A Clarividente escrita por Yuka


Capítulo 27
Capítulo 27


Notas iniciais do capítulo

FINALMENTE, um novo capítulo!
Mil desculpas pela grande demora, espero que gostem.

Divirtam-se!
Agradecimentos especiais a Hiei, Jean Claude, Vick, Lucilaine e Nyuu.
Em breve responderei a todos os comentários, não esquecei um.
Abraços,
Yuka.



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Nirina voltou em silêncio para a Corte durante toda a viagem. Sentia-se mal por ter falado daquele jeito com Riana, afinal, ela só queria um modo de saber o que estava acontecendo, apesar de também ter optado pelo meio errado. Kevin tentou perguntar à maga o que estava acontecendo e se ela precisava de ajuda, mas ao receber uma resposta negativa, manteve-se em silêncio. Se ela desejasse conversar, com certeza falaria algo.

Nirina também se sentia mal por ter falado daquele jeito de Aileen para Ian, sem nem antes conhecê-la. Sentia-se confusa com o aumento de seus poderes e às vezes se perguntava se seria capaz de lidar direito com isso. “Pode me levar de boa vontade, ou eu posso ler sua mente”. Lembrar-se-ia de pedir desculpas a Riana por isso. Não havia sido nada justa, ainda mais com uma antiga amiga.

Quando chegou à Corte, sentiu vontade de conversar com alguém. Andando até o castelo não conseguiu encontrar ninguém assim que se separou de Kevin. Nem Reno, nem mesmo Martin. No caminho, ela encontrou Ailina. Perguntou à serviçal se ela sabia onde estava sua mestra, Zahra, mas recebeu uma resposta negativa. Pensou em andar até a biblioteca, mas na metade do caminho, encontrou-a.

— Nirina, você já retornou — disse Zahra, segurando-a pela mão. — Podemos conversar em seu quarto?

— É claro. Vou te contar o que aconteceu, mas tem outra coisa que preciso falar com você.

— Tudo bem — respondeu a mestra, assumindo uma expressão de preocupação. — Tudo bem, vamos lá.

As duas andaram calmamente até o quarto. Nirina estava ansiosa para ir até seu quarto e colocar a túnica roxa, afinal, haviam pedido a ela para que não andasse sem a túnica roxa enquanto estivesse na Corte, próxima ao castelo. Assim que as duas chegaram ao cômodo, Nirina optou por se jogar na cama em vez de sentar na cadeira. Zahra a olhou, preocupada.

— O que houve, Nirina? Algo deu errado? Não conseguiu encontrar Ian?

— Não, isso deu tudo certo — ela respondeu. — Tem outra coisa me incomodando.

Zahra suspirou e se sentou no colchão.

— Quer conversar sobre isso?

— Eu não sei... Eu acho que estou diferente. As coisas aqui tem acontecido muito rápido e às vezes me pergunto se serei capaz de lidar com isso. De fazer tudo certo. Eu não entendo muito bem como funciona o mundo e mentalidade das pessoas. Passei bastante tempo vivendo apenas com Arthus, e isso para mim era o suficiente. Mas percebi o quão diferente as coisas são por aqui. Não acho que isso seja algo ruim, é uma boa experiência, mas eu preciso conversar com alguém sobre isso. Às vezes não me sinto preparada, ainda mais com tudo isso sobre o Rezon e os dias passando. Às vezes parece que não devia ser eu a mais nova Clarividente de Sira.

Zahra sorriu, comovida. Não sabia ao certo o que dizer para acalmar a aluna, mas teve uma ideia.

— Nirina — ela começou, apoiando uma das mãos sobre o ombro da garota. — Deixe-me contar uma história. Quer ouvir?

— É claro — respondeu, animada, apesar da preocupação.

