A Clarividente escrita por Yuka


Capítulo 13
Capítulo 13


Notas iniciais do capítulo

Ah, por mais que eu ainda não tenha recebido nenhum comentário no último capítulo, estou postando o próximo.
Agradeceria se as pessoas que leem e não comentam me dessem suas opiniões. Pode ser apenas um comentário, não precisa comentar em todos os capítulos se desejar. Apenas um, apenas suas impressões, e o que pensa.
Além disso, sei que meu leitor mais fiel voltará, então estou deixando novidades para ele!



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Riana almoçou mais cedo com Hazael e Ian e tratou de voltar para sua casa. Não deu certeza aos outros dois magos se voltaria mais tarde, pois se sentia um pouco indisposta. Quando se aproximou de sua casa, no entanto, observou algo incomum: havia uma grande reunião de pessoas ali perto e ela avistou, inclusive, sua mãe. Algumas pessoas estavam uniformizadas com armaduras, e ela reconheceu que se tratavam de guardas do Rei. Andou mais rápido e foi até sua mãe para saber o que estava acontecendo.

— Mãe? — disse Riana, aproximando-se. — O que está acontecendo?

— Lembra-se de Rob? — perguntou Aldara, observando os guardas questionarem a família do garoto. — Ele desapareceu. A família dele diz que não observou nenhum comportamento diferente vindo dele, e que desde a noite passada ele não volta para casa. Os guardas desconfiam que ele tenha sido assassinado.

— Assassinado? — Riana ergueu uma sobrancelha, incrédula. — Por que eles desconfiam disso?

— Eu não sei — respondeu Aldara, balançando a cabeça negativamente. — Eles procuram por todos os possíveis lugares da cidade. Ninguém dá sinais de ter visto ele por aí, e agora estão alerta para próximos acontecimentos.

— Vou entrar, mãe — disse a garota, sentindo-se ainda mais indisposta. — Preciso deitar.

— Vá, querida. Irei em breve, depois que conversar com a mãe de Rob.

Riana entrou consternada. Nunca fora amiga de Rob, mas como moravam na mesma vizinhança, sempre se viam. O garoto era tímido, mas não desagradável, e Riana não sabia muito sobre ele. Devia ter seus dezoito anos e saía pouco de casa. Ela não conseguia pensar em um motivo plausível para seu desaparecimento.




Nirina teve pouco tempo para ficar sozinha antes do almoço. Assim que terminou as primeiras práticas de meditação com Zahra, reuniu-se com os outros aprendizes para a refeição, sentindo-se cansada. Aquelas aulas eram realmente difíceis, ela pensou, mas talvez ficassem mais espontâneas conforme os dias passassem.




Sentou-se entre eles acompanhada pelo olhar petulante de Ísis. Lembrou-se de quando a aprendiz havia entrado em seu quarto mais cedo e a ignorou, pensando no que havia lido nos livros. Laina e Adrien eram indiferentes, mas Aiko a olhou com uma empolgação rara, que os aprendizes nunca haviam observado antes. Nirina sentia algo diferente em Aiko, como se ele estivesse sempre tentando esconder seus sentimentos, não com muito sucesso. Cumprimentou o colega e pensou em como seriam as aulas com Selene à tarde.







O almoço foi tranquilo apesar de entediante, pois nenhum dos aprendizes fazia questão de conversar. Nirina estava se acostumando a isso e deixou o salão cedo, decidindo andar um pouco pelo castelo para conhecer um pouco mais.

Quando passou pela frente do salão principal do Palácio, haviam alguns guardas reunidos ali. Não seria nada de incomum se ela não tivesse observado que vários deles se reportavam a Reno, que ouvia a tudo com uma expressão séria e tensa.

Ela se perguntou se poderia se aproximar e perguntar o que estava acontecendo. Questionou-se por algum tempo e então resolveu que faria isso. O máximo que receberia de resposta seria um “Não posso revelar nada a você”.




Chegou perto do líder dos soldados com um leve sorriso, e recebeu um energético sorriso em resposta. Cumprimentou-o formalmente e Reno abriu mais o sorriso, apoiando a mão em sua cabeça.

— Boa tarde, Nirina — ele disse, dispersando os soldados que estavam ao seu redor. — Posso ajudá-la?

— Está acontecendo alguma coisa diferente, Reno? — ela questionou, esperando por uma resposta positiva.

— Na verdade, sim — respondeu Reno com um suspiro cansado. — Um adolescente desapareceu na cidade noite passada.

— Desapareceu? — disse Nirina, incrédula. — Seus guardas não conseguem encontrá-lo?

