A Clarividente escrita por Yuka


Capítulo 2
Capítulo 2


Notas iniciais do capítulo

Aqui tem um pouco mais de mistério na história, e uma nova personagem que vocês em breve conhecerão muito bem.

Boa leitura! :)



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Nirina levantou assustada pela manhã, como se despertada por uma força exterior que a fizesse acordar. Pulou rápido da cama e se espreguiçou. Apesar de ter dormido tarde, não conseguia sentir sono. Esperava que Riana acordasse cedo também, assim as duas poderiam se encontrar e partir rápido para o centro de Ima onde, com certeza, a procissão de Zahra passaria.

Vestiu uma calça preta e uma de suas túnicas preferidas. Não era comprida – ia até a metade de suas coxas e era amarrada por um laço à cintura. A túnica e o laço eram da mesma cor: anil. Azul sempre fora sua cor preferida e ela achava que isso tinha a ver com a água. Nirina era fascinada pela magia e qualquer coisa que tivesse a ver com magos. Sentia-se feliz por ter nascido uma deles e estava ansiosa por ser tão experiente e habilidosa quanto seu mestre, que era sua principal referência.

Assim que saiu de seu quarto, Arthus já estava em pé na cozinha e a mesa do café da manhã estava posta. Nirina sorriu e cumprimentou-o com uma reverência singela, cheia de respeito. Arthus reverenciou-se a ela também, e ela sorriu. A aprendiz sempre sorria quando o mago a tratava do mesmo jeito.

— Bom dia, Arthus! — ela disse, com uma empolgação impossível de não perceber.

— Bom dia, Nirina — ele respondeu enquanto ela se sentava. Pegou uma xícara de chá e a serviu, deixando à frente da aprendiz. — Empolgada, não?

— Muito — ela respondeu, pegando a xícara e tomando um pouco de seu conteúdo. Parou um pouco e olhou fixamente para o líquido. Como uma maga da água, ela conseguia manipular qualquer coisa que fosse feita com água em estado líquido.

— Nada de brincar de magia com o chá — disse Arthus, ao perceber que ela olhava para o líquido com um sorriso travesso. — Vamos. Tome seu café da manhã e prepare-se para ir à casa de Riana, ela estará esperando por você.

— Como assim? — indagou Nirina — Ela sabe?

— Contei a ela que você gostaria de ter sua companhia há uns dias.

— Há quanto tempo você sabe da chegada de Zahra?

— Há uns dias — foi a resposta evasiva que recebeu.

— Certo...

Nirina assentiu enquanto tomava mais do chá e pegava uma fatia de pão. Arthus gostava de cozinhar, e geralmente era ele quem preparava os pães. A aprendiz se perguntava onde ele teria aprendido tantas habilidades.

— Tem certeza de que não quer ir?

— Não poderei — respondeu. — Eu vou preparar suas próximas lições.

Nirina assentiu e terminou o pedaço de pão que pegara, e tomando o último gole de chá.

— Vou reunir minhas últimas coisas e estou indo, mestre.

— Devo lhe pedir para usar as estradas laterais?

— Não, senhor — ela balançou a cabeça negativamente, olhando-o com atenção. Arrumou a ponta da túnica distraída enquanto esperava para ver se ele tinha mais alguma coisa para falar.

— Lembre-se de comer, e tome cuidado, especialmente com a sua magia. Sei que posso confiar em você.

— Deixe comigo, senhor!

Com um aceno energético, Nirina se pôs a correr até seu quarto para juntar algumas coisas. Pegou uma bolsa atada a um cinto, que amarrou à cintura e deixou à lateral do corpo por baixo da túnica, imperceptível. Quis levar pouca coisa para que não cansasse de carregar, portanto, basicamente colocou dentro dela a chave da casa onde morava e seu dinheiro e a fechou, apressada. A imagem que tinha de Zahra passou por sua cabeça novamente e ela sorriu, andando até a porta. Arthus olhou para a aprendiz e se despediu dela com um aceno de cabeça. Reverenciando-se em resposta, atravessou a porta e tomou as estradas laterais, como seu mestre havia pedido.

A viagem pelas estradas laterais era comum e entediante. Não havia nada de diferente no caminho exceto a floresta que a rodeava, mas, ainda assim, a floresta passava longe da estrada. Uma cerca de arame de mais ou menos um metro e sessenta a impedia de adentrar a mata, e ela sentia mais emoção viajando pelas estradas que passavam pelo meio das árvores. Mas Arthus não gostava disso, ela sabia e, portanto, não quis desobedecê-lo em um dia tão importante.

