Saint Seiya Memórias: História Oculta Do Santuário escrita por Katrinnae Aesgarius


Capítulo 70
Interlúdio :: Van Qüine


Notas iniciais do capítulo

UM DIA ATRASADO, mas cumprindo a promessa de um capítulo "extra' pelo vácuo do mês passado já explicado anteriormente. Portanto, desfrutem e espero que curtam esse capítulo com van Quine e... Leia! XD



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 “... e não sabemos ainda como está a situação em Delos”

“Mesmo após tantos anos a ameaça ainda se faz assim, tão presente...”

“De toda forma, recebemos avisos para ficarmos alertas para qualquer ameaça dentro dos limites do Santuário. Patrulhas já estão sendo posicionadas e estão...”

Um suspiro e o braço cobriu os olhos. Qüine ainda estava despertando quando ouviu os burburinhos abafados, ainda distantes, e não mostrava qualquer interesse inicial. No entanto, aquelas últimas soaram claras o bastante como se estivessem a passar próximo de sua porta até se afastarem novamente.

Virou-se de lado, respirando pesado, e nesse instante ouviu a porta ser aberta. Não teve qualquer intenção de saber quem era, fingindo ainda estar dormindo, quando ouviu novamente a porta se fechar, calmamente. Era doloroso, sobretudo por saber que quem foi vê-lo, e disso ele tinha quase toda a certeza que era o Kiki.   

Desde aquele dia não mais se falaram. Já havia passado um pouco mais de uma semana quando ele tinha se fechado. Queria estar em Gêmeos, mas devido aos ferimentos e unguentos que precisava colocar para conter um sangramento ou outro, ficou decidido que ele ficaria ali mesmo contra sua vontade. E sendo assim, calou-se, falando o estritamente necessário.

A única companhia naqueles dias era o diário de sua mãe que ele buscou em Gêmeos após uma ausência de Kiki. E assim como saiu uma vez sem ser notado, porque não novamente?

Aguardou, e percebendo o silêncio ou mesmo ausência da presença de Kiki, o rapaz se levantou trocando de roupa e abrindo uma simples fresta da porta para um olhar rápido. Nenhum serviçal no corredor e o quarto onde estava Antares se encontrava fechado. Arrumou a mochila no ombro com a alça cruzando o tronco e parou frente ao quarto dela tocando na porta.

Ao longo daqueles dias, nenhuma menção de seu estado, o que o deixava mais irritado. Chegou a pensar em dar uma espiada, contudo correria o risco de dar de cara com o Cavaleiro de Áries ali, e ter que dar explicações. Tudo o que ele não queria fazer no momento.

“Por que diabos insistem esconder tudo de mim?”, pensava frustrado, fechando o punho e seguindo pelo corredor até os fundos da Casa Zodiacal, descendo as escadas para o que seria a área dos servos do templo.

Buscava recobrar os detalhes escritos por sua mãe, ainda que ela usasse inúmeras maneiras diferentes de chegar ali, incluindo saltar até uma janela que dava direto aos aposentos do seu pai.

No entanto, há um tempo quando ainda fazia reconhecimento, percebeu que parte da encosta havia sido destruída, possivelmente nas batalhas nas Doze Casas com os lendários Bronze ou mesmo pela ação da natureza, o que impossibilitaria fazer o que intencionava. Precisava pensar numa outra maneira.

Naquele ínterim, ouviu passos e tentou abrir uma fenda, mas algo o impedia de concluir a ação, o bloqueio pelos selos da deusa. Rapidamente entrou numa pequena sala e encolheu-se, apesar de seu tamanho, esperando que o servo não estivesse seguindo exatamente para onde ele estava. Apenas viu-o deixar alguns baldes com água e se retirar novamente, tempo este que Qüine usou para cruzar o ambiente e ganhar um espaço externo. Dali, seria preciso arriscar, mesmo com os impedimentos. Um cálculo errado, seria fatal.

