Reprise Sa Chanson... escrita por Very Happy


Capítulo 15
Cap. 14: Conte-me seus segredos part. 2


Notas iniciais do capítulo

Oie gente!
Enfim, mas um cap fresquinho pra vocês.
Ah, obrigada pela recomendação Amizitah. Fiquei tão feliz que dedico esse cap. pra você ^.~



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O vento daquele fim de tarde batia em meus cabelos e os bagunçava levemente. Um friozinho agradável correu por minha espinha, fazendo eu me encolher. Logo, Jon se aproximou, trazendo as duas xícaras de chocolate quente que ele tanto me encheu para poder preparar.

–Espero que esteja realmente bom...- falei, sorrindo.

–Acho que você vai gostar. - ele disse, sentando-se na cadeira a minha frente.

Jon e eu estávamos no terraço. Ele havia reclamado do frio mais cedo, mas eu não me importei. Achei que aquele seria o melhor lugar para eu poder esclarecer as coisas para ele. O melhor lugar para eu contar a minha história...

–Bem então, vamos lá... - falei, ajeitando-me na cadeira.

–É, é uma boa hora... - Jon disse, admirando o pôr do sol.

–Gosta do pôr do sol?

–Um pouco... Me lembra minha casa...

–É. me lembra minha mãe...

Senti ele fitar-me, curioso. Sorri e abaixei a cabeça.

–Como você mesmo disse, você não vai entender a história por pedaços...

–Então, comece.

Fitei-o. Seus olhos cintilavam o o sol batia em seus cabelos castanhos, valorizando-o. Novamente, ajeitei-me na cadeira, agora agoniada.

–Bom, tudo começou quando eu tinha 6 anos... - comecei. - Eu era uma garotinha... bem esperta, sabe? Elétrica... - ele sorriu, junto a mim. - Eu sempre gostei de tudo. Das cores, da vida... Mas eu tinha uma paixão maior: pela música. Desde muito pequena, eu estive conectada a ela. Eu gostava de ver meu pai tocando piano e minha mãe tocando o seu violino. Eu tinha um pouco de inveja deles, sei lá... Aí, aos meus 4 anos eu comecei a tocar piano, tendo meu pai como professor. Ele me ensinava todas as tardes. E eu, claro, adorava.

"Só que eu acho que aquele ditado infeliz está mais do que certo.... Tudo o que é bom..."

–Dura pouco...

–Exato. E o meu "momento feliz" também acabou... - suspirei, sentindo meus olhos marejarem. - No dia 15 de abril, eu tinha uma apresentação de piano. Mais umas das várias que e já havia feito até ali. Mas aquela era especial. Se eu fosse aprovada por uns gringos que estavam ali, eu ia "subir de nível". Iriam me transferir e me dar uma bolsa grátis em ma escola de música, melhor do que a que eu estava. Meus pais quase piraram quando souberam... Logo, havia uma pressão sobre a garotinha. - Ri. - E eu fui. De cabeça erguida e segurando aquela... maldita rosa que me atormenta até hoje. Aquela com a qual você me viu quando eu cheguei aqui...

Ele assentiu, lembrando-se do momento.

–Pois é. Eles me deram ela antes da apresentação. Antes de entrarmos no carro... E, no caminho, aconteceu.

Lágrimas rolavam por meu rosto, e eu desviei o olhar para o pôr do sol.

–Uma mulher bateu em nosso carro. Só que ela estava rápida de mais... Acertou meu pai em cheio. - mordi meu lábio.

–Melanie, se quiser parar... - Jon comecei, com a voz mansa.

–Não, não tem problema. - disse, colocando uma mecha de meu cabelo atrás da orelha. - É só que ele não teve nem chance de... sobreviver. Ao contrário de minha mãe...

–Ela está viva?

–Sim... e não. Ela está em coma, há dez anos. Os médicos já tentaram formas de anima-la, mas nada. Ela não acorda, não retorna, nem nada... E agora me falam que seria melhor desligar os aparelhos. - ri, irônica, enxugando as lágrimas. - Eu já esperei dez anos, Jon. Eu sei q-que ela ainda está lá, que talvez esteja sofrendo... Mas, poxa, e eu? O que eu faço com esses dez anos de tentativas? Joga para o alto?

