Saint Seiya Memórias: História Oculta Do Santuário escrita por Katrinnae Aesgarius


Capítulo 59
Livro 2 :: Dualidade - Ato 16


Notas iniciais do capítulo

Nota 1. As falas de Saga ganharão uma formatação especial. Quando estiver em Itálico simples, serão falas do Saga, mas quando em Itálico Negrito, será a segunda voz. A ideia é causar, exatamente, certa confusão, a Dualidade proposta nesse ciclo.
Nota 2: As falas do Camus tem erros propositais demodo a emular sotaque, como palvras com fonética R sendo bem acentuadas.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/335604/chapter/59

Avistar o Santuário foi um alívio. Removeu o capuz que usava para ajudá-lo na caminhada sob o sol escaldante grego. A enxaqueca que o atormentava movida por aquela voz não o incomodava há dias, o que era outro motivo de tranquilidade. Não saberia o quanto poderia resistir em responder diante dos Prateados que o acompanhavam naquela missão diplomática.

A viagem de retorno durou apenas um dia. Descansaram o bastante no centro de Atenas antes de seguirem viagem do antigo delfos, onde Saga pôde usar sua "Outra Dimensão" como atalho, e seguirem o restante da viagem a pé, o que os levou a iniciar o percurso antes do nascer do sol. A intenção era de que pudessem chegar ainda naquela manhã, o que conseguiram.

Dispensou a todos e aconselhou a tarde de folga pela missão, enquanto ele apenas deixaria os documentos nas mãos de Aiolos antes de seu repouso definitivo. Foi cumprimentado por guardas, jovens Cavaleiros e aspirantes, parando nas escadas quando reconheceu as vozes vinda da sala adiante, fazendo-o recuar um passo intrigado. Seus passos pesados provenientes pela armadura ganharam leveza e seus passos soaram silenciosos enquanto adentrava na sala que pertencia ao seu companheiro de casta.

— Conte comigo... — dizia Selene enquanto se desvencilhava do Sagitariano, recostado na mesa e que tomava, levemente, a cintura da jovem.

"Como disse...", ecoou a voz em sua mente impregnada de malícia e riso contido. Não houve qualquer reação de Saga senão fitá-los, fuzilá-los com o olhar com um semblante sério. "Eu disse... Eu avisei...!".

— Saga! — chamou Aiolos, fazendo o Geminiano piscar ao ouvir ser chamado. — Até que enfim! Pensei que tivesse tomado os ares de Atenas como sua casa.

— Apenas tomou mais tempo do que planejei, mas... — sem tom soou seco e sério, mantendo o olhar cerrado sobre os dois. — Cheguei quando deveria, eu acho.

Selene paralisou por algum momento enquanto assistia Aiolos se levantar e ela recuar alguns passos somente. "S-Saga...?!", pensou ela, sentindo o coração bater forte e uma agonia que a sufocava ao longo daqueles dias se dissipar num discreto suspiro de alívio.

— Importante que chegou, e bem! — disse Aiolos batendo de leve na ombreira do amigo. — Já começávamos a ficar preocupado.

Selene entendeu bem aquele plural dita por Aiolos, o que a deixou levemente corada por baixo da máscara, chegando a removê-la parcialmente, deixando apenas os olhos visíveis, ao se voltar para o Dourado de Gêmeos. O olhar dos dois se encontraram naquele momento, com ele percebendo o brilho de seus olhos lilases.

— Preocupados... com o quê? —  questionou Saga, desviando o olhar da Prata e se voltando para o amigo, percebendo-a cobrir novamente o rosto.

— Bom, eu... vou deixá-los a sós e...  — dizia Selene intencionando se retirar.

"Oh! Alguém parece estar fugindo... Acho que está se sentindo um pouco... não sei... constrangida por ter sido... pega no ato?"

— Não quero interromper nada. — disse Saga piscando como se pensasse em algo rápido, silenciando aquela voz irritante que voltava. — Apenas passei para deixar alguns documentos. — e continuava soar seco.

Aiolos franziu o cenho ao perceber o tom frio do amigo e voltou-se rapidamente para uma Selene aturdida enquanto Saga deixava um tomo de documentos sobre a mesa avisando que se apresentaria ao Grande Mestre. O Sagitariano pensou rápido.

