Saint Seiya Memórias: História Oculta Do Santuário escrita por Katrinnae Aesgarius


Capítulo 45
Livro 2 :: Dualidade - Ato 6


Notas iniciais do capítulo

A batalha de Aiolos de Sagitário contra Halfeti de Peixe Negro ganha força e revelações.



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Uma rajada de luz cortou o ar, mas Halfeti apenas sorriu, jogando o corpo para o lado, esquivando-se sem muito esforço do golpe deferido pelo Dourado de Sagitário.

Era um ataque desesperado, feito às cegas. Porém, estava longe de ser o ataque que fora realizado há poucos instantes quando foi surpreendido por uma ação, até então impensada, vir de Aiolos já tão enfraquecido. Por muito pouco não foi atingido pelo que pareceu um tornado, mas agora não passava de uma brisa.

— O que é isso, Aiolos...? — indagou retoricamente Halfeti seguida de um riso de escárnio. — Acha mesmo que pode me atingir com um golpe assim... tão fraco?! — comentou o oponente jogando sua capa de lado e criando um redemoinho com rosas vermelhas que avançou contra o Sagitário.

Aiolos tentou conter aquele ataque cruzando os braços frente ao corpo na tentativa de ‘empurrar’ o redemoinho com as rosas, mas seus reflexos estavam debilitados demais para conter tamanha força e sendo atacado, arremessado alguns metros de onde estava. Restou usar as asas para estabilizar-se, mas não conseguiu impedir que fosse ao chão, somente evitar um baque maior. Mesmo com a máscara protegendo seu rosto, absorveu mais o perfume das rosas que floresciam.

— Você já absorveu muito do veneno das minhas rosas e seus sentidos estão sendo entorpecidos... um a um. — disse Halfeti orgulhoso olhando o jardim que florescia. — Caso continue exigir demais de seu corpo, só vai agravar sua situação, tornando-o mais vulnerável!

 “Ele tem razão...!”, pensou o sagitariano quando tentava se levantar, encontrando uma dificuldade incomum. Não bastasse o corpo febril, também o sentia pesado, algo que sempre considerou tão irrelevante.

“Sinto o meu corpo pegando fogo, como se me sufocasse...!”, dizia para si mesmo mentalmente, e aquilo somente parecia suficiente para agravar a enxaqueca que sentia, piorando mais e mais sua desorientação. Foi preciso usar as asas fincando-as no chão para servir de apoio e empurrar o corpo para cima.

— Que cena deplorável... — resmungou o oponente enquanto o via se levantar. — Quanto tempo mais acha que pode resistir ao veneno das rosas?

— T-Tempo suficiente... para que possa... derrotá-lo...! — respondeu Sagitário se voltando para o seu inimigo, sentindo o ar arranhar sua garganta seca e fazendo-o tossir.

— Ah, sim, claro. A sua atitude me faz lembrar Sólon em sua tentativa desesperada de me conter. — dizia Halfeti num tom depreciativo ao antigo amigo. — A cena que vejo agora era igualmente humilhante na ocasião...

Aiolos fechou o punho e cerrou os dentes ouvindo aquilo. "Como ousa... Como ousa denegrir a imagem de Sólon...?!", pensou enraivecido.

— Cala a boca... — O sagitariano falou, mas engasgando logo em seguida. — CALA A BOCAAAAAAAA!

Voltou-se para o Cavaleiro Negro num giro, com o punho concentrando um grande Cosmo e deferindo uma raja reluzente contra ele. Nem mesmo sabia quem ou o que atacava. Foi movido pelo impulso, sem uma direção definida, mas pela suposição. Os seus olhos queimavam demasiadamente, fazendo lágrimas brotarem e ganhar sua face. Via dois Halfeti depois quatro até se tornar novamente um.

