Saint Seiya Memórias: História Oculta Do Santuário escrita por Katrinnae Aesgarius


Capítulo 57
Livro 2 :: Dualidade - Ato 15


Notas iniciais do capítulo

Primeiramente agradecer a cada comentário e novos leitores que favoritaram #Memórias. Fico feliz que estejam acompanhando e tento paciência com essa autora enrolada. Após 50+ capítulos, bloqueios acontecem. Afinal, entramos numa fase bem complexa que é quando mergulhamos no lado sombrio do nosso Geminiano e aqui as coisas tendem a se complicar, ficarem bem tensas.

O capítulo até estava adiantado, mas com problemas na minha operadora de Internet, ficou tudo um tanto estressante e completar o capítulo estava ficando complicado. No fim, dois capítulos de duas fics que estavam começadas e findadas, disponibilizada para os leitores e essa semana é a vez de Memórias. o/

Obrigada a todos que comentaram, que me add no facebook (Katrinnae) e que me acompanham, seguem, favoritam...

Boa leitura a todos!!!



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— Grande Mestre! — reverenciou Selene ajoelhando-se diante do Patriarca, sentado em seu trono com as vestes brancas enquanto Arles mantinha-se ao seu lado. — Peço perdão por minha demora em apresentar o jovem trazido por mim e Aiolos de Sagitário de nossa missão. — e ela o fita, ficando novamente de pé após a permissão do mesmo. — Este é jovem a quem tenho relatado. Ele adotou para si o nome de Afrodite.

 Shion, o Grande Mestre, ficou a fitá-lo por longos instantes, vendo-o ajoelhar-se em sinal de respeito tal como Selene o havia orientado a caminho dali. Um jovem belo de traços andróginos, mas que mostrava determinação em seu olhar tal como um jovem que, há alguns anos, estava ali diante dele.

 — Levante-se, meu jovem. — disse Shion fazendo leve movimento com seu braço para Afrodite se levantar. — Muito tenho ouvido falar de suas notáveis habilidades. Inclusive soube que foi responsável por ajudar Aiolos, a quem ele disse ser eternamente grato.

 O jovem também fitava o homem que, segundo Halfeti lhe dissera, fora um sobrevivente da Guerra Santa contra Hades há pouco mais de 200 anos, pertencente a uma civilização lendária da Era Mitológica e escolhido pela própria Athena a guiar os 88 Cavaleiros que lhe juraram lealdade. Apesar de sua longevidade, podia ver a força em seu olhar, tal como uma presença que não se podia ignorar, mas denotando benevolência e um ar paterno.

 — Diga-me, jovem Afrodite. Por que quer se tornar um Cavaleiro de Athena?

 Era uma pergunta simples e objetiva, tal como deveria ser a resposta. "Como para que quero me tornar um Cavaleiro? Proteger a Terra e fazer valer a justiça de Athena, não é óbvio?", pensava franzindo o cenho, mas não era somente isso. Halfeti certamente dissera isso, mas muito aconteceu para que ele se tornasse um degenerado e banido do Santuário após ser um sagrado Cavaleiro de Ouro. Por quê?

O silêncio de Afrodite deixara Selene apreensiva, mas ela nada podia dizer, muito menos fazer com que ele respondesse àquela questão. Arles olhou para Shion que mantinha seus olhos calmos sobre o jovem diante dele, pensativo, olhando algo qualquer no vazio.

 — Sempre ouvi que os Cavaleiros que lutam com Athena buscando manter a paz na Terra, garantindo a justiça, mas... — ele levantou a cabeça para fitar o Grande Mestre. — Eu me pergunto se os Cavaleiros são justos em seus julgamentos. E se aquilo que o Cavaleiro acredita, não for a verdadeira justiça? E se como um Cavaleiro, meus julgamentos não forem justos?

 Silêncio.

 — Quero me tornar um Cavaleiro porque quero um mundo justo. Meu mestre sempre defendeu a igualdade, mas... — dizia Afrodite, interrompendo seu raciocínio como se buscasse algo em suas lembranças. — Aquela em que ele acreditava. No entanto, sua intenção acabou fazendo-o cometer algo ruim, fazendo-o sofrer pelo caminho tomado naquilo que acreditava ser a justiça.