— Selene veio há pouco da Sala do Grande Mestre, apresentando Afrodite. — comentou Aiolos, conseguindo seu intento de ter a atenção de Saga levemente confuso que se voltou com um olhar interrogativo.

— Ah... O jovem que trouxe comigo e a quem estava responsável desde a minha missão com Aiolos no rastro de Halfeti. — respondeu Selene sem hesitar ou falhar. — Eu o trouxe hoje para ser reconhecido pelo Grande Mestre.

— Um pouco mais cedo e nos veria aqui na sala conversando até o Aiolia carregá-lo para o anfiteatro. — completou Aiolos cruzando os braços. — Devem estar apostando quem voa mais alto... como fazíamos nós dois. — e fingiu um riso.

Saga apenas franziu o cenho, respirando fundo.

— Bom, como dizia, vou deixá-lo a sós. Verei como Dite está se adaptando e se Milo e Camus foram à Fonte de Athena como recomendei. — e voltou-se para o Geminiano. — Seja bem-vindo de volta, Saga.

Um silêncio reinou enquanto Selene se retirava. Saga ficou ali, parado, removendo a capa que ainda o cobria sobre a indumentária dourada que vestira para se apresentar ao Grande Mestre. Havia tensão em seus músculos que instalaram ao mexer o pescoço, surpreendido com um copo de água por Aiolos.

— Foi bom chegar. — disse o amigo recostando-se, novamente, em sua mesa de trabalho. — Selene estava muito, mas muito preocupada com você. Eu não sei o que aconteceu, mas ela vinha duas... até três vezes ao dia saber alguma notícia sua.

Saga não respondeu, mantendo o olhar sobre o copo que bebeu até a metade. Sabia que sua postura ali deixava evidente a relação dos dois. Não necessariamente estava envergonhado por isso, mas por fraquejar para aquela maldita voz e temendo que a amada tivesse se magoado com sua indiferença ao chegar e pouco ou nada dirigir-se à ela ali.

— Saga, ela estava bem inquieta, nervosa com algo... Aconteceu alguma coisa? — indagou Aiolos com ar preocupado.

—  Tive uma discussão com Kanon... uma noite antes da viagem. — confessou Saga, voltando-se para o amigo. — Acabei por... Eu fui muito duro com ele e... Droga! — e  jogou o corpo para trás. — Sempre nos desentendemos, mas agora acho que fomos longe demais... Um clima pesado entre nós.

— Bom, isso ajuda a explicar. — comentou o Sagitariano. — Ele ainda não quer se entregar, não é mesmo?

— Ele não vai...  —"Ele não está errado, admita!" —  Kanon é orgulhoso demais. — dizia Saga, percebendo a voz silenciosa. — Ele ainda está muito magoado, enraivecido por Selene ter se envolvido e o salvado naquele dia. — e percebeu o olhar interrogativo de Aiolos. — Selene praticamente o teleportou de modo que não fosse ferido pelo meu golpe, e Kanon acha que ela favoreceu a mim quando na verdade ela o salvou.

— Já percebi que vocês possuem uma forte ligação, Saga, além de que Selene se mostrou com extrema sensibilidade com algumas coisas... — refletia Aiolos, desviando o olhar do amigo. — No dia de sua viagem, ela veio aqui apreensiva...

— Por conta dessa minha discussão com Kanon, eu não consegui avisá-la da viagem. — e bebeu o restante da água, tentando disfarçar o rosto que começava a avermelhar.

— Recomendo que, após falar com o Grande Mestre, que a procure para conversar. — sorriu o amigo. — Acho que vocês têm muito a dizer um ao outro.

Saga se voltou para ele, o olhar perdido, e um tanto envergonhado por seu comportamento ter dado tão na cara naquele momento. Chamou-o, mas foi calado com uma mão sinalizando um basta, mas sem censura ou rispidez.

— Não se preocupe com isso. Apenas faça o que deve ser feito, mas converse com ela. Ainda que ela o tenha visto chegar e esteja mais aliviada por vê-lo aparentemente bem... Seja lá o que aconteceu, ela ainda está preocupada com você. — pontuou Aiolos e se aproximando do amigo, tocando em sua ombreira. — Depois tomamos aquele vinho?

