A Clarividente escrita por Yuka


Capítulo 25
Capítulo 25


Notas iniciais do capítulo

Esse capítulo é legal. Acabou de ficar pronto, terminei de escrever agora mesmo e estou postando.
Como disse, Hazael, Ian e Selene são as melhores partes de escrever. Amo esses três!

Espero que gostem, e desculpem pela demora. Logo os capítulos sairão mais rápido. Obrigada!



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Nirina acordou cedo no próximo dia, sempre com a contagem dos sete dias em mente. Se Rezon estivesse contando sete desde o dia da conversa com Martin, então esse era o terceiro dia que tinham para planejar.

Levantou da cama se sentindo disposta, afinal iria se encontrar com Riana. Fazia tempo que não conversava com a amiga e se sentia estranhamente distante. Não sabia direito o que sentia quando pensava em Riana. Percebeu que havia se entretido tanto com as coisas da Corte e concentrado sua saudade tanto em Arthus e Aiko que acabou se esquecendo de pensar em como a amiga estava e como iam as aulas de magia negra.

Magia negra... Nirina torceu o nariz ao se lembrar de que Riana agora era uma maga negra. Tudo bem que a magia negra tinha sua parte menos maligna, mas isso não queria dizer que essa parte ainda não era perigosa. Era apenas menos perigosa para as pessoas ao redor do mago negro; para o mago negro ainda era especialmente perigosa.

Saiu da cama e vestiu uma calça preta, com a túnica azul e curta que gostava de usar. Agora que sempre andava com as túnicas roxas era difícil usar aquela, mas até mesmo aquela roupa a lembrava dos velhos tempos na casa de Arthus. E ela gostava desse sentimento.

Levantou o mais cedo que pode, junto com os soldados que despertavam mais cedo para os treinos. Ela sabia que Kevin era um desses.

Nirina nunca teve grande dificuldade para acordar cedo. Era acostumada desde sempre a acordar bem cedo e ajudar Arthus em casa, arrumar seu quarto e ajudar na arrumação dos outros cômodos. Também o ajudava com o que cozinhar e, recentemente, acordava cedo para poder estudar mais também. Nirina dizia que dormir demais era perda de tempo, que o certo era dormir apenas o suficiente para descansar o corpo e a mente e então, levantar, disposta para um novo dia.

Saiu do quarto aos passos rápidos, quase correndo. Havia juntado poucas coisas, apenas algum dinheiro caso quisesse comer algo na cidade; dinheiro que havia ganhado de Arthus na última visita. A comida da Corte era boa, mas ela sentia saudade de comer nos restaurantes menos sofisticados.

Quase sem perceber, passou por Martin no corredor. Sentiu uma simpatia estranha por ele, algo que imaginou que jamais sentiria. Ele era uma pessoa amarga, egoísta, que às vezes falava coisas apenas pensando no mal alheio. Ainda assim, havia arriscado a própria vida para que ela e Zahra pudessem saber mais sobre Rezon e estava para morrer em quatro dias se as duas não agissem de alguma maneira.

Decidida a não se tornar uma pessoa rancorosa, cheia de ódio e ressentida como Martin, sorriu verdadeiramente para o líder dos magos pela primeira vez desde que o conhecera.

— Bom dia, Martin — ela disse, ainda com o verdadeiro sorriso no rosto.

— Bom dia, Nirina — disse ele, seco como sempre, e com a mesma seriedade. — Procurando por alguém?

— Kevin. Sabe onde ele está?

— Não. Vão sair juntos hoje?

— Ah... — ela olhou para Martin e se perguntou por alguns instantes porque ele estaria puxando assunto. — Vamos, sim. Eu preciso de alguém para me acompanhar até a cidade.

— Eu me ofereceria para ir com você caso não tivesse tantos afazeres hoje. Mas acho que você não aceitaria — ele disse, ainda sério, mas acrescentando um sorriso, quase uma risada, no fim. Nirina nunca tinha visto ele daquele jeito.

— Reveja um pouco seus conceitos sobre mim — ela falou, usando mais ou menos as palavras que ele havia usado no dia seguinte. — Decidi que não vou te tratar mal. Eu estava errada.

