Saint Seiya Memórias: História Oculta Do Santuário escrita por Katrinnae Aesgarius


Capítulo 67
Livro 2 :: Dualidade - Ato 22


Notas iniciais do capítulo

Recomendo que antes de ler esse capítulo, voltem um pouco no Capítulo 55 (Dualidade 13). Poderão ler depois de certa parte aqui caso tenham alguma dúvida.



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De seu templo era perceptível a ânsia daqueles que o aguardavam. Cavaleiros e aspirantes, soldados e civis tomavam o anfiteatro para o anúncio oficial. Além do entusiasmo para a festa, havia algo do qual o Grande Mestre, em seus mais de dois séculos há muito não pressentia, fazendo-o respirar fundo quando as portas de sua sala foram abertas para que seguisse para junto do anfiteatro.

“Tempos negros estão chegando”, pensou.

Dois Cavaleiros o aguardavam com suas indumentárias douradas e seguindo à frente do Patriarca, descendo cada uma das Doze Casas, em sua maioria vazia, onde apenas as armaduras eram as guardiãs. Nos próximos dias, quem sabe quantos guardiões aqueles templos estariam recebendo? Quantos Cavaleiros seriam aqueles a formar aquela nova geração para o momento que se aproximava?

Ao chegar no anfiteatro, foi saudado por todos com reverências e flores de oliveira da grande árvore presenteada por Athena aos humanos, o que muito agradou Shion. O perfume daquelas flores despertou saudade de um tempo há muito distante.

A Alta-Sacerdotisa, Berenike, o aguardava ao lado de suas Saintia e das Amazonas do Santuário que auxiliaram como Guardiãs durante a Plyntheria, mas tinha um semblante sério apesar do porte altivo que lhe era característico. Saudou o Patriarca com leve curvar para frente, mantendo-se mais atrás.

Com gestos suaves de suas mãos enrugadas, Shion pediu silêncio a todos para que pudesse para que, finalmente, pudesse pronunciar.

— O perfume das oliveiras, tão forte aqui hoje, faz-me lembrar de uma história há muito contada pelos anciões de Rodório. Contada até hoje. — dizia o Shion se voltando para o público já silenciado. — Conta-se que uma jovem chegou durante a Plynteria, surpresa e admirada com os preparativos para consagração à deusa que acontece desde tempos imemoriais. No entanto, quando uma ameaça se fez presente, essa jovem revelou-se como Athena e defendendo os cidadãos que a acolheram naqueles dias num pequeno vilarejo que traz aqui seus inúmeros descendentes. Em promessa, uma grande oliveira foi presenteada a esses cidadãos, mantendo-se forte e grandiosa... — e abriu os braços. — ... e da qual saudamos Athena na data de hoje.

Muitos levantaram os braços com ramos da árvore, deixando o perfume e o pólen ganhar o ar meio a palmas e ovações.

Cavaleiros e aspirantes nas arquibancadas do anfiteatro apenas assistiam, ansiosos para os dias que viriam e o Grande Mestre percebeu isso em suas expressões apreensivas.

— Cavaleiros e aspirantes, este é o momento que tanto ansiavam. — ele falou com sua voz rouca, dirigindo o olhar para cada um dos presentes. — Os torneios não são meros jogos, mas uma provação para a deusa sobre o quão preparado estão para os tempos difíceis que cairão sobre a Terra, das ameaças que visam subjugar a humanidade... — e pausa, voltando-se para cada um deles. — Em suma, estarem preparados para lutar ao lado de Athena. Morrer pela deusa.

O Grande Mestre observou a reação de cada ouvinte presente. Alguns demonstravam grande expectativa, enquanto outros pareciam indiferentes. Quanto tempo fazia desde que ele mesmo havia escutado palavras similares de seu antecessor? 220 anos? Mais? Menos? Até algum tempo, saberia precisar melhor a data.

Olhou discretamente por cima do ombro, vendo Arles próximo a ele, parecendo apreensivo. O tinha como a um irmão e, internamente, lamentava que muito do que iria acontecer estava para cair em seus ombros. Era inegável que o outrora Cavaleiro de Áries estava cansado. Apenas esperava que seu corpo fosse resistir o suficiente para guiar aqueles jovens para um bom destino.

— Cavaleiros e aspirantes, chegou o momento de colocarmos a prova todo o conhecimento adquirido ao longo desses anos de treinamento árduo. A mais dura das lições, onde a recompensa será a glória de integrar as fileiras principais do exército da deusa Athena. — Ele retomou, erguendo a voz. — QUE OS JOGOS COMECEM!