"Eu teria cuidado com ele se fosse você...", soou a voz com ar malicioso, mas Saga apenas ignorou fechando, momentaneamente os olhos visando calá-lo. Quando reabriu, sorriu ao perceber que a Voz havia se calado. Levantou-se, lançando a mão sobre o ombro do amigo e dando às costas para se retirar, parando na porta.

— Você é um grande amigo, Aiolos. — comentou Saga olhando-o por cima dos ombros. — Tenho sorte de tê-lo como um.

— Eu digo o mesmo, Saga. — comentou o Sagitariano, vendo-o sumir na porta e suspirar, voltando-se para seu quadro de armaduras.


───────.∰.───────

Aiolia explicava para Afrodite sobre as rotinas de treinamentos no anfiteatro e nos campos, enquanto desciam o Monte Zodiacal. Até onde o jovem sueco percebia, não era algo muito diferente daquilo que eram os seus dias enquanto estava com Halfeti.

.

.

.

O Cavaleiro Negro havia estabelecido uma rotina de treinos que ia do Cosmo ao estudo de venenos botânicos da qual era submetido a resistir com uso de sua cosmo-energia. Diversas vezes caia doente, mas ao longo do tempo foi aprendendo a canalizar aquilo de modo a usar a seu favor e transferir aquele veneno, potencializado, para as rosas que conseguia conjurar com seu Cosmo.

— Mestre, tem alguma chance de eu ser contaminado? — indagou Afrodite certa vez quando de cama. — Quero dizer... de meu sangue...

— Uma margem mínima. — respondeu Halfeti. — Por isso estou exigente com você sobre canalizar esse veneno e transformar isso em energia para seu Cosmo e transferi-las para as rosas. Houve alguns Cavaleiros, segundo soube, que desenvolveram um sangue potencialmente venenoso. Não necessariamente porque foram fracos. Acredito que porque julgaram essencial, quem sabe, transformar-se nas próprias rosas venenosas.

— Isso é o que o senhor chamaria de estratégia? — indagou Afrodite olhando o mestre entregar-lhe um copo com chá do remédio.

— Não sei se chamaria isso de 'estratégia' já que isso o condenaria à solidão de modo evitar que outros a quem ama não ser ferido. É uma escolha difícil, mas desconheço as razões que levaria alguém a submeter-se a isso. — e sorriu, fitando o jovem enquanto conferia sua temperatura. — Isso somente reforça o que sempre lhe digo sobre jamais subestimar seu oponente. Afinal, nunca sabemos até onde serão capazes de chegar e que objetivos buscam alcançar.

.

.

.

O olhar de Afrodite era vago naquele momento, surpreendendo-se quando recebeu uma cutucada do Aiolia e vendo-o apontar para um dos aspirantes que voou bons metros antes de chocar-se contra umas pilastras devido ao choque de seus golpes. Houve ovação no anfiteatro.

— Pode-se usar o Cosmo nos treinos? Não disse que era apenas treino físico? — indagou Afrodite se voltando para Aiolia.

— Desde que não seja destrutivo, não há problema. Algumas técnicas só têm efeito com o Cosmo, como alguns ataques diretos que impulsionam velocidade, por exemplo... — explicava Aiolia quando ouviu risinhos vindo próximo deles.

Um trio de aspirantes observava-os, com dois deles rindo sem qualquer discrição enquanto o terceiro não escondia o olhar para os dois. Afrodite apenas arqueou o semblante já imaginando o que viria ser. Quando questionados, os risos foram ainda mais altos.

— Nada de mais, Aiolia. Apenas vendo-o com sua 'namoradinha'. — Provocou um com tom de escárnio, percebendo Aiolia piscar aturdido.

— Pensei que as aspirantes a mulher-cavaleiro tivessem de usar máscaras. — mais risos sonoros, chamando a atenção de outros que estavam a atentar-se ao anfiteatro.

— O QUÊ...? Esperem! Não falem besteira! — recriminou Aiolia alternando de um Afrodite com olhar blasé enquanto o trio mais à frente continuava a rir. — Não é uma garota...

— Não é uma garota?! Hum... — disse um deles se levantando, os cabelos ondulados escuros caindo sob os ombros. — Não vai me dizer que é um aspirante a Cavaleiro? Parece tão delicado... e frágil...

— Preocupado comigo? — disse Afrodite com um tom tranquilo enquanto fitava o rapaz diante dele, mas com discreto sorriso de canto.

