Saint Seiya Memórias: História Oculta Do Santuário escrita por Katrinnae Aesgarius


Capítulo 47
Livro 2 :: Dualidade - Ato 7


Notas iniciais do capítulo

Após o embate contra o cavaleiro Negro, Selene e Aiolos retornam ao Santuário, mas não voltam sozinhos.



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Estava frio, muito frio, ainda assim ele queria manter o irmão o mais aquecido possível. Com muito custo havia conseguido fazê-lo parar de chorar e voltou a remar com as mãos para uma direção qualquer. Pouco avançava, mas continuava.

Tinham que chegar a algum lugar, ainda que não tivesse vista de nada meio àquela neblina. Precisava de cuidado para que não virassem naquele bote improvisado, mas foi o que seu pai conseguiu para salvá-los. "Cuide seu irmão!", ele disse, empurrando-o com outros lixos para o mar de modo não ser visto pelos piratas.

Quanto tempo se passou, não sabia, apenas que caiu cansado e encolhido junto ao irmão quando pareceu ouvir alguma coisa. No primeiro momento, estremeceu, abraçando o irmão ainda adormecido com dedo na boca enquanto ele levantava a cabeça e avistava um barco.

Primeiro pensou ser os piratas, mas viu levantarem a vela branca. Um alívio e uma esperança. Arriscou ficar de pé, buscando equilíbrio e com cuidado, acenando. Estavam longe, a neblina ainda dificultava. Passou a remar desesperado em sua direção.

"São duas crianças, senhor!"

O garoto escutou, vendo um homem de cabelos longos escuros e pele morena observá-los e ordenar o resgate. Era um olhar piedoso, misericordioso, acolhedor recaindo sob o olhar desesperado daquela criança.

 "O meu irmãozinho...! Preciso cuidar do meu irmãozinho...!!", ele gritou com os soldados quando os viram apanhando uma criança aquecida enrolado numa manta como um casulo enquanto o mais velho tinha os lábios azulados e a pele pálida pelo frio.

— M-Meu irmãozinho...! — murmurou Aiolos em seu delírio, recebendo uma toalha dobrada em sua testa sob uma mão delicada. Transpirava compulsivamente. — Á-Água...! — e teve seus lábios molhados, acabando por acalmar-se e adormecer novamente.

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As pálpebras estavam pesadas, o que exigiu grande esforço para abri-las. O ambiente estava escuro, aconchegante, o que ajudou a não irritar os olhos embora já não queimassem mais.

"Um quarto...?", pensou ele, olhando a janela fechada e ouvindo o barulho da chuva. Estava coberto por uma manta, deitado sobre uma cama macia. Moveu-se o mínimo, mas suficiente para sentir o corpo ainda dolorido, acabando por esbarrar na mesinha de cabeceira e derrubar o copo de água. Ainda estava levemente atordoado.

— Não, não se levante. Ainda está muito fraco! — ouviu uma voz feminina ecoar no quarto, ouvindo seus passos apressados. — Aiolos?

Ele acompanhou a voz, mas ainda estava tentando se orientar, localizar-se naquele lugar. Murmurou algo que nem mesmo ele compreendeu, mas recebendo um copo em mãos e ajudado a beber. Água, bem refrescante, e depois ajudado a recostar. Demorou alguns minutos até despertar verdadeiramente.

— S-Selene...? — disse se voltando para a companheira que puxava uma cadeira e se sentando ao seu lado. Quando se voltou para ela, uma surpresa.

A amazona estava ao seu lado arrumando uma bandeja com uma jarra e uma bacia com água fresca e panos. Ele mesmo havia removido um que estava em sua testa quando começava a despertar.

Ela tinha um semblante preocupado, mas sorria para ele. Os seus olhos eram brilhantes num lilás único. Mesmo sob a pouca luz, auxiliada por um castiçal com duas velas no outro lado do cômodo era possível ver seu rosto em formato de triângulo invertido, os lábios e maçã rosados.

— Que bom que acordou. Beba mais água...! — disse ela enchendo mais seu copo, colocando a mão em sua testa. — A febre cedeu, finalmente. Estava preocupada.

— O-Onde estamos? — indagou rouco, sentindo a garganta ainda arranhar. — Não estamos no Santuário...