Ovações do público. Saudações de civis e soldados que tomavam a arena do anfiteatro. Palmas ecoaram por longos instantes mesmo quando o público começava a se dissipar para abrir a arena para os combates que se realizaria a partir da manhã seguinte.

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A Panatenaia, a festa de consagração à Athena, embora tivesse como principal atrativo o torneio entre aspirantes a Cavaleiros, e mesmo entre Cavaleiros, remetendo o papel de Athena às guerras sacras e primordiais, também contava com outros eventos menores para aqueles que não assistiriam aos combates na arena.

Rodório era o único espaço que mantinha as tradições antigas como música e danças, encenações de lendárias batalhas e ou mesmo da história contada pelo Grande Mestre. A ‘imolação do boi’ ainda era uma das tradições também mantidas, sendo oferecida ao povo durante os dias de festa.

As encenações eram, em sua maioria, promovidas pelos Cavaleiros já sagrados com disputas na arena em honra à deusa, sem morte. No caso dos aspirantes, os riscos eram grandes, cabendo a escolha de cada um. Isso os assustava, mas também os excitava. Na próxima manhã, aquela arena de pedras claras e areias brilhando com o sol seria banhada de sangue e suor.

— Um dia de festa, outro dia de lutas. — comentou Aiolos meio às ovações e assistindo a dissipação do povo acompanhando alguns músicos em direção a Rodório. — Talvez amenize a apreensão dos aspirantes para o dia de amanhã. Será um dia de verdadeiras glórias e derrotas.

— E você acha que estão preparados para o que virá amanhã? — indagou o Geminiano com o olhar fixo às arquibancadas fitando esses mesmos aspirantes, conversando e rindo, alguns poucos descendo para acompanhar o cortejo. — Não me parecem preparados ou mesmo fazer ideia daquilo que os aguarda amanhã.

— Bom... nem mesmo nós dois sabíamos o que nos aguardava quando fomos colocados à prova nessa arena. — apontou o sagitariano cruzando os braços tal como o amigo estava. — Acho que nem mesmo nós dois estávamos realmente preparados.

— Não, você não entendeu, Aiolos. — continuou o outro mantendo a seriedade no olhar. — Esses aspirantes ainda não entendem o que é tudo isso. Nesses últimos dias tenho assistido aos seus treinos e posso dizer que não pareciam aspirantes a Cavaleiros, mas crianças brincando de luta.

Sagitário franziu o cenho e se voltando ao amigo. Coçou o queixo enquanto observava o Grande Mestre ainda junto da Alta-sacerdotisa recebendo alguns presentes dos anciões e crianças de Rodório.

— Ah... Onde está querendo chegar com isso, Saga? — indagou Aiolos intrigado com aquilo. — Muitos desses aspirantes foram treinados por Cavaleiros, como o Aiolia, ainda que ele não vá tentar o torneio desse ano. Afrodite, aquele jovem que trouxe comigo e Selene... — lembrou ele apontando para o amigo. — Ele tem bom potencial, tanto quanto vimos com aquele aspirante quanto com Milo...

— Aquele garoto foi movido pela provocação e conteve seu poder...— pontuou o Geminiano se voltando para o companheiro ao seu lado. — ... enquanto com Milo apenas buscavam testar sua resistência. Diria que contra o moleque com ferrão foi um embate interessante...

— Eles poderiam ter se matado, Saga! — censurou Aiolos.

— Mera falta de maturidade, mas engenhosos. — Acrescentou o Geminiano mesmo sob censura do outro. — Será que é isso que veremos amanhã? Será que esses aspirantes estão preparados para um embate sem hesitação quando estarão testando os limites de suas forças?

— Os torneios visam provar se estão realmente prontos para se tornar Cavaleiros. Não partirão para uma guerra!

— Não ainda. — comentou gêmeos olhando-o de lado. — Se uma ameaça caísse sobre nós hoje, agora. Diga-me, Aiolos. Acha que esses aspirantes ou mesmo Cavaleiros estariam preparados para matar o inimigo?

O Sagitariano tentou falar algo, mas calou-se mediante aquela questão. Continuou a olhar o amigo Dourado e voltando-se posteriormente para os aspirantes e outros Cavaleiros. Ficou em silêncio por longos minutos até ouvir um suspiro do Dourado ao seu lado.

— Uma coisa é algo realizado em treinamento, onde existe um rigoroso controle do que acontece. Mas em um conflito real? Sabe muito bem que em um conflito real é matar para não morrer. Muitas vezes literalmente. Então, estarão esses... — Saga apontou discretamente em direção à arquibancada. — aspirantes...— e depois de volta à arena do anfiteatro. — ...prontos para tirar uma vida? Para sentir o sangue de seus inimigos escorrendo pelas mãos? Para ver seus amigos morrerem bem diante de seus olhos, sem que possam fazer qualquer coisa para salvá-los? Estarão prontos para mergulhar de corpo e alma no real significado de “Servir a Athena”?