— Que voz firme e forte! Nem parece a garotinha que pensamos. — o outro falou, acompanhado de risos do próprio e dos amigos que se levantavam. — Está aspirando uma posição de Cavaleiro? Não faz muito o tipo de todos aqui... — franziu o cenho — Como diz que se chama?

— Não disse, mas digo agora. — e se levantava, arrumando as vestes. — Eu me chamo Afrodite.

Mais risos naquele momento, com o rapaz franzindo o cenho e fazendo uma careta para não rir.

— Afrodite...? Que nome mais... formoso! — e fez gestos femininos caricatos. — Olha, não sei o que Aiolia aqui explicou, mas não acho que aqui seja um lugar para você. Imagine esse rostinho arranhado nesse chão sujo.

Afrodite ensaiou um riso de canto, discreto, enquanto semicerrava os olhos claros. Olhou para o indivíduo à sua frente, umedecendo os lábios com a ponta da língua.

— E você acha que pode esfregar minha cara nesse chão? — desafiou, com um tom modesto.

Os risos cessaram e os dois amigos, mais atrás se entreolharam. Mesmo Aiolia fitou Afrodite de soslaio. O rapaz que estava diante dele foi quem piscou aturdido naquele instante.

— Isso me soou um desafio...? — comentou, desconfiado.

— Considere se assim quiser, embora não ache que será capaz disso temendo “arranhar esse meu belo rostinho”, não? — e arqueou o semblante mediante um sorriso malicioso do seu eventual oponente que assentiu e dando-lhe as costas, aceitando aquele embate.

Aiolia piscou aturdido, reagindo quando viu Afrodite ganhar alguns passos à frente e ser segurado pelo jovem irmão do sagitariano.

— Olha, não duvido que seja capaz de qualquer coisa, mas Aison está aqui há uns três anos, pelo menos. — advertia.

— Espero então que ele esfregue minha cara no chão o bastante para lixar os ossos. — comentou Afrodite com uma naturalidade assustadora

Algo naquele tom de voz, naquela calmaria aparente, fez com que os dois amigos do desafiado recuassem um passo sem perceber naquele momento.


───────.∰.───────

Selene descia em direção ao anfiteatro visando buscar por Afrodite e Aiolia, embora sua mente estivesse voltada para o retorno de Saga e do alívio de vê-lo aparentemente bem. Sorria por baixo da máscara, mas realmente só se sentiria melhor quando pudessem conversar com mais calma, após ele cumprir todas as suas formalidades.

Ao aproximar-se do espaço central, buscou rapidamente os dois, mas encontrou Milo e Camus sentados assistindo aos treinos na arena. Os dois mostravam-se enfaixados, o que a levou crer que foram à Fonte de Athena ou ao curandeiro da ilha, em vista das bolsas que traziam algum volume e folhas.

— Que bom que foram cuidar dos ferimentos como orientei. — comentou ela se aproximando, conseguindo a atenção dos dois.

— Sim, apesar da teimosia do Camus achar que não era preciso. — e olhou para o amigo de lado que o fitava incisivo. — Não foi algo assim tão grave, mas disse para voltarmos em alguns dias.

— Recomendaria vocês terem cuidado na próxima vez. — comentava Selene cruzando os braços. — Os dois possuem técnicas que, num segundo, podem se tornar fatais. Embora possam moderar, o resultado de hoje mostrou o quão perigoso é.

— Ele me passou alguns rrremédios para aplicar no local da ferrrida de modo a evitar inflamação, ajudando na contenção do sangramento. — comentou Camus olhando a área enfaixada no ombro.

— Menos mal. Assim estarão bons para o torneio que tanto anseiam. — comentou a Prata fitando os dois, embora Milo parecia mais distraído. — Agora precisarão se conter nos próximos dias se quiserem participar pleno de suas forças.

Usarrrei os dias para estudar mais as partes teórrricas. — disse Camus em sua seriedade. — Treinar nesses últimos dias tem sido impossível no anfiteatro.

— Mas hoje, de repente, o anfiteatro vai ficar interessante! — comentou Milo chamando a atenção de Camus e Selene e apontando para o centro da arena. — Afrodite terá sua primeira prova não-oficial.