“Espero que não seja apenas história, mamãe...”, pensou ele saltando para um vazio e calculando mentalmente o tempo. No momento que julgou correto, emanou seu Cosmo, deixando o mesmo agir. Com um suave balanço do braço, invocou a ‘Outra Dimensão’, permitindo que uma fenda se abrisse e um buraco fosse aberto, fazendo com que ele mergulhasse ali e desaparecesse tão logo o Geminiano passasse.

A fenda dimensional criada por ele surgiu, o fez cair de um local bem acima do planejado. Ele sentiu as entranhas gelarem ao se dar conta do que ia acontecer caso não fosse rápido o bastante. Foi preciso calcular bem a sua queda e utilizar parte de seu treinamento para isso se não quisesse quebrar as pernas por uma ação inconsequente.

No momento em que seus pés tocaram o chão, ele deixou que os joelhos se dobrassem, acompanhando a queda, e se projetou para a frente, fazendo um rolamento. Apenas torcia para que não terminasse iniciando outra queda, o que aconteceu sem maiores danos utilizando de sua telecinese e amortecendo o baque.

“Merda!”, praguejou ele meio a uma nuvem de poeira e terra que acabou comendo no processo, sentindo ter cortado os lábios.

Levantou-se sacudindo a poeira e buscando se localizar. Havia feito um cálculo para onde ir, mas temendo perder as contas dos segundos para abrir a passagem, de certo o fez errar e levando-o meio àquela área da qual não lembrava ter visitado. Restos de prédios, colunas e estátuas estavam espalhadas por todo canto, como se o local tivesse sido palco de um imenso cerco ou de uma catástrofe calamitosa.

Certamente o lugar foi um pequeno Santuário, ocupando uma boa área em seu tempo. Muitos prédios, como poderia perceber pelas ruínas em dois níveis, acompanhado de um grande pátio com uma fonte ao centro. O pátio foi outrora com pedras que, do mínimo que era perceptível, fazia algum desenho do qual Qüine não sabia identificar de imediato.

No entanto, o que via ali era apenas a sombra do que foi um dia. O jovem chegava a fazer um paralelo a uma cidade bombardeada tamanho estrago dos templos que não pareciam meramente arruinados com o tempo, mas como se ali, outrora, tivesse sido palco de uma grande batalha.

Aproximou-se do que parecia um parapeito, sem encostar temendo ruir pela precariedade e percebendo outros pequenos prédios abaixo. “Esse lugar me dá uma sensação... de dejà vu”, pensou ele se voltando para o templo mais atrás.

“Como diabos consegui chegar aqui? Não me parece nada próximo do Santuário. Sua estrutura tem um diferencial com relação ao de Athena. Seria de alguma outra divindade?”

O rapaz prendeu o cabelo com uma fita e seguiu caminhando para visitar os escombros, identificando um dos prédios como um possível templo onde o teto há muito havia cedido. Apenas as paredes restaram, alguns blocos, o chão tomado de musgos, ainda que fosse possível ver que um dia foi um pátio de pedras.

Reconheceu um dos espaços como uma provável sala de ritos ao identificar uma espécie de altar e o que já foi uma pequena fonte usada para ritos internos. Hoje estava seca, com alguns ninhos e ovos chocados secos.

— Isso parece... — dizia ele recolhendo uns arbustos que cobriam uma das paredes e tocou o relevo do que parecia ser um grande sol. — ... as ruínas de um Templo do Sol...? Os raios de sol... — e olhou para fora, para onde parecia ser a grande fonte. — São como do pátio. Era um sol desenhado no chão. Aqui era um Santuário de...?!

Embora se questionasse, estava certo de que estava nas ruínas do Templo do Sol, um dos poucos espaços dedicados a Apolo e que datava a Era Mitológica. Das histórias que o próprio Kiki contava, aquele lugar foi destruído ainda nas primeiras Guerras Sacras, restando apenas o anfiteatro que perdurou até o século XVIII e hoje não passava de escombros. — local este que tinha intencionado por ser bem mais próximo ao Santuário que ali.