 Novamente o silêncio. Selene mantinha os pés juntos, os braços para trás, apenas como ouvinte. No entanto, sentia a apreensão vir do garoto, o desabafo sobre o sofrimento de Halfeti pelas suas escolhas e nas dúvidas que agora atormentava aquele garoto pelo mal que recaíra sobre ele.

"Que justiça há nos inocentes que pagam pelos pecados de um passado tão distante...?", pensou a Prata, sentindo leve dor no peito.

 — A justiça é única, embora nem sempre vá atender a todos de mesmo modo, não imediatamente. — dizia o Grande Mestre. — Ela pode não soar justa porque isso é um estado de espírito que foi determinado na mente de cada um, baseado nos valores que lhe foram colocados ao longo de sua formação, uma ética estabelecida. O conflito há de existir, mas a justiça é sempre justiça, seja ela igualitária ou não.

— Por quê? Por que tantos inocentes pagam por pecados dos outros? — questiona Afrodite levemente desesperado. — A nossa vida é tão efêmera... e somos submetidos a injustiças somente por quem somos, não pelo que deveria ser. Sendo Cavaleiro da justiça, como saber que o que faço é o certo? E se minhas escolhas foram erradas e não trouxerem a justiça que esperam de mim?

 — Quer se tornar um Cavaleiro da justiça e teme que seus julgamentos não sejam justos? — indagou o Grande Mestre arqueando o semblante, vendo o garoto sem uma resposta, mas olhá-lo temeroso.

"Eu sou um tolo! Como ser um Cavaleiro com dúvidas e medo?", pensou Afrodite baixando o olhar, fechando o punho.

 — Devemos agir pela razão, mas somos humanos e muitas vezes agimos pela emoção. Como cavaleiro, é dever dele lutar pela justiça, mas não será errado lutar por aquilo que acredita. — dizia o Grande Mestre se levantando, caminhando até o garoto que se surpreendeu com a aproximação do velho homem. — Há alguns anos Halfeti tinha essas mesmas questões, e sabe qual resposta ele teve? — o garoto meneou negativamente em resposta de não saber. — Nenhuma!

 Arles mantinha-se em seu lugar, lançando um rápido olhar para Selene que estava a observar os dois.

 — Não há respostas prontas para isso porque faz parte de nosso aprendizado. Lutamos pela igualdade e pela justiça. Haverá momento em que os dois hão de se conciliar, mas na maioria das vezes seu julgamento deverá ser preciso sobre qual deverá prevalecer. — e Shion parou diante dele, ajoelhando-se frente ao garoto enquanto apoiado levemente no ombro dele. — A igualdade nem sempre é justa, nem sempre seremos justos em nossos julgamentos. Muitas vezes, haveremos de nos sacrificar, seja em nossos conceitos, em nossa moral, em nossos princípios para que a justiça seja feita em prol de todos.

 — S-Sacrificar-se...? — indagou ele olhando nos olhos do Grande Mestre.

 — Sim. Nossas mãos serão o martelo da justiça, mas ela nem sempre será justa para fazer aquilo que é preciso. Muitas vezes acaba-se corrompendo acreditando em ideais buscando ser justo, mas estes nem sempre alcançam a verdadeira justiça que é única. — Shion sorri. — Há muitas respostas para a pergunta que lhe fiz, mas o que importa é aquela que está aqui...! — e tocou no peito do garoto. — O que ele te diz?

 — Ele diz... Quero me tornar um Cavaleiro para garantir-nos os direitos que nos são negados... — dizia Afrodite fitando o Grande Mestre. — Quero lutar para garantir que todos nós tenhamos a liberdade, sem medo de condenados pelo que e por quem somos, de viver sem medo. Quero ser um Cavaleiro para lutar para salvar-nos de nós mesmos.

 O Grande Mestre sorriu, levantando-se e caminhando de volta ao seu trono.

 — Jamais se esqueça disso, Afrodite. Somos desafiados dia após dia. Será uma luta constante que terá de travar sempre com você mesmo. — e voltou-se de frente para ele, sentando-se. — O orgulho nos deixa cego. Esse deverá, sempre, ser seu maior oponente... Jamais ceder ao orgulho de quem é. Isso o deixará vulnerável ao seu oponente. Nos jogos, essa é uma regra importante.

