A Clarividente escrita por Yuka


Capítulo 30
Capítulo 30


Notas iniciais do capítulo

Demorei bastante pra atualizar, peço desculpas por isso!
Obrigada a todos os leitores que acompanham, mandam comentários, favoritam e recomendam. Muito obrigada mesmo, é por vocês que continuo essa história e quero terminá-la, já que ela não está muito longe do fim.

Espero que gostem!!



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            De madrugada, Riana não conseguia parar de pensar no que tinha visto naquela casa. Ela não era daquele jeito quando começou a se encontrar com Hazael e Ian lá. Havia decidido que ainda não contaria nada a Ian e Hazael porque pretendia voltar lá pra olhar novamente e ver se tinham novas coisas. Achava que isso poderia ser arriscado, mas a sua curiosidade ainda se mostrava maior que seu medo.

            Depois de ter finalmente adormecido, teve um sono inquieto. Sentia seu corpo suar e tinha sonhos pequenos e incoerentes, mas nenhum deles era relacionado com a casa da clareira. Achou estranho, incomodou-se um pouco com os intervalos pequenos que passava dormindo, acabando mais acordada que dormindo durante a noite. Ainda assim, esperou paciente até que a noite acabasse, deitada em sua cama.

            Quando acordou, pensou em ir lá novamente, como tinha feito no dia anterior. Levantou cedo, arrumou-se, lembrou-se de pegar a faca que Ian havia dado e desceu as escadas. Cumprimentou a mãe e o irmão e tomaram café juntos. Com uma desculpa qualquer, de que andaria pela cidade, Riana saiu novamente com destino à casa da floresta.

            Como costumava fazer, colocou a capa preta com o capuz sobre a cabeça e seguiu caminho pelas estradas. Estava com um mau pressentimento, mas não conseguiu saber se ele era real ou apenas inspirado pelo medo que sentia, com a pressão de poder ser pega a qualquer instante dentro da casa. Achou que fosse mesmo o medo.

            Ficava se perguntando o tempo todo se aquilo tinha a ver com Rezon. Mas não parecia, já que o nome do próprio clarividente e mago negro estava entre os listados. Aquilo não podia ser coisa de Rezon. Com certeza, quem estava pesquisando sobre os clarividentes estava pesquisando sobre Rezon também.

            Ao chegar na casa, a porta estava fechada. Temeu que a fechadura velha estivesse trancada, mas quando se aproximou e tentou abrir a porta, não teve problemas.

            Quando entrou, as coisas estavam do mesmo jeito. Pelo mau pressentimento que tivera antes, pegou a faca e fez um corte em sua mão esquerda. Assim que o espectro surgiu, ordenou que ele flutuasse até o teto e ali ficasse, acima da porta. Para o caso de alguém entrar, teria uma chance a mais de se defender.

            Continuou olhando as folhas, que não pareciam apresentar informação extra. Estavam todos iguais. Fechou a porta atrás de si e observou os papéis, que falavam de clarividentes e magias, mas nada além disso. Parecia alguém interessado em descobrir como a magia e os poderes de clarividente funcionavam, nada mais. Mas se alguém estava querendo entender como funcionava, devia haver um objetivo por trás disso.

            Estava tão distraída com os papéis que quase não conseguiu ouvir a porta sendo aberta atrás de si. Mal teve tempo de se virar, Riana sentiu alguém se aproximar e cobrir sua boca, segurando seus braços rapidamente para que não pudesse reagir.

~

            Nirina continuava treinando a magia de água com Selene, especialmente seu poder de controlar o gelo, e os ataques mentais e a magia de clarividente com Zahra também. Naquela manhã, acordara com preguiça e indisposta para aulas. Por isso, Zahra decidiu que daria a ela uma folga e a dispensaria das aulas da manhã. Sorridente, saiu do quarto vestindo a túnica roxa de clarividente e foi até o jardim, sentar no banco que estava quando conheceu Aiko.

            Lembrou-se com pesar do amigo e depois pensou nos outros aprendizes. Eles continuavam distantes, não queriam nenhum tipo de contato com ela, mas Nirina não sentia falta disso. Apenas sentia falta de Aiko e sabia que sempre sentiria. Ele teria sido um bom amigo e um excelente mago. O que mais a entristecia era saber que sua vida havia terminado tão cedo, por motivos tão cruéis e mesquinhos. Ela ainda amaldiçoava Rezon em sua mente, todas as vezes em que lembrava de Aiko.

            Levantou para andar pelo castelo e foi até onde os soldados treinavam. Quando se aproximou, percebeu que Reno não estava ali e quem comandava tudo era Kevin. Aproximou-se um pouco mais do jovem soldado e sorriu, chamando-o pelo nome.

