A Clarividente escrita por Yuka


Capítulo 20
Capítulo 20


Notas iniciais do capítulo

Bom, esse capítulo, onde eles conversam na casa de Arthus, é um capítulo crucial.
Direi uma coisa, especialmente aos meus leitores mais críticos (diga-se de passagem, Jean Claude e Henrique): aqui as coisas começam a mudar e o problema vai começar a tomar os rumos pra ser resolvido. Como minha primeira história, quero que me digam (todos os leitores) se a história está atropelada, se algo aconteceu rápido demais ou alguma peça não se encaixou. Pensei bastante no que fazer e gostei das ideias, então espero que gostem também!
Divirtam-se com o Ian!



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Os soldados de Reno haviam removido o corpo de Sven de modo preciso e rápido, e agora ele já estava depositado no local onde Zahra havia pedido, na mesma sala onde estava o corpo de Aiko. Os responsáveis pela medicina do Reino haviam limpado os corpos e feito o que sua medicina podia para deixá-los bem conservados por pelo menos mais um dia, até que Zahra retornasse à noite e pudesse inspecioná-los.

Reno andava no pátio, onde seus soldados treinavam. Alguns estavam vestindo suas armaduras e pegando suas espadas; outros já travavam lutas entre si. Ele observou os soldados com pesar, e então prosseguiu andando através do jardim da Corte.

Precisava contatar Martin o mais rápido possível, mas não sabia como. Pensou em escrever-lhe uma carta, mas seria arriscado: Martin podia reconhecer sua letra e provas escritas eram um problema, já havia aprendido isso com o caso de Sven e Aiko. Teria que falar com o maldito líder dos magos, que ele tanto odiava.

Informou-se com algumas pessoas sobre onde Martin poderia estar naquela hora da manhã e a maior parte das pessoas respondeu que o local mais provável era a biblioteca. Reno então foi até lá para ver se conseguia falar com o líder dos magos. Rezon fazia tudo o que queria para Reno e ainda o torturava, sem saber, mandando-o falar com Martin. Rezon realmente precisava de cúmplices, ou só estava testando a confiança do líder dos soldados?

Reno aproximou-se de Martin, rápido. Atraiu a atenção do mago com os passos rápidos, que se virou.

— Reno? Que surpresa vê-lo por aqui. O que é dessa vez? — ele sorriu. — Veio implicar comigo ou o quê?

— Ouça-me antes de tomar conclusões — Reno disse, sério. — Sabe que eu e a bibliotecária de Ima somos um casal, certo? Ela entrou em contato comigo e disse que te passaram um recado.

— Um recado? E quem seria?

— Não sei. Não foi dito a mim e eu não ousaria perguntar. Eu só estou dizendo o que me foi pedido para dizer: vá essa noite na biblioteca de Ima, porque seu anfitrião o espera.

Reno não esperou uma resposta de Martin, nem afirmativa, nem negativa. Sabia que isso era o suficiente para instigar a curiosidade do mago, então nem precisaria insistir demais. Abaixou a cabeça e saiu da biblioteca do castelo, retornando ao pátio de treinamentos.




— Pois então — disse Arthus, sorrindo para Nirina. — Estes são Ian, o mago de ar que foi perseguido por você na cidade, no dia da chegada de Zahra. E este é Hazael, amigo de Ian, e também o mago que eu e Zahra ajudamos a fugir de Sira por estar sendo perseguido por magos do exército de Martin.




— Espera um pouco — disse Zahra, abrindo um sorriso. — Na minha chegada?




— Eu fui tentar vê-la — admitiu Nirina, sentindo o rosto corar. — Tamanha era minha admiração por você, eu decidi que tentaria te ver em sua chegada, mas não fui bem sucedida.




— Sim, lembro-me de estar com as janelas fechadas. Sinto muito por isso, Nirina. Pois então — ela disse, sem abandonar o sorriso. — Prossiga com as explicações, Arthus.

— Eu continuo — disse Hazael, olhando para Arthus, que assentiu com a cabeça. — Nirina, é um prazer conhecê-la. Eu me chamo Hazael, e sou, como disseram, o mago de fogo que foi obrigado a fugir do país.

Ele estendeu a mão para que a aprendiz apertasse, mas ela ignorou. Em compensação, correu até Hazael e o abraçou.

O ato o deixou completamente sem reação, e ele se manteve completamente inerte. Arthus sorriu novamente, achando graça na cara que Hazael fazia.

— É tão bom saber que você está vivo! — ela disse, enérgica. — De verdade! Queria muito que você estivesse bem!

Ela se distanciou depois. Hazael se limitou a apoiar a mão sobre a cabeça da aprendiz, claramente ainda desconsertado.

