Existem histórias que sempre serão contadas e outras que permanecerão para sempre esquecidas. Eu vou contar uma dessas histórias que são facilmente esquecidas porque são poucos os que realmente a conhecem; vou contar a história dos desertores de Konoha. Eu nem sei por onde começar, Jiraya-sama era melhor do que eu para essa coisa de escrever, mas disse que escreveria essa história é o que vou fazer. Vamos lá.

‘A terra dos poderosos ninjas’ foi assim que Konoha ficou conhecida pelas demais aldeias ninjas. O nome de nossa aldeia foi elevado pelos destemidos ninjas que salvaram nossas terras lutando bravamente para defende-la. Eu era um desses ninjas que lutou para defender Konoha.

Quando a batalha contra Orochimaru e a Akatsuki terminou pensamos que poderíamos respirar ares de tranqüilidade em Konoha; no entanto uma terrível guerra vinda do extremo norte invadiu nossas terras, e sem um Hokage para nos guiar, os ninjas de Konoha sucumbiram perante os inimigos que chegaram trazendo armas que desconhecíamos. Muitos de nossos companheiros morreram tentando defender Konoha, outros, como nós, ficaram gravemente feridos e sem forças para poder invocar qualquer jutsu. Ficamos esgotados de corpo e de mente, não tínhamos mais condições de lutar, e mesmo que ainda insistíssemos em continuar nos levantando cada vez que éramos lançados ao chão, nossos esforços se resultavam inúteis.

A verdade é que restavam poucos ninjas habilidosos para lutar por Konoha, e nossos líderes haviam sumido da aldeia em meio a essa seqüência de batalhas que ocorria dentro e fora de Konoha. Estávamos em desvantagem, mesmo assim não desistíamos; éramos fortes e sabíamos que poderíamos ganhar desde que nos mantivéssemos sempre unidos. E parece que nossos inimigos também sabiam que a nossa união representava um grande perigo para eles.

Antes de contar sobre como nos separamos eu preciso apresentar a vocês o responsável pela separação, um misterioso homem vindo do extremo norte junto com a guerra. Não sabemos muito bem como ele se alojou em nossas terras e tampouco como conseguiu convencer os moradores de Konoha a ficarem contra os shinobis que a protegiam; o fato é que em meio a guerra que estávamos enfrentando esse homem que se auto-intitulava ‘o Pacificador’ tomou para si o posto de Hokage com o apoio da população, assumindo o lugar da falecida Tsunade-sama que morreu nos ajudando a proteger Konoha de Orochimaru. Eu sei que muitos pensavam que Naruto assumiria o posto de Hokage, mas muita coisa aconteceu ao mesmo tempo, e como disse diante de nossos olhos Hirty, o tal ‘Pacificador’ tomou para si o cargo e a população de Konoha o apoiou. Hirty era um homem de idade mediana, aparentava ter uns 40 anos, e os cabelos curto e liso, ainda bem negros, lhe caiam a altura do ombro. Seu rosto era desfigurado e bolachudo, aliás ele era gordo por inteiro, além disso, ele fazia questão de exibir suas velhas feridas de guerra. Pouco sabíamos sobre ele, nem sequer sabíamos se ele era um shinobi ou não; tudo o que o rodeava era envolto em mistérios.

Os shinobis de Konoha se opuseram a nova ordem estabelecida por Hirty, mas tudo o que conseguiram foi ganhar ainda mais a antipatia dos moradores. Isso mesmo, os moradores de Konoha ficaram contra os shinobis que protegiam a aldeia; diziam que éramos os responsáveis pelas guerras, pois estávamos sempre buscando mais poder e que isso gerava o conflito com as terras vizinhas, diziam também que não nos importávamos com eles que não tinham habilidades de se defender e por isso ficavam a mercê dos inimigos que invadiam a aldeia e matavam seus filhos. Esse tipo de argumento contra os shinobis era bem conhecido por todos os que participavam dos discursos em praça que todos os dias o novo Hokage, espera aí, eu  não vou ficar me referindo a esse idiota como Hokage, e nem como ‘Pacificador’, esse cara é muito ridículo, eu vou simplesmente o chamar de Hirty.

“Filhos de Konoha não mais sucumbam ao poder de um shinobi.”