 "Jogos? Ele tá falando do torneio no júbilo de Athena?!", indagou-se Afrodite mentalmente. Ousou olhar para a Prata ao seu lado, mas conteve sua ação.

 — Os torneios são desafios que vai além de combate contra alguém que anseia o mesmo que você, mas uma batalha consigo mesmo. O vencedor não será aquele que ficar somente de pé. Você pode derrubar ou mesmo matar seu inimigo, mas não necessariamente fará de você um vencedor. — e inclinou o corpo para o lado, apoiando a cabeça em seu braço direito sobre a braçadeira do trono. — Acha que está apto aos jogos que virão?

 Afrodite, até pouco tempo mantinha os ombros caídos e a cabeça baixa, ficara ereto. Erguera a cabeça numa convicção que surpreendeu a Prata e o próprio Arles. Não havia as dúvidas e a insegurança de outrora, mas um renascimento.

 — Sim, Grande Mestre. — respondeu em tom incisivo. — Estou ciente dos riscos e da batalha que recairá sobre mim. Aceito sacrificar-me se necessário se assim o destino quiser. Provarei meu valor e farei valer o legado de meu mestre nos caminhos da justiça.

— Vejo a determinação em seus olhos, o calor em seu sangue que faz seu Cosmo queimar tamanho desejo. Se Athena guiou seus caminhos até aqui, que a deusa Niké trilhe seu caminho para vitória se assim desejar. — O Grande mestre sorri mais uma vez. — O Santuário o recebe, Afrodite.


───────.∰.───────

Um corvo sobrevoou o céu, fazendo uma rasante e pousando no ombro de um jovem em seus 17 anos com uma armadura escura que o ajudava a se camuflar nos galhos das árvores. Ouvia o grasnar da ave e sorriu para ela enquanto a parabenizava pelo excelente trabalho. Prendeu algo em sua pata antes de fazê-la alçar voo mais uma vez.

Outro Cavaleiro estava em terra, recostado numa árvore assistindo o sol despedir-se no horizonte quando um corvo se aproximou. Ele apenas sorriu ao recolher o bilhete. Se tudo se mantivesse naquela ordem, estariam voltando na manhã seguinte para o Santuário após toda aquela viagem nas últimas semanas aos templos em Atenas.

 Saga também ansiava por retornar após aquelas últimas semanas. De início era um alívio, livre dos tormentos que estava a vivenciar em Gêmeos. Após a discussão com Kanon, a manhã seguinte foi de uma explosão de raiva que o impediu de contatar Selene e notificá-la de sua viagem. Algo o perturbava, gritando dentro dele com aquelas malditas vozes ecoando insistentemente, o que o deixava frequentemente com dores de cabeça e as noites inquietantes com pesadelos que o impediam de dormir.

 "O que diabos está acontecendo comigo...?!", perguntava-se enquanto caminhava pelo quarto de uma hospedaria, vestindo apenas uma calça de civil e enxugando os cabelos molhados. Nos últimos dias, 'a voz' estava silenciosa. O seu maior tormento foi quando estava no Templo de Athena. Foi uma luta interna para guardar seu tormento enquanto diante da Alta Sacerdotisa, dispensando-o de acompanhá-la até o Santuário uma vez que seguiria com sua Guardiã.

 Por um lado, achou ser o melhor. Desde que chegara à Atenas, Saga se pegava pensando no que aconteceu com ele e seu irmão mais novo, e aquilo estava consumindo-o. Havia sido extremamente rude com ele, assustando-se somente em pensar qual seria sua expressão para tamanho assombro de Kanon quando proferiu aquelas palavras a ele. Pela primeira vez, não somente havia calado Kanon em suas provocações como o assustara a ponto de fazê-lo ir embora.

"O que foi? Está se remoendo por ter dito algumas verdades ao seu irmãozinho insolente?”

Saga arregalou os olhos enquanto tinha a mão frente ao rosto, pensativo ao ocorrido com o irmão quando, mais uma vez, aquela voz ecoou em sua mente. Olhou novamente para o quarto, vendo-se ainda sozinho, uma vez que os dois Cavaleiros de Prata estava fora fazendo inspeção.

— De novo... O que ou quem é você? — sussurrou o Cavaleiro controlando a respiração. — O que está acontecendo comigo...? Estou ficando louco ou...