— Obrigado — ele respondeu, e Ian reconheceu que esse era o máximo de sentimentalismo que Hazael podia expressar. — Ian — estendeu a mão a ele — me ajudou a me esconder em Nali. Sim, eu fugi até lá, longe. Eu fugia dos meus perseguidores, e Ian fugia dos magos negros que os perseguiam e queriam matá-lo. Essa parte ele vai explicar.

— Olá, Nirina — Ian disse. — Nos vimos pela primeira vez de um jeito um tanto peculiar — ela assentiu. — Apesar de ser um mago negro, eu não represento nenhum risco. Pelo contrário. Eu e Hazael estamos aqui pra falar com você e Zahra sobre isso.

Nirina assentiu, e Ian continuou.

— Eu fiz parte dos rituais de magia negra de Nali. Os mais cruéis, graças a nosso líder, um mago poderoso e impetuoso que escolhia as vítimas e nos liderava. Éramos muitos. Matei várias pessoas e consumi muitos poderes com o decorrer dos dias, mas comecei a me arrepender disso. Passei vários dias extremamente triste e indeciso quando decidi: eu daria um jeito de acabar com esses rituais. Disposto a seguir em frente com minha ideia, denunciei os magos negros à Corte de Nali. Eu também pedi para que eles não interviessem imediatamente, mas desobedeceram minhas ordens. Os soldados do Rei atacaram, e até mesmo alguns magos de Nali ajudaram, mas foram todos mortos pelo grande poder dos magos negros, e os magos se dispersaram. Não antes sem tentar me matar, pois eles deduziram por meu comportamento inseguro e afastamento que eu era o culpado. Mesmo sem certeza, era melhor matar do que ficar com a dúvida. Eu fugi por muito tempo, e foi quando encontrei Hazael. Ele me ajudou a fugir e me protegeu, eu ensinei a ele magia negra. Precisávamos dela em uma terra cheia de outros magos negros, mais experientes e mais fortes.

— É verdade, Nirina — reforçou Zahra. — O motivo pelo qual estive fora de Sira foi para ajudar o Rei de Nali a encontrar esses magos. Como Nali foi colonizado pelos antepassados de Nasser, somos aliados. Mas nem eu fui capaz de fazer algo.

Nirina mostrou-se especialmente surpresa, mas assentiu, encorajando Ian a prosseguir.

— Nosso líder se chamava Rezon — ele disse. — Esses corpos que vocês encontraram com presença de magia negra caracterizavam muito bem os rituais feitos em Nali por ele. Mas tem outra coisa.

Todos ficaram em silêncio, esperando que Ian dissesse.

— O nome daquela mulher assassinada era Lilian.

— Como sabe disso? — disse Zahra, obviamente surpresa.

— Eu vi — disse Ian. — Em meio aos habitantes da cidade. Apesar do rosto desfigurado, eu consegui reconhecer alguns símbolos de Nali que ela tinha pelo corpo, como tatuagens. Depois do primeiro desaparecimento, fiquei atento. Eu sei que seu nome era Lilian. E sei também que ela era apaixonada por Rezon desde que fazíamos os rituais.

— Apaixonada por Rezon? E mesmo assim ele a matou de forma tão cruel e deixou seu corpo jogado nas ruas?

— Eu disse, ele é impetuoso. Eu e Hazael desconfiamos que ele esteja em Sira, fazendo os rituais aqui. Pelo jeito que ele está deixando os corpos em lugares óbvios, eu creio que seu poder já seja imenso. Tem outra coisa preocupante sobre Rezon: ele é um mago clarividente que pratica magia negra. Seu elemento principal é o fogo.

— Um clarividente, mago negro? — disse Nirina, perplexa. — Eu nem sabia que isso era possível!

— É raro — respondeu Zahra. — Ouvi histórias, mas acreditava que fossem lendas. Não sabia que eles realmente existiam. Devem representar mesmo um perigo imenso. Eu não sei como poderemos derrotá-lo.

— Eu sei — disse Ian. — É por isso que vim falar com vocês. Eu sei o ponto fraco de Rezon. Vai ser um pouco difícil, mas eu tenho certeza que vai dar certo.

Elas ficaram em silêncio, bem como Arthus e Hazael.

— Só tem um problema. Eu não faço ideia de onde Rezon pode estar se escondendo.

— Eu sei — disse Nirina.

— Sabe? — perguntaram Hazael e Ian em uníssono, surpresos.

— Eu li a mente de uma pessoa e descobri em um acidente que aconteceu. Eu ouvi conversas, mesmo sem ter a intenção. A última vítima desses rituais foi Sven, um dos mestres da Corte, mestre em magia de ar. Seu aprendiz foi encontrado morto — ela se conteve ao falar de Aiko, engolindo o nó que se formava em sua garganta — essa noite, em seu próprio quarto. Fiquei sabendo, pela leitura de mente, que seu aprendiz tinha descoberto seus planos. Que ele tinha os arruinado, e que agora ele estava sendo chamado à biblioteca.

