Saint Seiya Memórias: História Oculta Do Santuário escrita por Katrinnae Aesgarius


Capítulo 61
Livro 2 :: Dualidade - Ato 18


Notas iniciais do capítulo

Nota 1: As falas de Saga ganharão uma formatação especial. Quando estiver em Itálico simples, serão falas do Saga, mas quando em Itálico-Negrito, será a segunda voz. A ideia é causar, exatamente, certa confusão, a Dualidade proposta nesse ciclo.

Nota 2: A conversa entre Aiolos com Saga para ser Grande Mestre acontece no capítulo 48 (Dualidade, Ato 8).



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Saga despertou sozinho, ainda nas primeiras horas da manhã, completamente revigorado. Olhou para o lado e se descobrindo sozinho, ainda que sentisse seu perfume de rosas no lençol da cama. Suspirou um pouco inconformado, mas sabia que as coisas tinham de ser desse jeito, e mais uma vez amaldiçoou aquela lei estúpida do Santuário que impedia o relacionamento de um Cavaleiro com uma Amazona.

Permaneceu ali, deitado, relembrando ao máximo do que aconteceu antes de dormir. Do toque e da textura de sua pele alva. Dos lábios doces e do olhar sobre ele. Do sopro de sua voz enquanto se amavam e do ressonar suave dela quando adormeceu em seu peito pouco após dizer que o amava. Ele queria aquilo para si. Desejava isso, para todos os dias.

Contudo, sabia que, enquanto estivessem a serviço de Athena, aquele prazer mundano continuaria a ser negado, tanto para ele como para ela. Era algo triste e revoltante ao mesmo tempo. Ele lutava para que todos pudessem ter aquele momento para si, enquanto o próprio Geminiano não podia usufruí-lo. Sentia-se injustiçado.

Levantou-se, totalmente despido, olhando para a janela aberta, observando o nascer do sol banhar todo o Santuário para um novo e longo dia. Suspirou, seguindo até uma mesa onde tinha um vaso de cerâmica com água fresca onde poderia lavar seu rosto.

Afastava aqueles pensamentos de desejo, não inteiramente saciado após aquela última noite, e raiva, por não despertar apreciando seu sorriso e seus belos olhos violetas sobre ele. Porém, aquele era um sacrifício que ele aceitou fazer, quando se tornou um Cavaleiro. Ninguém o obrigou a tomar aquele caminho.

Ainda assim, não conseguiu evitar de sentir certo descontentamento.

Tão logo fez seu desjejum se retirou para o campo de treinamento, encontrando Aiolos no caminho. Por um momento, lembrou-se da forma com a qual o tratou no dia anterior e sentiu-se envergonhado. Ele era o seu melhor amigo, alguém que devia estar tão preocupado com ele quanto Selene e havia sido frio no trato com os dois movido pelo ciúme. Precisava desculpar-se adequadamente com ele e não se deixar instigado por aquele maldito...

— Saga! — chamou Aiolos voltando-se para ele, com um sorriso sereno. — Não achei que fosse aparecer aqui tão cedo.

— Sinto até que estava atrasado. — comentou Gêmeos, disfarçando seu desconforto, olhando os aspirantes no aquecimento na arena. — Parecem bem animados. A arena cheia assim, tão cedo.

— O torneio se aproxima, todos querem estar preparados para conquistar suas armaduras. — comentou Sagitario, cruzando os braços. Estava sem sua indumentária, somente com as vestes básicas de treino e reforços de metal e couro. — A maioria está otimista e bem animada.

— Não vejo as aspirantes a amazonas. — comentou o Geminiano percebendo a ausência de mulheres no coliseu, franzindo o cenho.

— Bom, elas possuem suas próprias regras. De certo deve haver um torneio à parte onde apenas as selecionadas participarão do evento. — explicou o sagitariano. — Na verdade, elas têm estado ausentes ao longo da semana, com apenas àquelas já consagradas cumprindo seus deveres em patrulhamentos.

— Entendo... — disse Saga com certo contragosto. — Essa particularidade das Amazonas me desagrada um pouco. — comentou, fazendo Aiolos olhá-lo de soslaio. — Isso, meio que ainda, mantém certo preconceito com relação às mulheres em nossas forças.