O Peixe Negro apenas desenhou um sorriso de canto, colocando o corpo de lado e esticando o braço para 'segurar' aquele golpe de Aiolos. Não podia ignorar que era um ataque forte, mas não estava tão concentrado — caso contrário, certamente teria seu braço esmagado com aquele poder.

— Hunf! O que acha que está fazendo, Aiolos? — indagava o Cavaleiro Negro segurando o golpe e sob o olhar atônito do Dourado, sangrando pelo nariz. — Eu disse que o perfume das rosas está te debilitando, e vejo que mexe até mesmo com sua mente a ponto de achar que pode me derrotar? Não me faça rir...!

E 'jogou' o 'resto' de ataque que ainda havia de lado, dissipando-o completamente. No processo, queimou algumas raízes próximas que pareceram reagir ao ataque e avançaram, ajudando na contenção. Aiolos, no fim, estava ofegante, buscando ar que começava a lhe faltar. Levava a mão ao peito, frente à joia de sua armadura. Percebia o sangue queimar suas narinas. "Maldição...!".

Halfeti, por outro lado, cerrou os olhos e concentrou seu Cosmo também no punho. Diferente de Sagitário que enviou uma rajada de luz, o ataque foi como uma tempestade de vento que levantou pétalas e mais pétalas das rosas de desabrochavam naquele jardim, sendo enviadas contra Aiolos.

Percebendo a ação, pouco pôde fazer senão levantar os braços e cruzar frente ao rosto. As suas asas também reagiram tentando bloquear o ataque criando um escudo de proteção. "O pólen das flores... elas estão...", entrando pelas brechas das asas e sufocando ainda mais Aiolos.

Acabou por se render e cedendo, caindo ajoelhado com o corpo pendido para frente e apoiando-se, mais uma vez, pelas asas da armadura.

Podia ouvir o riso de Halfeti enquanto olhava para o chão que formava uma poça de sangue. Tinha cortes em seu rosto e partes da armadura ficaram danificadas, incluindo parte de sua máscara.

— Está acabado, Aiolos. Tenha um mínimo de dignidade e desista! — dizia Halfeti alternando dele para o corredor às suas costas, mas voltando para fitá-lo com desdém. — Não passa de um moleque com uma Armadura de Ouro!

"Ele tem razão...", pensou o jovem Cavaleiro, ofegante. "A quem estava querendo enganar... achando que o derrotaria... quando ele derrotou Sólon...?".

Era uma constatação amarga para Aiolos, já sem forças até mesmo para colocar-se de pé, com uma armadura que estava a pesar e queimar sua pele devido a febre que o consumia. "E-Eu... fracassei...!", concluía, deixando a lágrima ganhara sua face.

"Você promete voltar, irmão?"

A voz ecoou na mente do Sagitariano de imediato. Era a voz de Aiolia, do seu irmão mais novo que havia deixado no Santuário. O pequeno perguntara aquilo no momento que estava de partida. Tinham conversado bastante sobre aquela viagem, mas era natural que o irmão se mostrasse tão receoso.

Aiolos era um irmão sempre presente, encontrando um espaço entre os treinos para ficar com o irmão e levando-o para assisti-lo — certamente ajudando-o a despertar seu Cosmo muito cedo nas tentativas de imitar o irmão. Entretanto, a última missão tomara dois meses, e o Sagitariano prometera que aquela seria a última.

Apenas não esperava que fosse no sentido literal da palavra.

"Apenas prometa que voltarão, de que nada vai acontecer...! Prometa pra mim, Aiolos. Prometa que vai cuidar dela!"

Ouviu de Saga, seu amigo de longa data. Ambos se conheceram no Santuário e treinados muitas vezes em dupla por Sólon e o próprio Halfeti, servindo como grandes exemplos para outros aprendizes — até mesmo para o indisciplinar Kanon.

Eram os orgulhos de seus mestres. Quando Aiolos foi sagrado primeiramente a Cavaleiro de Ouro — já que estava há mais tempo no Santuário — e enviado para sua primeira missão, Saga foi quem mais o encorajou.