 “Ou estaria ficando mais... atento... com os acontecimentos ao redor?”

— Atento... ao quê? — o Geminiano se levantou, caminhando pelo quarto, com a mão ainda na cabeça, buscando qualquer vestígio que denunciasse a presença de alguém próximo. — Quem é você? Por que está me atormentando assim...? O que você quer? Por que não se revela?!!

 “Ou talvez não seja exatamente alguém... sabe perfeitamente que, em algum momento, aqueles pensamentos tão reprimidos terminam vindo a tona...”

Saga riu, baixando a mão e meneando negativamente.

— Está tentando me confundir? Fala de sentimentos reprimidos? — o Cavaleiro levantou a cabeça, os olhos verdes piscando, ainda aturdidos, mas observador, sorrindo de canto. — Não sei do que está falando...

 “Uma jovem. Bonita. De cabelos escuros. Olhos púrpuras como o início da noite. Pele quente e suave. Sussurros em seu ouvido...”

"Selene?", pensou Saga, se deixando levar por aquilo. O sorriso fora desfeito e sua expressão dando lugar a um leve assombro enquanto ouvia o tom de como aquela voz ecoava em sua mente. Havia requinte de desejo e indiferença misturados, na medida em que as descrições seguiam um rumo cada vez mais íntimo.

 “... como ficarem juntos para toda a eternidade, sem violar qualquer uma daquelas estúpidas leis que impedem o relacionamento entre Cavaleiros e Amazonas...”

— Não se aproxime dela! — disse o Geminiano, fechando os punhos e trincando os dentes.

 “Oh! Se importa muito com ela... Seria uma pena se ela não o retribuísse do mesmo modo, não?”

— Está buscando me confundir de novo? — Saga riu, mas sentiu a garganta seca. — Não sabe o que está falando...

 “Dias afastado. Ela sozinha. Tantos homens dispostos a fazer companhia a alguém tão bonita...”

— Cala a boca! Não ouse denegrir a sua honra... — alertava o Cavaleiro, apertando os punhos, estalando os ossos da mão tamanha força que exercia.

 “Quantos serão os olhos que se curvam quando percebem a presença dela?”

— Pare...! — o Geminiano fechava os olhos, respirando pesado, com as veias da têmpora saltando.

 “Será que ela não corresponde a algum deles?”

— CHEGA! — gritou Saga, levando as duas mãos à cabeça, explodindo um espelho diante dele a quem viu seu rosto sombreado e sorrir cinicamente antes de se fazer em pedaços.

Quando se deu conta, estava caído ajoelhado no chão, no centro do quarto, com cacos do espelho espalhados pelo chão. Transpirava, buscando ar. Surpreendeu-se com as batidas na porta e ouvindo a voz do Cavaleiro de Orion que anunciava a normalidade de tudo, sendo dispensado em seguida pelo Geminiano. Novamente era deixando sozinho, mergulhado no silêncio.

Quando seus olhos recaíram novamente sobre os cacos espelhados, observou sua expressão distorcida meio ao vidro trincado, percebendo seus olhos avermelhados e alguns poucos fios esbranquiçados.

— S-Selene... é minha...! Minha e somente... minha! — disse ele com a voz rouca.

───────.∰.───────

— Então, Afrodite... — questionou Aiolos, enquanto arrumava uma pilha de pergaminhos. — Temos você como novo aspirante no Santuário?

Havia percebido a expressão de alegria e mais relaxada do jovem que tinha subido apreensivo em direção ao Templo do Patriarca ao lado da Prata. Já ela se encontrava sem as vestes de sua armadura, somente a básica de treino e com sua máscara. Seu turno praticamente havia acabado, restando-lhe algum tempo para treinar por conta própria.

Ao longo de toda a conversação com o Grande Mestre, Selene manteve-se apenas observadora, uma vez que estava responsável pelo jovem desde então. Apenas temia que seu nervosismo o mergulhasse novamente naquele silêncio desconfortável, mas mesmo o Grande Mestre sabia como trabalhar de modo deixar toda a conversação fluir naturalmente, que sua espontaneidade acontecesse. Era uma paciência e compreensão louvável daquele homem bicentenário.

O único momento que se sentiu nervosa foi quando Halfeti foi mencionado. No entanto, somente de que este, quando também muito jovem, estivera ali naquela sala levantando os mesmos questionamentos que o jovem Afrodite.

