A Clarividente escrita por Yuka


Capítulo 19
Capítulo 19


Notas iniciais do capítulo

Finalmente! ♥



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Como Nirina e Zahra pareciam consternadas e preocupadas, Kevin manteve-se em silêncio assim que elas entraram na carruagem. Nirina observava o exterior através das janelas, olhando para as pessoas exercendo suas diversas atividades. Seu olhar expressava tristeza, mas ainda mais preocupação. Lembrou-se de como havia chorado para Reno e o quanto se importava com Aiko. Sentiu um pouco de raiva de Martin. E depois voltou a pensar em Sven. Será que ele havia sido morto na biblioteca? Kevin não quis puxar conversa com nenhuma das duas.

Zahra também pensava nos últimos acontecimentos. Pra ela, estava claro que a morte de Aiko e a morte de Sven estavam relacionadas. De alguma forma, isso tinha a ver com Reno, mas ela não conseguia enxergar conexão alguma. Afinou os olhos quando pensou em submeter Reno a uma leitura de mente.

— Zahra — chamou Nirina, fazendo a mestra se assustar de repente. Ela riu, e se tornou consciente do ambiente onde estava e de que Kevin também estava ali. — No que você está pensando?

— Está claro pra mim que a morte de Sven e Aiko estão relacionadas. Lembra que você sabia que Aiko havia estragado os planos de Sven? Agora estou realmente em dúvida se Aiko se suicidou ou se foi morto pelo próprio mestre. Não sei o que aconteceu.

Nirina ouviu em silêncio e depois olhou para Kevin. Sorrindo, pousou uma de suas mãos sobre a mão enluvada do soldado, que vestia sua armadura uniforme da Corte. Não era a armadura mais confortável, mas era linda: era quase toda de metal e, nas partes do corpo que precisavam de mais liberdade como os braços e as pernas, um fino tecido preto ocupava o lugar do prateado. Sua espada estava atada à sua cintura, e o soldado exibia um ar confiável, Nirina observou. Ela observou também que ele era bonito; ela nunca havia reparado. Kevin era um homem bonito, de aparentemente vinte e cinco anos, talvez vinte e seis; seus cabelos e olhos eram escuros e sua pele, clara. Definitivamente nascido em Sira, e também ali fora criado. Nirina passou breves segundos admirando seu rosto; seu porte devia ser atlético também, devido aos exercícios do exército e o treino de lutas. Espadas eram algo que Nirina também apreciava, era necessário muita habilidade para conseguir manusear e lutar com uma. A espada era para os soldados o que a magia era para os magos.

Aparência pessoal não era algo com que a pequena aprendiz costumava se importar, mas algumas vezes ela amava observar as pessoas apenas por acreditar em sua beleza natural, sem considerar padrões de beleza. E a maior beleza de Kevin vinha do aspecto de pessoa confiável, educada, e as atitudes de cavalheiro. Ela nunca havia parado para pensar que, se precisasse da ajuda de alguém, provavelmente devia contar com Kevin. Como se ele fosse seu escudeiro; como se fosse seu cavaleiro. Decidiu que ainda conversaria com o soldado sobre isso.

Com o toque da mão sobre sua luva, Kevin virou o rosto para a aprendiz. Sorriu, sem mover as mãos, deixando a mão de Nirina sobre a sua.

— Kevin — sorriu Nirina. — Sinto muito pelo clima pesado, há realmente tempo não nos vemos e conversamos. Estava ansiosa por isso!

— É uma honra servi-la, senhorita Nirina. A senhorita Zahra também. Estarei sempre às ordens.

Nirina e Zahra relaxaram os corpos ao mesmo tempo no banco da carruagem e sorriram, olhando uma para a outra.

— Relaxe um pouco, Kevin — disse Zahra, abanando a mão displicentemente. — Estamos só nós três aqui, e eu e Nirina não somos a favor dessas formalidades todas.

— Mas, senhoritas...

— Kevin — disse Nirina. — Lembra-se de nosso primeiro encontro? Quando você foi me buscar?

— Sim, senho-... — ele interrompeu a fala. — Sim.