Selene descruzou os braços e atentou-se ao jovem que descia as escadarias em direção à arena, acompanhado do Aiolia que lhe falava algo. Notava ainda seu semblante tranquilo e para um trio de garotos mais à frente, reconhecendo bem um deles.

— As apostas já começaram. — comentou Milo, sendo imediatamente repreendido por Camus.

— Aposto uma jarra de azeite no Afrodite. — disse a Prata levando a mão à cintura, despertando olhar curioso dos dois.

— Se não fosse a mestre dele, perguntaria de onde vem toda essa confiança nele. — comentou Milo com ar provocativo.

— Afrodite nunca precisou de mim. O que fiz foi apenas orientá-lo no básico. Todo o conhecimento que precisava já trazia com ele. — respondeu ela se voltando para Milo, de lado. — As pessoas não deveriam subestimá-lo por conta de um rostinho bonito.

Milo sorriu com aquilo. Embora Camus não fosse tão expressivo, seu olhar denotou a mesma reação do amigo e ambos se voltaram atentos para arena. Selene, igualmente, com largo sorriso escondido sob a máscara.

.

.

.

— Tem certeza disso? Não se sinta pressionado por conta dele. — dizia Aiolia acompanhando um Afrodite muito calmo para quem faria sua estreia na arena, ainda que sendo um mero teste.

— Quais as regras devo seguir, Aiolia? — questionou ele com um olhar destemido, ignorando aquelas recomendações tardias. — Voltar atrás não é uma opção. Na verdade, já esperava por algo assim.

— Enfim... — ouviu-se um respirar profundo do Aiolia. — Mínimo do Cosmo somente para impulsionar sua velocidade ou defender-se de algo. Nada destrutivo. — repetiu, vendo Aison, o jovem de cabelos escuros e ondulados até os ombros, alongando os braços.

— É só que preciso saber. — disse, abandonando-o e tomando aquele que seria o seu lugar naquele embate.

Aison, o experiente aspirante, parecia despreocupado e muito seguro de si como se mostrava com largo sorriso no rosto. Os seus colegas se aproximaram levemente assombrados, observando aquele o novato ganhar já a arena.

— Aison, você... tem c-certeza... que quer... fazer isso? — indagou um dos colegas alternando de Afrodite para ele. — Nem sabemos quem é o mestre dele!

— A maneira que ele falou soou confiante demais. — comentou o outro ainda intrigado. — E se o mestre dele for um Cavaleiro de Ouro? Ele estava com Aiolia...

— Seria o Aiolos de Sagitário o mestre dele?! — cogitou o primeiro.

— Larguem disso. Estavam a rir dele e agora estão com medo dele?! — Aison e estalou o pescoço, ordenando outros aprendizes a deixarem a arena. — A bonequinha vai sair daqui chorando com os arranhões naquela carinha de porcelana.

Após a dispensa de alguns aspirantes que treinavam, outros se voltaram para a arena e percebendo o embate que seria realizado ali. Outros, por si só, abriram espaço e se acomodaram para assistir o duelo que aconteceria entre um novato que chamava atenção por sua beleza peculiar — despertando admiração de alguns enquanto outros faziam chacotas — contra um aspirante que estaria selecionado para as disputas de Armaduras no torneio que se aproximava. Até mesmo alguns Cavaleiros presentes ficaram a observar a cena à distância, curiosos e vigilantes.

Aison caminhou até um espaço amplo e vago na arena, se colocando em posição de guarda. Esperou o novato fazer o mesmo.

"Será uma pena ver um rostinho tão bonito sujo de areia e sangue", pensava ele com um sorriso maldoso de canto. Havia um desejo lascivo em Aison que nem mesmo ele sabia explicar naquele momento.

Afrodite parecia despreocupado com tudo à sua volta, apenas atento aos movimentos de seu oponente. Estava inexpressivo, o que não permitia qualquer um interpretar seus sentimentos naquele momento.

"Mantenha sua mente vazia. Esqueça tudo e a todos, menos o seu oponente. Nada mais importa!", recomendara alguém certa vez.

Quando tudo parecia pronto, Aison avançou com seus punhos em riste, em uma investida violenta. A 'boneca', como ouviu alguns o chamarem, apenas observava o braço avançar contra ele, e piscou quando percebeu que mirava seu rosto. Esquivou-se sem muito problema, recuando apenas alguns passos sem fazer uma investida contra. Girou apenas o corpo quando percebeu que ficaria encurralado e para o que intencioanva fazer. Afinal, o oponente não pretenderia ficar apenas em socos no ar percebendo que ele conseguia desviar com facilidade. E aconteceu.