— Exatamente — assentiu ele. — Mortes às vezes acontecem na cidade. Geralmente por brigas. Mas essa parece ser diferente. O garoto era novo, não tinha mais de vinte anos e raramente saía de casa. Duvido que ele possa ter se envolvido em algum esquema e morto por um desentendimento.

— Pode me dizer quem é?

— Os guardas dizem que seu nome é Rob. Morava na parte norte da cidade, não muito longe das saídas de Ima.

— Rob? — disse Nirina, erguendo uma sobrancelha.

— O que foi? — Reno a olhou, sério. — Você o conhecia?

— Não exatamente. Tenho uma amiga que mora na parte norte de Ima. Rob era seu vizinho. Como você disse, ele não saía com frequência de casa, por isso quase não o via.

— Pode me dizer se lembrar de algo sobre ele?

— Claro — assentiu a aprendiz, rápido. — Claro que sim.

Nirina resolveu se afastar conforme alguns guardas se aproximavam novamente de Reno, imaginando que eles teriam muitas coisas a investigar. Ela sentiu uma impressão ruim enquanto voltava para o quarto, como se esse fosse apenas o primeiro acontecimento de uma série de coisas que estavam para vir.




Selene chegou cedo para as aulas. Nirina a recebeu com um sorriso e logo a convidou para entrar. Percebeu que estava sentindo saudade da maga, apesar de só ter conversado com ela uma vez. Mas sentir saudade de Arthus foi inevitável.

— Como vai, Nirina? — perguntou a mestra, sentando-se à mesa com alguns livros novos. — Empolgada?

— Bem, Selene, obrigada — ela sentou-se com Selene, observando os livros. — Um pouco cansada da aula com Zahra hoje pela manhã.

— Eu imagino — disse ela, ficando um tempo em silêncio depois. — Mas, bem, diga-me — começou, ficando um pouco mais séria. — Quanto Arthus conseguiu lhe ensinar da magia de água?

— Não muito — assentiu a aprendiz, com um sorriso triste. — Nem cheguei a aprender como invocar água.




— Então você ainda precisa de uma fonte que possa manipular — não era uma pergunta. — Vou começar lhe ensinando como invocar água, nesse caso. E, tão logo quanto for possível, a transformar a água em gelo.

— Não sabia que era possível fazer isso — admitiu Nirina, incapaz de conter a animação.

— É muito útil — sorriu Selene, abrindo um dos livros. — Uma das coisas interessantes em ser mago de água é que somos os únicos que conseguem manipular o estado do elemento. O gelo é ótimo no combate, mas tem um pouco de desvantagem contra magos de fogo, deve imaginar por que. Mas devemos treinar bem, Nirina. Quando suas habilidades estiverem se desenvolvendo, você e os outros aprendizes se enfrentarão. É claro, monitorado e guiado por seus mestres, mas é um bom meio de praticar.

Nirina assentiu em silêncio, pensando em Rob e nas coisas que Zahra havia dito. E se o sumiço do garoto tivesse a ver com os magos negros que provavelmente existiam na cidade? E se Riana soubesse de algo? Queria encontrar com a amiga logo para questioná-la sobre suas novas práticas e conversar com Arthus. Precisava ver seu antigo mestre.



Alguns dias se passaram enquanto Nirina continuava com sua rotina de estudar clarividência às manhãs, almoçar com os outros aprendizes e estudar magia de água às tardes. De noite ela geralmente aproveitava para descansar e andar pelos jardins do castelo, que ficavam belamente iluminados e agradáveis. Sentia mais saudade de Arthus do que nunca à noite e pensava muito em Riana também, em como sentia falta da amiga.

Reparava em Aiko todas as vezes em que se encontravam. O aprendiz parecia sempre tenso, tentando esconder algo que Nirina gostaria de saber o que era. A garota se revirou em sua cama, impaciente. Resolveu que andaria até os jardins e respiraria um pouco o ar fresco da noite, que estava lindíssima.

Quando se aproximou do jardim, no entanto, percebeu que já havia pessoas ali. Olhando com mais atenção reconheceu Aiko e seu mestre, Sven, sentados no banco, conversando. Sven parecia natural, mas o aprendiz tinha uma expressão preocupada no rosto. Nirina resolveu que não se aproximaria mais para ouvir a conversa, pois alguém poderia notá-la.