— Parabéns, Van Qüine. — disse o rapaz para si mesmo em tom de sarcasmo. — Teve sorte de não ser no abismo, seu idiota! — e se retirava daquele prédio em ruínas buscando qual direção seguir, uma vez que não fazia ideia de onde exatamente estava. — Vejamos agora para onde ir... — ficava apontar com o dedo como se isso o ajudasse, decidindo seguir para a direita. — Ouço água. Sempre bom seguir o fluxo do rio.

E água cairia bem, já que estava um dia quente apesar de ser ainda manhã. Removeu a bolsa que carregava com ele deixando-a pendurada num galho de uma árvore e seguiu junto ao rio com seu cantil.

Enquanto recolhia do líquido para seu cantil, ficou a observar seu reflexo por alguns instantes naquele riacho. Tocava seu rosto com a ponta dos dedos lembrando-se de ouvir de muitos o quanto ele lembrava seu pai — como um velho homem de Rodório que chamou sua atenção sobre isso.

“Seria por isso que não confiam em mim?”, refletiu ele por um breve momento e do quão desconfiado percebia os olhares recaindo sobre ele. Por mais que fingisse não perceber aquilo, não podia ignorar o comportamento de algumas pessoas diante sua presença. Já havia passado quase duas décadas, mas o tempo que seu pai regeu o Santuário ainda parecia um tabu mesmo após o perdão de Athena.

“Não...”, reagiu balançando a cabeça em negação e sorvendo um longo gole, sentindo o frescor na garganta. “Isso seria ridículo! Estou ficando paranoico, é isso. Nada a ver!”, e riu contidamente, enchendo novamente o cantil quando viu um vulto ‘voar’ refletido na água. Ao virar-se, apenas assistiu uma revoada que passava próximo dali. Riu daquilo, temendo que fosse o irmão surgindo repentinamente após sua fuga.

Puxou o ar puro e suspirou. Precisava daquilo, sair daquele quarto e daquele climão que ficou entre ele e Kiki. Odiava aquela situação, mas não podia esconder o quão desapontado estava com o lemuriano.

Afinal, o que era tão difícil para o ariano entender sobre ele não assumir o legado do seu pai? “O que ele quer? Que aceite somente para saber de uma fofoca de Cavaleiros?”, e praguejou. Removia a bolsa que carregava, deixando pendurada num galho baixo de uma árvore e guardou o recipiente novamente cheio. “O que poderia ser tão sigiloso que não poderia saber?”, perguntava-se injuriado.

Enquanto alongava os braços, novamente uma sombra, lembrando que aquela situação não era a primeira vez que o fazia se fechar para o irmão. Estava ciente que aquilo soava típico de um garoto mimado, mas não queria que seu descontentamento gerasse outra discussão como a anterior. Aquilo o deixava ainda mais triste e ao mesmo tempo enraivecido.

Uma vez que isso aconteceu foi quando Kiki ausentou-se por mais tempo que de costume levando Qüine acreditar que havia sido novamente abandonado. E por mais feliz que foi rever o lemuriano de volta, não havia como esconder o quão chateado e frustrado ficou na ocasião brigando com o irmão e desaparecido por dois dias numa caverna, chorando.

Três anos depois do ocorrido, Kiki sempre desconversava sobre aquele assunto, para frustrar ainda mais Qüine. “Uma missão talvez. Só isso explicaria aqueles meses que passou mancando da perna”, lembrou o Geminiano.

Tomou uma pedra em mãos e ficou a brincar com a mesma jogando para o alto e apanhando-a. Por mais que intencionasse treinar, não estava sentindo-se motivado para isso. Ainda estava chateado demais com a última conversa com o irmão e ficar naquele quarto apenas ficava remoendo aquele sentimento.

“Quando será que realmente vão confiar em mim?”. Aquela indagação era algo que ele queria perguntar ao Kiki nas inúmeras vezes que entrou no quarto para entregar sua refeição, mas apenas emudecia falando apenas o trivial. “Será que me veem somente como a sombra de meu pai?”, e segurou a pedra com mais firmeza quando a apanhou novamente após jogar no alto.

