Saint Seiya Memórias: História Oculta Do Santuário escrita por Katrinnae Aesgarius


Capítulo 49
CICLO TRÊS :: Dualidade - Ato 9




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Os passos de Aiolos ecoavam a medida em que ele cruzava a distância que o separava do Grande Mestre que o aguardava ansioso por seu relatório. Sabia muito bem o quão difícil aquela missão tinha sido, não apenas por se tratar de um antigo Cavaleiro de Ouro, mas por terem sido mestre e aluno. Certamente foi algo tão difícil para o rapaz quanto seria para um filho ter de matar o próprio pai.

— A joia negra, senhor! — disse o sagitariano após resumir a missão, estendendo a mão com uma pequena urna, apanhada por Arles. Este abriu conferindo a relíquia e depois olhando para um Grande Mestre sério. — Ela foi cedida pelo próprio Halfeti de Peixes antes de morrer. A Armadura Negra foi destruída. Esta missão encontra-se encerrada.

Quando em mãos, o Grande Mestre criou um selo sob a urna, repousando em seu colo. Ao longo daqueles mais de dois séculos, diversos Cavaleiros morreram por aquelas joias, e ainda era desconhecido quantas outras ainda existiam.

— Chegou ao meu conhecimento que não voltaram sozinhos. — comentou o Grande Mestre voltando-se para o rapaz prostrado à sua frente com sua indumentária dourada totalmente restaurada, com suas asas recolhidas e uma capa descendo por suas costas.

— Sim. Durante a missão também recuperamos mais uma das armaduras perdidas. — sorriu ele. — Verdadeiramente, fomos guiados até ela. Estava com essa família há gerações e um descendente desse antigo Cavaleiro apresentou um Cosmo desperto. Tomei a liberdade de trazê-lo para o Santuário.

— E quanto ao outro jovem do qual mencionou...? — comentou Arles dessa vez, com os braços inseridos na manga longa de sua túnica sobre o peito.

— Esse está sob minha responsabilidade, mestre Arles. — disse Selene atravessando as portas, também com sua indumentária de Prata restaurada, tal como sua máscara. Avançava a passos calmos pela sala, recolhendo seu elmo com simples mover das mãos diante do corpo. — Peço desculpas por meu atraso para apresentar meu relatório de missão. — e prostrou-se diante do Grande Mestre, pouco mais atrás de Aiolos.

Embora o Cavaleiro já tivesse explicado superficialmente sobre o jovem ser quem os guiou até o templo onde encontraram Halfeti, foi ela quem pôde melhor dizer sobre aquele sob a proteção do Peixe Negro, de suas habilidades e domínio do Cosmo que o colocava acima de um mero aprendiz.

No entanto, em razão dos acontecimentos, ainda se encontrava assustado e emudecido. Não falou das marcas em seu corpo, mas deixou evidente que teria passado por traumas físicos e psicológicos, precisando de um tempo de adaptação, e ele somente estava a confiar nela por momento.

— Ainda estou avaliando seu comportamento. — resumiu a Prata. — Ele apresenta, basicamente, as mesmas habilidades de Halfeti. Por isso, Grande Mestre, gostaria de pedir sua autorização para ser sua mestra em sua adaptação.

— Permissão concedida, Pyxis. Deverá apresentar um relatório ao Aiolos periodicamente. — disse o Grande Mestre. — No entanto, quanto tempo acha que ele poderá se adaptar em reunir-se com outros?

— Não posso dizer com certeza, mas buscarei ajudá-lo a se adaptar o mais rápido possível. — prometeu a Amazona, recebendo o aceno do Grande Mestre.

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— Como foi a reação dele nessa primeira noite? — indagou Aiolos à Selene já nas escadarias.

— Inquieto, ao mesmo tempo introvertido. — respondeu ela, suspirando. — Ele ainda me parece assustado, apesar de sua aparência calma. Dormiu relativamente bem, apesar de ter se agitado um pouco. Eu o vigiei a noite toda. Agora de manhã disse que veria o Grande Mestre, recomendando que não saísse até voltar.

— Espero apenas que ele não fuja. — comentou o Dourado, apontando as escadarias e descendo.

— Não acredito que faça isso. Como disse, ele ainda tem medo e não vai arriscar fugir. Verei algumas vestes e remédios com os curandeiros da ilha... — comentou, percebendo o olhar de Aiolos após mencionar aquilo. — Esperar uns dias e testar suas habilidades e técnicas, saber até onde Halfeti o instruiu.