Esperou de longe até que viu Sven se afastar. Aiko ficou sentado ali, segurando a borda do banco com as mãos, apertando-as firmemente, com o olhar sem foco como sempre fazia quando estava sozinho. Nirina se aproximou cautelosa como um gato e o colega não pareceu perceber sua chegada. Ela tocou em seu ombro cuidadosamente e com carinho, mas Aiko mudou sua expressão para de súbito terror e se afastou. A garota arregalou os olhos, surpresa, esperando que Aiko a reconhecesse e se acalmasse. Foi o que aconteceu: o aprendiz olhou para a colega bem depois e se tranquilizou, com a mão sobre o peito.

— Aiko — disse Nirina, sentando-se ao lado dele. — Você está bem?



— Estou — ele respondeu, rápido, e Nirina foi capaz de sentir um tom de insegurança em sua voz. — Estou bem. Por quê? Eu não pareço bem? Desculpe se te assustei com o meu susto — ele se permitiu sorrir — mas eu estou bem sim. Estou bem.

— Certo, Aiko — ela respondeu, erguendo uma sobrancelha. Ele respondia como se quisesse se convencer de que estava tudo bem, e não realmente responder à nova amiga. — Se precisar conversar, eu...

— Eu não preciso — respondeu, interrompendo-a. — Não preciso. Estou bem.

Nirina manteve-se em silêncio. Quando desviou o olhar de Aiko e olhou para frente, através da fonte, pode ver Sven observando os dois e em seguida saindo, assim que percebeu que a aprendiz o tinha visto.

— O que está acontecendo, Aiko? — ela disse, inquisitiva.

— Nada — ele tinha o mesmo nervosismo na voz. — Nada. Por que estaria acontecendo algo?

— Você é péssimo em mentir, Aiko.

— Eu não estou mentindo! — ele gritou, fazendo Nirina se assustar. O aprendiz obviamente estava com as emoções descontroladas. — Eu estou falando a verdade. Você quer ler minha mente? Quer? Assim você vai conseguir saber!

Nirina mordeu o lábio inferior, pensativa, ao mesmo tempo em que se sentia assustada. Aiko estava descontrolado. O que quer que ele e Sven tenham conversado antes, não devia ser nada agradável.

— Calma — disse ela, segurando-o pelos ombros e fazendo olhar diretamente para ela. — Calma, Aiko, eu acredito em você.

Quando o amigo a olhou nos olhos, ela sentiu um arrepio pelo corpo: ele nem mesmo parecia o aprendiz com quem ela tinha conversado da primeira vez. Tinha o olhar assustado, como o de um animal selvagem com medo e perdido na cidade grande. Ela se afastou devagar, com um leve aceno da mão.

— É bom você realmente me contar o que está acontecendo contigo, Aiko.

— Não — ele se permitiu sorrir novamente, ainda que um sorriso triste. — Não posso mais falar com você.

— Por que não? — perguntou ela, elevando a voz, indignada. — Como assim não pode mais?

— Disseram que não posso mais falar com você — ele explicou, lacônico. Então se levantou. — Não posso mais falar com você — repetiu, como se estivesse em estado de transe. — Não posso.

Aiko começou a se afastar. Nirina abriu os braços, completamente incrédula, e arriscou uma pergunta:

— Foi Ísis? — esperou por uma resposta que não obteve. — Foi Ísis que o mandou não falar mais comigo?

Ele não respondeu. Apenas continuou andando para longe da amiga, em silêncio. Nirina se encostou ao banco e ficou ali, respirando fundo, tentando se acalmar e pensando em tudo o que estava acontecendo. O desaparecimento de Rob, o jeito estranho de Aiko... Depois balançou a cabeça, tentando espantar os pensamentos. Eram acontecimentos completamente diferentes, não poderiam estar interligados. Adolescentes desaparecem o tempo todo nas cidades, e os aprendizes... Bem, o comportamento de Aiko era algo com que devia se preocupar. Certamente falaria com Zahra. Não perderia a oportunidade de se retratar a alguém, não podia guardar o que vira só para si.

De repente, ela se lembrou do que ele havia dito sobre os aprendizes: “Não são meus amigos. Não me compreendem”. Talvez ele já tivesse tentado dizer algo, pedir ajuda, e nenhum deles tivesse dado ouvidos. Aiko claramente precisava de ajuda.




Por mais que os dias tivessem passado, os guardas de Reno não conseguiram encontrar nenhuma pista de Rob. Nirina conversava com o líder quase todos os dias, pedindo por informações. A resposta era sempre a mesma, negativa.

Reno foi chamado pelos soldados que estavam cuidando do caso de Rob para tomar conhecimento de outra ocorrência: outra pessoa, dessa vez uma mulher, havia desaparecido. Seu corpo, no entanto, havia sido encontrado, e o líder havia sido chamado para inspecionar, dada às circunstâncias.