Era a frase final do discurso dele, definitivamente Hirty nos fez parecer um bando de assassinos sanguinários sem coração. Claro que esse novo tipo de visão para com o mundo shinobi não foi vista com bons olhos pelos shinobis mais velhos, mas em nome da ordem todos concordaram que não fariam nada contra Hirty, já que se o matássemos, o que não seria nada difícil, o caos iria se instalar em Konoha e tal atitude só faria a população nos odiar mais. 

Para que entendam bem a situação que nos encontrávamos foi explicar de maneira clara e resumida. Após a luta final contra Orochimaru quando voltamos ao vilarejo encontramos uma forte hostilidade do povo contra nós, shinobis; enquanto nos recuperávamos e tentávamos estabelecer uma nova ordem, esse tal Hirty apareceu e convenceu a população de que os shinobis só queriam poder e não se importavam com as pessoas comuns da aldeia; diga-se de passagem, que rapidamente ele com seu discurso melancólico convenceu as pessoas a ficarem contra nós. As pessoas o colocaram como o novo líder, já que segundo a nova concepção anti-shinobi, os shinobis colocavam líderes shinobis no poder para que assim seus interesses pudessem ser mantidos. Me digam se seria errado alguém matar esse cara? Enfim, os shinobis ficaram de mãos atadas perante a nova ordem.

E acham pouco o que esse cara fez? Ele mandou que todos os shinobis se reunissem na praça principal em frente a casa do Hokage, ainda me lembro daquele dia.

O céu estava escuro, a chuva logo cairia sobre a cidade. Todos os shinobis que haviam sobrevivido estavam reunidos e alguns de seus familiares shinobis também estavam lá; a nova geração de Konoha ficou a frente dos demais.

Hirty cercado por seus homens que sempre trajavam roupas pretas e tinham dos pés a cabeça cobertos observavam cada movimento nosso. Hirty nos olhou com brioso, como se não representássemos nada, pigarreou e por fim começou seu discurso.

- Os shinobis vem mandando em nossa aldeia desde sua criação – espera um pouco desde quando a aldeia era ‘nossa’, todos os shinobis que estavam ali haviam arriscado suas vidas para defender Konoha e agora ele vinha com essa história de ‘nossa aldeia’, vou deixar ele continuar – mas os shinobis não são mais bem vistos por nossos moradores que os temem... – hey, quem era que fazia discurso anti-shinobi em praça pública? – para manter a ordem em Konoha, eu decidi que é tempo dos shinobis tomarem um partido e dizerem de que lado estão... – acredite que não é do seu – vejam essa linha – ele apontou uma linha vermelha desenhada no chão – aqueles que estiverem contra a nova ordem de Konoha devem ficar do outro lado da linha, lembre-se que isso significa estar fora de Konoha, ser um nukenin  - para quem não sabe nukenins são os traidores do próprio vilarejo, shinobis que abandonaram suas terras.

A proposta era a seguinte, se ficássemos em Konoha teríamos que lhe obedecer e trabalhar para ele; se nos recusássemos a fazer isso deveríamos atravessar a linha vermelha e sair das terras de Konoha. Claro que sair de Konoha era a parte mais fácil, o mais difícil ser ter que carregar para sempre o peso de nos tornarmos uns nukenins; isso implicaria em sermos mal-vistos por todos os outros shinobis das demais aldeias; perder o respeito de nossos pais e amigos; sermos perseguidos pelos oinins, mais conhecidos como ninjas rastreadores; não ter mais um teto sobre nossas cabeças e nem mais um lugar para chamar de lar. Já viram que não era simplesmente atravessar a linha, tinha muitas coisas envolvidas, se atravessamos a linha seriamos desertores de Konoha e levaríamos para sempre a letra escarlate, símbolo de nossa traição para com nossas promessas de proteger o vilarejo.

Naquele momento enquanto olhava para a linha desejei que Kakashi-sensei estivesse lá; esqueci de mencionar que dos senseis que haviam restado Kakashi-sensei era o único que não estava lá, ele havia desaparecido da aldeia há algumas semanas e não sabíamos se ainda estava vivo ou morto. É, não havia ninguém para quem pedir opinião, estávamos sozinhos diante da decisão mais difícil de nossas vidas; se atravessássemos perderíamos tudo pelo o que havíamos lutado, seriamos rebaixados ao posto nukenin.

Um primeiro movimento foi feito pelos shinobis e vi que essa pessoa era a que estava do meu lado.

- Naruto

Sem hesitar, e acredito que sem pensar em metade das coisas que eu pensei, Naruto atravessou a linha. Posso dizer que não foi nenhuma surpresa vê-lo atravessando a linha.