— Compreendo o que quer dizer, mas amanhã não será uma guerra, mas uma prova se estão aptos ou não a serem Cavaleiros, Saga. — respondeu Aiolos após alguns minutos assimilando aquelas palavras. Não discordava, mas algo o incomodava embora não soubesse exatamente o quê. — Fala como se fossem digladiar nessa arena.

— Temo que vá se assustar com que direi ou mesmo não aprovar o que vou falar, Aiolos, mas... — Disse Saga se voltando para ele, com um sorriso de canto. — ... aquele que ficar de pé é aquele que teríamos certeza estar preparado para a Guerra Santa da qual fomos treinados. Seleção natural, não?

O Sagitariano piscou aturdido para o amigo, mas o que poderia dizer se estava certo em suas palavras, ainda que não concordasse inteiramente com a maneira que estava a se expressar? Por fim, restava apenas respirar fundo.

Quando viu o movimento da guarda pessoal do Grande Mestre e as guardiãs da Alta-sacerdotisa se moverem, sabia que era hora de guiar o Patriarca de volta ao seu templo. Seguiu a viagem em silêncio e contemplativo sobre aquela conversa. “Por que há algo me incomodando tanto nessa conversa com Saga?”, indagava-se o Dourado de Sagitário.


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O som das portas duplas do salão se fechando, ainda que não violentas, fizeram a Alta-Sacerdotisa estremecer levemente. Arles apenas se aproximou com uma bandeja com uma jarra e uma taça para servi-la com água devido ao calor daquele dia.

Berenike acompanhou toda procissão, incluindo um passeio de barco ornado com véu de Athena até a Ilha dos Curandeiros e aportando em Rodório até seguir ao Santuário. Junto a Alta-sacerdotisa estava as jovens com seus cestos com utensílios para os sacrifícios resultando na imolação do boi, que era servido após o anúncio do Patriarca do Santuário. Rapazes que zelavam o lado de fora do templo carregavam cestos com óleos e vinhos,  para a celebração dos jogos, e anciões com seus ramos de oliveira, purificando o caminho que a estatueta da deusa seguia.

Havia sido um dia longo!

Após refrescar-se, a dama do templo assistiu o Grande Mestre remover seu elmo e revelar os cabelos longos e prateados e uma feição com as marcas do tempo sorrir-lhe. Sinalizou para Arles, vendo-o deixar a bandeja sobre uma mesa próximo ao trono e deixando-os a sós. O velho homem a guiou até os fundos de sua sala, revelando a escadaria que levava ao templo da deusa onde repousava a Varvakeion, uma das raras réplicas originais da Athena Parthenos — esta originalmente no Paládio, o seu templo, em Atenas.

As jovens sacerdotisas e os rapazes já haviam se retirados após toda a ornamentação. O perfume das flores de oliveira era presente.

— Toda vez que venho aqui, sinto uma paz, foge-me os medos e as dúvidas. Inspira-me coragem! — disse a Alta-Sacerdotisa fechando momentaneamente os olhos e aspirando o perfume. — Talvez fosse isso que precisasse.

— Além de um bom descanso pela longa viagem que fez. — disse Shion aproximando-se, parando ao seu lado.

— Penso no quão cansativo era quando minhas antecessoras precisavam percorrer toda a Ática enquanto prestavam homenagens à deusa. No entanto, ao longo dos anos tudo tem se perdido. — Lamentou ela, abrindo os olhos. — Sei que há algumas cidades próximo de Atenas que realizam os festejos como ‘Dia de Athena’, mas estão distantes das tradições que Rodório tem mantido na sua forma mais fidedigna de seu tempo. Templos se perderam, sacerdotisas se tornaram uma raridade.

— Compreendo o quão seja difícil. Mesmo em minha juventude percebia o quão diferente era fora de Rodório e do Santuário... — comentou o Grande Mestre de maneira nostálgica. — ... e nesses mais de duzentos anos posso dizer o quanto dessa cultura é difícil de ser preservada.

— Fazemos aquilo que nos é possível, Shion. — Sorriu berenike um tanto triste. — Temo que não encontre alguém que possa me suceder.

— É isso o que a preocupa? — indagou o velho mestre a fitando, com os braços para trás. — Percebi seu semblante. Se não a conhecesse eu diria que isso a estaria preocupando, mas sinto que há algo além.