            — Kevin?

            — Senhorita Nirina, quero dizer... — ele deu uma pausa, sorrindo sem graça. — Nirina. Como vai? Está sem aulas essa manhã?

            — Sim — ela sorriu. — Zahra acha que eu estou me pressionando demais e que mereço uma trégua. Mas vai ser só pela manhã, à tarde as aulas já serão normais.

            — Entendo. O que a traz aqui?

            — Só estava andando. Percebi que Reno não está.

            — Ele não está mesmo — disse Kevin, com o olhar nos soldados treinando. — Antes de dormir ontem, disse que tinha um lugar para ir, algo para fazer. Não me disse o que era, mas disse que não estaria aqui de manhã e era para eu assumir seu lugar. Não faço ideia do que seja, mas não quis perguntar.

            — Reno saiu? De novo? Não disse para onde ia e continua agindo meio estranho? — disse ela, fraco, quase em um sussurro.

            — Sim — respondeu Kevin. — Ele continua do mesmo jeito, com compromissos estranhos que não diz a ninguém o que é. Achava mesmo que era algo com a Suriel, sua mulher, mas agora eu duvido muito. Acho que seja outra coisa.

            — Pode ser — disse Nirina, contendo sua vontade de contar a Kevin tudo o que sabia. — É melhor não questioná-lo, senão ele vai perceber que você está prestando atenção nisso e vai mudar. Até tentar esconder mais, talvez, se for algo que ele realmente não está disposto a revelar.

            — Sim, é o que acho também. Já tinha pensado nisso, por isso sigo suas ordens sem questionar, mas é impossível não ficar pensando.

            — Eu entendo como é. Mas vamos ver como as coisas acontecerão. Certo? — sorriu.

            — Certo — ele sorriu também, em resposta. — Já está indo?

            — Estou, não quero atrapalhar, nem tomar seu tempo. Até mais, Kevin.

            — Até mais ver, Nirina.

            Ela se afastou ainda olhando para trás, observando Kevin erguendo a voz com os soldados e ordenando-os, dando instruções do que fazer. Era bonito vê-los treinando e lutando pois eram todos muito disciplinados. Apesar de ser uma época onde magos tinham um poder de combate muito maior, apenas os melhores estudantes e mais empenhados lutadores conseguiam entrar para os exércitos comandados por Reno. Eram todos escolhidos pelo líder dos soldados, testados por Kevin, e treinados pelos dois. Eram ótimas pessoas, inteligentes e esforçadas, que estavam focados em cumprir seus trabalhos e suas ordens. Não eram apenas peões sem importância, como a maioria das pessoas costuma pensar dos soldados.

~

            Riana sentiu o coração disparar imediatamente quando sentiu alguém correr rápido até ela e segurar sua boca e seus braços, para que não pudesse gritar ou reagir. Felizmente, seu espectro estava logo acima da cabeça da pessoa desconhecida.

            Ela deixou que enxergasse pela visão do espectro. Viu que era um homem, que não tinha uniforme algum ou usava uma armadura. Estava usando uma capa verde sobre os ombros, mas não usava capuz. Em compensação, ele usava uma espada presa a uma bainha na cintura, uma espada com um cabo muito bonito e trabalhado, ela foi incapaz de não notar. Era linda e chamava bastante a atenção. Aquela espada não era a espada de qualquer assassino ou um andarilho.

            Sem demorar mais, Riana ordenou que o espectro agarrasse o pescoço do homem com seus dedos perfurantes. Assim que o espectro segurou o pescoço da pessoa desconhecida, Riana disse:

            — Solte-me.

            — Não tenho motivos para fazer isso — disse o homem, com a voz rouca e a respiração dificultada.

            — Ele tem muito mais força que você e é controlado pela minha mente. Se não me soltar agora, faço ele apertar tanto seu pescoço que vai arrancar sua cabeça.

            Ordenou o espectro a colocar a ponta das garras da outra mão contra o rosto do homem, para que ele pudesse sentir.

            — Você não vai gostar.

            — Tudo bem, mas vamos conversar.

            Tão logo o homem terminou de falar e soltar Riana, ela ordenou o espectro a continuar segurando o homem pelo pescoço. Agora com o espectro a sua frente, o homem tinha uma expressão de horror no rosto, bem diferente do que Riana imaginava que ele teria. Ele não parecia ser uma das pessoas responsáveis por aqueles papéis na casa.

            O espectro da maga negra segurou o homem pelo pescoço contra a parede, deixando ainda que ele apoiasse os pés no chão. Riana se aproximou e ele manteve-se quieto.

            — Quem é você e o que veio fazer aqui? — disse ela, andando na frente do homem.