— S-Sim. O Grande Mestre me reconheceu como um aspirante a Cavaleiro, mas... — o garoto afirmou e suspirou em seguida. — Não acho que possa que participar dos torneios desse ano como gostaria.

— Bom, os torneios acontecem todos os anos, não tem o porquê ficar assim. Aliás... — o sagitariano deixou alguns cones sobre a mesa, aproximando-se do rapaz sentado, com um ar levemente desapontado. — Acho bom que não participe dos jogos desse ano. Somente os mais antigos foram selecionados e estas lutas exigem muito de cada um. Como novato, ainda que bem experiente segundo soube... — e olhou para Selene que apenas os observava. — Talvez seja melhor que seja apenas parte do público e aprecie o espetáculo, além de ver como tudo funciona.

— Foi como expliquei a ele, mas entendo essa ansiedade. — sorriu Selene, sentando-se ao lado dele. — Também ansiava pelo dia da minha luta, e quando o dia chegou...

— Bem lembro de sua luta. Foi contra Albion de Cepheus, um Cavaleiro de Prata. — e Afrodite admirou-se, já pronto para questionar e previsto por Aiolos. — E não, os jogos não exigem um Cavaleiro sagrado necessariamente. Somente aqueles que são testados e se aptos a receberem sua armadura que assim indicam um Cavaleiro. Geralmente nos jogos as competições são entre aspirantes e, estes, podem vir a competir por uma armadura.

— Conheci dois Cavaleiros que estavam treinando quando vínhamos para cá. — lembrou o garoto. — Eles estavam bem empolgados com esses jogos.

— Camus e Milo. — disse Selene para Aiolos. — Espero que tenham ido ao Curandeiro como sugeri.

— Deixa eu adivinhar. Estavam a se digladiar, de novo, testando seus golpes? — Aiolos questionou, erguendo uma sobrancelha, e viu a confirmação de Selene.

— Milo e eu marcamos de treinar juntos. — comentou Afrodite. — Ele me falou da...

— Agulha Escarlate? — O Cavaleiro de Ouro completou e viu o garoto menear positivamente, sem entender aquilo de imediato. — Claro que ele diria. Adora explicar sua técnica. Às vezes acho que ele vá vencer o seu oponente pelo discurso. — e riram daquilo.

Aiolia entrava naquele exato momento, parando junto à porta e piscando aturdido com os três até ser notado por seu irmão que o chamou para perto, apresentando-o Afrodite ao seu irmão mais novo. Os dois tinham mínima diferença de idade. Apesar do estranhamento inicial por conta dos traços afeminados do novato, Aiolia o recebeu bem, ainda que pouco tímido.

— Aiolia pode ajudá-lo a conhecer o Santuário, Afrodite. Inclusive o alojamento onde deverá ficar a partir de agora. — pontuou Aiolos.

— E, Dite... — chamou Selene, mordiscando os lábios por baixo da máscara. — O Grande Mestre permitiu que mantivesse seus treinos naquele vale, mas o Campo das Amazonas será restrito a partir de agora.

— Então... não poderei mais vê-la? — indagou o jovem sério, sentindo o toque das mãos da Prata em seu rosto.

Aquilo era tudo o que ele não queria. Ter que ficar longe daquela que o salvou e cuidou com tanta dedicação por todos aqueles dias. Só o pensamento da possibilidade fizera seu coração disparar e uma leve palidez se notar em seu rosto.

— Nada me impede de ir visitá-lo no Vale. Além do mais, poderemos sempre nos ver aqui. — Pontuou a Prata, já prevendo aquele mal-estar.

— Promete? — sorriu ele esperançoso, vendo a Amazona assentir.

— Além disso, a partir de agora deverá reportar aos Cavaleiros sobre qualquer coisa que viole as leis do Santuário. Desertar, não é uma opção. — pontuou ela.

— O meu irmão cuida de nós dois. — disse Aiolia orgulhoso, vendo o irmão sorrir e bagunçar seu cabelo. — Venha! Agora à tarde alguns dos aspirantes que participarão dos jogos farão seu treino. É divertido vê-los voarem pela arena.