- Eu sou Naruto Uzumaki – como se até aquele momento ninguém o conhecesse – e vou ser o próximo Hokage – sendo um nukenin vai ficar difícil conseguir esse cargo – não vou me rebaixar a um idiota como você.

Isso aí Naruto falou o todo mundo queria falar, fiquei comovida com o discurso e me pus a caminhar em direção a linha. Na verdade, quando vi Naruto caminhando até a linha decidi fazer o mesmo; ao atravessar a linha vermelha fiquei ao lado dele e Naruto me olhou surpreso.

- Sakura-chan. Você também...

- Sabe Naruto uma equipe permanece unida. E somos uma equipe!

Eu sei que uma equipe é formada por mais de dois integrantes, e que no caso dois integrantes formariam uma dupla; mas qual é a diferença se já éramos uma equipe quando estamos em três! Além disso, eu não podia deixar o Naruto sozinho.

Naruto abriu um largo sorriso ao me ver ao lado dele. Todos nos olhavam em silêncio.

Ino foi a próxima a se movimentar.

- Se a Sakura está nessa... – eu sei que sou um exemplo para muita gente

- Ino o que está fazendo? – gritou Shikamaru antes que a garota pudesse atravessar

- Eu estou fora Shikamaru, e você?

Shikamaru estava ao lado de Chouji, e ao olhar para o amigo sussurrou algo que felizmente eu consegui escutar.

- Vamos precisar de reforços aqui na aldeia

- Fique tranqüilo Shikamaru pode contar comigo, eu ficarei aqui

Shikamaru suspirou, acho que esperava que Chouji se oferecesse para atravessar a linha.

- Que problemático – mesmo reclamando Shikamaru atravessou a linha pouco tempo depois da Ino que ficou espantada ao ver o companheiro de equipe a seu lado

- Shikamaru decidiu vir é?

- Uma equipe permanece unida – retrucou

Bela frase, mas acho que conheço a autora dela... Shino foi o próximo a se movimentar, seguido de Kiba e Akamaru.

- É Akamaru é a nossa vez

Lee deu um passo a frente, mas Gai colocou a mão na frente.

- Um ninja nunca deve falhar com a promessa de proteger seu vilarejo, custe o que custar.

Lee recuou e mesmo com uma cara de tristeza e decepção resolveu ficar ao lado de seu sensei. Lee respeitava Gai demais para desobedecer qualquer ordem dele, TenTen também ficou ao lado do Lee. Neji, no entanto, parecia disposto a contrariar seu mestre, e deu dois passos a frente; foi nesse momento que o patriarca do clã Hyuuga falou.

- O clã Hyuuga não vai admitir traidores em seu meio.

Uma sentença pequena que fez Neji recuar e ficar em seu lugar, parecia que o fato de que ao atravessar a linha vermelha os tornaria desertores de Konoha trazia um impacto muito grande para os shinobis que seguiam cegamente as regras do mundo ninja e também para as tradicionais famílias shinobis. Se por um lado Neji ficou parado, Hinata tomou a frente e se pôs a caminhar, parece que as palavras de seu pai a haviam motivado a tomar a decisão de atravessar a linha. O pai de Hinata apenas olhava a filha caminhar e atravessar a linha, segundo suas crenças Hinata era a decepção do clã Hyuuga.

- Hinata – sussurrou Naruto

Cada nova aquisição era comemorada com alegria por nós que estávamos do outro lado, pois sabíamos que não importava o que íamos enfrentar estaríamos juntos. Posso dizer que a nossa alegria parou na Hinata, já que depois dela ninguém mais atravessou a linha vermelha.uma verdadeira decepção.

- Jovens tolos, não sabe o que os espera fora dos muros de Konoha – eu até que já viajei bastante para fora de Konoha -  Por serem tão jovens eu estou disposto a perdoa-los quando vierem a minha a mim rogando meu perdão.

Vai sonhando que um dia eu vou pedir perdão para você, prefiro morrer antes.

- Não vamos voltar atrás em nossas palavras, porque esse é o nosso caminho ninja!

Naruto ampliou as pessoas de sua famosa frase, todos havíamos escolhido o mesmo caminho, não servir a um falso líder. O que nos esperava como desertores de Konoha não sabíamos, mas estávamos juntos. Eu sei que a união não faz a força e sim o açúcar, mas dessa vez eu sentia que unidos poderíamos enfrentar o nosso destino, que estava tão negro quanto o céu daquele dia.