            — Eu devia perguntar a mesma coisa.

            O espectro apertou mais seu pescoço, fazendo-o tossir.

            — Eu faço as perguntas aqui — disse ela novamente. — Quem é você e o que veio fazer aqui?

            No rosto de Riana estava uma expressão feroz. Seus olhos estavam sérios e sua expressão dava a entender que ela estava disposta a matar se fosse preciso para salvar sua vida. Ela não queria morrer ali e não hesitaria. Não ousaria matar um inocente, mas estava certa de que mataria para não morrer.

            Não obteve resposta. Diante do silêncio, observou o rosto do homem. Chegou perto e olhou-o, tentando perceber se já havia encontrado antes.

            — Vou perguntar uma última vez — disse ela, fazendo o espectro usar mais força, piorando a tosse do homem e fazendo-o respirar com dificuldade. — Quem é você e o que veio fazer aqui? Por que me segurou daquela maneira?

            — Por que eu te segurei daquela maneira? Me parece que você também não tem nada a ver com as coisas dessa casa. Caso contrário, saberia porque te segurei daquela maneira. Você devia ser um deles.

            — Um deles?

            — Escute, se me soltar, eu prometo contar tudo.

            — Sinto muito, mas não posso confiar em você.

            — Pode — disse ele.  — Chamo-me Reno, sou o líder dos soldados do Rei. Já deve ser ouvido falar de mim.

            — Já ouvi e sei que a informação é verdadeira. Sua espada não é de qualquer um, também. Um viajante ou qualquer outra pessoa usaria uma faca ou espada muito mais simples. Ainda assim, não sei se posso soltá-lo. Não sei se acredita que eu não tenho nada a ver com isso.

            — Acredito que não tenha — ele respondeu. — Tudo bem. Mande seu espectro segurar as minhas mãos, mas deixe-o longe do meu pescoço, por favor.

            — Tudo bem. Trato feito.

            Riana ordenou a seu espectro que segurasse Reno pelos pulsos antes de soltar seu pescoço. Ele tossiu algumas vezes e respirou fundo, desejando que pudesse passar a mão pelo local ferido.

            — Agora me diga o que você sabe sobre esse lugar.

            — Primeiro — começou Reno — eu não estou aqui por vontade própria. Tenho ordens para verificar isso, mas meus superiores não devem ser revelados.

            — Tudo bem, não me importo com eles.

            — Obrigado. Não sei muito sobre esse lugar. Sei que existe um grupo de pessoas que está interessado em perseguir magos e acabar com eles. Especialmente os clarividentes. Por isso, os nomes dos clarividentes existentes e com mais poder estão naquela lista ali. — Ele apontou para a lista que ela já tinha visto, onde constava o nome de Nirina também.

            — Sim, eu vi essa lista... É muito estranho.

            — Não é tão estranho. Essas pessoas acham que a magia é maligna e separa os magos dos homens que não tem o dom para magia. Esse grupo é contra os magos. Contra os magos negros também, mocinha, especialmente. Mas os magos negros são tantos em todos os países que eles não tem como fazer uma lista dos magos negros como fizeram dos clarividentes.

            — Entendi — disse ela. — Isso é preocupante. Já conseguiram descobrir quem são essas pessoas?

            — Não. Parece que reuniram essa informação aqui e com medo de serem descobertos, precisaram fugir. É incoerente, e ainda não sabemos porque eles deixaram tudo isso para trás. Não sabemos quem são, de onde vieram, ou porque eles planejam acabar com a magia. Mas é seu objetivo. Temo que aconteça algum tipo de guerra envolvendo isso e é por isso que devo impedir. Eles querem descobrir um jeito de lutar contra magos, pois é claro: magos são muito mais fortes que homens comuns ou soldados.

            — Sim, eu entendo. Bem, eu me chamo Riana — disse ela. — É só disso que precisa saber.

            — Riana, eu sei quem você é — ele sorriu. — Nirina me fala de você às vezes. Sei que são amigas.

            Riana sorriu. Diante disso, percebeu que ele não estava mesmo mentindo.

            — Deve saber que não tenho nada com isso, senhor Reno, afinal, como viu, também sou uma maga negra. Devo soltá-lo agora, com a certeza de que não sofrerei nada? Meu espectro é bem mais rápido.

            — Deve.

            Obedecendo, Riana ordenou que o espectro soltasse o soldado e se afastasse. Reno passou as mãos pelos pulsos e pelo pescoço, respirando fundo.

            — Achei que você fosse quem eu procurava — ele disse. — Achei que finalmente tivesse encontrado um dos responsáveis pelas informações nessa casa.

            — Pois parece que ainda vamos ter que esperar pra ver o que acontece.

            — Parece mesmo.


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