Afrodite assentiu, rindo diante daquela observação, se despedindo de Selene e Aiolos que ficaram na sala. A animação mostrada pelos dois garotos os contagiou de certo modo, que se entreolharam e riram em seguida. Aiolia não estava exagerando em dizer que pessoas voavam pela arena. Elas realmente eram arremessadas!

Alguns Cavaleiros suspeitavam de que havia apostas entre os que treinavam para saber quem atirava o colega de treino o mais alto e o mais longe possível. Apenas não conseguiram confirmar isso.

— Tenho um pressentimento quanto esses dois...  — comentou Selene vendo-os sumir na porta, enquanto mantinha o corpo curvado para frente e as mãos apoiadas no assento do banco e as pernas cruzadas.

— Acha que Afrodite está apto a se tornar um Cavaleiro? — questionou Aiolos cruzando os braços.

— Acho não. Tenho certeza! — corrigiu ela se voltando para o Sagitariano. — Seus golpes são precisos e seu Cosmo forte o bastante, e que ele tem pleno domínio. O mesmo não posso dizer da maturidade em combate propriamente. Uma coisa é treinar contra bonecos a outra é exatamente treinar com pessoas.

— Isso é algo que tenho buscado trabalhar bem com meu irmãozinho. — comentou Aiolos descruzando os braços e apoiando-se na borda mesa. — Muitos chegam aqui com apenas a ideia de receber a sua armadura, mas não fazem ideia do peso que elas possuem, da responsabilidade que carregam a partir do momento que as veste. — e olhou para o mural atrás dele com o mapeamento que fazia. — Lembro do medo que senti, de não conseguir cumprir com meu dever... e ainda sinto.

— Acho que seja algo natural. — comentou a Prata suspirando por baixo da máscara. — Somos humanos acima de tudo, Aiolos, não máquinas de guerra. — e riu daquilo em seguida na busca de descontrair, mas de maneira contida. — Embora não sejamos assim tão diferentes.

Um breve silêncio se instaurou naquele momento. Selene dedilhava sobre o banco em que estava sentada e lançou um olhar ao mural com o mapeamento das armaduras do qual Aiolos sempre trabalhava. Levantou-se e caminhou até ele, observando tudo e cruzando os braços. Reconhecia um dos pontos, único marcado em verde, onde encontraram uma das armaduras perdidas, da classe Prata.

— Conseguiu fechar todas as localizações das armaduras perdidas? — questionou Selene olhando cada ponto.

— Possíveis localizações. — corrigiu ele olhando o mapa. — Os pontos marcam uma área que varia de lugar pra lugar. Não tem como dizer um local exato. Porém, a que você encontrou, estava dentro da margem aceitável, o que indica que estou no caminho certo. — sorriu orgulhoso. — Se não fosse você e sua habilidade de rastreio, talvez nem a teríamos encontrado.

— Não creio que tenha sido necessariamente eu. Apenas segui o pulsar da armadura. — disse ela se voltando brevemente para o sagitariano. — Foi como se me chamasse. — e riu de volta. — Acho que desencadeamos uma força forte o bastante para que a armadura ressoasse chamando por nós.

— Impressiona-me de Halfeti não conseguir localizá-la quando parecia estar tão próximo de onde estava. — pontuou Aiolos, coçando o queixo de modo pensativo.

— Bom, as armaduras são quem escolhem seus Cavaleiros. Logo, não é estranho pensar de que elas escolham por quem quer que sejam encontradas. — comentou Selene ainda frente ao mural.

— Tem lógica. — comentou o Cavaleiro em concordância. — Bem dizem que elas são mais que meras armaduras. Às vezes, tenho a sensação de que a Sagitário fala comigo.

— Não é uma sensação. — disse a Amazona, percebendo a surpresa do Dourado. — Elas falam com seu Cavaleiro, Aiolos. Lembre-se que elas são mais que uma proteção, mas criações que ganharam vida ao longo de tanto tempo, com incontáveis Cavaleiros que a vestiram, guardando lembranças e...

Selene se calou, deixando Aiolos sem entender do porquê daquele silêncio repentino. Ele a chamou, parecendo despertar de um leve transe, mas ela afirmando estar bem, desculpando-se em seguida.

— Estava a lembrar das histórias que ouvia enquanto estive em Jamir dos poucos forjadores que restam. Eles não mais fazem armaduras, apenas ajudam restaurá-las... — explicava Selene voltando a caminhar pela sala. — É um ofício que eles passam para alguns poucos jovens, mas que vem se perdendo ao longo dos anos.