— Não, não estamos. — Dizia ela colocando a jarra de volta à mesinha de cabeceira e repousando as mãos no colo. Usava um vestido simples, os cabelos estavam presos, mas seu lenço estava envolta do pescoço. — Mas, não se preocupe quanto a isso. Estamos seguros aqui. Não podia arriscar uma viagem no seu estado, mas chegar aqui foi uma bênção!

— O que aconteceu? — perguntava ele, levando a mão à cabeça. Ainda sentia leve enxaqueca. — Há quanto tempo estou...

— Cinco dias. — respondeu ela fitando-o. — Você dormiu por cinco dias, embora tenha delirado bastante nos primeiros, mas acalmou depois. Acordava, mas logo adormecia. Tenho vigiado seu estado, monitorando sua temperatura.

— C-Cinco dias...?!! — repetiu preocupado. Demorou alguns instantes para assimilar aquilo, lembrando do que aconteceu. — Estava a lutar com Halfeti... E-Eu deveria estar morto...!

Ao voltar-se para Selene, ele a viu baixar a cabeça, séria, mordendo os lábios. Na mente do Dourado, tudo ainda era confuso, ainda estava se situando de tudo após dias adormecidos. Por fim, a sua mente pareceu situá-lo e trazer as lembranças de volta...

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"Aiolos... não hesite... Faça o que deve ser feito... !

As pupilas de Aiolos se contraíram ao ouvir aquele clamor de Halfeti. Era possível sentir a angústia e o pesar em sua voz, comunicando-se com ele através de seu Cosmo.

Mesmo diante de uma aparência demoníaca de seu antigo mestre e Dourado de Peixes com aqueles olhos em chamas, era capaz de ver seu real espírito meio ao Cosmo negro de veias de sangue que tomavam seu corpo. Os seus olhos eram suplicantes, chorosos.

"Lembre-se do que lhe disse... Por favor... faça...!"

Uma lágrima ganhou a face de Sagitário enquanto assistia o Cavaleiro Negro empunhar sua rosa branca de bordas negras, emanando uma aterrorizante energia. Estava pronto para deferir o ataque final enquanto recitava aquele nefasto hino.

"Halfeti...!!!", pensou o rapaz, fechando os olhos e o punho. A dor era excruciante, mas ascendeu potencialmente seu Cosmo. Ainda estava preso junto à parede, pelas dezenas de rosas que o atingiram e o cravaram ali, mas não se permitiria desistir.

A sua armadura reluziu, queimando as rosas que o prendia e às raízes que avançaram contra ele. Todas eram pulverizadas com leve bater de suas asas douradas que se abriram, exibindo uma envergadura de quase 2m em cada asa.

— Queime seu Cosmo, Aiolos...! — disse Halfeti com sua voz gutural, ecoando naquela sala. O seu tom parecia fazer todo o jardim responder ao seu chamado e exalar perfume, pólen, pétalas e folhas pela sala. — Quanto mais ascender seu Cosmo, mas o veneno o matará... E deixarei a minha rosa como meu presente a você! — e riu, mostrando-se intensamente motivado com tudo aquilo, enviando uma torrente de ar de todo o jardim em direção ao Dourado.

Aiolos estava de pé, a alguns metros do Peixe Negro, a cabeça baixa, a face nublada, com apenas uma linha de suas lágrimas que descia por seu rosto. Parecia indiferente a tudo que acontecia à sua volta, até mesmo ao ataque deferido por seu algoz. No entanto, para a surpresa do oponente, um tornado envolveu o corpo de Aiolos, circulando-o, não apenas bloqueando seu ataque como também concentrando-o à sua volta.

No primeiro momento, surpresa e o começo de um medo de uma derrota, mas depois cerrou os dentes contrariado antes de ensaiar um sorriso de canto. Um riso contido, ganhando força até se tornar uma gargalhada insana.

— O que acha que está fazendo concentrando as minhas rosas, todo o jardim em você, Aiolos? Será que o veneno das rosas o enlouquec... — e se calou, arregalando os olhos.