Martin ficou sem reação por alguns segundos. Havia passado muito tempo desde que ele conhecera alguém que tivesse a coragem de dizer essas palavras. “Eu quem estava errado”. Ele queria ter a mesma coragem, mas como não tinha, optou pelas melhores palavras que era capaz de encontrar:

— Como disse da primeira vez, você é inteligente. Uma aprendiz interessante. Vamos conversar qualquer dia desses se desejar, então posso lhe contar minha história.

Martin disse já começando a se afastar, despedindo-se de longe com um aceno displicente da mão. Nirina ficou parada, reflexiva. Várias coisas estranhas haviam acontecido.

Martin não a havia tratado com tanta frieza como sempre fazia. Havia conversado sobre coisas corriqueiras e sugerido companhia. O mais estranho foi o sorriso no final da frase e o convite para uma outra conversa. “Então posso lhe contar minha história”. As últimas palavras que ele havia dito soavam sem parar pela mente de Nirina.

Ela havia esquecido. Nirina sabia que todas as pessoas tinham um passado, que justificava muito as ações das pessoas no presente. Uma pessoa triste e amarga como Martin, poderia ter sofrido grandes perdas no passado ou sofrido muito de outra maneira. Poderia ter sido humilhado e deixado de lado.

Coisas assim geralmente acontecem com a maioria das pessoas, mas geralmente as pessoas que não sabem lidar com o sofrimento se tornam rancorosas e odiosas, amargas, sem esperança pela vida e sem saber como reconhecer as coisas boas. Nirina havia esquecido. Havia se envolvido em sua raiva e sua tristeza própria e esquecido que ninguém pode dar o que não tem.

Se ninguém tivesse ensinado Martin a ser amigável, simpático e feliz e agido assim com ele, não teria como ele agir assim com outras pessoas. Talvez fosse a única coisa que ele soubesse fazer ao se relacionar com os outros: ser ríspido.

Nirina respirou fundo, dando-se conta de que já havia ficado parada ali pensando em Martin por tempo suficiente. Voltando a andar rápido, foi até o pátio onde os soldados treinavam e encontrou Kevin atando a bainha da espada à cintura de sua armadura. Ela correu até ele.

— Bom dia, Kevin!

— Bom dia, senhorita Nirina — disse ele, por estar rodeado de outros soldados. — Em que posso ajudá-la?

— Tem o dia livre hoje?

— Ora, senhorita — disse ele, tratando-a como se fosse uma princesa. Extremamente cortês. — Eu raramente tenho os dias livres, mas se precisa de um trabalho meu, posso arrumar o tempo necessário.

— Pois preciso — disse ela, sentindo o rosto ficar vermelho. Devia ser capaz apenas de dar uma ordem, sem pedir nada antes. — Estou indo até a cidade hoje e minha mestra não será capaz de me acompanhar. Solicito que você me acompanhe nessa viagem.

— Com toda a certeza — ele respondeu, reverenciando levemente. — Sua carruagem sai quando?

— Em instantes. Posso esperá-lo no portão?

— Certamente — ele sorriu. — Em pouco tempo estarei lá.

Nirina assentiu, então saiu andando até o portão para esperar que Kevin terminasse de fazer o que precisava. Andou pelo meio dos soldados e percebeu como a maioria a reverenciava com respeito, apesar de nem estar usando sua túnica de clarividente aquele dia. Imaginou que era coisa dos soldados, isso de respeitar os magos, especialmente os clarividentes. Talvez devesse perguntar a Kevin durante a viagem.

Chegou aos portões e observou a carruagem que a esperava. Zahra havia cuidado de tudo desde o dia anterior para que Nirina pudesse encontrar Riana e então, Ian. Realmente passou pouco tempo esperando até que Kevin chegasse.

— Olá — disse ele, sorrindo, menos formal. — Devemos ir?

— Sim — respondeu, indo até a carruagem.

Kevin a seguiu, e não demoraram até que finalmente saíssem da Corte, dando início à ida até a casa de Riana.




Hazael estava, como de costume, jogado em uma cadeira da cozinha, praticamente deitado. Ian andava de um lado para o outro, sem parar, esperando ansiosamente por uma resposta de Aileen que já devia ter chegado. A carta devia estar um pouco atrasada. Mas sua carta havia atrasado? Ou a resposta de Aileen?




— Ian, você realmente não vai parar de andar? Desde quando você adquiriu esse hábito?

— Já era pra aquela carta ter chegado — ele resmungou, impaciente.