— Concordo. — assentiu o Dourado de Sagitário. — Quem sabe, quando for o Grande Mestre, o Patriarca desse Santuário, não extingue essa regra unificando o exército oficialmente?

Gêmeos se voltou para o amigo, franzindo o cenho. Ele estava, novamente, a nomeá-lo Grande Mestre?

— Aiolos, de novo com isso? — bufou o Geminiano, dando meia volta e caminhando, seguido pelo amigo que parava ao seu lado. — Por que insiste?

— Porque sim.  Já disse e repito: você é mais racional que eu, consegue ter uma frieza lógica nos momentos mais tensos, manter a calma e o foco. — pontuou o amigo. — Sem contar que somos os mais velhos dentre os Cavaleiros de Ouro.

— Quer dizer os dois únicos. — corrigiu Saga se voltando para ele. — Espero apenas que esse torneio consagre tantos outros que aguardam por isso como aquele sempre isolado na Sexta Casa, o espanhol com a espada sagrada ou Mephisto, aquele que trouxe da Itália. Sem contar o moleque das armaduras que é aprendiz do próprio Grande Mestre.

— E o jovem que Selene trouxe. — acrescentou Aiolos parando os passos e fitando Saga, vendo o Geminiano parar mais à frente e se voltar para ele. — Sim, a Selene acredita que ele tem forte potencial para ser um Cavaleiro de Ouro.

— Para um Cavaleiro de Ouro ele precisaria ter desperto o Sétimo Sentid... — comentava o Geminiano quando notou o olhar incisivo do amigo. — Espere aí! Não está me dizendo que ele tem o Sétimo Sentido... ou está?

— Bom, Selene acredita que ele tenha potencial. — e o companheiro dourado deu de ombros. — Foi ela quem me disse isso ao longo desse tempo que tem treinado com ele. Falou do seu potencial de seu Cosmo e do quão habilidoso ele é. — e riu contidamente. — Vale lembrar que o encontramos junto de Halfeti. De certo percebeu o potencial do garoto e vem treinando-o desde então.

— Ainda sou desconfiado com relação a esse garoto. — comentou Saga olhando em direção da arena que deixou para trás. — Mas não posso negar que ele, realmente, tenha potencial depois do que vimos ontem.

— Em breve, essas Casas Zodiacais, tão logo terão seus guardiões como há muito não os têm. Estaremos preparados para a Guerra Santa que está por vir. — disse Aiolos confiante.

— Athena nem mesmo nasceu, Aiolos... — sorriu Gêmeos. — Enquanto Athena não for uma figura presente, apenas teremos de lidar com ameaças pequenas, aproveitar esse breve momento de paz. — e fez uma careta. — Não é a paz que queremos, mas...

— Já se passaram mais de 200 anos. — pontuou o sagitariano. — O Grande Mestre está cansado, é um Cavaleiro da última batalha contra Hades. Nós dois sabemos do quanto ele está preocupado com isso. O selo logo vai perder sua força e ele não poderá estar aqui quando isso acontecer. Logo...

— Pare com isso, Aiolos. — censurou o outro, ouvindo-o rir daquilo. — Sabe o que acho? Que devemos descer naquela arena e fazer uma disputa de força como há muito não fazemos.

— E mostrar aos aspirantes o que é um treino de verdade? — Sagitário se animou.

— E deixar as apostas ganharem valor altíssimo antes de fecharmos, com a minha vitória, claro.

— Há! Tá se achando demais, Cavaleiro de Gêmeos. Acho que certo Sagitário aqui deve mostrar onde é o seu lugar. — Aiolos desafiou. — Vamos tirar a prova disso, agora!

Os dois riram, voltando pelo caminho em direção da arena enquanto discutiam quais regras seguiriam. Nem mesmo perceberam quando uma sombra desapareceu por entre as árvores.


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Um ínfimo Cosmo foi o suficiente para perturbar sua concentração meio ao seu jardim, levando-o a franzir o cenho. Dentro do Santuário era comum aqueles choques de energia, mas aquele, era peculiar. Foi um mero lampejo, ‘invisível’ a qualquer um, mas não para ele. Aquele pequeno choque, se é que poderia descrever assim, era diferente de qualquer outro.

