Pequenos Infinitos escrita por Uriba


Capítulo 3
CAPITULO 3


Notas iniciais do capítulo

Comentem se gostarem ou não. Dicas? Qualquer coisa.



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Acordei cedo na manhã seguinte. Na verdade mais cedo do que eu jamais tinha acordado. Tinha ido dormir às dez horas da noite anterior e agora eram (olhei para o relógio), DUAS E MEIA DA MANHÃ. Cara, acho que eu estava mais ansioso para ver aquela garota do que achei. Levantei meu travesseiro depois de ter passado quinze minutos rolando na cama sem conseguir adormecer e tirei de lá um maço de cigarros. Não, eu não fumo. Eram do meu Pai, na verdade foram a causa da morte dele. Eu os peguei quando ele morreu, ano passado. Minha mãe juntou os três últimos maços que ele comprou e fez uma fogueira no jardim, na verdade ainda tem a marca da fogueira. Eu a chamo de O Defeito do Cigarro. Meio bobo, mas foi tudo que eu consegui pensar quando vi o Buraco, pensei também em o Buraco da Perdição, mas...

Bem, eu tinha surrupiado aquele maço. Estava fechado ainda. Todos os cigarros perfeitos dentro e eu imaginei que talvez se eu acendesse um deles eu morresse e fosse para onde quer que meu pai esteja, mas eu vi quanto aquilo seria idiota e quanto magoaria minha mãe. Antes de acendê-los eu pensei: “Cara, meu pai pode nem estar mais em um lugar, tipo, o que tem depois da Existência? Eu não vou correr o risco”. Mas eu decidi que os guardaria. Por quê? Não era uma memória do meu pai, ou uma lembrança. Eu resolvi mante-los comigo porque quando eu pedia um conselho a ele, muitas vezes ele pegava um cigarro e acendia. Aquilo parecia ativar algo no cérebro dele e ele começava imediatamente a me explicar as coisas e parecia realmente genial, não que fosse por causa do cigarro, porque tudo que o cigarro fazia na realidade era fazer nós dois tossirmos. Eu os guardei por isso (não pelo fator Tosse, eu nem os acendia) quando eu tinha um problema eu colocava um deles na boca e fechava os olhos. Parecia acender minha cabeça com ideias e pensamentos e eu sempre me lembrava das coisas que meu pai falava (apesar de eu ter dito que eles não eram uma lembrança). Bom, naquele momento eu precisava pensar.

Coloquei um na boca, eles duravam cara, a maior compensação em não fumar um cigarro quando o coloca na boca era a durabilidade (O.k, provavelmente a melhor coisa disso era NÃO MORRER por causa dele). Fechei os olhos e comecei a pensar.

“Por que essa garota me perturba tanto?” pensei. Certo, nem sempre os resultados de não fumar meus cigarros era o que eu esperava, mas eu cheguei a conclusão de que não adiantava me preocupar com aquilo por enquanto. Abri os olhos e olhei para o relógio. ERAM SEIS HORAS!

Minha mãe sempre me acordava aquele horário e cara, eu não queria que ela quebrasse uma vassoura em mim por eu NÃO fumar um cigarro (ela fez isso com meu pai uma vez, só que ele estava de fato fumando e tanto eu quanto ela odiávamos isso). Mesmo assim me levantei e tirei o cigarro da boca, segurando entre o indicador e o dedo médio. Andei devagar até a porta. Tentei abrir a porta para olhar pelo corredor, para conferir se eu poderia ir até a sala com meu cigarro na boca, mas antes de eu tocar na maçaneta minha mãe bateu com força na porta aos berros:

– ACORDA MOLEQUE!

Eu quase tropecei no meu próprio pé gritando, mas me contive me reconstituindo e antes que ela gritasse de novo eu respondi que estava acordado. Vesti-me (na verdade troquei minha calça por uma jeans e tirei as meias) devolvi o cigarro ao maço e enfiei tudo no bolso. Desci as escadas devagar, como um manco com sono e me sentei à mesa da cozinha enquanto minha mãe tirava uma caixa de cereais do armário e a balançava. Quase não fez barulho.

– Vai comprar mais. – falou simplesmente, jogando a vazia no lixo.

Eu sabia que não sairia daquela discussão ileso (lembra-se da vassoura? Então!), então simplesmente levantei e fui para cima me trocar. Levei cinco minutos para fazer isso e quando desci e passei pela cozinha minha mãe disse:

– Já voltou? Nossa! - ela estava com sono.

– É incrível como você presta atenção em mim – falei e sai sem dizer mais nada.