— Eu sou filha de dois magos. Minha mãe era uma maga de fogo, e meu pai era um mago de terra, como eu sou. Ambos acreditavam em magia e as coisas iam muito bem, lembro-me deles até os meus seis anos de idade. Mas os dois também trabalhavam como magos do exército e certo dia, minha mãe foi gravemente ferida. A medicina, como era conhecida, não pode fazer muito pelos graves ferimentos causados com magia e ela acabou não resistindo. Ela faleceu mais ou menos quando eu tinha sete anos.

— Um tempo depois — ela continuou enquanto Nirina escutava prestando total atenção —, meu pai conseguiu se recuperar da perda. Era um homem forte e cuidou de mim sozinho por todo esse tempo, portanto. Mas ele se apaixonou por outra mulher. Uma mulher que não era maga. Ela não era má comigo. Era bonita, tinha uma voz amável e uma mão macia. Eu gostava de ficar deitada no colo dela enquanto ela lia histórias para mim, antes de dormir. Lembro-me até mesmo de seu nome; ela se chamava Malie. E só tinha um defeito: ela não gostava de magia. Ainda assim, meu pai se apaixonou por ela e ela se apaixonou por ele, e os dois começaram a viver juntos. De vez em quando eu me perguntava se meu pai já havia esquecido minha mãe e ficava triste. Quando cresci um pouco mais, pensava que viver a vida deprimido por alguém que se foi e jamais voltará, às vezes, não é o melhor caminho. Compreendi que meu pai era o responsável pelas próprias escolhas e decidi manter minha mãe em meu coração, afinal, sempre pode se encontrar as pessoas que se ama, desde que o sentimento que você tinha por elas se mantenha vivo.

— Foi mais ou menos com a sua idade que meus dons de clarividente começaram a se manifestar. Eu era um pouco mais nova que você quando entrei na Corte pois, com sua idade, eu já conversava com Arthus por bastante tempo. Mas foi difícil.

— Eu tentei alertar meu pai que algo estava diferente. Que minha mente não era mais a mesma e que eu parecia ter visões esporádicas de pouco tempo à frente, junto com algumas dores de cabeça. Malie ouviu, pois meu pai insistiu para que ela estivesse junto e fez comentários do tipo “Isso não existe. Zahra, com certeza, só está querendo chamar sua atenção. Ela está com ciúmes”. Supliquei ao meu pai para que não acreditasse nisso, mas ele não aceitou. Pouco tempo depois, eu comecei a ouvir vozes. Meus sentimentos influenciaram nisso e eu comecei a ouvir a voz de Malie. Comecei, sem querer, a ler seus pensamentos.

— Ela, realmente, era uma pessoa boa. Não desejava o mal a mim, nem a meu pai. Mas ela não gostava de magia. Era dotada de uma crença fixa de que a magia era algo mau, que bons humanos não deviam praticá-la, e por isso queria “livrar” meu pai da magia. Era assim que ela achava que o ajudaria. Eu estava infeliz e cada vez menos ciente de como poderia controlar minha magia de clarividência, que estava fugindo cada vez mais de meu controle.

— Certa noite, escrevi uma pequena carta. Preparei algumas roupas enroladas em um pano, de modo que eu conseguiria levar enquanto caminhava. Escrevi uma carta de despedida a ele, explicando para onde eu iria. Pretendia ir para a Corte, onde eu sabia que existiam mais aprendizes de magos e com certeza eles poderiam fazer algo por mim. Feliz ou infelizmente, meu pai nunca mais me procurou. A última notícia que tive foi uma carta de Malie, dizendo que eles estavam indo embora para Earine, sua terra natal. Quando cheguei à Corte falando sobre minha magia, óbvio que duvidaram. Realizaram vários testes e então não tiveram dúvidas de que eu realmente era uma Clarividente. Eles sabiam que o dom da clarividência se manifestavam aleatoriamente em crianças com o dom para a magia. E eu acabei sendo uma dessas, assim como você foi.

— Você não sente falta do seu pai? — perguntou Nirina. — Não sabia que ele a tinha deixado.