— Gostaria de ver isso, mas não quero influenciar ou mesmo te atrapalhar. Apenas peço que me mantenha informado. — sorriu ele para a Prata, vendo-a assentir. — Caso precise de qualquer coisa, não hesite em me chamar.

E pararam diante do Templo de Gêmeos, onde Saga parecia esperá-los no pátio assistindo os dois descerem já as escadarias da Casa de Câncer. Selene vacilou em seus passos, ficando pouco mais atrás de Aiolos que olhava o amigo, cumprimentando-o e recebendo um aceno de volta.

— Sejam bem-vindos de volta. — comentou ele, sendo o mais natural possível.

— Obrigado, velho amigo. — sorriu Aiolos, fingindo socar sua ombreira dourada, empurrando-o de leve. — De volta ao trabalho, sem descanso. Ontem cheguei tão cansado que nem mesmo busquei Aiolia...

— Ele está com os outros aspirantes. — comentou Saga com um discreto sorriso. — Eu o tenho ficado de olho nele enquanto estava fora, dormido no alojamento com outros aprendizes. A essa hora... — olhou em direção ao anfiteatro. — Deve estar treinando. Disse que queria surpreendê-lo quando chegasse.

— Hum! — orgulhou-se. — Vejamos o que ele tem para mim. Com suas licenças...! — fez uma leve reverência e adiantando-se pelo Templo de Gêmeos após a liberação de Saga.

Selene avançava a passos calmos até o Dourado, sendo acompanhada por ele pelo terceiro templo. O Dourado abriu caminho para a Prata, dando passagem para seguir adiante em sua morada.

— Como você está? — indagou ele voltando-se para ela. — Eu senti seu Cosmo, Selene. Fiquei muito preocupado...! — e parou de falar, ouvindo-a soluçar por baixo daquela máscara.

Num ímpeto, Saga a segurou pelas mãos, fazendo-a voltar-se para ele. Tomou sua face, removendo a máscara, encontrando seus olhos vermelhos pelas lágrimas. Havia ainda o corte nos lábios do qual ele tocou de leve com a ponta dos dedos. Não era algo que deveria estar surpreso, mas aquilo o deixou levemente perturbado.

Mexeu em seus cabelos, tocava seu rosto buscando tranquilizá-la, trazendo para junto dele, abraçando-a forte apesar dos dois usarem aquela indumentária e impedirem um maior calor humano entre os dois. Era um choro silencioso, mas que afligia o coração de ambos.

— E-Eu pensei... que nunca mais o veria... ! — sussurrou, engolindo as lágrimas que insistiam verter quando fechava os olhos lilases. — E-Eu senti um grande medo... e só pensei em você naquele momento... e de repente... tudo se apagou...! — e reabriu os olhos, buscando os verdes de Saga. — A-Acho... Acho que foi o que sentiu... Eu não sei...

Ela recebeu um beijo caloroso do Geminiano, sem qualquer medo de serem surpreendidos naquele momento por qualquer um. Apertava, sem força, a sua face puxando-o para ele, colando sua testa com a dela.

— Quando soube que foram atrás do Halfeti... — murmurou ele, ainda com seu rosto bem próximo ao dela, os lábios quase colando. — Eu tive vontade de ir atrás de vocês... Mas nem mesmo sabia onde encontrá-los. Eu fiquei desesperado na ideia de perder você novamente...

— E-Eu também...! — murmurou ela, sorrindo, tocando seu rosto. — Eu... E-Eu contava os dias para voltar, para vê-lo novamente... tocá-lo...

— Somos dois...!! — sorriu ele de volta, puxando-a pelas mãos para a parte privativa de Gêmeos sem qualquer hesitação da parte dela.

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Não demorou para Aiolos encontrar seu irmão mais novo treinando no anfiteatro. Estava com outros aprendizes e focado nas lutas corporais, saindo-se muito bem até. O Sagitariano ficou a observá-lo por um bom tempo, sem que o mesmo o notasse.

"Ele cresceu nessas últimas semanas... ou minha saudade está me fazendo ver demais?", e sorriu bobo ao pensar naquilo. A mera ideia de que poderia ter morrido na última missão fez seus olhos lacrimejarem.

Desceu as escadarias, sendo cumprimentado por alguns Cavaleiros e reverenciados por eles por sua hierarquia. Aquilo fez Aiolia interromper seus ataques e voltar-se para onde via outros apontarem. Ao ver o irmão, abriu os braços para ele, vendo-o correr ao seu encontro.