Quando tudo aconteceu e o Pisciano foi condenado, o jovem Sagitário assistiu o transtorno dos dois irmãos em ver seu mestre morto por seu melhor amigo, desprestigiado pelo renegado Cavaleiro de Peixes.

Estava presente quando os ouviu jurar, sob o túmulo do Dourado da terceira Casa, que o vingaria. Quando naquela missão desconfiou de ter encontrado o rastro daquele que se tornou um Cavaleiro Negro, quis assumir toda a responsabilidade e vingar pelo amigo. Porém, no fundo, esperava poder estar enganado em relação ao Halfeti até vê-lo declamar aquele hino nefasto.

"Prometa-me que voltaremos os dois para o Santuário"

Ouviu a voz da Amazona de Pyxis, agora ecoar em sua mente. Garantiu que cumpriria aquele acordo quando pediu que Selene o deixasse sozinho com Halfeti. Porém, estava para quebrar mais aquela promessa.

"É assim, que será, Aiolos? Está desistindo?!"

E os olhos de Aiolos se arregalaram naquele momento, trêmulos. Era a voz do Cavaleiro de Ouro de Peixes, ecoando de muitos anos atrás.

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— Eu não quero mais! — gritou um Aiolos em seus 10 anos, caído no chão, o cabelo cheio caindo sobre o rosto, segurando o pulso que havia machucado e os nós dos dedos sangrando. Ele mesmo chorava pela dor. — Eu não consigo!

— E pretende desistir assim? Onde está aquele garoto tão entusiasmado que vi mais cedo? Desistindo por causa de uma pedrinha? — apontou Halfeti olhando para uma rocha que tinha algumas lacerações.

Ele era igualmente belo, como o próprio Aiolos confrontava naquele momento. A diferença estava apenas em seu semblante que parecia mais caricata, com um olhar mais alegre, longe daquela maleficência tomada por uma ira desconhecida. Estava com suas roupas de treino, assim como Aiolos. ainda um aprendiz no primeiro estágio.

Havia chegado ali com o irmão trazido pelo próprio Dourado de Peixes após perder os pais num naufrágio. O Cavaleiro de Ouro voltava de uma missão quando avistou um pequeno bote com duas crianças, levando-as para o Santuário.

Os dois irmãos seriam deixados num orfanato dentro de Rodório, mas o Pisciano percebeu o potencial do mais velho e iniciando seus treinamentos. Sólon foi quem mais o incentivou a treiná-lo, uma vez que foi quem o salvou e a quem o garoto parecia confiar. O irmão mais novo, então com dois anos, ficava aos cuidados de jovens do orfanato em Rodório.

— E-Eu não consigo...! — chorava o garoto, olhando para a pedra. — Não sou tão forte como o senhor...

— Sobreviver às adversidades e cuidar de um irmão menor, estando perdido no mar não é ser forte? — comentou Halfeti arqueando o semblante, cético. — Você apenas não está sendo confiante, Aiolos. Deveria confiar mais em você, acreditar no que pode e não ver os obstáculos. Apenas enfrentá-los!

O garoto o olhou aturdido, olhando o pulso que machucara e voltando para o mestre que soltava os cabelos de uma fita vermelha. Aproximou-se do garoto que tinha o rosto nublado naquele momento. O Pisciano se agachou e amarrou a fita em sua cabeça, prendendo o cabelo e deixando mais livre o rosto choroso da criança.

— Diga-me, o que você está vendo, Aiolos? — indagou o Cavaleiro olhando do garoto para a pedra.

— Uma pedra! — disse o óbvio.

— Está com medo... de uma pedra? Está desistindo de tudo... por conta de uma pedra?! — o garoto mordeu os lábios, abaixando a cabeça.

O mais velho levou uma mão ao queixo do mais novo, forçando-o a levantar o rosto para encará-lo.