— Às vezes sinto saudade dele, mas só quando ele estava junto de minha mãe e os dois me ensinavam magias. Eles faziam isso desde que eu era muito nova, mas é claro, lembro-me de pouca coisa. Lembro um pouco de suas vozes e das luzes que eu achava bonitas por causa das magias de fogo da minha mãe. Mas se meu pai acha que foi melhor para ele ir embora com Malie, quer dizer que ela se tornou mais importante para ele do que eu fui. Não me incomodo com isso. Isso não me deixa triste.

Zahra segurou as mãos de Nirina, olhando-a nos olhos.

— Nirina. Quando eu comecei a aprender clarividência, eu mal sabia o que estava fazendo. Mudei de mestre algumas vezes e até viajei para outros reinos para isso. Mas o que eu quero te dizer é: não deixe as dificuldades dominarem você. Domine as dificuldades. Não importa se você sente que não está preparada, você já está aqui. Você precisa fazer isso, como eu precisei. Por mais que eu não soubesse direito o que fazer, de uma forma ou de outra eu sempre conseguia fazer tudo certo. Com o tempo, fui conquistando o respeito por mim mesma. Depois disso, consegui conquistar o respeito dos outros magos e das outras pessoas. Inventaram até algumas histórias sobre mim, especialmente relacionadas com meu tamanho — ela riu brevemente — e meu poder, que são inversamente proporcionais — ela riu novamente, fazendo Nirina rir também. — Você tem que acreditar em si mesma. E precisa ter a mente aberta para várias possibilidades.

— Fiz algo que não devia — ela disse, atraindo a atenção de Zahra. — Riana disse que me levaria à casa de Ian apenas se eu contasse tudo a ela, já que Ian se recusava a fazer isso. Eu disse que não iria contar, e que se ela não quisesse me dizer, eu poderia ler a mente dela. Não devia ter falado isso. Não é justo e ela é minha amiga.

— Fez bem em reconhecer isso, Nirina. A maior virtude de uma pessoa é a sua capacidade de reconhecer os próprios erros. Na próxima vez, sabe que não deve dizer isso a ninguém, muito menos a um amigo seu.

— Eu também disse a Ian que achava Aileen perigosa. Ela confirmou que virá e que estará aqui em poucos dias. Eu a achei perigosa porque ela também é uma maga negra e assassina, mas Ian me fez ficar sem palavras quando disse que ele também era. E eu nunca pensei nada de mau dele.

— Por isso eu disse: você precisa ter a mente aberta para várias possibilidades. Nunca julgue as pessoas por seus passados, especialmente. As pessoas mudam. Às vezes, quem garante, até mesmo Ian pode se odiar por ter feito o que fez no passado e isso o fará infeliz pelo resto da vida. É importante se perdoar, acima de tudo. E você, cara aluna — ela sorriu —, cuidado. Aja como se fosse uma maga como os outros magos, não como se fosse uma Clarividente. Praticamente esqueça a capacidade de leitura de mentes e visão de futuro que você tem. Estar ciente de seus grandes poderes o tempo inteiro apenas a fará arrogante, e você é inteligente e boa demais para se tornar algo assim. Outra prova de sua sabedoria é que você sabe ouvir — disse Zahra, apertando as mãos da aprendiz entre as suas. — Você sabe quando ouvir e quando falar. E sabe o que falar. Continue assim.

— Muito obrigada, Zahra — sorriu Nirina, apertando as mãos da mestra em resposta. — É realmente bom ouvi-la falar. E obrigada por me contar mais sobre sua história. Foi muito bom.

— Fico feliz. Quando precisar conversar, saiba que estarei aqui.

— Sim!

— Agora, vamos treinar um pouquinho enquanto temos tempo? Vou pedir pra trazerem seu almoço mais tarde.

— Tudo bem. Vamos, sim.





Riana entrou devagar na casa como se temesse algo. Estava ansiosa, seu coração estava inquieto e ela não esperava boas notícias. Ian aparentava serenidade, como geralmente aparenta. Ele parecia tranquilo, o total contraste da aprendiz de magia negra, que não conseguia parar de apertar as próprias mãos em uma tentativa de se manter calma.

