Tsunade andava calmamente pela vila que governava, via os ninjas da academia ajudarem a montar as barracas do festival que seria dali a dois dias. Os gennins ajeitavam as arvores que iriam florescer, regavam e podavam o suficiente.

- ISSO MESMO CRIANÇAS! ENCONTREM O FOGO DA JUVENTUDE QUE INCENDEIA DENTRO DE CADA UM DE VOCÊS!!! – ouviu Lee gritar a uns três quarteirões, balançou a cabeça e riu dos comentários dos jovenzinhos.

- Que cara chato, não para de gritar!

- Ele devia arrumar uma roupa menos colada...

- O que é esse fogo da juventude que ele tanto fala?

- Preciso mijar...

[...]

Querendo ou não a culpa do sumiço de Hinata era dele, Uzumaki Naruto. Ainda estava perturbado com tudo que tinha acontecido até aquele momento. Voltavam para Konoha na manhã do dia seguinte quando a encontraram, marcaram de se encontrar nos portões da vila do Arroz ao amanhecer e lá estavam eles, começando um trajeto de volta ao lar. E durante todo o percurso, tentava se aproximar, conversar, chamar a atenção dela. A única coisa que conseguia era uma breve resposta educada e novamente ela o ignorava.

 Ficou a fitando durante um tempo, estava diferente fisicamente, os cabelos longos voavam com a intensidade da corrida, as pernas amostra, as curvas evidenciadas pela blusa mais justa; o casaco estava amarrado na cintura melhorando a vista daquele corpo tão sedutor.

- Ei garoto, cuidado pra não babar. – falara Shinji que já observava as secadas do loiro para sua aluna. Naruto ficou com o rosto vermelho, havia sido flagrado! Fingiu de desentendido e rapidamente tentou puxar assunto com Sakura. – Vou ficar de olho nesse moleque...

Kiba conversava animadamente com Hinata, dizia todas as novidades que sabia e já programava encontros com o time Kurenai, estava bastante feliz em tê-la de volta.

O coitado de Shino, como sempre, ficava fora das conversas.

Estavam a quase cinco horas da vila quando decidiram descansar, existia um lago com uma bela cachoeira ali perto de onde estavam.

Naruto finalmente viu Hinata sozinha enchendo o cantil, estava agachada com os cabelos jogados para apenas um lado. Viu ali uma oportunidade de conversarem melhor, talvez fosse imaginação ela estar o evitando.

- Hoje ‘ta bem quente né Hinata. – tentou puxar assunto, agachou-se ao seu lado também enchendo sua garrafa. Esperou ela o olhar, mas ela não se deu o trabalho de levantar a cabeça.

- Hm. É verdade. – e pronto à conversa havia acabado. Ele percebeu que ela realmente o evitava, conversava animadamente com todos, menos com ele.

Hinata jogou os cabelos para o outro lado para poder pegas as sandálias que estavam encostadas em uma pedra. Estar com Naruto a deixava desconfortável, iria se levantar e ir embora.

- Flores... – ele balbuciou baixo.

- Disse algo?

- Seu cabelo tem cheiro de flores. – Naruto disse simplesmente, viu o rosto da Hyuuga criar uma coloração vermelha e os lábios entreabrirem surpresos. - Será que eu posso...? – ele perguntou trazendo uma mecha de fios negros daquele longo cabelo para perto do nariz, o cheirando logo em seguida. Tinha o perfume das mais doces flores que existia.

Hinata estava envolvida com o momento, algo que pensava ser impossível de acontecer. Naruto não estava muito perto por seu cabelo ser comprido, mas aqueles olhos tão azuis a encarando com o contraste negro de seus fios longos segurados perto do nariz, a estava deixando com falta de ar.

Levantou-se fazendo a madeixa deslizar suavemente nas mãos grandes do rapaz. Não sabia onde enfiar a cara, mas sabia que estava vermelha já que sentia seu rosto queimar de vergonha.