— Você não desistiu enquanto estava naquele bote, desistiu? — e viu o garoto menear um não. — Eu o encontrei empurrando o bote na água sem uma direção, querendo chegar a algum lugar. Quando viu o meu barco, ficou de pé acenando, mesmo sabendo que poderia cair na água, virar o barco, mas arriscou buscando atenção e remando, com as mãos, na minha direção. Lembra-se disso?

O garoto o olhava, balançando a cabeça num sim, conseguindo um riso de Halfeti que colocou a mão em sua cabeça.

— E por que está desistindo por causa de uma pedra? — e se levantou, dando espaço para o garoto pensar sobre aquilo, assistindo-o olhar para a pedra por alguns instantes e se levantar.

Aiolos se levantou após alguns minutos, soltando a mão que sentia dolorida quando foi dar o golpe e havia fracassado. Aproximou-se da pedra que tinha metade de sua altura, mas grande o suficiente para abraçá-la.

O desafio era criar uma fenda suficiente para mostrar o quanto poderia concentrar seu Cosmo num único ponto. Fracassara nas tentativas anteriores até abrir o punho que muito doía naquele momento.

"Ignore a dor, concentre-se em seu poder...!", repetia aquele mantra de treino em sua mente. Ele umedeceu os lábios e mantinha o foco na rocha. Halfeti estava às suas costas de braços cruzados, apenas observando.

Uma brisa cortou o ambiente desarrumando os cabelos do garoto e esvoaçando de Halfeti. Os olhos de Aiolos brilharam intensamente e seu corpo era tomado pelo Cosmo, mas seguindo em direção de seu punho quando empurrou o braço para trás e outro mantinha-se no alto. Aquele fechado para trás, elevou-se um pouco, mantendo o punho para baixo e empurrado para frente em direção ao centro da rocha, acompanhado de um grito do garoto quando chocou-se contra a grande pedra. O seu Cosmo silenciou.

Foram alguns segundos até que Aiolos viu uma fissura ao recolher a mão. Não era grande coisa até que outras fissuras surgiram daquele centro ganhando toda a pedra e rachando-a por um todo.

Aiolos se afastou assistindo aquilo perplexo e admirado quando viu a rocha explodir diante dele. O Cavaleiro de Ouro ainda estava às suas costas, de braços cruzados, com um sorriso orgulhoso no rosto.

— CONSEGUI! CONSEGUI, MESTRE!  — vibrou ele saltando.

— Não deve se render, mas lutar contra as adversidades. — disse Halfeti tocando em seu ombro, buscando os olhos do garoto. — Enquanto houver um resquício de Cosmo, sempre haverá esperança!

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"Sim... não devo me render...", repetia ele mentalmente, deixando o Cosmo novamente ascender, silenciosamente. A primeira reação foi de sua armadura reluzindo, juntamente com a joia brilhando intensamente como se isso ajudasse com sua cosmo-energia. Não enquanto houver um resquício de Cosmo...!", entoou novamente, fazendo seu Cosmo se elevar cada vez mais.

Halfeti, que estava a caminhar para o corredor que levava a outra câmara, parou seus passos e moveu a cabeça de lado como pressentindo algo, virando-se para observar o Cosmo do Cavaleiro de Ouro crescendo vertiginosamente.

A sua expressão era de ceticismo. A contar o tempo que Aiolos estava à mercê do perfume das rosas, já deveria estar inconsciente e apenas aguardando a morte.

Raízes surgiram e avançaram contra o rapaz, ainda inerte com o corpo pendido para frente e apoiado pelas asas da armadura fincadas no chão. No entanto, o Cosmo que emanava de Sagitário pareceu conjurar raios que pulverizaram a ameaça, fazendo o Cavaleiro Negro piscar aturdido.

"Como pode ainda ter tanto poder fraco como está? Ele já deveria ter perdido seus sentidos...", e então ele sorriu, compreendendo.