Selene chegou à cozinha, sonolenta. Ao contrário de Nirina, a mestra não era do tipo muito adepta da prática de acordar cedo. Não gostava da manhã, mas infelizmente tinha coisas a fazer. Olhando para os dois, sorriu, sem ânimo. Ian e Hazael riram ao vê-la.

— Selene — riu Hazael —, nunca vai perder a graça te ver desse jeito.

— Fica quieto — disse ela, rindo também. — Vocês sabem que eu não gosto de acordar cedo.

— Sabemos — disse Ian —, mas eu concordo com Hazael. Ainda bem que você dá aulas a Nirina durante a tarde.

— Por que acha que eu pedi para Zahra ficar com as manhãs?

— Quem te vê só depois de acordar nem consegue acreditar que é tão difícil pra você sair da cama — riu Hazael novamente, se jogando ainda mais na cadeira. — Antes esperariam isso de mim, mas é o contrário.

— E daí — disse Selene, arrumando displicentemente o vestido azul e longo, até seus tornozelos. — As aparências enganam. Vocês dois já tomaram comeram alguma coisa? — perguntou.

— Eu sim — respondeu Hazael. — Já o Ian parece um idiota andando de um lado para o outro como se andar e andar fosse fazer a carta chegar mais rápido!

De repente, Selene ouviu batidas à porta. Olhando, rápido, ela percebeu que haviam deixado um papel sob a porta, ao chão. Foi até lá e pegou, observando o papel, apenas com um nome escrito: “Ian”. Ela se perguntou como aquela carta havia chegado ali, mas ficou em silêncio.

— Talvez tenha resolvido — disse Selene, fingindo entregar o papel a Ian. — É uma carta em seu nome.

— Finalmente! — Ian riu e tentou pegar a carta, mas foi impedido por Selene. — O que é? Vai me fazer cozinhar algo pra você de novo?

Ela riu.

— Não. Eu vou te dar essa carta com uma condição.

— Pois não, senhorita Selene, maior maga de água de Sira?

Ela riu novamente, depois ficou séria.

— Vocês me disseram que tem um plano, mas não me disseram que plano é esse. Disseram que eu saberia na hora certa, mas eu quero saber agora. Então você terá essa carta com a promessa de que me contarão tudo.

— Tudo bem — disse Ian. — Eu prometo.

— Eu não tenho nada a ver com isso — disse Hazael, erguendo as mãos como se quisesse se livrar. — O Ian que pensou nessas coisas, eu só estou tentando ajudar.

Selene olhou de canto para Ian e então entregou o objeto, que ele pegou instantaneamente.

— É Aileen!

— O que ela diz? — perguntou Hazael, interessado.

— Sua irmã? — perguntou Selene, reconhecendo o nome da irmã de Ian. — Não sei o que vocês estão tramando, mas...

— Saberá — disse Ian. — Ainda mais agora que Aileen disse...

— Disse o quê? — perguntou Hazael novamente, impaciente.

— Ela disse que virá.

— Posso ver a carta? — disse Hazael.

— Ela é breve — Ian riu. — Mas é claro que sim.

Hazael segurou a carta entre as mãos.



A Ian.



Então você finalmente encontrou quem estávamos procurando?

Sabe que eu não tenho medo. Não tenho medo de desafios, nem medo de matar ou morrer. Está mesmo preparado para a minha ajuda?

Eu espero que sim. Porque eu estou chegando a Sira em poucos dias!


Aileen de Nali.




— Eu nunca a vi em Nali — disse Hazael — mas ela parece mais homem que você.



— Cala a boca, Hazael, seu imbecil — gritou Ian, arrancando a carta das mãos do amigo. — Por que todos tem que falar isso pra mim...

A última fala de Ian arrancou uma risada de Hazael. Então isso era comum.

— Para de drama. Depois ainda se pergunta por que acham a Aileen mais homem que você.

Ian rangeu os dentes. Sorriu com raiva, então partiu para cima de Hazael. Tentou acertá-lo com um soco, mas o amigo se esquivou com rapidez. Ao mesmo tempo em que Hazael tentou contra-atacar acertando Ian no estômago com seu joelho, o mago de ar se fez flutuar levemente e foi para longe.

— Tá valendo magia então? — perguntou Hazael, erguendo a mão e deixando que uma chama se acendesse sobre sua mão.