“A minha mãe descreve meu pai como um grande homem, de coração bom...”, e franziu o cenho confuso, caminhando em círculos onde estava, continuando a brincar com a pedra. “Como alguém assim, se tornou o que todos temem falar? Por que minha mãe não fala sobre isso em seu diário?”, e suspirou longamente, levando uma mão à testa, coçando superficialmente e removendo a mecha do cabelo que caía sobre o rosto.

“Não... A minha mãe não mentiria pra mim”, repensou, voltando seus olhos para a bolsa e vendo parte do diário visível já que não havia fechado adequadamente. “Ela queria apresentar meu pai quem realmente era, um homem bom...”, e puxou forte a respiração. “... e não o monstro que pintam dele”.

Com um mínimo do Cosmo, concentrou-se em seu punho e transformou a pedra com qual brincava em pó, deixando ser levada pelo vento.

— Mais que nunca devo provar a eles que não serei mais uma sombra... — disse para si mesmo vendo a poeira esvair por entre seus dedos, ao mesmo tempo que seus olhos cintilavam naquele momento. — Mostrarei a todos quem eu realmente sou!

No entanto, meio aquele discurso mental, uma revoada aconteceu de repente surgindo meio às ruínas, assustando Qüine que até então estava mergulhado em seu devaneio.

Aquilo o deixou momentaneamente alerta já que, até então, imaginava-se sozinho naquele lugar tão inóspito. “Pensando bem, como vim parar aqui mesmo?”, refletiu por um instante intrigado com aquilo.

Quando saltou, intencionava abrir passagem até algumas ruínas dentro do próprio Santuário, do outro lado do Monte Zodiacal — lugar este que sua mãe usava para treinar e até mesmo meditar por conta de algumas pequenas cascatas proveniente do monte que abrigava as Doze Casas. No entanto, dentro da ‘Outra Dimensão’ percebeu alguma ondulação que devem ter interferido e o levado ali.

— Esse lugar... — e olhou mais à sua volta, percebendo que tudo pareceu silenciar-se após a revoada de poucos instantes. — Esse lugar emana alguma energia, bem diferente daquela do Santuário. Além do mais... —  e olhou em direção de alguns arbustos. — Tenho a sensação de que estou sendo observado desde que cheguei aqui.

“Talvez porque não deveria estar aqui”, alguém disse diretamente com seu Cosmo, deixando Qüine intrigado. “O que um garoto como você faz num lugar como esse?”

— E quem é você que fala comigo? — indagou o Geminiano num tom mais sério enquanto seus olhos analisavam o lugar. — Por que não aparece em vez de falar diretamente com meu Cosmo?

“O que foi? O lugar está nublando seus sentidos a ponto de não conseguir me ver?”, comentou a pessoa saltando sobre um dos prédios e ficando de pé, bem visível aos olhos de Qüine que apenas via um vulto usando um manto com capuz, mas também algo que cobria seu rosto.

— Ah, mais essa... — praguejou o jovem Geminiano. — Se eu não deveria estar aqui, por que você estaria? Acaso é guardião desse lugar?

— Por que não tenta descobrir vindo comigo? — provocou ele saltando sobre outra ruína com um mortal com uma destreza que deixou o rapaz boquiaberto.

“Eu teria que ser muito idiota...”, pensou Qüine impressionado e pensando ignorá-lo. No entanto, em sua mente veio a breve conversação daquela manhã que ouviu de Kiki com mais alguém sobre uma ‘ameaça’ que estava forçando o Santuário a vigiar seus acessos. Estaria ele diante desta ameaça?

“O mais inteligente seria retornar ao Santuário, mas...”, e olhou para o lugar. “... não posso arriscar de ser enviado para lugar algum. Só me resta...”, e seguiu em direção ao vulto que parecia aguardá-lo mais adiante.