Aison avançou outra vez, mas sua postura diferenciada denotou que seu golpe iria muito além de um soco. “Vai ficar só se esquivando, não é? Veremos agora!”, pensou ele numa finta, mas recuando o braço e virando corpo para sua esquerda. Num rápido movimento, elevou a sua perna, também esquerda, para golpeá-lo quando buscaria se esquivar.

“Que previsível...!”, pensou Afrodite esquivando-se, e jogando seu corpo para baixo, dobrando uma perna e mantendo a outra esticada. Num rápido giro, deferiu uma rasteira em seu oponente.

Como estava apoiado numa única perna, era tarde demais evitar aquilo. Aison apenas o viu se abaixar e fazer seu movimento, praguejando mentalmente quando foi ao chão e rolando por conta de seu giro bailarino que investiu. Ouvia a ovação do público e suas reações surpresas devido ele cair por um movimento tão básico... e tolo.

— Até que a bonequinha sabe lutar... — provocou Aison, se colocando de pé novamente. — Mas veremos até quando vai conseguir se sair bem. — E atacou de novo.

Diferente de antes, havia mais agressividade na ação de Aison, levando Afrodite a bloquear os golpes com os braços, agradecendo por estar usando as braçadeiras que Aiolia havia lhe dado quando seguiram para o anfiteatro. Porém, algo estava diferente dos ataques de há poucos instantes.

“E-Ele está... usando o Cosmo para... acelerar... seus movimentos?!”, pensou o jovem sueco que percebia sua dificuldade em bloquear e esquivar-se. Estava a recuar mais rápido que antes.

O seu punho emanava um brilho acompanhado de pequenos filetes de luz que cintilavam conforme se chocava em seu braço. Foi um destes que o cegou, momentaneamente quando de encontro com o sol e impedindo-o de enxergar o próximo golpe que o atingiu no rosto, atordoando-o, seguindo de um segundo que o levou no chão.

Os amigos vibraram, batendo com as mãos em comemoração. Alguns do anfiteatro se levantaram, outros se mantiveram sentados com um ar decepcionado, outros ainda aguardando para ver o garoto se levantar. Aison sorria orgulhoso, estalando os dedos enquanto cuspia de lado.

Afrodite se apoiava com as mãos, levantando-se, mas mantendo-se ainda agachado com uma perna dobrada no chão e outra levantada, onde apoiava o peito, arfando.

— Oh, não vai chorar... Nem foi tão forte assim. — brincou Aison, despertando risos de alguns. — Vamos! Isso só foi um aqueciment...

As suas palavras engasgaram quando viu aquele garoto se voltar para ele com um sorriso maldoso no rosto, incrivelmente num ar também angelical. "O que é isso que sinto...? E-Esse... sorriso...", pensou o aspirante engolindo a seco.

Afrodite se levantou, limpando o filete de sangue que descia do lábio com um dedo. Aquele soco fez com que tivesse mordido a língua superficialmente. Pouco se importou com o rosto sujo de areia e o cabelo colado no rosto por conta da transpiração.

— Se isso é tudo, não será tão divertido quanto pensei... — disse o sueco com uma voz igualmente tranquila de antes, lambendo os lábios e sentindo ainda o gosto ferroso. — Por que não deixa de brincadeira e me mostre seu potencial? Não está com medo da 'bonequinha'... ou está? — e arqueou o semblante em desafio.

Aison apenas o olhou, franzindo o cenho e fechando os punhos, embora sentisse todo seu corpo estremecer.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Fazer lutas é algo que sempre me preocupa. Não quero fazer algo como "Fulano bateu, esquivou, socou, revidou, caiu...". Gosto de trabalhar nos detalhes e pesquisar um embate, e muitas fanarts e vídeos ajudam no processo. Demodo, mas quero entregar algo bom aos leitores. XD
O que será que vai acontecer nos próximos capítulos?
Obrigada a todos que favoritam e que me seguem. Grata a todos os comentários e repondo a todos. ♥ ♥



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Saint Seiya Memórias: História Oculta Do Santuário" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.