— Parece que eu o subestimei Aiolos. Não é mais aquele aprendiz amedrontado, mas um Cavaleiro de Ouro, da Casa de Sagitário... — concluiu Halfeti em meio a um riso. — Porém, está no seu limite e ainda quer lutar, mesmo estando tão próximo da morte?

— Um Cavaleiro não deve temer a morte... — respondeu o jovem num sussurro, porém audível o suficiente para que o oponente o fitasse curioso. — Não posso me render... mas lutar contra as adversidades...!

Ele levantou a cabeça, parcialmente lavado de sangue pelos ferimentos das pétalas quando o atingiram. Seus olhos azulados reluziam, determinados, como de quando fitou aquela pedra para deferir seu golpe diante de seu mestre naquela tarde. Conseguiu, a algum custo, colocar-se de pé, ainda que o corpo um pouco pendido para frente.

— Alguém uma vez me disse que... enquanto houver um resquício de Cosmo... sempre haverá esperança...! — falou o Cavaleiro, conseguindo a atenção silenciosa de Halfeti que o observava não tão arrogante como antes, mas com um olhar aturdido arregalado. — E que jamais devo recuar...! Você me ensinou isso, Halfeti.

— E onde pensa chegar nesse estado, Aiolos? — desafiou o Pisciano renegado, conjurando uma rosa entre seus dedos. — A sua luz está se apagando e se agarra desesperadamente numa ilusão! Será que não consegue enxergar...!

— É VOCÊ QUE NÃO CONSEGUE VER, HALFETI! — exclamou Aiolos num tom forte incisivo, calando o Peixe Negro. — Não passa de um hipócrita que diz ter acordado para a verdade, mas que na verdade se deixa enganar por promessas vazias!

Halfeti deu um passo para trás e baixou levemente a cabeça, mas mantendo o olhar ferino em direção a Aiolos. Novamente ganhava um tom avermelhado enquanto fechava o punho com a rosa em mãos.

— Ele me deu bem mais que Athena deu a todos seus Cavaleiros...! — disse o Cavaleiro Negro com os dentes cerrados, ascendendo seu Cosmo que emanava um horror surreal. — Tenho agora meu reconhecimento e receberei a mais gloriosa honra... — sorriu debilmente. — Pelo maior dos presentes...!

— Com sangue de inocentes...? — questionou Aiolos olhando-o, ainda incrédulo por aquilo. — O 'sangue dos caídos' seria seu glorioso tributo?! Não... — E meneou negativamente. — Você não acredita nisso, sempre desprezou tudo isso. Não posso acreditar que esteja falando tamanha atrocidade...

— Huhuhu! Não espero que entenda com essa sua mentalidade tão limitada, podada por aquele 'Sepulcrário'... — debochou o Peixe Negro olhando o rapaz. — Sólon compreendia, mas ainda assim acreditava que tudo poderia ser diferente nesse tempo...

— E você teve medo disso. — concluiuSagitário fitando-o, conseguindo a atenção de Halfeti que interrompeu seu riso e fitando-o sem entender. — No fundo, você fraquejou, e não aceitou isso, não é mesmo?

Os olhos do oponente vacilaram naquele momento, estremecendo. Um brilho, e Aiolos percebeu uma reação à sua volta. Ainda que estivesse com movimentos bem lentos, conseguiu fazer as asas se abrirem e criar um escudo nos ataques laterais de rosas, mantendo-as mais fechadas que antes. Infelizmente, o perfume ainda era inevitável, acabando por aspirá-las.

— Jamais fraquejei, pelo contrário. EU DESPERTEI PARA A VERDADE! — entoou um Halfeti transtornado. — EU JAMAIS TEMEREI A NADA! SEMPRE FUI O CAVALEIRO DE OURO MAIS TEMÍVEL E SEMPRE O SEREI!