— A biblioteca? — disse Arthus. — Eu estava lá ontem mesmo!

— É mesmo?! — Nirina estava surpresa e, ao mesmo tempo, preocupada. — Percebeu algo de diferente ou estranho?

— Não. Mas eu vi uma pessoa do exército do Rei lá.

— Quem?

— Reno. O líder do exército de soldados do Rei.

Nirina e Zahra se olharam em silêncio, reflexivas. Ambas sabiam que Reno estava envolvido de alguma forma com a morte de Aiko, mesmo que indiretamente. Agora isso estava ainda mais óbvio.

— O que foi? — disse Arthus, percebendo a atmosfera entre as duas. — Suriel, a bibliotecária, e Reno são um casal. Talvez ele estivesse lá apenas para falar com ela.

— Isso está muito suspeito — disse Zahra. — Muito. Agora estou desconfiada de Reno.

Nirina sentiu o nó na garganta novamente. Ao pensar que Reno poderia estar envolvido com Rezon, apenas se sentiu mais triste. Se ele usasse uma máscara, ela estava próxima de cair.

— Tudo bem, mas só suspeitar não vai adiantar nada — disse Ian. — O que vocês podem fazer? Pretendem contar isso ao Rei?

— Não é do meu feitio contar tudo ao Rei — sorriu Zahra. — Várias vezes já resolvi coisas por conta própria e esse é um dos casos. Nirina — ela se virou para a aprendiz. — Nós precisamos interrogar Reno. Nem mesmo que seja sem seu consentimento.

— Como faremos isso?

— Será estratégico. Chamá-lo-ei até a sala onde os corpos geralmente são deixados depois do crime. Eu disse que examinaria os corpos quando chegasse à Corte, e pretendo chamá-lo até a sala.

— Tudo bem, e então? — o resto dos magos estavam em silêncio, observando a conversa. Hazael olhava para Zahra com admiração.

— Trabalho em grupo, cara Nirina. Serei a responsável por atordoar Reno com um ataque mental, e você será a responsável pela leitura da mente dele.

Nirina engoliu em seco. Hesitou um pouco, mas então pensou em Aiko. Pensou que o vingaria de qualquer jeito, nem que isso também custasse sua vida.

— Tudo bem. Mas precisamos escolher um bom momento.

— Tem mais — disse Ian. — Se Rezon é clarividente, ele já deve ter lido inúmeras mentes. Provavelmente, antes de matar Sven, ele leu a mente do mestre.

Nirina ficou em silêncio, então aspirou o ar com força, arregalando os olhos.

— Se ele leu a mente de Sven... Ele sabe sobre mim, sabe que eu ouvi as conversas e sabe que sei seu paradeiro!

Ian sorriu, satisfeito com a inteligência da aprendiz que, como ele suspeitara, era muito talentosa.

— Rezon deve estar guardando um poder imenso. Pra jogar os corpos como se não fossem nada, deve estar querendo mostrar a Sira que algo de diferente e grande, extremamente perigoso, está acontecendo. Meu poder mágico é grande, maior que o de Hazael por já ter absorvido muitos poderes em rituais de magia negra. Mas não sou o suficiente pra dar conta de Rezon. Precisaríamos de: Nirina e Zahra, as duas clarividentes; Arthus, Hazael, a mim mesmo, e além de nós, mais alguém. Se essa pessoa se juntar a nós, sei que podemos ganhar. Rezon é forte, mas também é humano além de mago negro. Uma hora seu poder e sua força se esgotarão. Precisamos agir rápido, antes que ele se mude da biblioteca e antes que mate mais pessoas.

— Você conhece essa pessoa? — disse Nirina, curiosa. Ela reparou de repente como Ian era simpático e exalava confiança. Era alguém agradável de olhar e conversar. Parecia inteligente.

— Conheço. Desde muitos e muitos anos...

— Como entrará em contato com essa pessoa? Quem é? — disse Zahra, extremamente reflexiva.

— Uma maga negra. Ela é a única maga negra que praticamente consegue superar Rezon em força. Antigamente, ela fazia parte do nosso grupo. Ela e Rezon se desentenderam enquanto disputavam a liderança do grupo. Quando a maioria dos magos votou em Rezon para líder, ela se sentiu traída. Saiu e jurou vingança a Rezon. Ela é do elemento fogo. Desde que se viram, os dois se odiaram. Ela fazia tudo o que podia para acabar com seu rival. Sei que ela já matou muitas pessoas pra sugar o poder, e que seu único objetivo com isso é matar Rezon.

— Ela é forte assim? — disse Nirina, surpresa. Seu elemento e o dela eram os opostos — Como ela se chama? Pode dizer?

— Seu nome é Aileen. Ela é minha irmã.


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