Depois de dobrar a esquina peguei o mesmo cigarro que peguei de manhã e coloquei na boca. O mercado não era muito longe, mas era o único em cinco quarteirões. E era tipo, grande demais para eu ir só comprar uma caixa de cereais, então eu tentei ignorar as pessoas que me olhavam de quando em quando, notando que eu estava na fila para comprar uma SIMPLORIA CAIXA DE CEREAIS. Na verdade eu acho que ser um adolescente de quinze anos com um cigarro apagado na boca ajudava a atrair a atenção das pessoas, claro. Estava começando a corar quando ouvi uma voz feminina atrás de mim.

– Cara, você fuma, acabou de estragar todas as chances que tinha comigo.

Eu me virei reconhecendo a voz. Era a Garota da Livraria.

– Srta. Grace – falei – Eu não fumo.

Ela pareceu perceber que o cigarro não estava aceso e disse:

– Então por quê...

– Por que colocar ele na boca? –interrompi – Só gosto de ter eles aqui. – eu ri.

Ela assentiu e se calou por um tempo, depois falou:

– Isso é meio bobo, tipo, metade das pessoas esta olhando para você com essa coisa na boca apagada.

– É melhor do que eles me olharem por estar com ele aceso, não? – respondi sem me virar. Tinha duas pessoas a minha frente na fila.

Ela abaixou a cabeça e pareceu pensar um pouco. Uma pessoa se foi. Agora só tinha uma senhora a minha frente na fila.

– Meu pai morreu há dois anos. – ela falou e eu me virei curioso para ver onde aquilo levaria. – Por causa de cigarros. Ele teve câncer no pulmão...

Confesso que fiquei meio sem palavras. Meu pai tinha morrido por causa de um câncer na garganta. Então percebi que era simplesmente errado ficar com aquilo entre os dentes. Levei a mão até o cigarro para guarda-lo, dizendo:

– Sinto muito.

Ela segurou meu pulso e me fez colocar o cigarro de volta na boca. Eu fiquei chocado, essa é a palavra mais correta que consigo pensar para o que senti. Choque.

Um silêncio constrangedor se formou, ela segurando meu pulso. Eu a olhando, em choque. Eu imaginei que ela nunca mais ia querer ver um cigarro na vida depois de o pai dela ter morrido por causa de um deles, por isso tinha tentado tirar, mas ela havia me impedido. Tudo isso passou pela minha cabeça até que ela soltou meu pulso. Estava com uma mancha vermelha bem clara, mas visível. Ela olhou para a vermelhidão no meu pulso e disse:

– Desculpe.

Eu fiquei com a boca aberta por um momento, feito um bobo. E por sorte ela estava encarando os próprios tênis naquele momento.

– Não, tudo bem. É... –mais alguns minutos constrangedores com a boca aberta – Por que você fez isso?

Ela levantou a cabeça olhando nos meus olhos por um momento. Bonitos olhos, os dela.

– Eu... Não sei. Nunca vi um cara esquisito com um cigarro apagado na boca parecendo um bobo - brincou ela.

Eu ri e disse:

– O.k. – e ri mais um pouco até ser minha vez no caixa.

***

Ela acabou indo comigo até a porta de casa para saber onde era exatamente e eu a convidei para entrar, mas (ainda bem) ela recusou. Na boa, eu estava nervoso.

Eu me despedi e subi de volta para casa. Eram sete horas. Minha mãe estava no escritório quando eu cheguei e eu fui até lá avisar que eu tinha chegado.

Entrei e a vi escrevendo e meu amigo Luke estava a seu lado, falando alguma coisa.

– O que é que você esta fazendo aqui às sete da manhã cara?! – falei quase gritando.

– Oi para você também. – retrucou ele – Eu resolvi vir mais cedo.

– Eu percebi!

– Já tomou Café da Manhã Luke? – Perguntou minha mãe.

– Ainda não.

– Set, prepare meu café e veja se Luke quer comer alguma coisa – Ela falou isso como se tivesse mais opções além dos cereais.

Fui até a cozinha sendo seguido por Luke. Ele se sentou e eu peguei três tigelas no armário e coloquei na mesa.

– Então, o que temos para o Café?

– Que tal cereal?

Tirei a caixa da sacola de supermercado e a balancei para fazer barulho. Coloquei em cima da mesa e ele perguntou:

– Alguma segunda opção?

Balancei a cabeça fazendo um som tipo: “Tsc, Tsc”. Negando. E depois de me sentar e colocar o leite na mesa também, falei:

– Então, a ansiedade era muito grande?

– Não... – começou ele bufando e tentando assumir um ar superior. – É, cara, você sabe se tipo, a amiga da sua amiga gata é gata?! – falou ele entusiasmado.

– Não sei. Não a vi ainda.

Sendo assim, eu tomei um banho e depois nós dois ficamos jogando até a hora do almoço. E depois conversamos um pouco até as três em ponto, quando elas tocaram a campainha.


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