Pequenos Infinitos escrita por Uriba


Capítulo 13
CAPITULO 13


Notas iniciais do capítulo

O último. Tenho um pedido para quem for ler - Leia este capitulo ouvindo "After Midnight", Blink 182 - Se quiserem, eu ouviria haha



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/338156/chapter/13

                          

  Entrei no meu quarto e comecei a revirar as coisas procurando pela maldita sacola que eu tinha (a sacola que eu não tinha dito a Grace o que tinha dentro). Mas não conseguia achar ela de jeito nenhum. Em cinco minutos parecia que havia passado um furacão pelo meu quarto. A cama estava revirada, o guarda roupa com as gavetas e portas escancaradas, minha bolsa aberta com algumas coisas espalhadas ao redor. Simplesmente não estava mais lá. Me levantei do chão e olhei para a porta que estava se abrindo.

- O QUE SIGNIFICA ISSO?! VOCÊ FICOU LOUCO?! – berrou Lili.

  Botei o dedo na boca, sinalizando para que ela ficasse quieta e andei até ela.

- Onde esta Grace?

- Foi ao cemitério da cidade, visitar a tumba do pai.

  Soltei o ar aliviado e fechei a porta. 

- Sente-se – indiquei a cama.

  Lili se sentou e eu comecei a arrumar tudo enquanto conversava com ela.

- Você viu minha sacola, a que eu trouxe do shopping? – falei como quem não queria nada.

- Ah. Sim, o DVD da Bela e a Fera? Eu e Grace o assistimos hoje de manhã, está em cima da TV. Por que você comprou aquilo?

- Ah – bufei – Droga. Olha só...

   Me pus a explicar para ela o que eu iria fazer com o DVD, minutos depois que eu terminei de falar. Lili estava falando algumas coisas que de acordo com ela, deveriam ser feitas, e eu me senti destituído do meu cargo de Planejador. E senti a ocasião especial que eu vinha preparando sendo tirada de mim a cada segundo que Lili soltava suas palavras, eufórica. Mas por sorte, a coisa toda acabou por não deixar de ser mais minha graças à campainha.

  Fui atender a porta e deixei Lili falando sozinha no quarto, mas a garota me perseguiu até a sala e enquanto eu abria a porta, ela ainda estava falando. Não que eu estivesse ouvindo, ela só estava falando mesmo. 

- Entrega! – falou o entregador (o que me parece uma coisa obvia de se dizer, porém necessária).

  Era uma caixa de papelão, fechada com uma cordinha e um laço, prendendo um envelope.

  Desfiz o laço e peguei o envelope, tirando a carta de dentro. Tinha varias fotos da Inglaterra. Obviamente, mesmo sem ver nenhum nome, eu soube que era da minha mãe. Fora isso tinha um pequeno papelzinho. Estava escrito a mão: Mamãe te ama. Espero que goste do presente. Achei que ficaria perfeito em você!

  Abri a caixa, torcendo para ter lido alguma coisa errado e esperando encontrar alguns chocolates de marcas inglesas. Mas ao invés disso, me surpreendi com um terno. Preto, macio. Uma camisa branca de botão. Uma calça social combinando. E sapatos de couro preto. Tudo embalado e dobrado, envolto por plástico bolha. 

- Isso deve ser bem útil para a noite de hoje não? – falou Lili.

  Assenti e falei:

- Tire todos da casa as seis, Ok?

- Entendido Senhor! 

  Ela bateu continência e saiu, fingindo uma marcha mal feita. Eu guardei o presente de volta na caixa, a coloquei de baixo da cama. E sai.

                                                                            ***

  Encontrei Grace em um dos corredores do cemitério. A cidade tinha um cemitério bonito. Era como um enorme jardim, com caixas de pedra cimentada, com azulejos multi-coloridos. Distribuídos em fileiras. Uma rua que corria por todo o lugar e passava dividindo os “jardins”. Tudo ao ar livre. Nenhum lugar fechado a não ser uma pequena capela, com teto de vidro e paredes brancas, onde os corpos eram velados no caixão, próximo à entrada.

  Me sentei na grama ao lado de Grace e tirei a carta dela do bolso.

- Obrigado – falei.

  Ela balançou a cabeça devagar.