Quando chegou à metade do caminho pela estrada lateral, lembrou-se da pequena casa de madeira na clareira que sempre avistava quando pegava uma das estradas que conhecia. Imaginou se algum dia teria a oportunidade de entrar para explorar ou se algum dia chegaria a saber para que ela foi construída.

Distraída e perdida em seus pensamentos, chegou à cidade sem muita demora. Assim que passou pelo portal de entrada, esperou que a população de Ima estivesse agitada e esperando por um grande evento, mas não encontrou nada disso. O ritmo da cidade parecia normal e, apesar de estar perto das sete horas da manhã, os comerciantes e trabalhadores agiam normalmente. Nirina ergueu uma sobrancelha e se perguntou se eles sabiam que Zahra estava para chegar.

Talvez eles não deem tanta importância para magia ou magos tanto quanto eu, pensou consigo. É uma possibilidade.

Passando pelas ruas principais, tomou o caminho da casa de Riana. Assim que se aproximou, encontrou a mãe da amiga, que a recebeu de forma simpática e disse que sua filha a esperava. Despediu-se da mãe com um aceno da cabeça e entrou na casa, correndo até o quarto de Riana.

Encontrou-a se arrumando. Riana era uma menina bonita, mais alta que Nirina por ser alguns anos mais velha, mas não só isso. Ela crescia rápido e já tinha corpo de mulher, diferente de Nirina, que ainda tinha uma aparência de menina. Riana tinha o cabelo liso e comprido até a cintura, loiro, e a pele clara caracterizando uma menina nascida no país de Earine. A moradora da casa sorriu ao encontrar a jovem maga e a abraçou rapidamente, não menos animada.

— Então — começou Riana — Arthus me disse que você gostaria da minha companhia para ver a maga clarividente voltar à cidade. Acha que vai conseguir vê-la?

— Não sei — admitiu Nirina. — Embora ela não esteja chegando em segredo, não acho que ela vai estar em cima de um palanque ambulante acenando para toda a cidade.

Riana riu diante da observação de Nirina, achando graça ao tentar imaginar a cena.

— Também não acho que vá acontecer. Ouvi poucas pessoas falando sobre isso na cidade — ela acrescentou. — É como se eles não achassem importante, ou sentissem algum tipo de medo. A maioria das pessoas acha que trouxeram a clarividente de volta porque o reino corre perigo. Acha que é isso?

— Não acho — respondeu. — Talvez o Rei esteja querendo novas conquistas e queira a ajuda dela. Não sei bem o que uma maga clarividente faz a serviço do reino, mas pode ser isso. Se houvesse ameaça, acho que saberíamos. Sabe que as notícias correm, não importa onde comecem.

— Bem, isso é verdade. — Riana passou a mão pelo cabelo, arrumando-o. Ela usava um vestido verde longo, que descia até os tornozelos. Tinha as mangas compridas por causa do frio da manhã. A peça era justa até a cintura e então descia solta, dando um charme especial à beleza da moça. — Sabe a que horas ela passará pelo centro?

— Arthus me disse que seria pela manhã, então não deve demorar — ela disse, observando a amiga assentir com a cabeça.

— Devemos ir então? — perguntou, passando as mãos pelo vestido mais uma vez.

— Acho melhor. Duvido que terei outra oportunidade de chegar tão perto de Zahra.

— Você é mesmo fascinada por essa maga, não é? — Riana acrescentou, com um sorriso comovido.

— Sou. Queria ser como ela — disse. — Imagino tanto das histórias de Arthus...

— Continue praticando. Quem sabe um dia!

Riana riu inocentemente enquanto saía do quarto e era seguida por Nirina, que andava atrás da amiga aos pulos. Passaram novamente pela mãe da garota na saída, que acenou para as duas e desejou que tomassem cuidado. Ambas assentiram e seguiram em direção ao centro da cidade, esperando que o clima continuasse agradável. O sol brilhava forte, mas o céu tinha algumas nuvens. O vento era frio e ambas agradeceram por estar usando roupas adequadas. Nirina falava sem parar, especialmente sobre magia, enquanto Riana apenas ouvia e assentia a tudo em silêncio.