— Sim! — gritou Ian, sorrindo, ainda com raiva. — Já faz um tempo desde que disputamos assim da última vez, então venha!

De repente, Selene ergueu uma de suas mãos, entediada, e jogou uma quantidade significante de água sobre a mão de Hazael, apagando a pequena chama que flutuava sobre seus dedos.

— Não — disse Selene. — Não quero saber de nada disso aqui na minha cozinha.

— Mas, Selene... — choramingou Hazael.

— Parem! — ela riu, percebendo como os dois pareciam irmãos e ela, a mãe. — Mas vocês são impossíveis! Sentem-se — ela continuou, arrumando o vestido. — Sabem que eu preciso de um tempo até conseguir melhorar meu humor completamente, então não me irritem.

Os dois riram. Era muito comum aquele comportamento de Selene; era contraditório e engraçado.

— Ian, o senhor tem assuntos a tratar comigo.

— Pois bem — disse ele, respirando fundo e sentando-se ao lado de Selene. — O assunto é simples.

— Não é simples — disse Hazael. — Parece simples em teoria, mas eu passo horas à madrugada pensando em como vamos fazer isso.

— Cale a boca, Hazael, por favor.

— Como você é educado, Ian.

Ian encarou novamente o amigo, expressando a raiva no olhar. Hazael riu sonoramente, fechando os olhos e inclinando a cabeça para trás em sua cadeira.

— Você é muito previsível, Ian!

— Hazael, cale a boca — disse Selene, séria.

— Sim, senhora, desculpe — respondeu Hazael, segurando o riso, assim como Selene.

— Prossiga, Ian.

— Lembra-se bem que eu era praticante de magia negra ritualística em Nali, certo?

— Sim.

— Pois bem. O nosso líder, Rezon, que jurou me encontrar e me matar, veio a Sira. Não sei exatamente porque, mas ele nunca precisou de um motivo plausível para justificar suas ações. Ele apenas sentia vontade de fazer e pronto: fazia. Descobrimos que ele está na biblioteca com a ajuda de Zahra, Nirina e o mestre de Nirina, Arthus.

— Então, Nirina está envolvida — disse Selene. — Foi por isso que Zahra me pediu para ajudá-la a aprender mais técnicas de combate.

— Foi. Foi por isso. Foi porque, daqui a aproximadamente quatro dias, nós vamos entrar naquela biblioteca e explodir tudo, junto com o Rezon.

— Como é? — ela disse, incrédula. — Assim? Do nada? A biblioteca fica no centro da cidade, pensaram nisso?

— Pensamos — disse Ian. — Pensamos, mas não adianta mais deixar as coisas assim. Precisamos agir. Aileen, minha irmã, é uma mulher destemida. Ela nunca teve medo de matar pessoas e, quando precisou continuar com isso para derrotar Rezon, ela não hesitou. Há poucos dias enviei uma carta pedindo que viesse a Sira para ajudar. Ela aceitou. Não podemos chegar de surpresa na biblioteca e tramar algo simplesmente porque Rezon é clarividente e mago negro, e nós somos clarividentes e magos negros. Sentiremos as presenças uns dos outros tão logo entremos em nossos campos sensitivos. Mas nós vamos, Selene.

— Riana vai participar disso?

— Ela queria, mas eu não quis deixar.

— Sabe que ela vai se sentir inútil, não sabe?

— Sim. Mas quero manter Riana a salvo. Não posso metê-la nisso. Eu já a arrisquei demais quando decidi chamá-la aqui para tentar manter contato com Nirina, para tentar consegui-la como aliada.

— Ian...

— Não pergunte nada agora, Selene. Em breve Riana voltará aqui, então se quiser converse com ela. Tudo bem? Era isso que eu precisava te contar.

— Tudo bem — respondeu a maga de água, levantando, indo preparar algo para comer. — Quer comer algo, Ian? Não vai adiantar ficar se preocupando com isso antes da hora.

— Seria ótimo, Selene.

A maga se levantou e começou a preparar as coisas para o desjejum. Hazael dispensou, já havia comido antes. Ela estava preocupada com aqueles planos dos dois. Era algo muito perigoso, mas ela admitia: Rezon era uma pessoa perigosa. Não havia jeito de resolver isso senão desta maneira. Ela suspirou e se concentrou na cozinha, agora que seu humor começava a voltar ao normal.


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