Novas raízes surgiam por toda a sala e o Sagitariano observava cada uma delas abismado, atendendo à fúria do Cavaleiro Negro. As rosas do jardim continuavam a florescer e exalando um perfume ainda mais intenso. Não mais tinha sua máscara de proteção para conter aquilo.

— Se existe um fraco nessa história, esse foi Sólon que sabia da verdade e mentia para si mesmo e para jovens como você, ludibriados com essa falsa ideologia de Athena!! — concluiu o Cavaleiro de Peixes Negro esticando o braço, num comando para as raízes avançarem em direção de Aiolos.

O Cavaleiro até tentou alçar voo na tentativa de fugir, mas foi preso nos pés pelas raízes antes disso. Chegou a usar as asas para cortar aquelas que avançavam, mas outras surgiam e criando uma rede que dificultou o movimento e acabando por prendê-lo. O riso do Peixe Negro ecoou na sala, vitorioso.

— Teria sido mais inteligente se tivesse se rendido, Aiolos... — comentou ele, ainda com os braços esticados, pronto para executar mais uma ordem. — Agora o farei ser esmagado por essas raízes enquanto me implora misericórdia!

— Não me renderei até que admita a verdade, Halfeti... — disse o Cavaleiro de Ouro, sentindo as raízes ganharem seu pescoço. — Admita que teve medo, mas era orgulhoso demais para aceitar isso.

 O Cavaleiro Negro piscou aturdido, vacilante em deferir seu ataque contra Sagitário. Por um instante, o próprio Dourado sentiu as raízes cederem, mas não se permitiu demonstrar isso e manter seus olhos sobre seu antigo mestre.

— Você diz que espera ser reconhecido em sua glória, mas isso é o que você quer acreditar e não o que realmente acredita! — falou Aiolos suplicante. — Como você mesmo disse, muitos Cavaleiros padeceram em incontáveis batalhas. Fala que Sólon traiu a todos com suas histórias fantásticas das batalhas... Era isso que o incomodava, Halfeti? Acha que Sólon nos iludia por essas batalhas poéticas que nos contava...?

Pela primeira vez, naquele momento, Aiolos podia ver os olhos, ainda que vermelhos do Peixe Negro, lacrimejarem. Jamais o tinha visto chorar, mas reconhecia aquele brilho. Era o mesmo de quando ferira gravemente Sólon e quando foi condenado por todos.

Teria sido o jovem o único a perceber a tristeza naqueles olhos naquele momento? Certamente não. O seu crime era passível de morte, mas o Grande Mestre preferiu isolá-lo na Ilha dos Espectros — do qual jamais chegou. Agora, naquele momento, via novamente aqueles olhos tristes e arrependidos.

— E-Ele não podia fazer isso...! — disse Halfeti quebrando seu silêncio. — Você e tantos outros se mostravam animados para o campo da batalha, mas estava longe de conhecerem os horrores dela... Vocês eram jovens demais para isso...  E muitos padeceram nas guerras passadas...

— Sólon jamais nos enganou, Halfeti! — cortou Aiolos, percebendo o desespero nos olhos do Peixe Negro. — Pelo contrário. Ele temia tanto quanto você e queria que fôssemos fortes o bastante para não cairmos, mas impedir que outros caíssem, que os defendêssemos...!

As raízes cederam, soltando Aiolos. O Cavaleiro Negro olhava para as mãos trêmulas, soltando a rosa que trazia em mãos e levando, posteriormente, a cabeça. Uma confusão mental tomou conta do renegado que caiu ajoelhado no chão. O Sagitariano já conseguia se mover, ainda que estivesse muito fraco e sua visão turva demais para ver qualquer coisa. Porém, percebia os olhos de Halfeti voltarem à normalidade.

— E-Eu não queria... Não queria isso...! — dizia o Cavaleiro Negro em um desespero que angustiava até mesmo o rapaz que assistia aquilo diante dele, arriscando alguns passos para se aproximar. — Então ela veio... e Sólon tentou impedir, mas...

