– Ó. Ó óóÓóó

– Ela se esforça... – Usui disse, parecendo cansado.

– Pena que fica só no esforço. – E pelo jeito a Satsuki não teve sua melhor manhã.

Lá estava eu cantando para fazer a branca de neve deles. Porre! Como eles acham que vou ter tempo para aprender a cantar? Sou presidente do conselho estudantil e garçonete, nada disso me leva a ser cantora, logo cantar não é algo que eu tenha que saber para sobreviver. Porre, porre, porre! Aaah!

– Misaki, tenta soltar mais a voz, não liga para acertar ou não. Você tem uma voz linda.

– Aham, e minha mãe é virgem.

– Ayuzawa...

– Desculpa, vou tentar de novo.

- Isso ai! Esse é o espírito.

Esse é o espírito realmente, pena que nem com esse espírito consigo me auto ajudar.

Eu cantei algo mais no tom... E acho que impressionou, porque todos ficaram surpresos.

– Por que raios tenho que aprender a cantar? – Reclamei. Eu sabia que a Branca de Neve cantava, mas já mistturaram umas coisas aqui e ali e, o mais importante, eu era a princesa.

Tudo isso me fazia desacreditar um pouco que a peça era realmente essa.

– Porque você vai cantar uma música.

– Qual música?

– Ainda estamos vendo. Vai ficar tão fofa! Moooe moe! Não consigo nem ao menos esperar. – De repente a expressão cansada da Satsuki se tornou em uma animada e eu notei que se eu falhasse nesse – coco – de papel eu ia acabar deixando todos mal. E definitivamente, isso não é algo que quero muito. Não era bem um coco, acho legal essa ideia toda de fazer uma peça e deixar todos felizes e sorridentes e mais sorridentes, mas cara me colocar como princesa NÃO é uma coisa boa de se fazer para a peça. Eu NÃO tenho aparência de princesa. Eu NÃO me pareço uma princesa e eu NÃO sou mandona e autoritária como uma. Se bem que essas duas ultimas até assumo ser, mas querem que eu faça uma princesinha fofinha e cuti-cuti de um jeito “sou linda de ser. Invejem-me, sou a perfeição.” E toda boazinha. Na verdade ela não era assim, mas argh! Eu NÃO sou fofa.

– Misaki está tão fofa com essa cara fechada. – Usui me provocou, eu fitei seus olhos com o olhar e ele instintivamente deu uns passos para trás... Bom, muito bom.

Ele já ensaiava como príncipe mesmo sem termos feito ainda a escolha porque a gerente acha a nossa química fofa perfeita para a peça e caso o Usui não ganhe, ela queria ver nós dois ensaiando junto. Não a nossa peça. Porque ele não era o príncipe de verdade. Ela me veio com a ideia de Romeu e Julieta. Romeu e Julieta. A peça de verdade é Branca de Neve. E ela quer saber como ficaríamos num romance de Shakespeare. Eu não vou fazer isso.

(...)

– ROOOOMEU! Ó ROMEU! NOSSAS FAMÍLIAS SÃO INIMIGAS! NUNCA VIVEREMOS NOSSO LINDO E PURO AMOR EM PAZ! – Disse fazendo um simples drama. Bem, me ajoelhando no palco em frente dele... E chorando dramaticamente também. Tudo bem simples, sabe?

– Ó, minha Julieta! Viveremos nosso lindo amor se morrermos juntos! Viveremos nos céus e passearemos nas estrelas!

Ele também estava se dedicando muito ao papel. Mas é o Usui. Ele fica perfeito até de... Sei lá... De nuvem*... Nenhum dos dois decorou muito o roteiro, mas até que o improviso tá fofo.

– Passearei então com você, meu lindo amor, no alto azul do céu. Mas antes de ir ao alto, teremos que nos despedir da base.

Disse isso e ele me segurou as mãos e me puxou para perto. Corei de novo. Mas não é um ensaio? A gerente parece estar gostando muito de tudo isso... Ela está chorando.

– Não me despedirei do chão pois...

– Se despedirá sim, droga. – Interrompi ele, poxa, nem para seguir meu roteiro mental.

– Não, não farei isso.

– Por que não? Você não me ama mais? Quem é a outra!? Romeu seu alien perver... – Eu parei quando vi o olhar da gerente curioso para saber o que estava por trás dessa cena improvisada. Fiquei em silêncio.

– Não me despedirei do chão. Sem você não terei mais ele. Não tem sentido me despedir de uma dádiva dada por você, já que viverei a eternidade junto de ti.

Corada. O Usui era um príncipe perfeito e por alguns segundos pude acreditar que essas palavras eram verdades.

– Ro-meu... Eu não me imagino vivendo sem você. Não imagino como vivia sem você... Ficava um vazio... Se for acabar com essa solidão, talvez seja essa mesma a solução.

Meus olhos ardiam. Eu já não estava mais atuando. Era a mais pura e linda verdade. Eu não me imaginava sem ele. E esse era o melhor momento para confessar, mesmo que ele não saiba que é uma confissão, mesmo que seja só um teatrinho para ele.

– Misaki...

Eu já estava chorando, mas encarava seus olhos com toda a força que eu tinha. Eu tinha que continuar a falar. Ele tinha que saber. Ele tinha que saber que eu o amava também, mas que é tudo muito difícil para mim...

– U... Eu... Eu te amo! Porém nossas famílias são inimigas e nosso amor impossível... Temos mundos muito opostos. Somos opostos! Mas eu sou sua, sempre fui. Não ligo se eu tenho outro trabalho diferente do seu. Só... Só quero ter a certeza do seu sentimento. Sempre vejo você brincando com o coração das camponesas por aí... NÃO POSSO ME ENTREGAR A UMA DÚVIDA USUI! NÃO FAREI ISSO SÓ POR TER SENTIMENTOS POR VOCÊ!

– Usui? – A gerente disse enxugando as lágrimas de seu rosto e acho que todos entenderam. Eu também enxuguei as minhas e vi palidez no rosto do Usui.

– Você duvida do meu sentimento por você? – Ele se aproximou.

– Usui...

– Me diz! Misaki, você atua muito mal e você estava enganando até a mim. Me diz! Você duvida do que eu sinto por você?

– Usui... Meu braço... Não aperte ele... Não chore!

– Misaki!

– Eu... Não sei. Você é garoto, é o primeiro garoto que eu confio. É tudo muito difícil para mim...

– Eu vou provar que pode confiar em mim. Prometi que você será minha princesa... E não estava me referindo a peça.

Silêncio e lágrimas escorrendo pelo rosto de todos. Minha vida era um teatro e pelo jeito o Usui era um dos protagonistas.