Aiolos o abraçou forte, como se não mais quisesse soltá-lo naquele momento. Pouco estava se importando com os olhares. "Saudades...! Só quero matar essa saudade de você, Aiolia", e sorriu com o abraço caloroso do irmão mais novo.

— E então? Como tem passado sem mim...? — perguntou Aiolos já sem sua indumentária, somente com as vestes de treino e fazendo alongamento nos braços quando sozinhos num espaço mais afastado do anfiteatro.

— Eu tenho treinado todos os dias! — disse um Aiolia empolgado e confiante. — Já consigo quebrar uma pedra... sozinho, irmão.

— Que bom! — orgulhou-se Aiolos. — Vi que sua agilidade está bem aprimorada.

— Sim! Treinei bastante como me disse. — falou ainda mais confiante e sério. — Quando chegasse, queria que visse o quanto fiquei forte!

O Cavaleiro ouviu aquilo e sorriu. Antes da viagem o pequeno chegou a fugir após uma bronca devido sua falta de dedicação nos treinos, mas sua ausência pareceu ter influenciado demais naquilo.

"E de pensar que não poderia estar vendo isso...", pensou sem que se desse conta. Caminhou até o irmão, agachando-se frente a ele e bagunçando os cabelos igualmente cheios e ondulados, apenas pouco mais claros que do irmão mais velho.

— Senti muita saudade sua, Aiolia. — comentou ele, vendo o irmão dizer o mesmo. — Então, por que não deixamos o treino de lado hoje e vamos curtir o resto do dia. O que me diz? — e arqueou o semblante de modo travesso.

O mais novo franziu o cenho, estranhando aquela proposta do mais velho.

— O que foi? Não quer curtir um dia com seu irmão? — brincou Aiolos, vendo um sorriso iluminar-se no rosto do garoto. — Vamos nadar, pescar... dormir na relva ou debaixo de uma árvore enquanto me conta como foram essas semanas enquanto estive fora...

— Só nós dois...? — questionou o garoto ainda sem parecer acreditar.

— Só... nós... dois...!! — confirmou Aiolos batendo com a ponta do dedo no nariz do irmão que riu e abraçando-o forte. — Eu te amo, Aiolia! — murmurou ele abraçado ao mais novo.

— Eu também te amo, irmão. — respondeu o mais novo de volta. — Quando crescer, quero ser igual a você!

Aiolos riu, levantando-se com ele, perguntando qual seria a primeira coisa a fazerem de muitas ao logo daquele dia.

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Era começo da tarde quando Selene finalmente retornou para a Vila das Amazonas, com um imenso sorriso sob sua máscara metálica. Por ela teria ficado ali, junto ao geminiano por toda aquela manhã ao menos, mas sabia que não podia. Havia ele deveres a serem cumpridos enquanto ela havia se incumbido de uma responsabilidade que a esperava.

Tudo parecia normal, com as janelas fechadas como ela mesma havia recomendado. Por um instante, antes de abrir a porta, temeu que ele tivesse fugido temendo por qualquer coisa em vista do quanto arredio estava. No entanto, ela o encontrou sentado na cama, encolhido num canto, relaxando quando a viu entrar com um cesto de folhas.

— Desculpe chegar tarde. — Desculpou-se Selene, removendo a máscara e respirando mais aliviada. Ainda usava sua armadura, mas removendo-a tão logo chegara e a mesma fechando-se em sua urna sob o olhar curioso do garoto. — Uma reunião, encontros com aqueles que não via há algum tempo, acertos e... — e retirou alguns pequenos vidros de diferentes colorações do cesto. — Isso são pra você.

Os olhos do garoto não piscavam, alternando dos vidros para a amazona que percebeu seu receio. Havia ainda outras folhas para chás e temperos, além de uma carne e leguminosas. Tomou um dos vidros em mão e se aproximou do garoto, entregando-o.

— São unguentos que ajudarão na recuperação de ferimentos e outras manchas pelo corpo. Acredito que os que tinha acabaram e os que ficou... — ela suspira, olhando para uma prateleira com alguns vidrinhos. — Bom, estive muito tempo fora e creio que não servirão mais. Então, trouxe um a mais para que pudesse cuidar também dos seus... Se deixar, é claro.