— Parece mesmo que lembra — ela sorriu. — Sem "senhorita", sim? Eu não nasci nessa Corte, meu lugar é em uma casa de floresta com meu mestre, que também é uma pessoa simples. Eu não sou superior a você, Kevin, ninguém é. Somos todos iguais, independente de hierarquia. Pode me tratar assim na frente dos outros integrantes da Corte, seguirei os protocolos. Mas enquanto estivermos sozinhos, pode ser menos formal, por favor? Isso me faz bem.

Zahra e Kevin sorriram ao mesmo tempo. Nirina era realmente uma pessoa agradável, sábia apesar da idade, e estava constantemente melhorando em todos os aspectos. Tanto em personalidade quando em inteligência e magia, e ela crescia mais conforme o tempo passava. Em breve já estaria um pouco mais alta que Zahra, e era uma menina bonita.

— Seu desejo é uma ordem, Nirina — ele disse, percebendo que ela ainda pousava a mão sobre a sua.

— Como você tem passado? — ela perguntou, observando que já haviam saído da cidade e agora pegavam as estradas laterais para a casa de Arthus, na floresta.

— Estou bem, mas atarefado. Aliviado por vocês terem me tirado de perto de Reno — ele riu. — Nada contra meu líder e professor, mas como seu braço direito, ele tem me dado todo tipo de tarefa. E ultimamente ele tem estado ocupado com algo de fora da Corte. Ele sai com mais frequência e me deixa no comando. Tem sido uma boa experiência, mas ele anda mais ocupado, e nem adianta perguntar pois ele não me diria o motivo. Sabem, ele sempre foi muito reservado.

— Ele tem horas pra fazer isso? — disse Zahra repentinamente, surpreendendo aos dois. — Quero dizer, ele tem horas definidas?

— Não, Zahra — respondeu o soldado. — Alguns dias ele sai e passa o dia todo fora; certos dias, ele não deixa a Corte. Não sei o que é e eu já tive vontade de seguir ele pra descobrir, confesso — admitiu Kevin —, mas não o fiz.

— Acha que ele pode estar envolvido em algo suspeito?

— Não exatamente algo suspeito... — disse Kevin, abaixando o olhar. — Estou preocupado com ele porque tem estado diferente. Ele acha que não demonstra, mas eu convivo com ele há anos, desde que eu era um adolescente, e ainda agora que sou adulto. Ele está preocupado e não quer me dizer o que é. Sei que ele e a bibliotecária de Ima são um casal, então eu acho que tem algo a ver com aquela jovem.

Nirina sentiu seus braços arrepiarem. De novo, Reno e a biblioteca. Reno agindo diferente e interferindo de algum modo na morte de Aiko e a biblioteca, que Sven havia mencionado. Será que a bibliotecária sabia de algo?

— Não pergunte mais nada a ele, Kevin — disse Zahra. — Se estiver acontecendo alguma coisa, nós vamos resolver. Gostaria de te pedir para que tivesse calma e ajudasse Reno o máximo que puder.

— Com certeza o farei, senho-... Digo, Zahra.

A clarividente olhou novamente para o lado de fora pela janela. Ficou observando as árvores. "Reno com certeza está envolvido com algo", ela pensou em contar a Kevin. Mas ele com certeza ia querer saber como elas haviam descoberto isso, e então viria a vidência de Nirina, e não era algo cem por cento certo. Ela se permitiu um sorriso leve e achou melhor não preocupar o soldado antes da hora.

— Sim, sim — assentiu Nirina. — Fique tranquilo, Kevin — ela apertou um pouco a mão do soldado, sorrindo amigavelmente. — Daremos nosso melhor.

— Obrigado.

Nirina recolheu sua mão e voltou a olhar para o exterior, e constatou que estavam muito próximos do destino. Sorrindo, lembrou que veria Arthus. Tantas coisas haviam acontecido na Corte que ela até tinha esquecido que conversaria com seu mestre e... Uma visita que precisava de sua ajuda. Será que essa pessoa tinha a ver com Rob? Aquela mulher esquartejada? Ou Sven? Será que tinha algo a ver com os assassinatos da cidade? A aprendiz apertou os olhos e chacoalhou a cabeça, em uma tentativa de espantar os pensamentos. Nem tudo tinha a ver com os casos de morte que vinham acontecendo!

Sem demorar muito, a carruagem parou. Nirina percebeu que estava extremamente ansiosa e mal conseguia conter sua felicidade. Finalmente algo bom aconteceria em meio a todos os acontecimentos da Corte.