Assim que chegaram ao centro, não encontraram nenhuma movimentação diferente do normal. Decidiram, à sugestão de Riana, tomar uma bebida em um estabelecimento da avenida principal, onde Nirina estava quase certa de que Zahra passaria. Fizeram o pedido no balcão e foram se sentar às mesas de fora para que pudessem ter uma melhor visão do que estava prestes a acontecer.

As duas conversavam animada e distraidamente até que Riana, de repente, manteve o olhar fixo em um ponto atrás de Nirina. A jovem maga olhou para a amiga com um olhar questionador e tocou sua mão com a ponta dos dedos.

— Riana? — perguntou, olhando para trás em seguida, para onde os olhos de Riana pareciam estar fixos. Pensou que poderia ser a clarividente e sua escolta, mas quando virou, não viu nada de diferente. Em seguida, olhou para a amiga novamente. — O que foi que você viu?

— Nada — balançou negativamente a cabeça, sentindo o rosto corar.

Nirina sorriu.

— Riana, diga, por favor!

— Ah, Nirina! — protestou a amiga, abaixando o olhar. — Eu só vi um homem bonito, certo? Quando você olhou para trás ele já tinha virado a esquina.

— Sério? — disse Nirina, sorrindo e olhando animada para Riana. — É sorte sua eu não ter visto o homem.

— Por quê?

— Porque se eu tivesse visto quem era, teria ido até lá e te apresentado a ele.

Riana deu um tapa na mão de Nirina, claramente em protesto.

— Você não teria coragem de fazer isso!

— Quer apostar?

Riana manteve-se em silêncio, como se estivesse em dúvida por alguns segundos. Depois ergueu o olhar à aprendiz e sorriu sem jeito.

— Não. Sei que você é sem noção pra essas coisas. Às vezes me pergunto se você não é meio maluca.

— Riana!

A loura começou a rir da expressão de indignação da morena, mas foi por pouco tempo. Logo ela se retesou na cadeira e apontou para trás de Nirina, fazendo-a se virar.

— Olhe! Vários soldados e carruagens... Deve ser Zahra.

— Vamos mais perto da rua.

Assentindo com a cabeça, Riana seguiu a jovem maga até a rua e as duas esperaram, ansiosas, até que os soldados se aproximassem mais.

As garotas ficaram paradas esperando que a caravana passasse e, conforme os soldados montados em cavalos iam passando, as pessoas na rua iam abrindo espaço. Ao longe Nirina pode ver uma carruagem e esperou ansiosamente até que o veículo se aproximasse.

Quando isso aconteceu, no entanto, ela se encheu de uma grande decepção. As duas janelas do veículo estavam fechadas e a jovem maga nem mesmo pode ter certeza se era realmente Zahra quem estava ali dentro. Ela acompanhou a carruagem com crescente tristeza enquanto o veículo ia embora e mais soldados montados seguiam a procissão. Nirina tocou o braço de Riana quase inconscientemente e abaixou o olhar.

— Tudo bem, achei que pelo menos fosse conseguir ver ela... Ou ter certeza de que ela passou diante de mim.

Diante do silêncio da amiga, a aprendiz ergueu o olhar a ela.

— Riana? O quê você...

Quando Nirina olhou para Riana, ela estava olhando através dos soldados montados, para o outro lado da rua. Logo a maga constatou que ela devia estar encarando alguma pessoa.

— É ele. O homem de antes.

Assim que Riana indicou quem era, Nirina olhou para o desconhecido. Ele estava com o olhar fixo na carruagem que acabara de passar, enquanto as pessoas a sua volta já tinham se distraído e se ocupavam com outras coisas. A maga manteve os olhos no estranho, mas, quando seus olhares se encontraram, ele virou o rosto rápido e saiu andando. Nirina sentiu o coração acelerar. “Não vá atrás dele”, disse-lhe sua consciência. Mas, diferente da maioria das vezes, ela ignorou o conselho da voz e virou-se para Riana.

— Espere aqui, eu já volto.

— Nirina, não! Nem pense em...

— Calma, não farei nada do que está pensando — disse, acenando em despedida.

Riana decidiu se sentar às mesas do estabelecimento mais próximo enquanto esperava sua amiga voltar. Suspirou enquanto passava as mãos pelo cabelo, perguntando-se o que ela tinha ido fazer. Espero que não seja nenhuma besteira.

Nirina não precisou dar a volta nos cavaleiros, visto que eles não eram assim tão numerosos e a carruagem já seguia longe. A aprendiz atravessou a rua sem correr, mantendo os olhos fixos no estranho que perseguia e torceu para que ele não se virasse. Seguindo as expectativas da maga, ele não se virou. O máximo que fez foi virar o rosto para olhar para as lojas laterais, e continuou seguindo seu caminho como se nada de incomum o esperasse.