O garoto encolheu as pernas, apoiando a cabeça. Nada dizia, apenas a olhava. Arriscou tomar um dos vidros e abrir a tampa após o consenso de Selene. Tinha um perfume agradável de cânfora, aquele usado para dores locais resultados de pancadas, ajudando até na remoção dos hematomas como explicava a amazona. O outro já não tinha um cheiro tão forte, sendo apenas mais pegajoso e sendo alertado que tenderia 'queimar' sobre a ferida, ajudando prevenir infecções. O garoto observava tudo aquilo, sempre calado.

— Conversei com o Grande Mestre e ele permitiu que ficasse aqui pelo tempo que fosse preciso, mas... — era enfática, conseguindo a atenção dele. — Compreende que esse 'tempo preciso' não é eterno, não é mesmo? — e estudou sua reação, este se mostrando receoso. — Primeiro queria cuidar dessas manchas e feridas que ainda não fecharam, e quando estiver mais disposto, pensei em trabalhar em seu físico. O que me diz?

O menino a olhou com aquela expressão quase vazia e acenou muito suavemente com a cabeça. Havia melhorado muito desde que fora resgatado, contudo, ainda não tinha outra expressão muito diferente daquela. Não chorava, não gritava. Era como se não sentisse dor ou estivesse constantemente anestesiado.

— Ótimo! Já é um começo. — ela sorri enquanto se levanta, tomando uma pequena barra de sabão em mãos que estava entre os objetos trazido,  e entregando nas mãos dele. — Para começar, um banho com esse sabonete de ervas. Vai ajudá-lo a relaxar e recomendo usar sempre para limpar as áreas ainda feridas. Depois cuidaremos de fazer uns curativos e conversar como será sua rotina nessa primeira semana.

E o garoto permaneceu a olhá-la, sem emitir qualquer barulho. Selene o ajudou, percebendo muito hesitação por parte dele, em acompanhá-lo até uma fonte termal escondida entre as pedras onde ele poderia banhar-se sem risco de serem vistos.

Naquela primeira vez havia muito receio da parte dele, sentindo todo o corpo do garoto tremer como na noite em que somente passou um pano molhado em seu frágil corpo.

E como notado na noite anterior, viu hematomas nas costas, marcas no pescoço como se algo o tivesse prendido ali — embora não soubesse o que exatamente — e alguns ferimentos nas juntas das mãos, cotovelos e joelhos, além de algumas escoriações nas pernas e entre as coxas do rapaz.

Ela não o tocou durante o banho, deixando-o em sua privacidade e vergonha enquanto mantinha-se mergulhado na água, encolhido. “O que fizeram com ele...?”, perguntou-se Selene enquanto brincava com sua máscara em mãos, vigiando-o de longe. Aquelas escoriações e ferimentos eram bem óbvios para ela, fazendo-a engolir a seco e sentir certa náusea por aquilo.

Pensava se Halfeti seria um dos responsáveis, mas a aproximação do garoto ao mesmo não denotava que ele tinha medo, mas protegido pelo Dourado renegado. Eram dúvidas que deixaria que o tempo se encarregasse de responder, independente do tempo que fosse preciso apesar de tão curto.

— Bom, essas ataduras serão removidas e trocadas todas as manhãs, depois no meio da tarde se preciso, mas sempre antes de dormir. — dizia a Amazona guardando tudo após fazer os curativos. — Sempre que remover as ataduras, lave com o sabonete que usou no banho. Será apenas seu! Depois de limpo, deixemos secar para depois reaplicar os remédios, está bem?

Ele assentiu, olhando as faixas cobrindo um braço por um todo, o pulso e as mãos somente no outro, as pernas na coxa até acima dos joelhos e pescoço. Os cabelos ainda estavam molhados, e Selene os tocava, avaliando-o com cuidado. Suspirou, levantando-se para pegar uma tesoura, assustando o pequeno.

— Vou precisar dar um corte nesse cabelo. — ele a olhava com espanto. — Não vou cortar demais, apenas uns excessos e acertá-lo, tudo bem?

Ele assentiu, levando as mãos entre as pernas e baixando levemente a cabeça. A Prata aparou o suficiente, picotando o cabelo do garoto sem mexer demasiadamente em seu comprimento, deixando-o ainda pouco acima dos ombros. Eram ondulados e finos, ficando bem mais macios após o banho. “Esse cabelo longo seria como ondas caindo em suas costas...”, pensava ela, sorrindo.