Quando se aproximou, entrou no beco que seus soldados haviam isolado seguido por mais alguns guardas. Ao olharem para o corpo da mulher, um dos guardas mais inexperientes sentiu o seu estômago revirar, e ele levou a mão à boca. Reno percebeu e se virou, sério:

— Recomponha-se, soldado — ele repreendeu, com a voz firme. — Você é um guarda formado, controle-se.

Assim que viu a vítima, no entanto, percebeu o motivo pelo qual os guardas novos estavam virando o rosto: o corpo da mulher estava desfigurado. A única parte realmente intacta de seu corpo era o rosto. Pelo jeito, ela havia sido torturada por muito tempo antes de ter sido morta. Reno se aproximou e começou a observar.




Nunca havia se deparado com um assassinato de tamanha brutalidade. O cabelo da moça estava envolvido em sangue seco e sua barriga estava aberta, mas seus órgãos não estavam ali. Ela estava sem roupas. O líder constatou que ela havia sido morta em outro lugar e seu assassino tinha deixado o corpo ali. Mas por que em lugar tão óbvio? Para que os guardas encontrassem?

— Alguém aqui sabe o que aconteceu?

— Eu questionei moradores da região — disse um de seus soldados, aproximando-se de Reno. — Ninguém sabe nada sobre ela.

— É possível que ela não seja daqui? — questionou o líder, ainda inspecionando o corpo.

— É provável — respondeu o mesmo guarda, pensativo. — Os moradores não sabem nada.

— Onde está Kevin? — perguntou Reno, olhando em volta.

O soldado se aproximou, atendendo ao chamado.

— Pois não, meu senhor?

— Kevin — começou, levantando. — Remova o corpo dessa mulher em segurança e leve até a sede dos soldados no palácio. Zahra deve ficar sabendo disso e ser chamada para inspecionar o corpo.

— Certamente, senhor.

Reno deixou que seus soldados cuidassem da ordem que havia dado e levou a mão à testa, pensativo. Primeiro, Rob, que ninguém havia conseguido encontrar. Agora, aquela mulher desconhecida, que havia sido morta e deliberadamente jogada em um beco qualquer da cidade. Reno teria que contar ao Rei, que não gostaria nada das notícias, e todos os soldados e os magos do reino teriam que começar a se empenhar em descobrir o motivo desses assassinatos.




Quando Zahra foi chamada para examinar o corpo da mulher que havia sido assassinada, chamou Nirina para acompanhar. A mestra foi antes para deixar tudo pronto, para cobrir o corpo mutilado da vítima para que sua aprendiz não tivesse que ver tal cena tão cedo.

Assim que se aproximou e colocou o lençol sobre a mulher, sentiu algo estranho. Uma energia diferente vinda do corpo da moça, como se sufocasse a existência de Zahra. Logo ela reconheceu o que emanava e chamou Nirina, disposta a dar várias explicações.

As duas entraram na sala, que tinha as paredes brancas, cobertas até a metade por azulejos brancos. O cômodo era especialmente projetado para análises de corpos de pessoas assassinadas. Era difícil os soldados trazerem alguém para dentro, afinal, verdade seja dita, os guardas do Rei não perambulavam pela cidade investigando cada assassinato. Mas nunca um corpo havia sido deixado em um dos becos de forma tão óbvia, tão brutalmente castigado.

— Deve ter ficado sabendo que essa mulher foi assassinada na cidade hoje, certo, Nirina? — disse Zahra, aproximando-se devagar da mesa.

Nirina prendeu a respiração por um tempo, sem perceber. Estava tensa: era a primeira vez que via alguém morto desse jeito. Agradeceu mentalmente por seu corpo estar coberto, pois tinha ouvido que o corpo da vítima estava severamente machucado; alguns de seus órgãos nem mesmo estavam ali.




— Soube, Zahra — respondeu, aproximando-se com a mestra. Percebeu a energia estranha que emanava dela e reparou que se tratava de algo parecido com o que havia sentido do mago de ar na cidade. A mesma de Riana. — Essa energia, Zahra...

— Exatamente — ela disse, séria, feliz por sua aprendiz ter reparado. — Quer dizer que quem a matou estava envolvido com magia negra. Geralmente é pra isso que os clarividentes são chamados, quando há algum assassinato incomum.

— Você acha — começou Nirina, olhando para o rosto da mulher — que ela podia ser uma praticante?