"Sinto uma perturbação no Cosmo... e este me parece familiar", pensou o jovem de madeixas douradas enquanto em meditação no Sexto Templo. "Sinto o medo, a aflição, o terror... mas tudo se perdeu como se um fio tivesse se rompido".

Suspirou, mas manteve seus olhos fechados enquanto silenciava seu Cosmo que fora perturbado naquele segundo. A brisa era fresca e trazia um perfume do orvalho. Estava amanhecendo. O sussurrar das folhas das duas árvores gêmeas, as únicas daquele jardim, pareciam dizer-lhe algo, como se as mesmas estivessem sincronizadas à sua mente sobre aquele momento.

Envolveu a japamala em seu pulso e desfez sua posição de meditação colocando os pés descalços na grama verde. Não usava vestes de treino como a maioria dos aspirantes, mas tipicamente de monges budistas — um manto amarelo, chogyu, que cobria seu corpo, e outro vermelho, zen, pendido em seu ombro direito cruzando o tronco e preso à cintura — que representavam a sabedoria e a concentração, respectivamente. 

— Isso não é o poder de um Cavaleiro comum... — dizia Shaka para si mesmo com suas madeixas loiras nublando sua face. — Existe um resquício incomum de Cosmo. Somente uma pessoa denotou algo assim...


───────.∰.───────

Era noite, e pela posição das estrelas, início da madrugada. Alguém se esgueirava pelos corredores com uma respiração pesada ao mesmo tempo ofegante. Parecia cansado, derrotado, mas também hesitante. Os seus murmúrios, ainda que incompreensíveis, denotavam rancor e medo.

“Não... posso...!”, foi a única fala, ainda que estrangulada, que se fez ouvir seguida de uma ânsia.

Naquele mesmo instante, puxava todo o ar para si e levantou o corpo, escorando-se na parede enquanto olhava para ambos os lados do corredor. Voltou-se para frente como se estivesse diante de alguém, assentindo. Em seguida, baixou a cabeça, levando uma mão ao rosto, com a palma aberta. Estava envergonhado por algo.

“O que está acontecendo?”, questionou-se enquanto assistia aquilo sem que pudesse emitir uma única palavra. Tentou, mas nenhum som era capaz de sair de sua boca, como que se tivesse sido silenciada. Verdadeiramente sentiu-se sufocada pelo miasma que emanava ali. As lágrimas que surgiam quente em sua face eram de sangue, tal como via no rosto daquele escorado no corredor.

Esticou o braço para alcançá-lo, mas nem mesmo conseguia aproximar-se. Na verdade, parecia se afastar a cada tentativa enquanto era engolida pela sombra daquele corredor desconhecido.

Sussurros ecoaram acompanhados de um riso que fez com que recolhesse o braço para junto do peito. Tornava-se difícil respirar naquele instante. Caiu ajoelhada num chão de sangue e fogo. O desespero começava tomar conta.

“Você não pode...”

A voz gutural ecoou claro o bastante aos seus ouvidos, assustando-a. Diante dela, aquelas grandes olhos vermelhos e em chamas. Sabia que gritava, mas não se podia ouvir.

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.

Tal como naquela manhã, Selene abriu os olhos assustada, deixando-as brilhantes como nebulosas. Sentiu-se momentaneamente sufocada ao puxar todo o ar antes de se dar conta onde verdadeiramente estava. Demorou compreender as pedras, dos mais variados tamanhos e formas, flutuando a sua volta.

Quando soltou o ar, foi como se tudo voltasse a ganhar vida. De imediato, apenas abriu os braços criando escudos contra os respingos e banho da água do rio em virtude das pedras que caíram. O som da água corrente ganhou força e o canto dos pássaros se fez ouvir. Ainda que ofegante, respirou aliviada.

As mãos ainda estavam trêmulas quando recolheu os braços. Sentiu as lágrimas e, imediatamente, levou a mão para limpá-los temendo ser o sangue daquele pesadelo. Inclusive, as mãos estavam limpas de qualquer marca de queimaduras após tocar aquelas chamas que a envolveram antes de confrontar-se, mais uma vez, com aqueles olhos.

“O que é isso...? Quem é aquele que vejo... Por que ele me assombra?!”, questionava-se enquanto fechava os olhos, vendo flashes daquele momento que a intimidava o bastante para tensionar os músculos.

