e ela saiu. De tarde um médico entrou no quarto com minha mãe e disse que eu poderia ir para casa no outro dia. Eles me deixaram sozinhas de novo. Coloquei um cigarro na boca assim que o médico passou pela porta e me aconcheguei do jeito que consegui na cama EXTREMAMENTE DESCONFORTÁVEL. Olhei para o teto. E adormeci sem perceber.

  Acordei quanto senti o lençol da cama se mexer. Abri os olhos, meio tonto e me dei com o teto. Na verdade mais especificamente a LÂMPADA no teto. Que me cegou e eu acabei fechando os olhos de novo. Estava de noite. Senti alguma coisa se mexer ao meu lado e olhei. Os olhos lacrimejando e a visão embaçada. Primeiro eu vi uma mancha grande e preta. Enxuguei os olhos e vi que era uma pessoa. Era Grace. Meu braço doeu por causa de alguns fios que estavam sendo puxados pelo corpo dela.

- O que você...

  Ela se virou. E sorriu.

- Vim te visitar. Achei que você fosse morrer.

- Eu também achei. Mas não foi dessa vez.

  O corpo dela estava MUITO perto. Por cima do lençol. O rosto perto do meu, ela encostou a testa na minha. 

- Me diz uma coisa.

- Fala.

- Tudo o que você me disse, nas mensagens e tal... É realmente verdade?

  Aquilo me pegou de surpresa. Eu não sabia o que dizer. Eu acreditava realmente em tudo que havia dito a ela, até aquele momento. Mas não conseguia dizer nada. Ela desencostou a cabeça de mim e ia se levantar quando eu a abracei e puxei para perto de novo.

- Eu te amo – falei simplesmente.

  Não tenho ideia do que ela pensou naquele momento, mas virou o corpo e começou a olhar o chão da beirada da cama. Eu a soltei e esperei, não parecia que ela iria ficar. Pensei que ela ia me deixar ali. Aquele silêncio aflitivo, até que ela se virou ela pego minha mão e me fez abraça-la de novo. Segurando minha mão. Meu outro braço dormente de baixo do tronco dela, mas se eu o mexesse talvez os fios escapassem e causasse algum problema. Ai alguém viria e toda a mágica do momento.

  Ela se aconchegou a mim e eu a apertei, não o suficiente para ser desconfortável. Ao menos eu acho. E ficamos assim por uma hora pelo que eu pude contar, talvez um pouco menos. Não importava. Aquilo era completamente incrível!

  Eu pensei que poderíamos ficar ali para todo sempre. Mas ai uma enfermeira com silicone e um cabelo que parecia não ser dela, porque simplesmente não se encaixava com o resto do físico, entrou no quarto e começou a reclamar, enxotando Grace de lá. Antes de sair ela me deu um sorriso, um pouco triste, mais os olhos dela não pareciam tão tristes quanto eu tinha visto todas as outras vezes. Pareciam ter um brilho, forte. Percebi uma lagrima tímida escorrendo por um lado do rosto dela enquanto me olhava. Mas a enfermeira entrou na frente e empurrou-a para fora. Aquela enfermeira era a pior! Quando as duas saíram me dei conta do incomodo que era meu braço dormente e comecei a mexê-lo. Reparei que estava chorando. Não descontroladamente como se espera em filmes, só derramei alguma lagrimas e dormi com um sorriso no rosto, de orelha a orelha.

                                                                  ***

  Cheguei em casa ao meio-dia. Me larguei no sofá e pedi a minha mãe que se sentasse comigo. Ela se sentou ao meu lado e pegou o controle da TV. Ligou. Eu liguei o videogame e coloquei um jogo, mas eu não estava prestando atenção, então o pobre soldado do jogo tomava tiros a cada segundo. Ou caia de lugares altos e se quebrava todo.

- Vou parar de ir a escola – disparei e elas que ela falasse eu continuei – Eu quero passar todo o tempo que eu tiver com a Grace, me desculpa, mas nem você nem ninguém vai me impedir – e nessa parte eu lembrei da perigosa vassoura, mas continuei assim mesmo – Se você não deixar eu saio daqui, vou pra qualquer lugar. Eu não importo. O tempo que ela tiver eu vou estar com ela. Até o momento que ela quiser. Eu sei que você deve estar pensando que isso é um total desperdício, mas eu estou apaixonado por essa garota. E eu vou ficar com ela...

- Vai. – ela me interrompeu.

- O que?!

- Eu quero que fique aqui por pelo menos uma ou duas semanas, mas eu sabia que você poderia acabar querendo fazer algo assim. Falei com a mãe de Lili, e ela disse que você até poderia ajudar se ficasse lá. Você sabe que essa garota não tem tanto tempo assim, mas se esta realmente certo de que quer fazer isso, eu te digo para ir garoto. Não vou deixar você perder o amor da sua vida como aconteceu comigo! 

- OBRIGADO! – eu joguei o controle na mesa na frente do sofá e abracei ela. 

  Só depois de um tempo me dei conta de que eu poderia ter rachado o controle NO MEIO fazendo aquilo. Peguei  e chequei, estava tudo o.k com ele. 

- Só uma coisa. Essa menina simplesmente não vai viver para sempre. Então, tome conta dela como (e você sabe disso) seu pai fazia conosco, o.k?

- O.K! – berrei.


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Notas finais do capítulo

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