Uma sombra recaiu sobre o Pisciano que pareceu paralisar naquele momento, arregalando os olhos. Até mesmo o próprio Aiolos assustou-se com aquilo crescendo numa parte da caverna e cobrir Halfeti. Este teve seu corpo tomado e seu Cosmo, já enegrecido, ganhou veias avermelhadas como se fossem sangue, fazendo-o gritar — fosse pelo medo, pela dor, pelo terror que o tomava naquele instante.

O Dourado assistia aquilo estarrecido e tentou aproximar-se, mas a energia presente era poderosa demais para permitir isso, jogando-o longe, contra a parede sem chance alguma de reagir. Quando se levantou, percebeu Halfeti se levantar, o rosto nublado, mas visivelmente pálido e transformado. Os olhos não eram somente vermelhos, mas um fundo negro, emanando um Cosmo aterrorizante que lembravam chamas.

Tentou chamá-lo, mas foi em vão. O seu Cosmo ficara tenebroso, realmente medonho naquele momento. Sem qualquer hesitação como de há poucos instantes, deferiu ataques contra Aiolos de incontáveis rosas negras que voavam como lâminas. A única ação naquele momento foi, mais uma vez, usar as asas como escudo, mas as rosas atravessaram à sua defesa e o acertaram no peito, cravando-o na parede com extrema violência.

— Você me dará seu sangue... Sagitário... Será um grande tributo ao Senhor das Guerras...!! — disse Halfeti com uma voz gutural. Aiolos cuspiu sangue e sentiu as rosas, que atravessaram a armadura, queimar sua pele. — Será um valioso tributo...!

"Aiolos... não hesite...!"

Uma voz ecoou junto ao seu Cosmo.

Era angustiante, temerosa, suplicante.

"Faça o que deve ser feito... Lembre-se do que lhe disse uma vez...? 'A luz jamais deve ser engolida pela escuridão. Por favor... faça...!"

Uma lágrima ganhou a face de Sagitário enquanto assistia o Cavaleiro Negro concentrar o Cosmo em seu punho. Uma rosa branca nascia entre seus dedos. Seria o ataque final e o Dourado teria apenas uma chance, uma última chance.

"Aiolos... por favor...!!"

"Halfeti...!!!", pensou Aiolos, fechando os olhos e o punho. A dor era excruciante, mas ascendeu potencialmente seu Cosmo. No entanto, aquilo nada intimidou o Peixe Negro que parecia ainda mais motivado naquele momento e ascendendo também seu Cosmo, elevando ao limite.

A armadura de Ouro reluziu, respondendo ao Cavaleiro de Ouro, criando um redemoinho que surgiu em seus pés e subindo, rodeando-o, criando um enorme tornado naquela câmara.

— MORRA, SAGITÁRIO! — gritou Halfeti que também ouviu seu nome meio ao ataque, até que foram engolidos por uma explosão de luz.

───────.∰.───────

O som de pingos ecoava na câmara, fazendo-a apertar os olhos e abri-los com alguma dificuldade. Ainda estava desnorteada com o quer aconteceu, trazendo a mão para junto do rosto, arrastando pela terra batida. Sentia início de uma enxaqueca, fazendo-a levar a mão a cabeça enquanto levantava parcialmente o tronco, apoiando-se nos cotovelos.

Aos poucos voltava consciência de onde estava, principalmente ao ver raízes secas que estavam a cercá-la, alguns se desfazendo em cinzas como se tivessem sido queimadas. Moveu-se e sentiu-se livre nas pernas, onde anteriormente lembrava-se de estar presa aos ramos que envolveram seu corpo quase esmagando-a. Agora, era apenas um amontoado sem vida e um jardim morto.

