–Sempre me dando trabalho, em Senhorita Melanie?

–Desculpe, doutor. É que eu tive um imprevisto, e tenho que ir pra Londres. Eu juro!

Thiago sorrio. Mas não aquele velho sorriso de sempre. Era algo diferente. E eu sabia o porque... Havíamos criado um laço de amizade um tanto forte ao longo desses 10 anos. Por mais que eles fosse mais velho (ele tinha 27 anos), eu o considerava como um amigo.

–Sorte que sou uma pessoa muito legal... e modesto, claro. - ele piscou, enquanto examinava alguns papéis. - Bom, poderemos transferi-la. Mas, infelizmente, eu não poderei ir com vocês.

–Não posso negar que já previa isso...

–É, mas manteremos contanto. Provavelmente,... deixe-me ver,... provavelmente o Dr. Luciano quem vai cuidar dela em Londres.

–O senhor o conhece?

–Claro. Fizemos faculdade juntos. Só que ele sempre quis ir para o exterior. Diferentemente de mim...

–Entendo. - eu sorri simpática.

Thiago retribui o sorriso. Levantou-se, entregou alguns papéis para a moça da recepção e voltou-se para mim. Franziu os lábios e cruzou os braços.

–Bom, é isso então... Que horas que você vai, pequena?

–Hoje mesmo... - falei, levantando e aproximando-me dele.

–Assuntos urgentes mesmo. Tem haver com sua tia?

Obviamente, ele não pode evitar de perguntar aquilo. E não era novidade para mim... Todas as vezes que eu e minha tia fomos visitar minha mãe, juntas, ela brigava comigo ou achava um jeito de me humilhar na frente de todos. Thiago já havia conversado comigo algumas vezes, tentando me animar. E eu era grata por isso... Dessas várias vezes, a que mais me marcou foi quando ele me disse uma frase que, de certa forma, marcou minha vida...

–Não ligue para o que as pessoas pensam de você, Melanie. Se algum dia alguém falar mal de você, não ligue. É sinal que você tem grande audiência e milhares de fãs. - ele disse, batendo levemente com o indicador na ponta do meu nariz.

Ao lembrar desse momento, não pude deixar de sorrir.

–Não.

Tal como eu também não pude deixar de mentir. Afinal, eu não podia contar a verdade. Envolver mais alguém nisso? Nem pensar. Já me bastava o Jon!

–Certo. Qualquer coisa, se quiser conversar ou algo do tipo, pode me ligar. - ele sorrio, tímido como sempre.

Não pude conter um sorriso também. E um abraço. E, felizmente, ele o retribuiu.

–Obrigada por tudo... - falei. - Por esses 10 longos anos...

–Eu é que agradeço. Por confiar em mim em cuidar de sua mãe. Aprendi muito com você e com Helena.

Desfiz o abraço e dei um longo suspiro.

–Quando ela chega lá?

–Hoje mesmo. O nome do hospital é o mesmo, ok? - ele disse. Assenti rapidamente.

–Obrigada novamente.

–Disponha, pequena! - ele sorrio.

Acenei para ele, enquanto seguia até a porta. Iria sentir falta dele...

~*~

http://www.youtube.com/watch?v=rVsMNGuCXtM

–I like

Where we are

When we drive

In your car

I like where we are

Here.

Cantarolar em momentos de tédio já havia se tornado uma rotina para mim. E que tédio! Olhei novamente no relógio de meu celular. Este marcava 16:00 horas. "Droga, cadê você, Jon?", pensava eu. Até podia voltar ao hospital, mas se visse o Thiago ou minha mãe, iria chorar, e eu não queria isso... Então, resolvi ficar sentada na calçada, ouvindo músicas e olhando as pessoas que por ali passavam. Confesso que era um pouco constrangedor quando elas olhavam de volta - ainda mais se fossem garotos - , mas quem liga.

Observava os carros que se aproximavam, focando sempre no motorista. Nenhum. Já havia desistido, quando uma carro parou bruscamente a minha frente, fazendo-me recuar. Logo a porta se abriu, e um Jon -sorridente- piscou para mim.

–Quer carona?

Levantei-me e limpei minha calça. Entrei no mesmo, notando que estávamos em um Veloster Preto.

–Jura que você pegou um Veloster - girei meus indicadores, mostrando o carro. - quando não queremos chamar a atenção?

–Não.

Revirei os olhos.

–Vamos no apartamento agora?

–Eu já passei lá. Peguei tudo quanto era coisa sua. Não sabia se eles ainda estavam lá, então... achei melhor não arriscar.

–Então, vamos pegar a estrada?

Suspirei, longamente. Jon bagunçou meus cabelos, provavelmente tentando me acalmar.

–Eu tento. Agora, como co-piloto, ponha algo para tocar. Se não, vou dormir aqui.

Ri com o meu novo apelido, enquanto conectava meu celular ao carro. Logo, coloquei Treasure para tocar (http://www.youtube.com/watch?v=nPvuNsRccVw)

–Não tinha outra música não? - Jon perguntou, enquanto seguia para a rodovia.

–Eu gosto dela. E, além do mais, ela é bem animada.

Ele deu um longo suspiro. E eu apenas o ignorei, começando a cantar.

–Oh whoa

I know that you don’t know it, but you’re fine, so fine (fine, so fine)

Oh whoa,

Oh, girl I’m gonna show you when you’re mine, oh mine (mine, oh mine)

Jon sorrio, enquanto eu continuava a cantar e começava a dançar dentro do carro. Ok, meu dançar só se resumia a balançar de um lado para o outro, mas enfim....

Logo, visivelmente vencido, ele começou a cantar junto comigo. Eu sorri instantaneamente, ainda mais ao saber que ele sabia a letra.

E assim, seguimos. Um momento feliz, e que me fez esquecer um pouco o porquê de estarmos saindo da cidade. Eu só não sabia, que aquele momento... não iria durar muito...