“Ódio. Havia ódio naqueles olhos tomado pelas chamas, mas havia alguém...”, pensava ela estremecendo ao se lembrar da imagem.

Ainda que breve, aquele ínfimo momento que aqueles olhos recaíram sobre ela, pudera ver alguém preso à correntes meio às chamas lutando para sair, arfando como àquela figura no corredor enquanto estava a se negar por qualquer algo. No entanto, a sombra e os sussurros pressionaram sua mente o bastante para mergulhar no vazio enquanto sentia-se sufocada o bastante para acordar.

Não sabia como Saga não havia despertado com sua ação tão abrupta. Ele tinha um semblante sereno o bastante para não querer acordá-lo após aquilo. Além do mais, logo estaria amanhecendo e ela não poderia ser vista ali, precisando partir antes que os primeiros raios de sol pousassem sobre o Monte Zodiacal. Isso sem contar de sua expressão de medo que viu refletido nas águas daquele rio quando chegou ali confusa e cambaleante, temerosa com sombras e do farfalhar das folhas das árvores que tinha impressão de rirem ou mesmo falar-lhe algo como quando naquele corredor escuro.

Buscou esvaziar sua mente e deixar que o som da água corrente a ajudasse a dissipar daquele medo, afastasse os sussurros e acalmasse sua alma. Até estava conseguindo, mas percebeu uma sombra a esgueirá-la e uma presença parecia vigiá-la mesmo naquele momento.

Numa rápida ação, anulou a gravidade à sua volta o suficiente para que se permitisse levitar, ao mesmo tempo que concentrou Cosmo o bastante em seu punho e lançando contra algumas árvores. Alguém havia bloqueado. Quem quer que fosse, ela sentiu acender o bastante de seu Cosmo e deixá-la alerta. O ambiente à sua volta se distorceu, criando dois planos paralelos com dois universos distintos.

“Isso é...”, ela arregalou os olhos por baixo da máscara, percebendo o golpe vir dos dois planos e o bloquear com um escudo invisível antes de desintegrá-lo como pequenos cristais. Estes concentravam-se em seu punho para que contra-atacasse seu alvo, destruindo pedras e árvores, criando um vale. Quem que fosse, havia desaparecido.

Selene não compreendeu. Seria ainda efeito do pesadelo ou uma ilusão propagada pelo mesmo? Receava, buscando qualquer vestígio de Cosmo quando sentiu um fio de energia às suas costas ao colocar novamente os pés no chão. Virou-se quando sentiu alguém bloquear seu golpe segurando-a pelo pulso.

— Ka... Kanon...?! — murmurou ela, surpresa, ao ver o gêmeo mais novo de Saga diante dela, arfando. De imediato, teleportou-se para outra pedra naquele mesmo rio, fitando-o de longe, ainda receosa. — É você mesmo...?

— Não sou um fantasma, mesmo porque não estava morto. — disse ele levando a mão à boca e sentindo o corte nos lábios. — Essa recepção toda... Sei que as aspirantes a amazonas são agressivas em seus campos, mas não imaginei que fosse para tanto.

Selene o olhou apreensiva, mas também sentia-se aliviada ao vê-lo. Desde o dia em que discutiram que a jovem não tinha notícias a seu respeito. Sentiu um impulso de lhe perguntar como estava, de desabafar um pouco, porém deteve-se. Estaria Kanon aberto o suficiente para conversar?

— O que está fazendo aqui...? — A amazona questionou, optando por testar primeiro o terreno onde pisaria. — Eu pensei que você...

— Isso importa? — respondeu de modo interrogativo, mas mantendo um olhar curioso sobre ela.

— O-ora... ! Claro que importa!  — respondeu ela após aquele corte frio vindo dele. — Kanon, eu fiquei preocupada com você! De como você se sentiu naquele dia em que conversamos! O seu desaparecimento! Temi que alguém o tivesse encontrado e... —dizia quando se calou mediante um arrepio que correu o seu corpo ao fitar aqueles olhos incisivos dele.

O outrora aspirante à armadura de Gêmeos sabia das consequências de seus atos. Sabia perfeitamente o que iria acontecer caso decidisse largar tudo e ir embora. E ele estava pouco se importando. Mesmo naquele momento, Kanon não ligava para a gravidade de sua situação.