Naquele ínterim, a mão direita de Aiolos elevou-se até sua umbreira, onde uma flecha dourada surgiu. Enquanto à esquerda ganhava suas costas, na altura lombar, removia um pentágono que, quando aberto, mostrou-se um arco com seus 1,20m de comprimento, e onde um fio de Cosmo desenhou a linha para a acomodação da flecha. Ela foi apontada para em direção de Halfeti, sob o olhar incisivo de Sagitário que reluziam num castanho-dourado.

— A luz... — dizia Aiolos com um tom forte. — Jamais deve ser engolida pela escuridão...!

O Cavaleiro de Peixes Negro o olhava temeroso, relutante. Porém, seus olhos pareciam queimar ainda mais intensamente como se tomado por uma ira momentânea, fazendo a rosa em sua mão ficar em chamas azuladas.

— MORRA, SAGITÁRIO! — gritou o pisciano atirando a rosa que voou em direção do rapaz como se fosse uma lança, deixando um rastro de fogo no ar.

— HALFETI!!! — exclamou Sagitário preparando seu ataque, concentrando o Cosmo na ponta de sua Flecha da Justiça.

Tudo à volta dos dois pareceu mergulhar em total silêncio naquele rápido segundo. Aiolos deixou uma lágrima cair antes que sua mão soltasse a flecha que cortou a sala, deixando um rastro dourado, atravessando a rosa do Peixe Negro no ar, despedaçando e pulverizando-a numa explosão de luz.

Halfeti olhou aquilo abismado, arregalando os olhos negros que, por um instante voltaram ao vermelho de antes, observando a flecha ganhar sua direção. Ele a sentiu atravessar sua Armadura Negra, rasgar seu peito, atravessar seu corpo. Uma aura negra tão logo abandonou seu corpo, queimando como se fosse uma grande chama azulada e olhos vermelhos observavam um Aiolos ainda impactado com o que via.

A última cena vista por Sagitário foi ver o corpo de Halfeti cair, destruído juntamente com sua Armadura Negra. "E-Eu... Eu o vi... sorrindo...?", indagou-se ao ver a expressão serena novamente de seu mestre quando caiu. Tinha certeza de que o viu murmurar um 'Obrigado!', mas sua visão já havia ficado turva e escurecia exponencialmente.

"E-Eu consegui salvá-lo, mas... D-Desculpe, Aiolia... mas... poderei... não...", murmurava ou pensava? Nem mais sabia. Não mais sentia seu corpo quando caiu. A sua respiração começou a falhar e era apenas uma questão de tempo.

No entanto, viu uma sombra bem próxima a ele. Apesar da visão turva, conseguiu perceber se tratar das raízes que se aproximavam, cobrindo-o pouco a pouco.

"E-Eu... falhei...? N-Não tenho... mais forças... para resistir...", angustiou-se, percebendo as raízes ganharem seu rosto e ele ser engolido num grande casulo, mergulhado no escuro quando perdeu completamente os sentidos.

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— Eu o encontrei na câmara, inconsciente... — comentou Selene quebrando o silêncio. — Não havia mais o jardim, havendo senão raízes secas que estavam secas sobre seu corpo... e Halfeti morto ao seu lado, muito abatido, as veias muitos visíveis em sua pele... — ela descreveu, vendo a reação de Aiolos em fechar os olhos.

— E-Ele... Ele me salvou...? — questionou o óbvio, olhando para a Prata que assentiu, dizendo que suspeitava que sim. — Ele usou o que restava de vida... para me salvar...?

Selene respirou fundo, virando os olhos e umedecendo os lábios.

— E-Eu senti uma explosão de seu Cosmo e fui ao seu encontro. Apenas o vi ao seu lado, absorvendo o veneno com auxílio das raízes... — disse ela com pesar na voz. — Sim, ele o salvou, Aiolos. Pensei que fosse perdê-lo quando senti a explosão de seu Cosmo.

Sagitário deixou uma lágrima ganhar sua face. Não havia como conter aquela emoção naquele momento. Lembrar aqueles olhos suplicantes no último instante e seu agradecimento nem mesmo permitiu o Dourado gritar em fúria, pois foi vencido pela fadiga de toda a energia empregada em seu último golpe.