- Onde esta a mãe de Lili – notei que ainda não fazia ideia do nome da mulher. Lembrei-me de minha mãe dizendo o nome dela uma vez. Laura? Lucia? Laila? Laika? Descartei Laika porque parecia nome para cadelas.

- A dona Lia esta sentada em um banco.

  Ao longo da pequena rua que corria o cemitério, havia vários bancos a beira da grama, eu só não entendo porque alguém iria querer para tomar um ar no banco do Cemitério. Mas não questionei isso demais, pois varias vezes eu já os tinha usado. 

- Sei. Seu pai? – apontei para um porta retratos, colocado com cuidado, em volto de flores. Ela mexeu a cabeça de novo em resposta.

- Eu vim aqui encontrar minha mãe – falou ela, divagando.

- Eu não deveria ter vindo então?

- Não... Ela já foi faz um tempo. Me disse que sente minha falta, e que quer imensamente que eu volte para casa.

- Sei, talvez você devesse voltar.

- Não. Quero ficar perto de você, por enquanto – ela olhou para mim se dando conta do que tinha dito, e se deparou com um cara sorrindo de orelha a orelha – Quer dizer – Ela corou de leve – Ficar com ela não é tipo... É... Bem, não é como se eu quisesse ver minha mãe se debulhando em lagrimas entende?

  Eu ri diante da confusão dela.

  Ficamos em silencio por um tempo. Contei sobre meu pai, e como a morte dele havia supostamente “me levado a não fumar” e tal. Depois me levantei, limpei a calça e estendi a mão para ela. Comecei a falar enquanto ela se levantava:

- Tenho mais um prezentinho para você hoje. 

- O que é?

- Uma surpresa.

  No carro ela tentou me arrancar alguma pista, mas tudo que eu disse foi:

- Vou te dar um motivo para vestir aquele vestido caro que eu te comprei.

- Como você vai fazer isso? Eu mal posso andar muito sem perder o fôlego, pretende me levar a um baile?

- Não exatamente. Já assistiu A Bela e a Fera? – perguntei mesmo sabendo a resposta.

- Sim.

- Se lembra da parte em que eles dançam naquele salão enorme?

- Sim – os olhos dela faiscaram.

- Bom, eu não tenho o salão, mas...

  Deixei a duvida pairando sobre o ar (este, ligeiramente abafado dentro do carro com as janelas fechadas) enquanto via os olhos delas brilharem timidamente e senti-a encostar a cabeça no meu ombro, com aquele movimento Incrivelmente dela. Mas em vez de colocar minha cabeça sobre a dela eu passei o braço por trás de suas costas e acariciei sua cabeça.

                                                                    ***

  Ao passar pela porta vi Lili, mais eufórica e animada que o normal. 

- Faça – falei a ela. Que imediatamente puxou Grace pelo braço, a garota me olhou desesperada, mas eu nada fiz. 

  Fui para um próprio quarto e comecei a me arrumar.

                                                                             ***

  Horas mais tarde. Lili e a mãe tinham deixado a casa. Lili tinha ajudado Grace a se arrumar e depois me ajudado a tirar qualquer coisa que estivesse no caminho pela sala. Tudo que estava nela estava agora enconchado ou dobrado em algum lugar o mais fora da vista possível. Eu estava vestido com o terno que havia ganhado. A única coisa que havíamos deixado na sala, era a enorme estante com a TV e o aparelho de DVD ligado em pausa. A tal cena da dança entra a Bela e a Fera no inicio. 

  Eu estava esperando, na frente da porta do quarto dela. E na hora que ela se abriu, fiquei extremamente impressionado com a “produção”. Lili. E como Grace tinha ficado bem com o vestido.

  Era um vestido preto, com uma alça de uns cinco centímetros de largura. Deixava as costas dela nua. Sem um decote muito grande, com uma flor de pano, costurada logo abaixo. Uma flor negra, uma rosa, pouco mais clara que o negro do vestido, tendendo ao cinza. O vestido ia até o joelho. E ela calçava sapatilhas pretas, mais escuras que a roupa, combinando perfeitamente.