Tudo o que queria lhe foi negado.

— Kanon, v-você está bem? — ela perguntou, respirando fundo e diminuindo um pouco da distância que os separava.

— No atual momento, melhor que você que parece muito assustada a ponto de fazer o que fez agora... e ainda parece temerosa com alguma coisa. — comentou ele franzindo o cenho. — Posso não ver seus olhos, mas sinto que está tensa por alguma coisa. Tem a ver com Saga?

Selene hesitou, chegando a levar uma mão ao peito e cogitar dar um passo para trás. Estava tão evidente assim a sua aflição ao ponto de ser percebida daquele modo?

— N-não... não com o Saga... — ela murmurou em resposta, sentindo um novo calafrio ao lembrar. — Eu não sei ao certo como explicar, porque nem eu consigo compreender ainda o que é... Só sei... Só sei que é muito assustador...

O semblante de Kanon, antes duro, tornara-se preocupado. “Será que ele também...”, pensou ele lembrando-se daquela noite quando viu aqueles olhos vermelhos e intimidadores do irmão, aquele tom tão incomum e uma presença tão forte. Jamais havia sentido algo assim como naquele dia.

— Assustador como? — indagou ele de maneira cuidadosa, fitando-a.

— Eu não sei explicar direito... É uma sensação intimidadora... Parecia noite, alguém parecia cansado e... de repente... alguém apareceu... eu lembro de ter visto lágrimas de sangue... Era difícil de respirar... — Descrevia ela, enquanto mal notava seus olhos marejarem e molharem o seu rosto mais uma vez. — E-eu não sei! Não sei o que estava acontecendo, mas... parecia muito errado!

— E ele... — Kanon engolia a seco, umedecendo os lábios. — Fez algo com você? — Agora era ele quem tentava uma reaproximação. — Digo... não sei...

— N-Não...  Ele não podia me tocar... — Selene falou, estremecendo.

“Não foi ele. Ele não faria nada com ela... Embora, sua reação seja como a minha naquele dia quando pareceu mexer diretamente em minha mente e me mergulhando em pesadelos”, lembrava Kanon enquanto a via falar, mas já nem bem escutava direito.

Fora levado ali porque sentiu um Cosmo perturbador há poucos instantes, encontrando-a no rio após criar escudos contra as pedras que fazia flutuar à sua volta. Não parecia estar treinando porque se mostrava assustada com alguma coisa ainda que nada visse ou mesmo sentisse próximo dali. Até mesmos estava disposto a ir embora quando pressentiu o ataque, usando a ‘Outra Dimensão’ para chegar até onde ela estava e perceber a quão tensa se mostrava.

— Enfim... Boa sorte! — disse friamente, embora ainda se mantivesse intrigado.

— Kanon, espera! — Selene o chamou, levando uma mão em sua direção como se pudesse alcançá-lo. — E você?! Para onde vai?! Por que... Por que não se entrega?

— Entregar-me...? — ele se virou para ela, olhando-a com surpresa. — Por que deveria fazer isso?

— Não farão nada contra você. O Grande Mestre está ciente que eu fui a causadora do que houve... — ela se explicava, notando que ele se virava de frente para ela novamente, rindo.

 — E o que ele vai fazer? Vai tirar a armadura de Saga e realizar um novo embate ou simplesmente terei de aceitar os termos calado enquanto aguardo nas sombras? — indagou ele com explícito cinismo e escárnio.

— Não tem que ser assim, Kanon. — ela dizia, sentindo um aperto na garganta por aquilo, sentindo ainda o seu ressentimento.

 — Fácil dizer quando não foi você quem foi humilhada diante de tudo e de todos como "aquele que fugiu", "o covarde irmão que se desapareceu em meio ao embate" e tantas outras merdas que já ouvi nos corredores desse Santuário... — ele dizia abrindo os braços e entoando deboche. — Agora quer que eu volte para ficar à sombra do meu irmão? Não, muito obrigado! Eu não serei mais sombra de Saga.

 — Mas você não é a sombra de Saga! — afirmou ela fitando-o. — Você é... é.... — buscava palavras, mas ainda tinha a mente muito perturbada pelos recentes acontecimentos. — Você! Não tem o porquê continuar fugindo por algo que não fez...

