Sentei-me na poltrona branca ao lado de sua cama e fitei sua face. Minha mãe era muito bonita. Tinha cabelos pretos e levemente ondulados, bem parecidos com os meus, a diferença era que os seus eram mais curtos. Mas o que mais me fascinava eram seus olhos azuis escuros. Lembro-me dela ficar me atormentando por não ter olhos iguais aos seus. Abri um sorriso bobo, e logo este sumiu de meus lábios... O silêncio predominava no local, a não ser, como já havia dito, pelo aparelho que controlava seus batimentos.

–Olá, mamãe... - falei. - Como está hoje? Me... parece melhor, mais... viva. - Engoli em seco. - O que andam fazendo com sua pele? - passei meus dedos levemente por sua face. - Ela está incrível! Quero saber o creme que eles usam em você...

Fiz silêncio, como se esperasse uma resposta sua. Nada. Nenhuma palavra. Suspirei e me aproximei da cama, com as mãos nos bolsos.

–Lembra... de quando eu fui para o hospital? Quando eu estava gripada e fraca? - meus olhos marejaram. - Você disse que eu iria ficar bem... Que iria sair de lá e... voltar a te perturbar. - sorri, enquanto uma lágrima escorria por minha face. - Pois é, mãe... Você também vai ficar bem, tá bom? - passei a mão por sua face gélida. - Você também... vai poder me perturbar, ... poder brigar comigo quando eu... quando eu deixar meus sapatos pela casa ou... levar um namorado nojento para lá, está bem? Você vai bem... Vai sim...

Limpei a lágrima de minha face e funguei.

–Queria poder seus olhos novamente... - sussurrei.

A porta se abriu, assustando-me e fazendo-me virar para encara-la.

–Oi, Mel. - Thiago falou, sem jeito. - Desculpe. Já... terminou?

–Já sim. - falei, sorrindo torto. - Não comprei flores então...

–Entendo. Será que eu... posso falar com você? - ele estava tenso.

–Claro. - fitei Helena. - Tchau, mamãe. Até amanhã.

Sai do quarto em passos lentos. Queria continuar lá, sabe. Ficar com ela, na esperança que ela abrisse os olhos para mim. Mas sabia que não iria adiantar... Logo, me encostei-me à parede do lado de fora do quarto, esperando Thiago fechar a porta.

–Então, - ele começou, visivelmente tenso. - tudo bem com você?

–Sim. - falei, simplesmente, observando-o. - E com você, Dr.? Parece-me preocupado... Aconteceu algo?

–Bem,... - ele suspirou. - Na verdade, sim, Mel. Algo não muito agradável...

Gelei.

–Sabe o Dr. Pedro? O que acabou de sair daqui?

–Sim.

–Então, eu estive conversando com ele enquanto você fazia sua visita e... ele falou que não via mais saídas para Helena...

Engoli em seco e segurei minhas lágrimas.

–C-Como assim?

–Melanie, há dez anos começamos com esse jogo. E infelizmente, as peças não estão se movendo mais. Sua mãe já melhorou significativamente, mas... não sei... Ela não progredido muito nos últimos anos. Fico preocupado com ela também. Afinal, ficar sendo monitorada por uma máquina não deve ser a melhor experiência...

–Eu sei. Mas, ela ainda pode melhorar. V-Você mesmo disse isso para mim. Disse que o quadro poderia mudar. - falei, rapidamente.

–Exatamente. O quadro dela poderia melhorar, Mel, mas... talvez não para melhor. - ele fez uma pausa. - Dr. Pedro falou que talvez fosse melhor poupa-la desse tormento logo, desligando os aparelhos...

Meus olhos marejaram. "Droga de vida!", minha mente se manifestava. Suspirei profundamente enquanto passava as mãos por meus cabelos.

–Quanto tempo? - perguntei, meio embargada pelos indícios de choro.

–Talvez, algumas semanas... Não sei ao certo.

–Ok. - falei, fungando. - Vou indo para... absorver isso. Obrigado.

Passei por ele e segui pelo corredor. Não ouvi seu costumeiro "Até amanhã!". Acho que ele estava tão chocado quanto eu...

Sai do hospital com alguns filetes de lágrimas rolando por minha face. Tinha de concordar com o Thiago: talvez fosse o melhor para ela, afinal, já estávamos nisso a mais de dez anos. Porque não desistir? Porque não poupa-la?

Continua...