— Bom... — ela sentou-se diante dele, deixando a tesoura de lado, buscando seus olhos azuis. — Reservei as manhãs para ficar com você. Nessa primeira semana apenas o ajudarei se ambientar e conhecer o espaço, além de cuidar dos ferimentos, claro. Tudo bem,  até aqui?

O garoto assentiu, vendo-a sorrir e até ensaiou também um sorriso. Viu-a a se esticar até uma mesa onde recolheu um pequeno embrulho e dele tirar uma máscara simples, sem desenhos em sua superfície, básica como de qualquer aprendiz. Os desenhos somente eram permitidos quando na fase dois dos treinos, sendo somente algumas poucas linhas simples, ganhando mais identidade na fase final quando indicadas para a grande prova e caracterizadas pela sua estrela guardiã.

— Como estamos numa área restrita às amazonas, aqui estamos sob a Lei da Máscara. Homens não são permitidos aqui, passíveis de severas punições. — e entregou-lhe a máscara, sendo tomada pelo garoto que ficou a tocar com a ponta dos dedos. Com sua feição delicada, seria facilmente confundido com uma das muitas jovens, mas não poderia arriscar de ser visto sem máscara. — Caso saia para explorar a área, use essa máscara. Ao menos, até que se sinta seguro o bastante para se juntar aos outros. Preferencialmente gostaria que não se afastasse demais daqui quando eu estiver ausente. Aqui é seguro, não tem o que se preocupar. Apenas uma pessoa vem aqui, sendo de minha total confiança. — sorri, pensando em conversar com Aelia sobre aquilo. — Não mais, acho que é somente isso por agora...

Selene suspirou, ficando a olhá-lo para saber se compreendia aquilo, vendo-o assentir. Restava ainda um algo, mas a Prata estava receosa em perguntar.

— Você... tem um nome? — questionou, percebendo a respiração dele mudar, os olhos ficarem inquietos até serem desviados. — Ca... Calma! Tudo bem! Não... Não precisa dizer. Temos nos entendidos bem até agora, posso esperar mais um tempo. — disse segurando a mão dele, conseguindo tranquilizá-lo. — Aqui, será um recomeço, e estou aqui para ajudá-lo. Confie em mim!

Um sorriso, ainda que tímido, acompanhado do primeiro brilho no olhar do garoto desde que se conheceram.

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— Ele tem respondido bem esta primeira semana, acredito que poderei iniciar os testes físicos com ele em breve.

Explicava Selene junto a Aiolos, também com a presença de Saga na sala. O Geminiano mantinha os braços cruzados apenas ouvindo o relatório da Prata quanto seu dever com o jovem aprendiz de Halfeti, recostado em sua mesa com semblante sério.

Como estabelecido, estava a relatar aquelas duas primeiras semanas desde que retornaram da missão, mostrando-se confiante e otimista quanto a evolução do jovem.

O Sagitariano, sentado em sua mesa, ouvia tudo com atenção, animando-se igualmente como a Prata, mas Saga mantinha seu ar desconfiado. "Será que é porquê o garoto estava ligado ao Halfeti...?", pensou Aiolos.

— Certo. — disse o sagitariano, voltando a observá-la. — E você conseguiu descobrir alguma coisa sobre ele? Seu nome, de onde veio, seus pais...?

— Ahn... Não. — respondeu ela relaxando os ombros. Esperava por aquela pergunta, e isso desanimava até mesmo ela por não ter aquele sucesso com o garoto. — Ainda não consegui conversar de fato com ele. Ele ainda... não está falando. Percebo que ele quer falar, mas é como se algo o impedisse disso, como se tivesse um bloqueio do qual preciso ir com cuidado para não o assustar. No entanto, acredito que esteja avançando bem com ele, ganhando sua confiança.

— Hum... — resmungou Saga coçando o queixo, conseguindo chamar atenção para ele. — Não acha que esses testes físicos podem intimidá-lo? — e percebeu o olhar de Aiolos, vendo que o amigo percebia aonde ele queria chegar. Selene apenas o observava. Apesar da máscara, o modo como ela mexia com as mãos denotava certo receio também quanto aquilo. — Afinal, esse bloqueio dele pode ter resultado de uma ação física, por exemplo. Acredito que ele seja órfão, os pais mortos pelos Cavaleiros Negros. Isso é o mais óbvio, não?

Selene suspirou silenciosamente. Era verdade que o garoto poderia ter perdido os pais em algum ataque violento, presenciado a morte deles e escravizado, mas por quanto tempo?