O homem estava um pouco à frente de Nirina quando virou uma esquina. Assim que a aprendiz alcançou a mesma curva, assustou-se ao perceber que o estranho havia desaparecido. Ela franziu a testa quando observou que era uma rua sem saída, terminando em um beco.

Não teria dado tempo de ele ter corrido essa rua toda até pular o muro pensou. Ele deve ter se escondido, meditou. Quando começou a olhar para os lados, algo dentro de si a alertou: Em cima de você. Erguendo o olhar, no entanto, ela não foi capaz de ver nada nem ninguém nos telhados das lojas ao lado.

Nirina olhou para o chão. Um mago de ar? Era a única coisa em que conseguia pensar. Os magos de ar eram os que mais facilmente conseguiam levitar, afinal, o ar é um dos elementos mais abundantes de que um mago poderia dispor. Apesar de uma técnica muito difícil que exigia grande controle, magos experientes conseguiam. “Quem é esse homem?” era o que Nirina perguntava a si mesma a cada momento. Ela nunca tinha estabelecido grande contato com outros magos.

Existiu um tempo em que havia uma Escola para Magos em Verena, país ao sudeste de Sira, mas há tempos a escola havia sido desativada por ter poucos alunos. Os magos restantes aprendiam com seus mestres em lugares separados, geralmente sem despertar muito o interesse das pessoas ao redor e da Corte, como Nirina tinha suas aulas com Arthus.

Ela nunca havia visto outro mago e, pelo jeito, aquele era um dos experientes. Ela não o tinha visto flutuar, mas era o mais provável que tivesse acontecido. Afinou os olhos e desejou pelo menos saber seu nome. Apertou as mãos, decepcionada, e decidiu voltar para junto de Riana.

Andou devagar até encontrar a amiga perto das mesas onde haviam tomado a bebida mais cedo. Observou, no entanto, que ela não estava sozinha: ele estava com ela. O estranho. Nirina entrou em estado de alerta, mas os dois pareciam conversar cordialmente. Quando Riana viu Nirina, apontou em sua direção e o homem a olhou. Sério, sem manifestar emoção alguma, ergueu as mãos e, sem parecer ter a menor dificuldade, levantou-se do chão. Riana se assustou e se afastou, bem como a maioria das pessoas em volta – algumas não deram a mínima para o pequeno espetáculo – e a aprendiz arregalou os olhos.

Ainda em estado de alerta, continuou olhando para cima enquanto o mago se elevava com velocidade e desaparecia sobre os telhados. A jovem aprendiz se virou para a amiga, que ainda estava um pouco assustada com a saída repentina do mago de ar.

— Sobre o que vocês falavam, Riana?

— Achei estranho — ela respondeu, olhando para cima. — Ele perguntou sobre você.

— Sobre mim? — Nirina olhou para cima por um instante, depois voltou o olhar à amiga. — Então ele percebeu que eu o estava seguindo? Mas ele não deu sinais de ter percebido!

— Ele não te olhou nenhuma vez?

— Não — pausou. — O que ele perguntou sobre mim?

— Seu nome — disse Riana, olhando para baixo apreensiva.

— Você respondeu?

— Sim... Desculpe, eu não imaginei que isso pudesse lhe causar problemas.

— Não estou dizendo que vai. Ele perguntou mais alguma coisa?

Riana olhou para cima novamente e depois para o chão antes de encarar Nirina.

— Não, nada. Agora — acrescentou, como se quisesse mudar de assunto — deixe-me perguntar: por que foi atrás dele?

— Algo... Algo me disse pra não ir, na verdade. Mas senti uma energia estranha emanando dele, então decidi persegui-lo.

— Algo? O quê? — Riana franziu a testa, sabendo que isso era mais uma das coisas de mago. — E que energia estranha?

— Algo como minha voz interior — respondeu, apertando as mãos. Por um instante, havia esquecido completamente de Zahra e a decepção por não ter conseguido encontrar a maga clarividente. — Me disse pra não ir, e eu geralmente obedeço essa voz. Dessa vez, decidi ignorar. Quanto à energia, não sei. Eu devia perguntar a Arthus.

— Não acho que isso seja um bom sinal.

— Talvez, Riana.