Ele me olhou, sem resposta. Dei um longo suspiro.

–E quanto a você? Pra onde você foi? - ele me perguntou.

–Vários lugares... A principio, para um internato.

Ele me olhou, surpreso.

–Ninguém da minha família me quis... Sabe, eles sempre consideravam a nossa família perfeita. A família que sempre teve tudo. O que era de certa forma verdade... Mas, ainda assim, isso foi... cruel. Eles me jogaram lá e nem ligaram. E é nessas horas que a gente descobre o que significa "família", Jon. Que sabemos que nem sempre eles estavam ali... - fiz uma pausa, limpando as lágrimas que insistiam em cair. - Enfim, eu fui parar lá. Mas, na época, eu estava meio revoltada e rebelde. Logo, eu fugi de lá umas duas vezes... E eu sempre aprontava. Fazia o diabo a quatro lá...

"Não demorou até meus tios virem me buscar, sem alternativa. Meus tios sempre tiveram inveja de meus pais. E meus primos, Tomás e July, de mim. Mais tarde, veio Lucia, mas eu a adorava e creio que ela também goste de mim... Logo, eles me fizeram... viver no inferno. Eu fiz coisas, eu passei por coisas e eu vi coisas inacreditáveis e tormentáveis ali."

–Que tipo de coisas?

Encarei-o, tensa.

–Eu vi com o que eles trabalhavam eu fiz coisas que uma criança não faria eu eu passei por coisas que uma criança não deveria passar... Coisas que me marcam até hoje. Coisas que fizeram eu criar essa personalidade agressiva e de repulsa.

Fiz uma pausa, tomando um gole do chocolate quente. De fato, era bom.

–Então? - Jon perguntou.

–Então, que eles arranjaram outro meio de se livrar de mim. Me mandaram para um orfanato. Mas para um orfanato de tortura, que o governo não sabe que existe. E, novamente, eu vi coisas, eu passei por coisas e eu fiz coisas lá dentro. - Fiz uma pausa, esperando que ele me perguntasse algo. Como ele não o fez, eu continuei: - E, novamente eu agi... Eu havia completado 15 anos quando resolvi fugir novamente. Mas eu fiz meus planejamentos e criei um plano de saída melhor e que deu certo. Sai de lá, arranjei dinheiro...

–Como? - ele me interrompeu.

–Pedindo, vendendo meus pertences... Consegui um bom dinheiro; o suficiente para pagar uma passagem. Peguei um ônibus para Brasília, onde descobri da minha pequena herança... E, então, aqui estou...

Ao final, já havia terminado meu chocolate quente. Jon também. A noite já caíra. Estávamos iluminados pela luz da lua que brilhava no céu, talvez nos convidando a ficar mais tempo ali...

–Aquele garoto que veio aqui... é o Tomás? - ele perguntou.

–Sim.

–Ele realmente parecia querer te ajudar...

–É... Eu e Tomás, depois de nos conhecermos melhor, criamos uma relação mais amigável. Mas acho que não o suficiente...

–Porque?

Fitei-o.

–A minha tia... tinha algumas regras. Dentre elas, eu não poderia, em hipótese alguma, comer o mesmo que eles.

–Como?

–Eu tinha de comer os restos. Se sobrasse. Ou arranjar minha própria comida.

–Como você... arranjava?

–Bom, eu tinha um amigo... O dono de uma padaria próxima a casa deles. Ele me conhecia porque eu sempre ia comprar os malditos pães com gorgonzola para minha tia. - fiz uma careta. - Logo, ele meio que conhecia minha história... Um dia, ela me humilhou na frente de todos lá. Me xingou e... - meus olhos voltaram a marejar. - disse que eu não era digna de viver...

–Que... - ele não terminou a frase. - Mel, você podia denuncia-la!

–Jon, você não entende... - comecei, um pouco surpresa com o "Mel". - Meus tios trabalham em uma área relacionada diretamente com o governo. Logo, eles praticamente nadam em dinheiro. Não mais do meus pais, óbvio. Mas ainda assim, eles tem uma boa quantia... Se eu denunciasse eles, seria o mesmo que... que... Ah, sei lá! Só sei que não daria certo, entende?