As marcas em seu corpo diziam muito, mas não ousava comentar com os dois sobre, até porque ela mesma não tinha certeza e achava horrível demais pensar naquilo.

— É um risco. — comentou ela, voltando-se para os dois, tendo a atenção de ambos. — Porém, preciso fazer essa avaliação e saber o quão forte é seu Cosmo e como estão aprimoradas suas habilidades. Ele não é um mero aprendiz, isso é fato.

— Selene acredita que ele tem o Sétimo sentido desperto, Saga. — comentou Aiolos alternando da Amazona para o geminiano que ouvindo aquilo com certa surpresa.

— Ou ele despertou naquele momento. — Completou Selene, com Aiolos concordando com ela. — Por isso preciso iniciar os testes com ele e saber o quanto ele sabe e domina o Cosmo. Caso contrário, ele pode ser um perigo até pra ele mesmo. — e ficou a fitar Saga. — Entende o que digo?

Saga ficou também a fitá-la, compreendendo bem aquelas palavras, lembrando de quando ele e Kanon a encontraram e a 'explosão' de seu Cosmo sem qualquer controle naquele momento. Essa era a preocupação da amazona e o porquê de assumir aquela responsabilidade.

A verdade era que Saga estava preocupado sob o quanto o jovem pode ter sido influenciado por Halfeti, mesmo que este tenha se mostrado arrependido antes de morrer como havia dito Aiolos.

— Se ele foi capaz de fazer o que fez... — comentou o Sagitariano quebrando aquele silêncio e se levantando, contornando a sua mesa. — Realmente é algo que não podemos relevar. E como ele se sente mais confiante com Selene, ela é mais indicada a fazer esses testes com ele e saber o quão forte é seu Cosmo, conhecer seus limites...

— Apenas receio porque nada sabemos dele, Aiolos. — explicou Saga fitando o amigo. — Não sabemos quanto tempo e o quanto ele foi influenciado por esses Cavaleiros Negros. — pontuou o Geminiano, alternando para Selene. — Eu sei que ele os salvou drenando o veneno de Halfeti de vocês, mas todo cuidado é pouco. Se ele tem técnicas semelhantes ao de Halfeti, isso o torna igualmente perigoso.

A Amazona sorriu por baixo da máscara, compreendendo a preocupação do Dourado de Gêmeos. "Ele está preocupado com minha segurança", pensou ela, corando. Agradecia por Aiolos não ver seu rosto naquele momento. Meio aquilo, os dois iniciavam uma breve discussão, sadia até, mas que era preciso interromper aquela divergência momentânea.

— Eu tomarei todo o cuidado, não se preocupem. — disse ela, conseguindo encerrar aquela breve discussão. — Além do relatório sobre ele, também gostaria de pedir permissão para levá-lo a um lugar tão logo seja possível para fazer essa avaliação de maneira mais... específica.

— Permissão...? — questionou Aiolos sem entender.

— Sim. — afirmou ela, dando alguns passos à frente, mais ao centro da sala. — Onde, inclusive, os dois poderão observar meus treinos com ele sem que interfiram diretamente.

— Onde exatamente estamos falando? — indagou Saga igualmente intrigado.

— Um lugar onde ninguém ousa se aproximar, uma área isolada. Um pequeno vale próximo ao Monte Zodiacal. — disse ela, esperando a reação dos dois.

Aiolos e Saga piscaram aturdidos, arregalando os olhos compreendendo onde exatamente a Prata estava a falar. Nenhum dos dois respondeu de imediato tamanha surpresa sobre onde seria realizado aquela avaliação.

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No Campo das Amazonas, o garoto observava os braços já limpos dos hematomas, o que o fez sorrir satisfeito com os resultados e cuidado da jovem para com ele ao longo daqueles dias. Tocou os cabelos bem aparados e limpos com mechas caindo sobre seu rosto enquanto olhava para um espelho e vendo algo que chamou sua atenção: um vaso com uma flor roxa isolada próxima à janela já com algumas pétalas ressecadas.

O garoto se levantou, tomando o recipiente em mãos e tocando delicadamente naquela planta. Um fio de cosmo fez a mesma rejuvenescer e ganhar força para desabrochar novamente, criando até novos brotos e florescendo. O perfume logo se fez presente, fazendo-o sorrir.

— Parece que alguém a ama muito, mestra. — e sorriu, malicioso brincando com uma flor em mãos, vendo-a desabrochar.


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