— Ele me entregou isso... — disse a amazona com um pequeno embrulho, o qual Aiolos reconheceu ser a capa rasgada de Halfeti. Dentro dele, uma joia negra. — Ele nos jogou para fora do templo antes de tudo ruir.

Ele ficou em silêncio, segurando a caixa em suas mãos por alguns instantes e entregando depois à Selene quando esta pediu. Avisava que deixaria junto à urna da Armadura de Sagitário, encostada num canto do quarto.

Se bem lembrava, ela sofrera danos graves por conta da acirrada batalha. Aquilo o fez, ainda, franzir o cenho, voltando para saber aonde e como chegaram àquele lugar, se era o vilarejo do qual passaram a caminho do templo.

— Não, não estamos naquele vilarejo, mas bem mais distante. — respondeu Selene ao questionado por Aiolos. Ela estava de pé enchendo o copo com mais água e entregando a ele, voltando a se sentar na cadeira ao lado da cama. — Quando saímos do templo, senti uma energia próxima, acolhedora... Não podíamos ficar ali, principalmente em sua condição. Arrisquei um teleporte e chegamos aqui, sendo acolhido por uma senhora e seu filho.

— Entendo... — dizia olhando à sua volta, pairando sobre a urna. — E quanto a armadura?

— Está bastante danificada, não vou mentir, mas... — Selene olhou para a urna.

— Ela consegue se reparar, dentro do seu limite... — e voltou-se para o jovem, percebendo-o olhar com ceticismo. — Lembra do que disse de as armaduras serem vivas? Elas podem se reparar desde que fiquem descansando, como nós quando precisamos nos recuperar dos ferimentos enquanto em repouso. No entanto, só poderei ajudá-la na 'recuperação' quando chegarmos ao Santuário. Até lá, ela precisa apenas descansar, assim como você.

E ela se levantou, abrindo um sorriso para ele.

— Sei que descansou esses dias, mas precisamos ficar mais um dia ou dois até que esteja forte o bastante para seguirmos viagem. — a amazona recolheu alguns panos e a outra bacia. — Trarei algo para comer. Uma sopa, talvez.

— Ahn, Selene... — chamou Aiolos, olhando para ela sem jeito. — Você percebeu... que está sem máscara?

Ela o olhou séria, deixando o que levava numa mesa ao lado. Estava um tanto desconcertada.

— Sim, eu sei... A minha máscara quebrou, e como também estava com alguns ferimentos e tive febre no primeiro dia, a senhora recomendou que ficasse com a rosto mais... livre. — sorriu tímida. — E como estava desacordado... — deu de ombros. — Esqueci de cobrir o rosto quando o ouvi acordando, animada após tantos dias desacordado. Poderia pedir...

— Será um segredo nosso. — comentou ele. — É o mínimo que posso fazer depois de tudo que fez por mim ao longo desses dias.

— Obrigada, Aiolos. — agradeceu ela, deixando o quarto avisando que voltaria com algo para comer.

Quando ela fechou a porta, o sagitariano ainda ficou a olhar na direção e depois para frente, arrumando-se na cama. Sorriu, rindo em seguida com o que veio à sua mente. "Você é um homem de sorte, Saga", e riu disso.

 

───────.∰.───────

 

Saga estava recostado numa das pilastras de seu templo, na terceira Casa Zodiacal, num pavimento superior que dava acesso para uma varanda, permitindo contemplar as estrelas. No entanto, o seu olhar apenas estava perdido num ponto qualquer, pensativo. Estava apenas com as perneiras de sua indumentária e a calça escura reforçada, o torso nu coberto pelos longos cabelos que caiam em camadas.

— Tem algo que vem me incomodando há algum tempo, Saga. — comentou Kanon, quebrando o silêncio.

Estava sentado às costas do irmão, mais acolhido nas sombras e recostado na pilastra, com sua típica roupa de treino, removendo as faixas do braço. Não ouviu qualquer reação do seu irmão mais velho quando falou, fazendo-o somente olhar por cima dos ombros para certificar que ainda estava ali.

— Não acha estranho como estamos, de alguma maneira, ligado à Selene? — indagou o mais novo e esperando uma reação do irmão.

— Como assim? — questionou Saga intrigado, piscando e apenas seus olhos se voltando para suas costas. — O que quer dizer?