— Pode ser. Não é possível ter certeza porque ela pode ser uma praticante ou ela pode ter sido sacrificada em um ritual de magia negra, aquele que se faz para absorver poder das pessoas que morrem. Não temos certeza. O estranho — ela acrescentou — é que os moradores da região que foram interrogados pelos guardas não sabem nada sobre essa mulher. Os comerciantes da região nunca a viram. Certeza é que ela foi morta em outro lugar, então seu corpo foi deixado no beco.

— Como um aviso, talvez?

— É uma possibilidade. Eu acho, e é a hipótese mais aceitável, que essa mulher não era dessa cidade. É provável que não seja nem mesmo de Sira.

Nirina manteve-se um tempo em silêncio, pensando. Ainda não havia contado para Zahra sobre Aiko. O aprendiz continuava quieto, sempre silencioso, e sempre a evitava.

A teoria de Zahra fazia sentido. Se ninguém sabia nada sobre a mulher na região e seu corpo havia sido deixado em uma das ruas da cidade, era porque seu assassino não estava com medo de que descobrissem algo sobre sua vítima.

— Zahra, eu presenciei algo estranho esses dias.

A mestra ergueu a sobrancelha e se voltou para Nirina, questionando-a com o olhar.

— Pois não?

— Resolvi passar um tempo no jardim à noite, mas quando cheguei lá, Aiko e Sven conversavam. Esperei de longe até que saíssem e não tentei ouvir sua conversa, mas essa não é a parte estranha. Estranho foi o comportamento de Aiko quando me aproximei. Ele estava com o olhar desfocado e, quando encostei a mão em seu ombro, ele se assustou e se afastou. Estava claramente nervoso. Disse que estava tudo bem, eu disse que ele era péssimo em mentir. Quando disse isso, ele ficou nervoso. Disse que estava falando a verdade e que eu poderia ler sua mente para ver, se quisesse.

— Aiko sempre foi silencioso e afastado dos outros aprendizes, eu reparava isso. Cheguei a questionar Sven uma vez, mas ele disse que seu rendimento era normal nas aulas, até um pouco acima da média, e que seu único problema era ser tímido.

— Duvido que seja isso. Sven parecia suspeito. Enquanto conversava com Aiko, vi ele nos observando através da fonte. Quando percebeu que eu o havia visto, saiu da minha visão. Pouco tempo depois Aiko se levantou e foi embora, dizendo que não podia mais falar comigo.

— Acha que pode ser sido Ísis? — Zahra estava consciente da implicância da aprendiz de fogo com Nirina. Havia conversado com Shira, sua mestra, sobre o comportamento dela, e Shira havia dado sua palavra de que conversaria com sua aluna.

— Perguntei a Aiko, mas ele só repetiu que não podia mais falar comigo e se afastou. Como ele estava com os sentimentos descontrolados, resolvi não insistir.

— Fez bem — disse Zahra, colocando a mão sobre seu ombro. — Aiko tem te evitado desde então?

— Sim — admitiu Nirina, olhando mais uma vez para a mulher sobre a cama central. — E eu resolvi não tentar me aproximar.

— Outra boa decisão — sorriu. — Eu vou ficar de olho em Sven. Infelizmente, terei que avisar Martin que sentimos a presença de magia negra no corpo da vítima. Os soldados de Reno vão continuar investigando, mas eu duvido que eles conseguirão alguma coisa.

Nirina assentiu e as duas saíram da sala. Logo seria hora de começar seus estudos com Selene, mas tudo a distraía. A conversa estranha com Aiko, a magia negra presente no crime e o comportamento estranho de Sven.

— Zahra, você acha que Sven pode estar envolvido em alguma coisa suspeita?

— Eu não sei — ela mordeu o lábio inferior, pensativa. — Infelizmente, não podemos acusá-lo de nada sem uma prova concreta, pelo menos uma evidência, qualquer coisa. O fato de ele ter conversado com Aiko não quer dizer nada, muito menos o fato de Aiko ter dito que não pode mais falar com você.

A clarividente se despediu de sua aluna e Nirina foi para o quarto esperar por Selene. Havia aprendido a invocar água em pouco tempo e agora aprendia o processo de transformá-la em gelo. Era difícil e Nirina estava tendo mais dificuldades com o gelo do que com invocar a água.

Como tudo, a magia tinha um limite. Todos os magos tinham um limite natural para usar sua magia antes da exaustão e, quanto mais poderoso o mago, maior esse limite era. O de Nirina seria grande, considerando que ela era uma maga clarividente.

Estava ansiosa pelo dia em que batalharia com os outros aprendizes. Preocupou-se, no entanto, pensando se poderia usar todo o seu potencial ou se estaria muito acima do nível de seus colegas. Pegou um de seus livros e sentou na cama, aguardando pela hora que começaria as aulas de magia de água.


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