  Fiz um reverencia talvez prolongada de mais. E ela também o fez. Estendi meu braço e ela o agarrou. Provavelmente querendo saber aonde aquilo tudo iria levar. Conduzi-a até o centro da sala e soltei seu braço para pegar o controle e dar inicio a cena. Coloquei uma mão em suas costas e entrelacei os dedos da outra com os dela, e ela pousou a outra mão no meu ombro. E dançamos. Devagar. Lentamente. Assim “Como a Bela e a Fera”.  Não que eu realmente soubesse dançar, mas eu tinha visto e revisto aquela cena e estava tentando, com sucesso, reproduzi-la. Eu não podia ser mais destrambelhado que a Fera, podia? Ao final da dança nós ficamos imóveis por alguns minutos nós olhando nos olhos um do outro. “Seus olhos parecem estrelas”, pensei. Eu tinha uma concepção romântica sobre as estrelas. E depois, bem lentamente nossos lábios se aproximaram, devagar. Até se encostarem. Eu me perguntei se eu não poderia estar matando ela asfixiada de novo. Mas não parecia ser o caso. Depois do beijo. Nós fomos para o quarto dela (já que o meu era a sala sem moveis). Nós deitamos na cama, juntos... Sempre juntos.

                                                                       ***

- Eu te amo.

  Ela falou aquilo, e eu a ouvi, quase sentindo como se fosse à primeira vez. Uma coisa inédita saindo daquela boca.

- Eu te amo.

  Respondi.

- Então, quem é o melhor, eu ou a Fera?  - acrescentei.

- Dançando, a Fera, com certeza – brincou ela – Mas para a Bela, a Fera, com todas as suas imperfeições (um tanto incomuns, nunca vou entender o gosto dessa garota) é perfeito para ela. Assim como você, para mim, é perfeito. Porque eu te amo, não pelo que você tem ou deixa de ter. Muito menos pelo jeito que você dança – zombou - E sim pelo que você é.

  E nós ficamos lá. Juntos. Nossos lábios se encontrando mais uma vez em um beijo que pareceu durar um infinito inteiro.

  E assim eu me despeço. Porque em minha opinião, não há historia melhor, do que aquela que não acaba. Ou melhor, a que o autor põe um fim. Pois nem todas têm finais felizes. Grace tem razão, não há um final feliz para nós. Mas antes do fim, há o começo, e também há o meio. Foram essas as partes que mais importaram, porque sem elas, não haveria fim de qualquer maneira. Nossa história não ficará marcada pelo modo que terminou, mas sim pelo modo como aconteceu, e ela ter acontecido é para mim o mais importante. Minha mãe dizia: “Não há fins, pois cada coisa que acaba gera um novo começo”. Essa era sua filosofia. A vida é constituída de pequenos infinitos. Uns Grandes. Outros pequenos. Outros menores ainda. Mais cada um, cada segundo de cada infinito vivido em cada momento da sua vida, nenhum deles é mais ou menos importante que o outro. Porque cada um deles para se tornar um infinito, teve primeiro que ser marcado como um momento especial. E meus infinitos com ela foram os mais especiais, porque foram construídos ao lado dela. Tivemos muitos infinitos antes do fim, e eu sempre serei grato e apaixonado tanto por eles, quanto por ela. Os infinitos não se medem, nem se contam, eles só acontecem. E quando você se da conta, sua vida esta cheia desses belos infinitos, e você olhara para ela, não importa quem seja, e vera nela seus infinitos. E a cada segundo, minuto, hora, dia, mês ou ano. Apaixonar-se-á mais e mais. Eu prometi a Grace que estaria eternamente apaixonado por ela. Se isso se concretizara, como eu poderia saber, se um dia você descobrir, me conte? Mas eu penso nisso a cada manhã, me lembro de meus infinitos. Que sempre estarão comigo, juntos comigo, e olho para ela. Metida em seu pequeno mundo, aparentemente particular de mais para permitir a entrada de outros, mas que permitiu a minha. E sempre me lembro da promessa. Não estou condicionado a ama-la por causa da promessa. Estou apaixonado por ela porque é isso que todos meus infinitos mostraram ser o que eu queria. E vai ser assim, e para sempre será. Não um: “E eles viveram felizes para sempre”, mas sim um “E eles foram felizes, até...”.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

FIM