— Ahn... No dia de seu teste, em sua luta contra Albion... — relembrava Kanon, olhando um ponto qualquer no escuro e enrolando suas faixas. — Aquele Cosmo, aquele poder que ela emanou... não sei como explicar. — riu daquilo. — Foi como se nos conectasse de alguma forma, e não foi a primeira vez.

O mais velho não respondeu, apenas baixou o semblante, virando a cabeça de lado esperando ver o irmão, às suas costas. Kanon percebeu que chamou a atenção do mais velho.

— Foi como naquele dia... Naquele prédio quando a encontramos sendo atacada, lembra-se? Foi como se fôssemos atraídos até ali, sentimos esse mesmo poder... mais fraco, claro, explosivo. — o mais novo falou intrigado, franzindo o cenho e pousando as faixas em seu colo. — O Cosmo de Selene e o nosso... parece ser único, entende?

— Acho que sei o que está dizendo. — respondeu Saga, por fim. — É como o meu Cosmo e o seu, similares, como se um complementasse o outro? — questionou Saga olhando novamente por cima dos ombros como se olhasse para o irmão.

— Por aí. Quando ela fez aquele escudo interferindo nosso embate...  — dizia, mas logo se calando, bufando com frustração.

— Quando vai perdoá-la, Kanon? — indagou Saga percebendo a reação do irmão seguida de seu súbito silêncio.

— Acho que está na hora de eu ir. — disse se levantando, falando de maneira seca.

— Por que não admite que se preocupa com ela, Kanon? Por que tem que ser sempre tão orgulhoso? — Saga se levantou junto com o irmão, encarando-o sério, com um semblante preocupado. — Ela tem estado muito preocupada com você.

— Ah, é mesmo? — falou com escárnio, acompanhado de um sorriso cínico que lhe era peculiar. — Besteira! Ela me humilhou...!

— Ela o salvou Kanon! — corrigiu o mais velho fitando o irmão, vendo-o fuzilar com os olhos por aquelas palavras. — Ela jamais quis prejudicá-lo...

— Fácil dizer isso, Saga. E se fosse com você, qual seria sua reação? — desafiou o mais novo arqueando semblante, mas nem mesmo esperou o irmão responder, mergulhando no escuro e desaparecendo.

Saga tentou replicar, mas calou-se, coçando entre os olhos e se voltando para fora do templo. Cruzou os braços frente ao peito, com a cabeça baixa, respirando profundamente. Levantou a cabeça olhando em direção às estrelas, suplicante. Pouco mais à frente ele podia ver parte da grande estátua de Athena em seu templo.

— Oh, Athena... — suplicou ele, sentindo um nó na garganta. — Traga a minha estrela Pyxis de volta em segurança. — e fechou os olhos, repetindo aquele pedido mentalmente.

Olhos vermelhos se abriam e estavam a fitá-lo em sua sombra no chão.

 

───────.∰.───────

 

Um dia após despertar, Aiolos não mais apresentava febre como nas primeiras noite e se manteve mais acordado e pensativo.

Ouvir Halfeti entoando aquele hino soara sombrio, igualmente ao lembrar-se daqueles seus olhos avermelhados denotando uma ira incontrolável quando desencadearam seus golpes finais. Aquilo provocou um arrepio em Sagitário. Jamais tinha visto e sentindo um poder tão aterrorizante.

Quando narrou à Prata aqueles detalhes, sentiu que ela ficou levemente perturbada com aquilo, mas não necessariamente surpresa, o que deixou o Dourado intrigado. Quando a própria narrou sobre o jovem que os guiara e que este a atacara, comentou também sobre seus olhos e de seu tom agressivo, mas não algo tão temível como Aiolos pareceu confrontar contra o Peixe Negro.

— Não era ele. — comentou o Cavaleiro convicto daquilo. — Halfeti estava sendo controlado por algo ou alguém. Não sei qual era o objetivo, mas começo a pensar que tudo começou ainda no Santuário...

— Acha que Sólon, o antigo Cavaleiro de Gêmeos, poderia ter descoberto e por isso...? — perguntou Selene tentando acompanhar o raciocínio de Aiolos, vendo-o assentir.