Berenike baixou o olhar e caminhou pelo terraço, contemplando a vista de todo o Santuário. A brisa daquele fim de tarde era maravilhosa, assim como o entardecer do qual Atenas não permitia assistir com tamanha admiração.

— Em parte... sim. — forçou um sorriso. — Como disse, temo não encontrar alguém que possa me suceder já que sacerdotisas realmente devotas tenham se tornado cada vez mais difíceis de treinar e ou mesmo com o dom. É algo que o tempo está apagando, Shion. — e voltou-se para ele com um semblante triste. — Perdi as contas de quantas jovens se deixaram perder nesses longos anos que cuido do templo em Atenas. Não são capazes de sentir qualquer nuance próximo a elas...  — e baixou o olhar, franzindo o cenho. — ... e mesmo agora senti-me surpresa em ser tocada com algo assim... tão forte.

— Na última vez que aqui esteve e conversamos, disse que tempos sombrios se aproximavam. — relembrou o Patriarca mantendo-se onde estava, mas fitando a Alta-sacerdotisa. — Sobre Athena também sofrer grandes atribulações.

— Sim, mas o que antes tratei como mera suspeita, agora afirmo esses presságios, Shion. — e a mulher voltou-se para ele, com um olhar aflito.

— Athena vem à Terra a cada... 200 anos, em média, ou quando um grande perigo ronda o Mundo dos Homens.  Diria até que... — e olhou para o céu, onde o sol já desaparecendo no horizonte. — o ciclo tá para se completar.

— No entanto, as suas... atribulações... acontecerão antes mesmo... que Athena... se torne a deusa... que espera, Shion. — disse a Alta-sacerdotisa como se tivesse um nó na garganta. — A deusa estará conosco muito em breve, mas há uma sombra caindo sobre ela.

— Do que está falando, Berenike? — indagou Shion intrigado com aquilo, principalmente porque os olhos da mulher pareceram se perder, assustados, enquanto dizia aquilo.

— Ela fala de dor... das dúvidas de nossa deusa... da descrença... — a mulher falou e fitou Shion diretamente em seus olhos e percebendo a apreensão do mesmo. — ... e sangue! “Um fio dourado sob a lua, o sangue jorrando sobre o véu branco na mais escura e silenciosa noite”, foram as suas palavras...

— Berenike...

— Eu vi, Shion. Ela... Ela mostrou para mim...! — e e trazia as mãos para junto do corpo, como quem apontava para si mesma. — Eu vi! Aqueles olhos... — e levou a mão frente ao rosto. — ... transbordando ódio e tão sedentos de sangue...

— BERENIKE! — Shion a segurou pelos braços, não colocando força, mas sacudindo-a de leve para ter novamente sua atenção para ele, percebendo-a chorar e o corpo da mulher tremer. — Do que está falando? Quem lhe mostrou isso? Quem lhe disse isso?!

— A sua Amazona, Shion. — respondeu a mulher provocando uma expressão de surpresa no velho mestre. — Foi a sua Amazona de Prata que me pediu para que a observasse há algumas semanas quando solicitei para que fossem nossas guardiãs no templo. — respondeu ela fitando o Grande Mestre que a segurava, aturdido. — Eu vi o brilho de seus olhos...— e sentiu ele soltá-la, vagarosamente, enquanto recuava. — Os seus olhos eram... eram como o céu... — e se volta para trás, vendo o céu violeta, já com início da noite. — ... ao pôr-do-sol... como... como crepúsculo dos deuses...!! — e admirou-se.

— Ela lhe disse isso...?! — questionou Shion perplexo.

— Disse. — e a sacerdotisa respirou fundo. — Ela estava diante de Athena, frente sua fonte com a água mais pura e perfumada enquanto me dizia isso. Todas já estavam deitadas quando a encontrei porque senti que havia algo. Levantei-me e a encontrei, contemplativa. Era como se esperasse por mim e me falando sobre Athena. Quando a toquei, eu vi a sombra sobre a pequena deusa. Com o susto, eu a soltei sem ver quem era, e foi quando aquela jovem desmaiou em meus braços. Ela não parecia lembrar-se de nada!

— Selene viu Athena...?— e viu a mulher assentir. — Está me dizendo que ela teve uma visão de nossa deusa? Ela é...

— Há muito não ouço falar de alguém assim, Shion. Elas desapareceram há muito tempo após terem seu templo profanados... sendo esquecidas. — a Alta-sacerdotisa caminha alguns passos, ficando de costas ao velho mestre, olhando a lua surgir mais adiante. — Não acredito que isso seja uma coincidência.