- Ho-hontou ni? – ela pegou a mesma mecha de cabelo. – E-etto... E-eu... Eu já acabei aqui. – pegou as sandálias e o cantil e voltou a ficar perto dos outros integrantes do grupo.

- Ela ficou estranha de repente... – Naruto ficou a olhando se afastar.

- Esse moleque... – dizia Shinji que havia subido na arvore para ver melhor o casal que estava no lago. Ele não confiava naquele rapaz loiro.

- Esta fazendo o que aí em cima Shinji-sensei? – perguntou Hinata olhando para o alto da arvore, tapando o sol com as mãos que iam direto para seus olhos. – Não esta me vigiando, esta?

- O que? É claro que não! – disse descendo do galho, ficou de frente para Hinata. – ‘To vigiando aquele imbecil! – ele apontou sem tirar os olhos da Hyuuga, Hinata seguiu onde o dedo do seu treinador apontava e viu um Naruto com olhos arregalados voltando do lago.

- Eu?! – todos que estavam presentes incluindo Akamaru pararam que estavam fazendo para ver a provável discursão.

- Naruto-kun...?

- Hinata, presta atenção! Eu não quero que você ande perto desse moleque! – dizia ainda apontando.

- QUEM VOCÊ CHAMOU DE MOLEQUE ‘TEBAYO? SEU VELHO MALUCO!

- Na-nani? Por que diz isso Shinji-sensei? – encarou o sensei duvidosa. Aquilo era uma piada?

- Esse garoto ‘ta com segundas intenções pra cima de você Hinata... Olha, eu sei que pra você pode ser novidade já que nunca beijou e também...

- É claro que eu já beijei! – ela o interrompeu ofendida, falando mais alto do que devia. E rapidamente ficou escalarte quando ouviu um coçar de garganta de Shino, um risinho de Sakura e um “Oh!” de Kiba. Naruto arqueou as sobrancelhas. – I-isso é um ato no-normal na mi-minha i-idade... – estava tão envergonhada que abaixou a cabeça apertando as mãos contra o peito.

- Poxa, serio mesmo?! – Shinji parecia abalado, mas logo cruzou os braços e sorriu. – Agora eu sei por que você chegava tarde em casa... Sem contar os vários buquês de flores que você recebia do filho do lorde feudal do país da Neve... E eu pensando que você era santinha... – a vontade que Hinata tinha era de trancar todos os tenketsus daquele linguarudo, apertou os punhos raivosa ao ouvi-lo gargalhar. – Você é bem mais espertinha do que eu pensava!

- Tsc, cala a boca... – ela se virou e voltou a andar para longe dos amigos, tentava respirar normalmente. Oras era uma garota de dezoito anos, é claro que já havia beijado! Apesar de que no seu primeiro beijo acabou dando um soco na cara do rapaz, por ter sido pega de surpresa, mas isso eram detalhes. – Tenho certeza que todos já beijaram também, por que comigo seria diferente? – suspirou. Ela era tímida, mas não ao ponto de ser antissocial.

- Filho do lorde feudal do Arroz... – disse Sakura sorrindo. – Hinata não é besta mesmo.

- Ela ‘ta sempre me surpreendendo... – Kiba falou suspirando, não havia gostado da ideia, que na verdade era um fato, dela ter beijado outro.

Naruto apenas a seguiu com os olhos, estava chocado, Hinata não era tão recatada como pensava. Que coisa, não entendia o desconforto que estava sentindo naquele momento.

E Shino encontrava-se encostado numa árvore abalado, apesar de ser normal namorar na idade em que estava o triste shinobi nunca havia tido contato com outra mulher que não fosse profissional, ou sua mãe.

- Hinata! Não vire as costas para mim, me conte mais! Quero saber de tudo! Quem beijou quem?

- Me deixe em paz Shinji-sensei!

- Vamos Hinata, conte! Agora eu sei por que você chegava em casa cantarolando... Oe Hinata, po-por que ‘ta com o byakugan a-ativado?

[...]