A garota de Earine olhou em volta, então tocou o ombro da amiga levemente.

— Vamos? Deveríamos almoçar na minha casa e então você deveria voltar à casa de seu mestre.

— Acho uma boa ideia.

No caminho de volta, Riana percebeu que Nirina estava estranhamente quieta, algo incomum para a personalidade da garota que era sempre falante, praticamente o tempo todo. Decidiu que seria melhor se não dissesse nada, afinal, sabia que a aprendiz estava pensando no outro mago que havia encontrado na cidade.

Qual era o objetivo dele observando Zahra era o que mais passava pela cabeça de Nirina. E como ele havia percebido que estava sendo perseguido tão fácil... A jovem maga mordeu o lábio inferior e pensou que deveria tomar mais cuidado quando quisesse espionar alguma coisa ou alguém, mas aprenderia. Caminhou o tempo inteiro em silêncio enquanto pensava no que havia acontecido e nas perguntas que faria a Arthus quando chegasse em casa.

Nirina almoçou em silêncio, falando o mínimo possível, absorta em seus pensamentos. Riana às vezes olhava-a com preocupação, mas sabia que a amiga estava pensando no que havia acontecido. Lembrou-se que ela podia estar, além de tudo, decepcionada por não ter encontrado Zahra.

— O que pretende fazer essa tarde, Riana? — perguntou Nirina enquanto era acompanhada até a porta pela anfitriã da casa.

— Eu tenho um compromisso — respondeu e, após hesitar um pouco, sorriu. — Por que pergunta?

— Iria te chamar pra ir à floresta comigo hoje à tarde. Tem algo que eu gostaria de ver.

— À floresta? — repetiu Riana, rindo com um desinteresse ensaiado. — O que teria de mais para ver na floresta?

— Uma casa de madeira esquecida em uma clareira — disse. — Sempre quis entrar, e achei que você pudesse compartilhar da mesma curiosidade que eu quando a visse. É suspeita. Tem uma aura diferente.

Riana riu.

— Você precisa encontrar outro amigo mago rápido, Nirina. Sinto muito, mas provavelmente eu não estaria tão curiosa e muito menos sentiria essa aura estranha. É melhor você ficar longe de lá. Além disso — acrescentou — Arthus não te proibiu de usar as estradas da floresta?

— É — Nirina olhou para o chão por um instante, depois riu como se desculpasse. — Não vai dizer a ele que eu vou à casa de madeira entre a floresta hoje, vai?

— Claro que não. Não faria isso com uma amiga — respondeu, em tom afável. — Mas se seu mestre lhe diz, você devia ouvir. Fique longe da clareira e das florestas.

— Até você, Riana? — bufou. — Você também me dando ordens.

Riana sorriu e juntou as sobrancelhas expressando preocupação. Uniu as mãos em frente ao corpo e se desculpou com uma inclinação da cabeça.

— Viaje com cuidado. Vá pelas estradas laterais.

— Até mais, Riana — foi a única coisa que Nirina respondeu.

Pensou em passar direito na clareira quanto estivesse voltando à casa de Arthus, pegando as estradas da floresta. Lembrou, no entanto, que estava sem sua capa e o capuz que ela tinha seria bem útil se quisesse dificultar seu reconhecimento. E se encontrasse alguém na casa? Algo lhe dizia que isso aconteceria.

Decidiu que iria para casa antes e conversaria com Arthus sobre o que aconteceu na cidade. De repente, lembrou com pesar do que aconteceu na chegada de Zahra e a oportunidade que perdera. O que será que Arthus diria a ela? Nem ao menos tinha certeza se era Zahra quem havia chegado, mas julgando pelo tanto de cavaleiros ao redor, provavelmente era.

Observou preocupada que o tempo estava se fechando e provavelmente choveria. Pensou em pegar as estradas da floresta que eram mais rápidas, mas, ao lembrar-se de Arthus, não conseguiu desobedecê-lo.

Andou o mais rápido que pode, mas não foi capaz de chegar em casa sem pegar chuva. Respingava fria em seu rosto e a fazia lembrar-se da magia que corria em suas veias. A água a molhou inteira, mas era uma sensação boa, até que o vento começou a soprar mais forte. Nirina começou a sentir frio, sua pele arrepiou e ela desejou que a viagem terminasse logo. Sentindo o vento, lembrou mais uma vez o mago de ar que encontrara na cidade e a energia estranha que ele emanava. Esperava que Arthus tivesse respostas.


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