— Então, minhas suspeitas se confirmaram. — suspirou o Grande Mestre ainda atônito. — Esse poder crescente dela, os tormentos provenientes dessas visões...

— Selene é uma Pitonisa, Shion. Uma rara sacerdotisa perdida de Delfos.


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A noite já tinha caído sobre o Santuário quando uma figura surgiu no pátio do terceiro templo do Monte Zodiacal. Após a longa viagem de Atenas, passando pelos vilarejos até chegar ao Santuário, finalmente estaria liberada de seu dever como uma Guardiã do Templo de Athena. Agora seria somente a Amazona de Prata de Pyxis.

Os primeiros fogos da festa do júbilo da deusa brilhavam no céu, vindos de Rodório. Selene removeu o capus do manto e ficou a contemplar aquela imagem enquanto sua mente remetia há alguns anos quando chegou ali com dois garotos que a salvaram de ser atacada — e até mesmo morta — naquele prédio abandonado. Ela os guiou ao Santuário de maneira tão livre que era como se sempre tivesse vivido ali.

Chegaram numa noite de festa da Panatenaia. Admirou-se com as Amazonas e Cavaleiros quando avistaram até que os mesmos garotos que a atacaram surgiram novamente e separando-a dos gêmeos.

Por anos viveu em Jamir até reencontrá-los novamente no Santuário. Agora, ela era uma Amazona de Prata, Saga um Cavaleiro de Ouro. “E Kanon me odeia por isso”, lembrou-se ela juntamente com o reencontro nada amistoso com o gêmeo mais novo.

Por fim, seguiu para entrar no templo visando encontrar o gêmeo mais velho. Apenas trocaram um rápido olhar no anfiteatro quando estava frente ao Grande Mestre em seu pronunciamento de abertura das festas enquanto ela atrás da Alta-Sacerdotisa. Após aquelas semanas distante, apenas queria, novamente, sentir o calor de seu corpo novamente.

Ela o viu quando Saga acompanhou o Patriarca de volta ao seu templo, e após encerrar seu dever e apresentar-se de volta a Mestre das Amazonas para reassumir seu posto junto ao Santuário, a festa em Rodório ficaria para depois. Acreditava que, naquele ínterim, já pudesse reencontrá-lo em Gêmeos, mas tudo estava silencioso, escuro... e estranho.

“O que é isso? O ambiente parece... pesado”, pensou ela enquanto caminhava pelo templo, observando entre as pilastras acolhida nas sombras. A cada passo, ecoava sinistramente pelo ambiente, até que num dado momento voltou-se para trás, desconfiada.

“Que sensação é essa? É como se... seu eu... estivesse sendo... observada!”, pensou, enquanto buscava por alguém naquele lugar, mas não sentia qualquer presença, nem de Cosmo ou de aura quando empregou um mínimo de seu poder para buscar por aquela presença anônima.

“Selene...!”

A Amazona se recolheu no momento que a voz ecoou distante, assustando a Prateada.  “O que foi isso? Essa voz ecoou diretamente em minha mente como se tentasse falar comigo, mas ela... se perdeu!”, pensou ela, continuando a procurar até perceber um resquício de luz, fraca e perdida nas sombras.

Ao aproximar-se o mesmo desapareceu, mas ela foi capaz de tocá-lo, ainda que por alguns segundos.

— Eu... eu reconheço essa energia... — disse baixinho quando era somente um pensamento ganhando voz.

Novamente percebeu o ponto de luz, esse pouco mais intenso que anteriormente e esticando o braço para tocá-lo, mas desta vez havia um calor humano que a fez arregalar os olhos por baixo de sua máscara.

— K... Kanon...?!!


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Notas finais do capítulo

Escrever um capítulo é sempre um desafio. Pesquisar sobre mitos, consagrações, eventos e explicar cada um desses pontos para o leitor de modo didático e objetivo enquanto busco manter fluído meio à narrativa e diálogos, é tenso! Por outro lado, fico feliz porque deixa a história rica e passa mais informações de algo que não foi abordado na série pela falta de oportunidade e de modo a não fugir demais da história. Aqui busco inserir um pouco disso e espero que não fique chato para nenhum de vocês.

Algumas notas desse capítulo.
• A primeira conversa de berenike e Shion acontece no capí-tulo 55 (Dualidade 13)
• O ciclo da qual Shion fala é a proximidade com a Guerra Santa contra Hades. Tomamos o tempo de 243 anos como fechamento do ciclo com o tempo que Plutão leva para dar um círculo completo no Sol. Na mitologia romana, ‘Putão’ remete ao hades grego.



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