Os dois seguiram saltando pelas pedras, claramente se afastando daquelas ruínas. O Geminiano percebeu que aquele que o conduzia evitava os prédios que estavam mais bem conservados e se movimentava com muita agilidade no terreno irregular.

“Que isso? O cara tá fazendo Parkour? Sério isso?!”, indagou Qüine quase se desequilibrando ao saltar sobre um monte e as pedras desmancharem, sendo preciso saltar para outro ponto, enquanto o outro nem bem parecia tocar na superfície, mas ser levado pelo vento. “Ah... Já chega disso!”

O estranho avançou mais alguns metros antes de parar ao perceber que não estava mais sendo seguido. Ficou intrigado de como o Geminiano conseguiu ocultar seu Cosmo ao ponto de não mais rastreá-lo. Já estavam um tanto distante do antigo Santuário abandonado, bem mais nas proximidades da Antiga Rodório , quase dentro dos limites do Santuário de Athena.

Quando estava próximo a dar um passo em direção ao vilarejo, viu-se dentro de um círculo de luz púrpura poucos instantes de perceber alguém cair sobre ele com seu punho em riste.

O encapuzado saltou para o lado, buscando ficar distante daquele golpe. Não conseguiu evitar de sorrir em desafio por aquilo.

O golpe do Geminiano criou um buraco, raso, no exato lugar onde estava o homem que, por pouco, não teria sido esmagado. O rapaz se levantou, se colocando bem exatamente no caminho que dava acesso ao vilarejo, ficando em posição de luta, fitando-o incisivamente.

— Daqui você não passa! — encarou o rapaz.

— E quem vai me impedir? — desafiou o outro, encarando-o. — Você, garoto?

— Garoto... — Qüine sorri de maneira sacana. — Por que não tente com o garoto aqui? Daqui, não vai passar!

— Sabe com quem tá falando, garoto? — indagou o outro ainda com rosto coberto, sendo possível apenas os olhos azulados e firmes. — Nunca ensinaram a você que deve se apresentar?

— Primeiro. Se tu não sabe quem é você, por que acha que eu vou saber? Além do mais... — o jovem geminiano sorri. — ... não me interessa que seja muito menos saiba quem eu sou.

— Nossa, garoto, o que foi? Alguém roubou seu caramelo? — zombou o outro, não escondendo o riso. — Levou um fora de alguma mocinha da vila? Pode falar, não precisa ficar com vergonha.

— Ok... — ele baixou um momento a guarda. — Vamos deixar essas tiradas de lado e vamos ao que interessa? Vejamos o quão afiado seja além da língua.

Uma fissura surgiu às costas do homem diante de Qüine, sugando-o para dentro da ‘Outra Dimensão’, fazendo aquele homem cair no vazio até que inúmeras linhas dimensionais surgissem sob ele. Um universo e galáxias surgiam meio a isso até perder-se no horizonte, onde quer que a vista alcançasse.

— Ah, vá!!! É sério isso?! — questionou o outro visivelmente surpreso com tudo aquilo. — Desde quando você...?

— O que foi? Ficou com ‘vergonha’ de ser surpreendido por um ‘garoto’? — desafiou Qüine deixando sua voz ecoar naquele espaço dimensional.

— Nossa, o fora dessa garota deve ter sido terrível pra você estar tão nervosinho e afoito. — o estranho continuou com a bravata, olhando ao redor. — Bom, se isso vai te fazer se sentir melhor, vamos lá.

E num movimento rápido, ele moveu o braço, traçando um arco na direção de onde escutara a voz do Geminiano. Um arco-íris acompanhou o movimento, enquanto uma fina lâmina dourada se desprendia dos dedos e avançava vertiginosamente cortando o ar daquele espaço dimensional.

“O QUÊ?”, surpreendeu-se o Geminiano precisando saltar ao perceber o fio luminoso que seguiu em sua direção. “Como diabos ele sabia onde me encontrar?”, questionou-se intrigado uma vez que sua voz poderia ecoar de qualquer um dos pontos dimensionais como um eco.