Já era noite quando Ino fechava a loja de flores de sua família, estava desgastada, havia passado a manhã no hospital e a tarde inteira ajudando na floricultura. Caminhou calmamente pelas ruas desertas da vila, estava chutando uma pedrinha quando sentiu a presença de mais alguém, ficou alerta, mas logo percebeu ser um chakra conhecido.

- Voltando das compras? – a Yamanaka perguntou simpática, apesar de sentir seus batimentos cardíacos aumentarem.

- Na verdade só comprei a janta de hoje. – respondeu o moreno levantando a sacola com um cheiro delicioso. Não queria conversar, estava faminto depois de realizar uma missão de alto risco a mando da Hokage. – Ja ne.

- Etto... Você irá ao festival, Sasuke-kun? – perguntou receosa ao perceber que ele não iria parar de andar. O viu acenar com a cabeça positivamente.

- O baka do Naruto não vai me deixar em paz se eu não for... – continuou o olhando até finalmente o perder de vista na escuridão da noite. Sorriu sozinha.

Desde quando era apaixonada por ele?

Ah sim... Desde sempre.

[...]

Hinata não conseguiu segurar o sorriso quando viu os portões de Konoha, estava feliz de estar em casa, queria abraçar sua irmãzinha, se desculpar com Ino e Tenten por não ter se despedido, treinar perto da cachoeira, ver Lee andar de “bananeira” pela vila, brincar com o filho de Kurenai  e fazer chá para seu pai e seu primo.

- Bem vinda de volta. – Naruto lhe disse. Ela alargou mais o sorriso em gratidão.

Passaram pelos guardas que os reconheceram e se encaminharam direto ao prédio Hokage.

- Entendo... – falou Tsunade ao ouvir toda a história de como encontraram a Hyuuga. – Só espero que a vila do Arroz não me cause problemas.

- Fique tranquila Tsunade-sama, a rivalidade daqueles ninjas é comigo, não farão nada contra Konoha. – Hinata disse firme, havia contado dos ninjas que a atacaram.

 A Hokage a encarou, percebeu a diferença em seu tom de voz, estava mais decidido. Olhou para o velho que aceitava o copo de agua que Shizune oferecia. – E você quem é?

- Me chamo Takiwa Shinji, Tsunade-hime. Lembro de termos jogado uma partida de apostas juntos ainda na adolescência. – ele falou e logo em seguida bebeu a agua. – E você perdeu. – sorriu ao vê-la o encarar com uma sobrancelha levantada.

- É uma pena vovó Tsunade, desde novinha a senhora é perdedora.

- Quieto! – esbravejou. Olhou novamente para o velho a sua frente. – Takiwa né... Pretende ficar para ver o festival?

- Obvio que sim! – respondeu Shinji quase interrompendo a Senjuu. – Estou esperando esse festival há muito tempo.

Hinata o viu apertar mais o copo que segurava, ela o entendia perfeitamente, aquele festival seria decisivo para ele e principalmente para ela, iria mostrar do que era capaz. Depois de todo aquele tempo treinando arduamente, iria dar orgulho ao seu sensei.

Depois de um momento burocrático na sala da Godaime, finalmente estavam fora do prédio. Naruto guardava o dinheiro que tinha recebido da missão que fora realizada com sucesso, percebeu que o clã Hyuuga pagava bem, pediria mais missões deles para Tsunade.

- Finalmente poderei dormir direito ‘tebayo. – dizia enquanto se espreguiçava.

-Vamos pra casa Akamaru! – ouviu um latido de afirmação. – A gente se ver depois Hinata. – viu-a acenar, todos estavam cansados.

- Arigatou minna. – falou Hinata.

- A missão nem foi tão difícil assim, não precisa agradecer. – respondeu Sakura sorrindo. - Encontro vocês no festival? – pôs a mochila nas costas.

- Eu estarei lá. – disse Kiba acenando enquanto andava para sua casa.

- Com toda certeza eu e a Hinata estaremos lá! – disse Shinji com os olhos em chamas, contava ansioso as horas que faltavam para o grande dia.