"O que aconteceu aqui? Há pouco estava num jardim e...", pensava enquanto se levantava, sentando-se sobre as pernas, percebendo estar mais ativa, sem a falta de ar e a garganta seca pelo veneno que aspirara desde a câmara anterior. Nem mesmo as feridas em seu braço existiam mais, quando estavam a sangrar. "Os ferimentos... fecharam? Sinto-me bem, mas há pouco...", e olhou à sua volta, seus olhos buscando entre aqueles ramos secos.

Selene não sabia quanto tempo havia ficado desacordada, apenas que seus olhos se encontraram com um garoto, estes vermelhos e negros quando ela mesma sentiu seus olhos queimarem e tudo explodir em luz, o baque no chão, com suas forças minadas. Imaginou que seria seu fim quando sentiu seu corpo sendo envolvido e ser aprisionada num casulo, até que tudo se apagou.

Agora estava ali, mais disposta, lembrando-se de buscar aquela criança que a enfrentara e não intimidadora. Pouco pôde vê-lo, já que seus cabelos nublavam demais seu rosto e a escuridão do lugar também muito dificultou no processo. Ainda estavam meio uma penumbra, mas conseguiu ver algo ou alguém encolhido próximo a uma das tumbas daquela câmara.

 — Ei...! — disse ela tentando se aproximar, mas vendo-o se encolher, tremendo, soluçando. — E-Eu não vou te machucar. Eu não queria feri-lo... — dizia, olhando para ele, vendo algumas escoriações em suas pernas e os pés descalços, sujos. — Foi você que fez isso? — e Selene se abaixou, buscando manter um contato visual. — Foi você... que me ajudou?

Silêncio. A Amazona ficou a fitar a criança, vendo-a hesitante, encolhida, mas assentir em concordância. O cabelo ondulado, pouco acima dos ombros e cheios, nublava sua face, mas era perceptível que ele chorava.

— Obrigada! — ela se permitiu sorrir. — Foi você que me trouxe aqui, não é mesmo? — e percebeu que ele se voltava para ela, mas ainda muito assustado. — Eu encontrei uma rosa... e seu Cosmo me trouxe aqui...! Eu não vou fazer-lhe mal, eu vim aqui para te ajudar, salvá-lo como queria... e...

E de repente Selene sentiu um mal repentino, uma náusea que a fez vomitar um líquido viscoso esverdeado. Sentiu posteriormente uma mão pousando em suas costas e algo quente tomar seu corpo. Outras raízes surgiam e envolvendo-a, mas não pareciam ameaçadoras como antes. O perfume que elas exalavam pareciam acalmar a Amazona e acalmar o enjoo. Quando levantou a cabeça, viu o garoto ao seu lado.

 Não podia ver muito, mas tinha traços delicados apesar da face suja e algumas leves escoriações, olhos profundos azulados escondidos pela franja das ondas douradas de seu cabelo. Não deveria ter mais que 12 anos, ainda com um semblante assustado e uma gargantilha com uma presilha na frente. As suas roupas estavam rasgadas, sendo duas vezes seu corpo.

Respirou fundo, tossindo, cuspindo aquele gosto amargo ainda na boca.

 — I-Isso... é do veneno que absorvi...? — sussurrou ela fitando-o, vendo-o assentir. — Você absorveu o veneno de mim... com essas raízes?! — concluiu, vendo os ramos secarem novamente. — Mas você...

 "Elas não me fazem mal. Sou imune à elas...", disse ele através do Cosmo para a Amazona que ficou a fitá-lo por longos instantes perplexa. Selene intencionou dizer algo mais quando sentiu uma forte energia, reconhecendo de imediato aquela cosmo-energia.

 — Aiolos...! — disse olhando para trás do garoto que se voltou para direção de onde a Amazona olhava e compreendendo o que acontecia.


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Notas finais do capítulo

Nos próximos capítulos...
Interlúdio com Van Quine e mais um novo Cavaleiro de Ouro.
O retorno ao Santuário.



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