No entanto, aquele seu ataque conseguiu não somente encontrá-lo como atacá-lo acolhido naquele campo dimensional. “Se tivesse hesitado, teria sido dividido em dois!”

Qüine caiu quase que diante dele, a uns bons metros, apoiando-se com a mão e dobrando o joelho para ajudar.

— Ok... — comentou Qüine surpreso e intrigado com aquilo. — Eu não sabia que era possível fazer algo assim.

— Eu também não fazia muita ideia que encontraria alguém que soubesse fazer isso que você fez, garoto. — reconheceu o estranho. — Aliás, fica meio chato eu te chamar de “garoto ” o tempo inteiro. Eu sou Gwintan, e você, quem seria?

— Van Qüine. — e ficou de pé. — Já não me parece tão desdenhoso e surpreso como há poucos instantes.

— É que é bom ver que meu potencial oponente tem mais de dois neurônios funcionando pra cair em provocação barata. — Gwintan assumiu, cruzando os braços momentâneamente. — Funciona em 80% das ocasiões...

— Entendo... — sorriu de canto. — Por outro lado, isso atiçou ainda mais a minha curiosidade em outro aspecto.

As palavras do garoto soaram ambíguas, e antes mesmo que pudesse perceber, não conseguia mover o braço, como se tivessem atados. No mesmo instante percebia que estava se distanciando do garoto, sendo puxado para trás não como na primeira investida quando engolido pela escuridão, sendo mais intenso.

“O que é isso?”, e olhou por cima dos ombros, arregalando os olhos. “Ele vai me jogar num buraco negro?!!”. E se estivesse certo, seria um caminho sem volta, e sem mover o corpo seria impossível realizar a mesma proeza de antes de distorcer as linhas dimensionais de modo que as mesmas guiassem sua lâmina até onde estava verdadeiramente aquele rapaz.

“Ele não cometeria o mesmo erro antes, mas eu também tenho uma carta na manga”, pensou ele fechando os olhos e deixando seu Cosmo ascender, criando um pulsar forte o bastante para ‘quebrar’ aquela breve paralisia em seu corpo e permiti-lo saltar. Era um risco conhecendo as histórias dos campos dimensionais, mas precisaria acreditar na precisão de sua Caladbolg, mas também descobrir, de uma vez por todas, aquilo que desconfiava.

— JULGAMENTO DE DYRNWYN! — exclamou Gwintan caindo sobre  Qüine com seu braço direito como se estivesse em chamas brancas, estas desenhando uma longa espada.

Qüine arregalou os olhos e apenas tentou teleportar-se, mas desta vez era ele quem estava preso às suas próprias linhas dimensionais. “Desgraçado!”, praguejou o rapaz, criando uma barreira com sua Cosmo-energia enquanto concentrava em seu punho.

As chamas logo ganharam tonalidades intensas de dourado e linhas vermelhas oscilantes, deixando Gwintan surpreso com aquilo.

“O que é isso?”, indagou-se, distraindo-se um instante somente e não percebendo uma rajada de Cosmo que surgiu em sua direção. No entanto, foi capaz de abrir caminho entre ela, usando o punho do próprio rapaz para mais um impulso e pousar às suas costas.

Antes que pudessem ter qualquer reação além, ouviram alguém entoar “OHM” e um forte clarão cega-los. Os dois buscaram proteger os olhos como podiam, para, em seguida, a escuridão tornar a tomar seu lugar gradativamente. Com cautela, Qüine e Gwintan abriram os olhos e se viram nos limites do Santuário. Não muito distante dali, um homem de cabelos negros e uma venda nos olhos os censurava, balançando a cabeça.

— Ei, quem é você?! — o Geminiano perguntou, se colocando em posição de defesa. — Não vai me dizer que está com esse cara?!

— Hey! Klahan! Há quanto tempo! — acenou o outro, baixando o capuz e revelando uma densa cabeleira e barba avermelhados.