— Tudo bem — ela disse. — Quero saber o que está havendo e por que você escondeu isso de mim todo esse tempo.

Hazael olhou um tanto sério para os dois e depois suspirou, entediado, como era na maior parte do tempo.

— Estou dormindo no sofá da sala caso precisem de mim — ele disse, espreguiçando-se, como se nada estivesse acontecendo. — Cuidem-se, crianças, eu durmo com um olho fechado e outro aberto — disse, olhando diretamente para Ian, provocando-o. O amigo disse um xingamento em voz baixa e Hazael riu, afastando-se.

— Eu vou dizer. Primeiro gostaria de dizer que — ele parou por alguns segundos, fazendo o coração de Riana acelerar —, eu escondi isso de você porque... — mais uma pausa, tentando encontrar as palavras, e Riana sentiu como se fosse desmaiar ali mesmo. — Eu estava preocupado com você.

Riana chegou a soltar a respiração, que havia prendido inconscientemente. Não sabia ao certo por que, mas estava cheia de uma esperança tola de que ele dissesse outra coisa. Mas ficou feliz ao saber que Ian se preocupava consigo.

— Riana, você já sabe da parte mais maligna da prática de magia negra. Sabe que eu fui durante muito tempo um mago que fazia parte dos rituais de sacrifício. Nós tínhamos o nosso líder, que me considera culpado pela denúncia e sempre teve o sentimento de vingança. Descobrimos recentemente, com a ajuda de Nirina e Zahra, que esse mago negro e clarividente está aqui em Sira. Na biblioteca de Ima, pra ser mais exato. E nós estamos com planos de enfrentá-lo. Para isso, até a minha irmã virá. Lembra-se de Rob? Foi esse mago. que o levou. Rezon é seu nome. A mulher esquartejada, aquele mestre de magia da Corte, Sven, também. Se não o pararmos, ele continuará caçando vítimas.

— Mas, Ian, pode ser perigoso! E se algo acontecer com você? E Hazael? Nirina e Zahra ajudarão?

— Nirina, Zahra, Arthus, Hazael, Aileen e eu.

— Não há nada que eu possa fazer?

— Há.

— É mesmo? — ela disse, animada. — O que eu posso fazer?

— Pode ficar aqui, em segurança — disse Ian, acabando com o ânimo da moça — para que eu tenha um motivo a mais para voltar vivo daquela luta.

Riana ficou um tempo em silêncio, como se processasse a informação. As palavras de Ian soaram mais uma vez por sua cabeça, e ela entendia o que elas queriam dizer. Mas parte de sua consciência insistia em contradizer, dizendo “Não é isso que ele quer dizer”.

— Como é, Ian?

— Eu não quero correr o risco de você se machucar nessa luta. Tenha em mente que você é uma maga negra iniciante. Tem pouco poder e pouco controle sobre seu espectro. Ainda assim, Rezon a sentiria. Se ele sentisse como você ainda é fraca, você com certeza seria sua vítima.

— Mas, assim... Assim eu serei inútil! — ela gritou, inconformada.

— Você não é inútil — disse Ian, segurando Riana pelos ombros. — Nunca foi. Jamais será. Você é linda, Riana — ele se aproximou, deslizando um de seus dedos pelo rosto da garota — e inteligente. Nunca conheci um humano sem dom para magia que aprendesse a magia negra tão rápido. Você é minha melhor aluna. Eu vou fazer o que eu puder para te proteger.

Ao dizer isso, Ian puxou-a para perto de si e a abraçou forte. Sua vontade era de tê-la beijado, mas não tinha coragem de fazer isso sem que tivesse certeza que Riana sentia o mesmo. Apenas ficou ali, sentindo-a entre seus braços, com um tênue sorriso no rosto. Riana quis fazer algo, mas não conseguiu. Manteve-se completamente inerte, até que fechou os olhos e se arrumou nos braços de Ian. Deixou que ele a abraçasse e esqueceu de tudo o que perturbava sua mente nos dias passados.


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