— O olhar de pesar, de culpa de Halfeti após atacá-lo... — ele lembrou, tendo a imagem gravada ainda em sua mente. — Era o mesmo de quando foi condenado. Eu vi, Selene, o brilho da culpa em seus olhos... — lamentou mais uma vez, soltando um longo suspiro. — E o garoto, como está?

— Ainda está muito assustado. — comentou a Amazona sobre o garoto, olhando em direção à porta como se esperasse vê-lo ali, mas o havia deixado dormindo em seu quarto. — Não fala nada desde aquele dia, muito retraído. Talvez, quando chegarmos ao Santuário...

A decisão de levar o garoto ao Santuário foi sugerido pela Prata. Primeiro porque ele tinha manifestado o Cosmo, segundo que parecia ter sido inicialmente treinado pelo próprio Halfeti, uma vez que dominava as mesmas técnicas de domínio com rosas e os ramos que atacaram e os salvaram absorvendo o veneno.

"Leve-o com você. Não mais poderei protegê-lo...", foi o que Halfeti disse antes de morrer e todo o templo ruir após a frágil estrutura ser abalada pelos golpes. Após ter sua vida salva pelo antigo mestre, não negaria seu último pedido e a sugestão consentida pelo Dourado.

— No entanto, creio que ele não será o único a nos acompanhar, Aiolos. — comentou Selene vendo a expressão intrigada do Dourado. — Lembra quando disse que estávamos seguros aqui? Acho que vai gostar de ver uma coisa.

Aiolos piscou aturdido para aquele suspense da Prata.

Quando viu a razão, o Dourado ficou maravilhado. Estava diante de uma das armaduras perdidas. A Prata explicou mais ou menos onde estavam, o que seria muito próximo de suas marcações.

A senhora que cuidara do trio explicou que a urna estava com a família nos últimos 100 anos, sendo herdada a cada geração, mas jamais sendo aberta — com exceção do jovem que garantiu ter visto a mesma se manifestar intensamente nos últimos dias. Certamente aquilo ajudou Selene a teleportar-se para ali.

— Sempre ouvi histórias de guerreiros com armaduras sagradas... — narrava a velha senhora ao lado do neto. — Agora vejo que não se tratava de meras histórias... e que você... — se voltava para o jovem. — Deve seguir o seu destino.

A viagem aconteceu três dias depois. No entanto, diferente de antes que precisaram percorrer caminhos e fazer longas viagens convencionais atrás das pistas, o retorno seria mais prático, uma vez que havia três urnas de armaduras e as mesmas poderiam prover um 'atalho' de volta ao Santuário.

A jovem posicionou as três urnas — uma Dourada e duas de Prata — e pediu um pequeno sacrifício, sobretudo da Dourada, para a execução daquele exercício. A resposta foi a manifestação delas, emanando seu Cosmo.

Uma luminescência circular surgiu, até explodir em luz, fazendo com que colunas antigas em pedra branca surgissem do chão e se erguessem. Em seguida, um portão antigo, como que das ruínas de um templo de Athena se ergueu, mostrando um bosque verdejante completamente diferente do que realmente havia naquele lugar.

Os dois jovens ali presentes observavam aquilo admirados, enquanto Aiolos observava mais com surpresa e perplexidade, uma vez que desconhecia tal segredo e olhando para a Prata indagando silenciosamente como aquilo era possível.

— Não disse antes por que isso exige demasiadamente de uma armadura, pois ela usa mais da metade de seu Cosmo para abrir um portal entre dois pontos, sendo um caminho sempre o Santuário. — explicava a Prata vendo as escadaria e o portão esbranquiçado. — Evidentemente uma armadura não é suficiente, sendo minimamente duas já que exige uma demanda de cosmo-energia. Entretanto, como Sagitário está muito danificada devido seu combate contra o Cavaleiro Negro, as duas de Prata ofereceram maior estabilidade, mas não temos muito tempo.

Selene se voltou aos dois jovens, ainda estáticos observando aquilo, e chamando-os para entrarem no portal. Houve hesitação, principalmente pelo jovem protegido de Halfeti. Contudo, seguiu quando a Amazona lhe estendeu a mão, atravessando a passagem juntamente a ele. Aiolos foi o último, após ver a despedida do outro jovem à velha senhora que cuidara deles nos últimos dias.