Kevin desceu primeiro e parou ao lado da porta, estendendo a mão para apoiar a descida de Nirina, e depois Zahra. Ele reverenciou as duas e esperou que passassem, acompanhando-as a certa distância, atrás. Sentiu uma certa nostalgia por voltar naquela casa e lembrou de quando havia visto Nirina confusa, e com medo do que iria acontecer no palácio real.

Antes de Nirina chegar à porta, Arthus já andava em sua direção. O mestre abriu os braços enquanto descia as escadas da varanda da casa de madeira, esperando que Nirina corresse e o abraçasse. Mas a aprendiz parou a certa distância e cruzou os braços, séria.

— Eu disse que daria o troco — foi a única coisa que ela disse.

Em seguida, invocou uma grande quantidade de água em pouquíssimo tempo e jogou sobre Arthus, molhando completamente sua túnica. Ele fechou os olhos e riu, lembrando de como Nirina havia ido embora sem nem mesmo saber como invocar seu elemento.

Ao ouvir a risada de seu mestre, Nirina correu até ele e o abraçou, molhando parte de suas túnicas. Os dois se abraçaram por um tempo enquanto Zahra sorria e Kevin observava tudo de longe com uma expressão imparcial, mas a vontade que ele tinha era de sorrir, como Zahra fazia.

Pouco tempo depois, os dois se separaram. Erguendo as mãos, chamaram a água que estava impregnada nos tecidos, fazendo-a pairar sobre a palma de suas mãos, e deixaram que ela caísse na terra. Arthus riu, e tocou-a no ombro.

— Então você me deu o troco — ele riu novamente, surpreso. — Eu sabia que você faria isso um dia, mas não sabia que seria assim tão cruel.

— Hah — disse Nirina, desafiadora. — O que se faz pra mim, se recebe em dobro — ela riu, divertida. — Seja o bem ou seja o mal.

Arthus ergueu uma sobrancelha e fez cara de espanto. Depois, voltou a rir.

— Como esperado de Nirina, a mais nova clarividente do Reino de Sira, discípula da grande mestra Zahra — ele limitou a risada a um sorriso enquanto olhava para ela. — Como vai, Zahra?

— Muito bem. É bom revê-lo mais uma vez, Arthus.

— Posso dizer o mesmo. Bom, agora que Nirina já me molhou — ele encarou a aprendiz, fingindo estar bravo, depois voltou a ser natural — vamos entrar? Os convidados que lhe esperam já estão aqui, Nirina. Riana infelizmente não pode vir.

— Tudo bem, Riana sempre precisou ajudar bastante a mãe dela nas tarefas de casa. Estou curiosa para saber quem me espera.

— Até mesmo eu estou — admitiu Zahra, seguindo os dois para dentro da casa.

Kevin continuou parado ali, em pé, entre a carruagem e a casa, observando a floresta.


Assim que Nirina entrou na sala, pode sentir a presença de magia negra no lugar. Imediatamente, Nirina e Zahra se entreolharam. Nirina aproximou-se de Zahra e sussurrou-lhe algo, para que o resto dos presentes não ouvisse. "Sim", respondeu Zahra, de forma audível.

— Magos negros, Arthus? — perguntou Zahra, erguendo uma sobrancelha. — O que é isso?

— Queiram me acompanhar até a cozinha, por favor.

As duas assentiram. Apesar de receosas, não conseguiam desconfiar do mestre, e o seguiram sem hesitar.

Quando as duas chegaram na porta do cômodo, Hazael estava praticamente deitado na cadeira e Ian estava com a boca cheia de bolo. Quando viu que Arthus havia chegado, ele disse, antes de engolir:

— Nossa, Arthus, como você consegue cozinhar desse jeito...

Só então Hazael e Ian perceberam que Nirina e Zahra já haviam chegado.

— Espera. Você é... — Nirina apontou para Ian, com cara de espanto. — Você é aquele mago de ar da cidade, que falou com Riana na chegada de Zahra e ainda saiu voando depois!

Hazael segurou a risada.

— E... — Zahra encarou Hazael, enquanto ele a olhava nos olhos. — E você é... Não pode ser, eu não acredito. Você está vivo, Hazael!

— Hazael? — disse Nirina, ainda mais incrédula. — Alguém pode me explicar o que está acontecendo aqui? E bem devagar, porque eu sinto que vou precisar de um tempo pra entender tudo direito.


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