— Sim, porque foi VOCÊ... — exclamou o rapaz, apontando na direção da amazona que estremeceu naquele momento. — ... quem provocou isso! Foi você a responsável pela minha humilhação e me jogar na sombra de Saga quando tenho buscado fugir dela. Tudo isso por quê? Dessa sua... afeição a ele. — cuspiu com desprezo.

— Está sendo duro demais com você mesmo... — dizia ela meneando negativamente. — Estou ciente do que fiz e quero corrigir isso com você, ainda que tenha feito isso para salvá-lo...

— NÃO DIGA ISSO!! — explodiu ele, saltando uma rajada de Cosmo de seu punho na direção dela, fazendo-a criar um escudo para bloquear aquele golpe repentino. — NÃO DIGA QUE ESTOU ABAIXO DO MEU IRMÃO. VOCÊ NÃO TEM O DIREITO DE DIZER ISSO! — continuava mantendo o ataque contra a Prata que sentia ser empurrada para trás.

Kanon cessou o golpe. Quando Selene percebeu, ele estava diante dela. "Quando foi que ele...", surpreendeu-se, sentindo as mãos dele tomarem seu pescoço, fechando sobre sua garganta enquanto ela o chamava.

— Pretende corrigir isso... Como? Acaso entregaria para mim a armadura de Gêmeos que você entregou ao seu amado Saga, Selene? — indagou num tom raivoso até ouvir seu soluçar e respiração falha, removendo sua máscara.

Os olhos dela estavam vermelhos pelas lágrimas, mas os olhos fixos para ele enquanto balbuciava pedindo perdão. Mais que isso, havia algo em seus olhos que fez com que Kanon ficasse compenetrado, momentaneamente perdido enquanto observava seu reflexo nele, como se enxergasse sua própria alma.

Aquilo fez com que ele a soltasse, permitindo-a respirar, tossir pelo ar. Ao baixar os olhos, foi como se um encanto fosse quebrado. Ficou a fitá-la, cambaleante, jogando a máscara dela no chão e recuando. Era ele quem estava desnorteado agora.

— N-Não... Não preciso... tomar a armadura... de Gêmeos... porque ela... será sua... um dia... — murmurou ela, meio a tosses, olhos ainda lacrimejando, voltando-se para ele. — Você... também é... um cavaleiro... apenas não está preparado para isso... agora...!

Ele fechou os punhos, mas nada disse. Engoliu aquelas palavras sem como reagir após aquele olhar tão incisivo dela sobre ele. O que viu, o intimidou o bastante para dar meia volta e sair, sem mais olhar para trás.

Selene apenas o acompanhava se distanciar, desnorteado.


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Notas finais do capítulo

Japamala (japamālā, जपमाला) é um cordão sagrado feito de contas, usado para ajudar o praticante de meditação a entrar no estado meditativo. É um objeto antigo de devoção espiritual, conhecido também como rosário de orações no ocidente. Japamala hindu de 108 contas com sementes de rudraksha, ou Lágrimas de Shiva.

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Sim, são quase dois meses. Ainda que esteja de co-autora de outra fic que Draconnasti chama de ~spin-off~ de Memórias, não abandonei qualquer uma delas. Estão caminhando a passos lentos porque as ligações com o Clássico são importantes. Por mais que seja releitura e minha interpretação, não posso mudar drasticamente os eventos.

Sabemos como vai acabar, mas até chegar esse ponto é preciso pisar cuidadosamente nesse terreno. Inclusive, temo estar enrolando demais, o que me permitirei adiantar eventos que pensei fazer nessa tríade de capítulos. No entanto, reservarei a partir dos três próximos onde espero iniciar e fechar e não estender em seis. Será importante, para os passos finais desse novel que já fazem três anos (Uau!) e espero conclçuir em breve. Creio não haver mais como adiar o inevitável.

No próximo capítulo veremos Interlúdio de Van Quine! o/

A próxima tríade, viagem de Selene à Atenas, revelações, tragédia!
Aguardem!!!


Um beijo a todos os novos leitores, favoritos e comentários.
Vocês me estimulam a continuar. Adoro vocês! ^^



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