Ele assentiu, um pouco ressabiado.

–Enfim, eu era amiga do moço da padaria... Que inclusive se parece muito com o porteiro daqui. Tá, mas isso não vem ao caso! O fato é que era assim que eu arranjava comida.

–Você já roubou?

Surpreendi-me.

–C-Como?

–Você já roubou?

–Uma vez... Mas me arrependo disso. Eu não fui pega, mas não me senti bem.

–Certo.

–Mas, voltando ao meu primo: meus tios tinham essa regra e, um dia, o Tomás me viu pegar um biscoito qualquer na despensa. E, quando a minha tia notou, ele não hesitou em falar... Eu nunca apanhei tanto em minha vida. Ela me deixou trancada, sem comida ou água. Me virava com o que tinha lá. Não me lembro muito bem mas acho que comi papel... - falei, sorrindo irônica e fungando.

Lembrar daqueles momentos me machucavam. E, como a garota que eu era, não havia repetido ela muitas vezes. Mas, as poucas me fizeram lembrar de momentos nada agradáveis... Momentos guardados em minha memória, escondidos, sem saída... Logo, procurava ameniza-los, talvez sendo irônica ou algo do tipo. Tornava-os mais fáceis do que a realidade em si.

Voltei-me para Jon, que fitava o chão.

–O que foi?

–Sua história... É tão...

–Cruel, estranha...?

–Familiar...

Voltei-me para ele, que percebeu que falou besteira. Ninguém tinha uma história igual a minha... Talvez pior ou melhor. Mas igual?

Logo, ele levantou a cabeça e mudou de assunto:

–Bom, mas seu primo falou de uma herança... Que herança é essa?

–Eu não sei ao certo... Herdei o que meus pais tinham, o que não era muita coisa... Mas, pensando bem, isso é estranho... - mordi o lábio pensativa. - Espera aí.

Levantei-me da cadeira e segui para meu apartamento. Olhei de relance meu reflexo no espelho de meu quarto, percebendo que estava uma tanto... engraçada, com o rosto marcado e os cabelos levemente bagunçados. Mas isso não importava naquele momento. Me concentrei em acha-la. Aquele maldita...

–O que está procurando? - ouvi Jon perguntar, enquanto me enfiava debaixo da cama.

–Achei! - exclamei, saindo com uma caixa em mãos. Sentei-me na cama, e logo Jon se aproximou.

–O que?

–Lembra que eu te falei que meus pais eram "ricos"?

–Hu-hun.

–Então, eles eram ricos por que tinham uma empresa. A Carel...

–... Linhas Aéreas?

–Isso!

Ele arregalou os olhos.

–Uou! Seus pais tinham uma empresa aérea?!

–É... Mas eu nem ia lá muito...

–Melanie! - Jon exclamou, levantando-se. -Uma empresa aérea! Sabe o que é isso? Eu sei! Esse povo ganha uma baba de grana e...

–Como sabe disso? - interrompi-o.

–Isso não importa. - ele falou. - Agora entendi a herança...

–Mas eu ainda não.

–Como não?!

–Jon, quando eu cheguei aqui, eu fui a uma banco por puro... sei lá... acaso. Sempre tive a incerteza de ter ou não uma herança. Eu sei o quanto isso dá dinheiro. Mas ainda assim minha herança não era alta. Era uns R$ 5.000 na verdade.

–Seus pais jogavam ou algo assim?

–Não! - exclamei, horrorizada.

–Então tem algo errado.

–Então! - falei, levantando-me com a caixa em mãos. - Aqui estão todos os meus documentos. Deve ter algo ai...

–Até que horas o banco fica aberto? - ele me interrompeu.

–Sei lá... 24 horas...

–Ótimo. Vista-se, já venho. - ele disse, saindo do quarto.

–O que? - questionei-o, indo atrás deste. - Aonde vamos?

–Tirar isso a limpo...


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Notas finais do capítulo

Então?????
=D