POV Sakura

Ele enxugou os olhos e aparentemente conseguiu formar alguma coisa com sua visão.

– Mi...?

– Não, não sou a Misaki. Desculpa Hinata. - Ele me fitou mais ainda tentando deixar a visão mais clara.

– Quem é ocê? - Suspirei fundo e enxuguei minhas lágrimas. Incrivelmente me peguei rindo baixo como se isso tudo fosse hilariante.

– Você nem se quer sabe quem sou eu, né? - Ele arregalou mais os olhos como se estivesse esperando uma resposta.

– Sakura. Amiga da Misaki, prazer. – Sorri.

Ele sorriu e apertou minha mão. Não estava mais chorando, mas sua aparencia me lembraa a de uma criança desanparada.

– Shintani. – Ele retribuiu o sorriso amigavelmente.

– Eu sei.

– Você é bem próxima da Misaki, num é? – Shintani arqueeou uma das sombrancelhas, provavelmente tentando entender o porquê de eu ter vindo correndo atrás dele.

– Sim, sou a melhor amiga dela. Ao menos acho isso. Ela não é boa em falar sobre sentimentos... Ou qualquer coisa semelhante a isso.

– A Misaki era menos confusa. – Falou enquanto mexia os dedos frenéticamente batendo-os sobre sua perna como se estivesse nervoso tentando lembrar-se de algo e quisesse se concentrar mais.

– Falando nesse assunto... Como você conheceu ela?

POV Hinata

– Mas não se brinca assim! – Eu estava ouvindo uma discussão e observando tudo do alto da minha amada árvore. Não tava conseguindo ver a pessoa que tava brigando, mas parecia a voz de umgaroto.

– Você é uma garota! Uma fracote!

– Lalalala fracote!

– Não pode brincar com a gente!

– Além de garota é café com leite! Sai! Sai daqui!

Eu afastei algumas folhas da frente do meu rosto e consegui ver a garota. Pequena, cabelos negros, pele clara, de vestidinho vermelho e duas tranças presas por lacinhos brancos. Meia três quartos e sapatilha preta. Que... Linda.

– AAAAAAAAAAAH!

– Eu não... – ela gritou e eu pude ouvir antes de dar de cara no chão. – sou fraca. – finalizou quase como sussurro pelo susto que tomou.

– Ai! – Quando pude entender o que estava acontecendo notei que ela estava toda bagunçada. Eles machucaram ela. Ela estava com lágrimas nos olhos. E eu estava com ódio.

– Olha que besta! Caiu de árvore em árvore!

– É o Tarzan? – Fui zoado e todos riram de mim. Eles viraram de costas e eu fitei-os com toda a raiva que poderia sentir. Quem iria bater numa garota? Eram no mínimo cinco anos mais velhos que ela.

– Bobos. – Murmurrei.

– O que você falou? – Os três me encararam e um tentou avançar.

– Bo-bos! – Eu gaguejei, mas continuei em pé ali enquanto eles me fitavam.

– Qual é moleque? Quer comprar briga?

– Acabo com ocês em segundos! – Exagerei, obviamente, mas por algum motivo que só Deus sabe, eu estava confiante o bastante para acabar com esses três idiotas.

– Veremos então. – Um deles praticamente voou até mim e eu mordi seu braço com força, ele caiu de dor. Eu senti sangue na minha boca. Tinha um gosto delicioso. Gosto de que eu estava protegendo uma garota. O outro veio por cima mas acabou tropeçando, eu nem me movi. Que imbecil! O terceiro me deu um soco e eu comecei a cuspir sangue. De repente as luzes se apagaram.

– Oeh! – Abri meus olhos e encontrei um lugar branco e a visão distorcida de uma garota com duas tranças desmanchadas. – Ei, você tá vivo?

Ela estava chorando e me balançando desesperadamente.

Tínhamos só 10 anos na época e eu jurava que tinha morrido.

– Anjinho, eu to no céu? – Perguntei acordando e sorri para ela.

– Não bobo! Você tá na terra mesmo. E você é meu anjinho que me salvou daqueles idiotas.

– Sério?

– Uhum.

Nossos olhinhos brilhavam um para o outro.

(...)

POV Sakura

– Depois disso a Misaki me contou tudo de novo e eu prestava atenção em cada detalhe. - Hinata disse com os olhos ainda brilhando.

– Nossa... Então vocês salvaram a vida um do outro? – Ele riu e continuou a falar.

– Sim, sim. Sou muito grato a ela. Se não, não estaria aqui conversando com ocê. E confesso que acho ocê uma belezura! – Ele corou junto comigo, mas decidi cortar o assunto para que nós possamos voltar a conversar.

– Então... E os garotos?

– A Misaki bateu neles! – Por que não me surpreendo? – Ela me contou que estavam bem piores do que eu porque ela estava com muita raiva e depois de tudo ainda falou “É, eu devo ser fraca.” E saiu andando deixando todo mundo de queixo caído.

Ele falou com tanto entusiasmo como se fosse o dia mais feliz da vida dele. Deve ter sido. O dia de conheceu o amor da vida dele né?

Eu ri, confesso. Misaki e sua famosa delicadeza.

– Kaichou demoníaca desde cedo...

– Isso aí. Mas foi nesse dia que me encantei por ela. Tão delicada mas tão misteriosa desde nova... Nunca olhei para mais nenhuma garota e prometi a ela que ela sempre será o nescau do meu café.

– Nescau?

– É! Café com nescau... Com leite. Café com leite...

Caímos na gargalhada. Era claro que ele tinha muita criatividade.

Que sorte a da Misaki.

– Fico feliz por você ter a encontrado... – Tentei animar ele.

– Eu também, uai. Mas parece que não tenho mais chances...

– O Usui é gente boa, não precisa ter ciúme dele. Tenho certeza de que vai encontrar uma garota para você. Chamou a atenção de tantas!

– Chamei, menos da que eu mais queria chamar. – Ele sussurrou desanimado.

– Talvez tenha uma ai para te mostrar porque deu errado com ela. Com o mesmo sentimento que você por “ocê”.

– Será?

Eu só sorri para ele e por pelo menos 40 segundos ficamos ali, somente decifrando o silencio um do outro.

Analisei ele. Era bonito. Tinha olhos castanhos, pele morena e cabelo da mesma cor dos olhos, lisos e bem bagunçados. Um porte atlético, mas nada muito definido. Me lembrava uma criança. Era isso. Eu lembrava uma criança e ele também. Era esse ponto que eu queria chegar! Pela nossa conversa éramos de verdade bem crianças na nossa aparencia, mas poucos alcançam nosso nível de maturidade.

Ele sorriu para mim com aqueles dentes claros lindos. Quase não resistindo, mordi meu lábio inferior e falei:

– Gostei muito de conversar com ocê.

– Também, ocê parece ser muito, muito legal!

– E ocê é muito, muito legal!

Ele ficou vermelho como pimenta e eu soltei uma risadinha, depois desci do telhado. Quando me vi sozinha na escada sentei em um degrau e apoiei minha cabeça entre as pernas.

– O que eu faço? – Só isso que eu queria saber. Juro.