— Não foram os lemurianos quem criaram as armaduras? — perguntou Aiolos interessado.

— Sim, durante a Guerra Sacra contra Poseidon, na Era Mitológica, encomendada pela própria Athena, como contam. — Selene falava num tom sério, perceptível por Aiolos. — Mas afirmaram que essas foram as últimas forjadas por eles, pois temiam que as armaduras fossem usadas para fins malignos como aquelas que destruíram Lemúria... Ou que o conhecimento levasse a criação de armaduras renegadas...

— Como as Armaduras Negras? — pontuou Aiolos. — Lemurianos a criaram...? — e viu Selene assentir. — Isso explica o interesse do Grande Mestre na busca das gemas das Armaduras Negras. Busca corrigir o erro de seu povo destruindo essas armaduras.

— Conta-se que alguns culparam Athena pelos acontecimentos e criaram estas armaduras, motivo esse que o conhecimento da forja é passada para alguns poucos. — confidenciou Selene, continuando a caminhar pela sala. — A restauração delas exige grande concentração, e como os lemurianos possuem poderosas habilidade psicocinéticas, ficam bem suscetíveis às memórias presentes nas armaduras.

— Talvez também explique que, por ter sangue lemuriano, tenha sentido a Armadura de Prata, não? — sorriu ele, surpreendendo Selene que, até aquele momento, não havia pensado naquela possibilidade.

— Não é tão forte, mas talvez ajude sim, auxiliado como Cosmo e esse meu senso de direção... — riu ela, juntamente com Aiolos. — Isso me faz lembrar de outra história. Uma lenda, eu diria, contada pelos Anciões de Jamir sobre Cavaleiro e armadura tornarem-se um.

— Bom, não entendo o que seria uma lenda isso. Um Cavaleiro que usa sua armadura, precisa tornar-se um com ela. — comentou Aiolos franzindo o cenho.

— Sim, mas... — Selene parecia escolher as palavras. — Quando digo que Cavaleiro e armadura se tornam um, digo um só, Aiolos. Quero dizer, um só organismo. — aquilo fez o sorriso no rosto de Aiolos desaparecer com um ar interrogativo.

— Er... Espera! — Aiolos ficara de pé, levantando a mão, levando a mão direita à fronte. — Está falando do Cavaleiro fundir-se... à armadura? — e Selene assentiu.  — M-Mas... como é que...

— Eu não sei, eram histórias que contavam. De certo modo, isso explicaria o fato de as armaduras guardarem memórias e tantas outras lembranças de gerações passadas, de conseguirem recuperar-se das batalhas... — enumerava Selene falando aquilo com admiração e assombro. — Soa estranho, não é?

— E-Eu apenas me pergunto sobre... como... isso seria possível. — questionava Aiolos ainda assustado com aquela ideia. — Por que um cavaleiro faria isso? Por que ele se fundiria à armadura?

— Devoção. — disse Selene voltando a fitá-lo. — Cavaleiros estão sempre a sacrificar-se, e unir-se à armadura, os forjadores contam que deveria ser um forte desejo do Cavaleiro buscando unicamente proteger a quem sua vida efêmera não foi capaz, entregando-se em corpo e alma para armadura de modo a cumprir com seu dever ainda que com outros a herdar seu legado. — Selene silenciou-se por breves instantes. — Precisaria ser um desejo grande o suficiente para algo assim acontecer.

Aiolos ficou a observá-la aturdido, voltando seus olhos para o chão.

— Se houve algum Cavaleiro a fazer isso, ele merece todas as honras por tamanha devoção e sacrifício. — comentou ele com a voz levemente embargada. — Uma razão a mais de que minha busca por essas armaduras seja para, ao menos, ajudá-las a voltar para casa.

Ela vai ao encontro dele, abraçando-o sutilmente, sendo correspondida pelo Sagitariano.

— Admiro que esteja fazer isso, Aiolos. — diz desvencilhando-se dele, fitando-o nos olhos. — Conte comigo para o que precisar.

— Obrigado, Selene... — dizia ele quando percebeu algo.

Saga estava de pé, na porta da sala, com sua indumentária Dourada, fitando seriamente os dois. 


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