Os quatro foram teleportados próximo à antigas ruínas, sob o círculo que ainda emanava no chão. As urnas das armaduras foram as últimas a se deslocar antes do portal dissipar-se em incontáveis pontos luminosos.

O local era uma construção circular rodeadas de colunas, das quais muitas destas tombadas. Duas colunas maiores pareciam suportar uma parede de pedras empilhadas, e no topo dessa parecia a imagem de um sol.

O Cavaleiro apanhou sua urna após um breve agradecimento e olhando à sua volta, buscando algum reconhecimento.

— Estamos próximos ao Monte da Dignidade. Talvez meio dia do Santuário, no máximo. — disse se voltando à Prata.

A Amazona já havia apanhado sua urna, mas estava a desenhar uma linha frente à sua máscara e deixando um rastro luminoso de seu Cosmo, desaparecendo em seguida. Naquela manhã o Dourado a viu ajustando as moléculas de Cosmo para que pudesse magnetizar a máscara e ela 'colar' as duas partes. Ao menos até puderem chegar ao Santuário e então restaurá-la adequadamente.

Chegaram ao Santuário no fim da tarde, com poucas paradas no caminho para água aos dois jovens que os acompanhavam, sendo a última parada em Rodório, onde receberam pão e frutas para se alimentarem após o meio dia de viagem como prevista por Aiolos.

A verdade era que os dois Cavaleiros estavam fatigados, pois ainda se recuperavam das consequências da batalha, sobretudo da armadilha de Halfeti de Peixe Negro.  Porém, agora faltava muito pouco.

Chegando os domínios propriamente dito do Santuário de Athena, pouquíssimos aspirantes continuavam a treinar no anfiteatro. Àquela hora, todos começavam a se recolher para o merecido descanso do calor e do árduo treino diário. Soldados davam início às suas patrulhas, mas tudo mostrava-se tranquilo.

Selene, no entanto, discretamente parecia fazer uma busca nas redondezas à alguém em especial. Sentia que seu coração, já batendo acelerado, fosse saltar tamanha ansiedade.

A primeira parada foi em Áries, onde Mu correu ao encontro de Selene, sendo receptivo aos convidados. O jovem aprendiz do Peixe Negro continuava retraído, acolhido na capa de viagem fornecido pela Prata, o rosto nublado pelos cabelos e pelo capuz.

— Mu, as armaduras vão precisar de uma restauração. Priorize a de Sagitário, foi a mais danificada. — comentou Selene segurando sua máscara. — E também preciso de uma máscara de reserva... — riu contidamente.

— Já pedi a um soldado notificar de nossa chegada, mas deixarei a apresentação oficial para início da manhã. — comentou Aiolos voltando-se para a Prata e os convidados. — Você, eu o deixarei no alojamento dos aspirantes, mas pedirei que deixe a armadura para que Mu possa avaliar. — e viu a expressão do rapaz assentir, acompanhando o Dourado. — Selene, acho que será melhor ele ficar com você hoje. — ela concordou, abraçando o rapaz após colocar uma nova máscara.

Após acomodar o jovem no alojamento, Aiolos olhou para o Monte Zodiacal, mas mudou seu caminho até outro templo. Não tinha certeza, mas conhecendo-o como conhecia, certamente ainda o encontraria trabalhando. Sentia em dívida com o amigo e queria que ele, antes de qualquer um, soubesse os fatos.

E tal como esperado, ouviu o movimento na sala e encontrando-o de costas, com sua túnica, organizando alguns papéis.

— Olá, Saga! — chamou Aiolos, vendo o Geminiano parar e virar-se lentamente, olhando o amigo com surpresa. — Precisamos conversar.

A expressão do Geminiano assombrou-se.


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Notas finais do capítulo

Primeiramente agradecendo aos comentários. Fiquei feliz em saber que tenho conseguido atingir objetivos de provocar emoções e suspense nesses últimos capítulos. mais feliz fico em saber das fangirls do Quine. XD

Nos próximos capítulos:
Um pouco mais da relação Saga e Aiolos.
Quem é o jovem protegido por Selene?



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