— Espera... esse é o Klahan? — interrogou-se Qüine e balançando a cabeça em negação. — Você é o Cavaleiro de Virgem que nunca sai da toca? — e sente uma tapa na nuca, vendo aquele com que estava a duelar passar por ele. — Hei!

— Sim, sou eu. — sorriu o Virginiano discretamente. — E agora também conheceu o Cavaleiro de Ouro de Capricórnio.

— Por que não estou surpreso disso...? — frustrou-se o Geminiano soltando um longo suspiro.

— Surpreso estou eu em chegar e conhecer o Cavaleiro de Gêmeos. — e o capricorniano cruzou os braços.

— Eu ainda não sou o Cavaleiro de Gêmeos! — afirmou Qüine notoriamente contrariado.

— Não?! Como não?! — Gwintan não fez qualquer esforço em esconder sua surpresa quanto aquilo. — E o que eu presenciei agora a pouco?! Como pode ter tamanho poder e ainda não ser um Cavaleiro de Ouro?!

— É uma longa história, Gwintan... — disse Klahan impedindo Qüine de responder de imediato e já deixando uma bolsa envolta de uma esfera de luz surgir diante do rapaz. — Acredito que isso seja seu, estava largado nas antigas ruínas.

Qüine se engasgou e sentiu como se sua alma saísse de seu corpo e voltasse violentamente. Agarrou a mochila e logo tratou de conferir se o diário estava lá dentro, respirando aliviado tão logo o puxou para fora.

— E Kiki está esperando por você para terem uma longa conversa. — completou o Dourado de Virgem vendo o garoto deixar ele e Gwintan sem mais nada a dizer, senão resmungando qualquer algo em alemão.

— Kiki...? Esse é o garoto a quem o lemuriano cuidava em Jamir? O tal... — dizia apontando para Qüine e vendo o outro confirmar. — Cavaleiro de Gêmeos, assim como seu pai. Interessante...

— Interessante? — questionou Klahan curioso com a entonação empregada pelo outro.

— Isso explica o brilho da Dyrnwyn. — e olhava para a mão que empunhara a espada cósmica de alguns instantes. — Foi o mesmo com a mascotinha que, aliás, como ela está?

— Na mesma. — respondeu Virgem sem rodeios.

Capricórnio suspirou preocupado.

— Eu acho que isso já foi longe demais, Klahan. Ela tem passado esses dias mais desacordada, entre a vida e a morte, do que realmente treinando e se desenvolvendo. — o ruivo apontou cruzando os braços.

— Quanto a isso se mostra tão desconfortável quanto a Van Qüine. — comentou Klahan olhando em direção a Rodório. — Porém, digo que não há com o que se preocupar. O que não nos mata, apenas nos deixa mais forte. — e sorriu. — Não que isso a faça alguém fraca.

— Você não acha que está exagerando nessa confiança em cima dela? — Gwintan olhou para o Cavaleiro de Virgem com desconfiança.

— Talvez a minha fé nela seja o bastante para a descrença de cada um de vocês. — respondeu o Virginiano sempre em seu tom calmo. — Por outro lado, disse sobre o brilho da Dyrnwyn. — e parou alguns passos à frente, buscando visualização do Capricorniano por cima dos ombros.  — O que queria dizer?

— Sabe que a Dyrnwyn julga aqueles justos, atraída por aqueles que sejam realmente dignos... — e ele olhou para sua mão, lembrando do brilho. — ... e reconheceu Van Qüine assim, mas também um legado que há muito não sentia. Por outro lado... — e nesse momento franziu o cenho. — ... também reconheceu algo muito além e isso que me intriga.


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Notas finais do capítulo

E então? Gostaram de conhecer o Cavaleiro de Capricórnio?
No próximo Interlúdio apresentarei mais dele e falar mais dos nomes citados. Portanto, não se sintam perdidas!
Dia 20/11 teremos novo capítulo - se assim permitir.
Beijos a todos/as!!



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