- Eu também vou estar lá Sakura-chan, afinal não quer ir comigo? – disse Naruto esperançoso, seria bem constrangedor levar um fora na frente de todos.

- Hai, hai. Vamos chamar o Sasuke-kun também. – Naruto revirou os olhos, pelo menos aquilo era melhor que nada.

- Vamos embora Shinji-sensei. – Hinata saiu puxando o velho daquele local, estava enciumada, mesmo não querendo ainda o amava. – Ja ne.

- Eu te acompanho até sua casa Sakura-chan. - e assim andaram juntos pela calçada conversando e trocando sorrisos.

- Eu também vou ao festival... – dissera Shino aos ventos, ainda se encontrava em frente ao portão do prédio sozinho.

[...]

Respirou um trilhão de vezes antes de entrar na casa principal do clã Hyuuga. Shinji preferiu se hospedar em um hotel, não queria perturbar o momento em família que ela teria.

Quando entrou no distrito, ouviu alguns murmúrios dos integrantes, será que realmente pensavam que ela tinha sido sequestrada? Balançou a cabeça e finalmente entrou na mansão antiga, se deparando logo de cara com Neji e seu pai. Estavam soados, provavelmente o treino de seu primo havia se estendido, isso sempre acontecia quando se empolgavam.

-Tadaima... – ela disse deixando seu chakra fluir normalmente, não sabia o porquê de ter o escondido, mas naquele momento isso não importava.

- Hinata-sama! – Neji a olhou com os olhos arregalados, um sorriso mínimo surgiu nos finos lábios do gênio. – Okaeri.

- Hinata... – falou Hiashi vendo-a entrar e tirar as sandálias.

- Hiashi-sama, eu volto amanha no mesmo horário. – percebeu que eles precisavam de um tempo para conversar sozinhos, caminhou em direção à porta e parou ao lado da prima. – Que bom que esta bem. – a viu esticar os lábios em um riso simples.

- Você preocupou todos do concelho Hinata. Devia ter mandado noticias. – falou o patriarca assim que o sobrinho saiu. A verdade é que estava feliz de tê-la de volta.

- Gomen. Eu acabei não tendo muito tempo de fazer esse tipo de coisa. – colocou a mochila na bancada da porta e finalmente fitou o pai. Ele a analisava, com os braços cruzados e aquele ar autoritário. Aquele gesto de potencia não mais a amedrontava.

- Como membro da Souke era essencial mandar noticias, foi uma grande irresponsabilidade. – ela desviou o olhar para outro ponto qualquer da casa, iria começar com o discurso de como ela era desatenta, irresponsável e fraca. – Mas é um alivio para mim ter você de volta. Okaerinasai, Hinata.

Quase caiu para trás ao ouvi-lo. Sentiu tanto afeto naquela frase que seus olhos ficaram marejados, quis o abraçar e dizer que sentiu muitas saudades. Deu o mais lindo sorriso, estava tão feliz!

- Jyuuken! – foi quase acertada por trás, se não fosse seus longos meses de treinamento teria sido um ataque certeiro. – Você desviou! – disse Hanabi surpresa. Hiashi a olhou orgulhoso.

- Você cresceu Hanabi-chan! Esta mais bonita também. – Hinata depositou uma mão no topo da cabeça da irmã, chacoalhando os cabelos.

- Onee-san, nunca mais seja egoísta... – abraçou a mais velha com os olhinhos cheios d’agua. – Se você sair assim de novo, te caçarei até o fim do mundo só pra te matar! – era um modo meio rude de dizer que estava com saudade, mas Hinata conhecia o jeito bruto da irmãzinha.

- Gomen, gomen Hanabi-chan. Que tal você me ajudar a guardar minhas coisas? Acho que deve ter algo pra você...

A garotinha nem esperou a Hyuuga terminar e saiu que nem um foguete para o quarto da irmã com a mochila nas costas, Hinata riu e Hiashi balançou a cabeça achando graça. Começou a subir a escada quando ouviu o pai lhe dizer:

- Quero conhecer seu treinador, traga-o amanha pela tarde.

- Hai!