Saint Seiya Memórias: História Oculta Do Santuário escrita por Katrinnae Aesgarius


Capítulo 41
Livro 2 :: Dualidade - Ato 3


Notas iniciais do capítulo

Chade de Mosca Negra se mostra uma forte oponente para Selene de Pyxis, isso enquanto o Grande Mestre espera colher fatos sobre a misteriosa Prata. Enquanto isso, um inimigo os aguarda no fim dessa jornada.



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Os seus punhos tremiam, não movida pelo medo de ser tão facilmente subjugada ao subestimar sua oponente, mas pelo sarcasmo ácido e pelo desprezo contida em suas palavras para com todos que não oferecessem algo em troca por suas ações.

Chade de Mosca Negra estava a amaldiçoar a sua própria estrela guardiã por interesses pessoais egoístas e suas justificativas eram simplesmente desprezíveis a nauseantes para a Prata de Pyxis.

“Preciso fazer alguma coisa...”, pensava ela olhando para o corpo do jovem aldeão caído e a sua aura tornando-se cada vez mais translúcida, próximo de desaparecer. O mesmo acontecia com Aiolos, seu companheiro de missão, também com seu cosmo cada vez mais fraco.

Porém, tentar se mover era quase impossível. Sentia o corpo febril e sua garganta continuava a queimar, o que dificultava sua respiração, debilitando e limitando suas investidas. Os seus olhos lacrimejavam e ardiam quando piscava, além da visão ficar cada vez mais turva.

— Eu confesso que esperava bem mais dos Cavaleiros de Athena... — dizia Chade caminhando em direção de Selene que nada reagiu. Ela se agachou diante da Prata, tocando com a ponta do dedo em seu queixo e a levantando sem muita resistência. — O que houve desde que fui banida? Tornaram-se bonequinhos nas mãos daquele velho senil? — e sorriu, levando outra mão à máscara.

Os olhos lilases e arregalados de Selene parecem ter deixado a Amazona Negra ainda mais instigada a fazer o que intencionava por conta da resistência da Prata, arrancando riso de sua algoz que somente pedia calma e que 'não iria machucá-la... ainda'.

— Oh! Como pode esconder esse rosto por trás dessa máscara...? — disse Chade segurando a máscara, soprando o rosto da Prateada para remover a mecha de seu cabelo púrpura que nublava parcialmente seu rosto. — Que olhos expressivos você tem... — e lambeu seu rosto, seguindo até sua boca quando percebeu o intento da Amazona contra ela.

Teleportar-se em sua condição enfraquecida seria arriscado para a Prata, restando apenas repeli-la com uma mínima concentração de cosmo da qual a Mosca Negra percebeu e desvencilhando-se da Amazona. No movimento, acabara por largar a máscara, rindo daquela situação que deixara Selene levemente corada enquanto limpava o rosto.

— Ora, não tem por que ficar tão brava... — comentou Chade ainda rindo, levando a mão à altura dos lábios da qual lambia de maneira maliciosa. — Não estamos no Santuário e seu companheiro está ocupado demais dormindo para ver seu rosto. Além do mais... — e ascendeu seu cosmo. — Gosto de olhar nos olhos de meus oponentes numa luta, ver o brilho do desespero. — e olhou para o objeto no chão e concentrando o cosmo em seus punhos. — Por isso, agradeça-me por tomar a iniciativa de destruir essa coisa abominável...!

Uma rajada de luz foi em direção da máscara, criando um buraco no chão, mas não havia qualquer resquício de fragmentos desta que havia ali. Chade apenas sorriu, voltando-se para a Prata que respirava cansada pela dificuldade e segurando aquele objeto que puxou com sua telecinese no último instante.

— Se deseja lutar... olhando em meus olhos... — disse Selene com um tom forte na voz. — Assim será!

— Acha mesmo que pode lutar comigo nessa condição deplorável? — e arqueou o semblante em desdém. — Não seja ridícula! Pretende se matar para salvar um bando de aldeões esquecidos e um Cavaleiro de Ouro que se deixou ser pego tão facilment...?

— CALE SUA BOCA! — exclamou Selene interrompendo-a abruptamente. — Não vou permitir que zombe de mais ninguém!

Em outro momento Chade zombaria, de fato, daquela reação da Amazona de Athena, mas a maneira como seu cosmo crescia exponencialmente a surpreendeu.

"De onde vem tamanho poder? Estava fraca até poucos instantes, e agora...", pensou ela com uma expressão que se transformou da sarcástica de há poucos instantes para mais séria e cética, principalmente quando viu Selene, até então curvada enfraquecida, ficar com corpo ereto.

Os seus cabelos púrpuros esvoaçavam, o que permitiu melhor imagem de seu rosto e de seus olhos que brilhavam intensamente.

— Como pode amaldiçoar a sua estrela guardiã, aquela que a escolheu para representá-la na Terra... escolhendo um caminho egoísta somente para satisfazer seus prazeres, e mais... — fechava seu punho, concentrando seu cosmo. — Tratar pessoas como meras mercadorias, como um negócio. Ouço sua estrela chorar, implorar por sua rendição...

Chade piscou aturdida ao ouvir aquilo, mas riu do que escutou, levando a mão frente aos lábios como se quisesse segurar uma gargalhada.

— Acha mesmo que me importo com isso? Eu já disse... — os seus olhos se arregalaram numa expressão demente. — Se não posso ganhar algo, não é interessante pra mim. Se você e todos os outros acreditam nessa utopia barata de defender a tudo e a todos, só posso lamentar por vocês.

— Não. É você que vai se lamentar... — dizia Selene saltando para deferir seu golpe. — PELO CAMINHO QUE ESCOLHEU! — e esticou o braço emitindo uma rajada de luz pulsante sobre a Mosca Negra que alçou voo com grande habilidade e esquivando-se do ataque.

— Você está fraca, morrendo... e ainda assim se preocupa com todos menos com você mesma. Será como você deseja. — e sorriu para a Amazona de Prata que voltara para o chão.

Selene observou Chade concentrar um enxame sobre sua cabeça e mantinha-se apenas observadora naquele momento. Não tinha qualquer postura defensiva, somente o olhar analítico sobre os movimentos da Amazona Negra, reagindo somente quando a viu baixar o braço como se orientasse aquela nuvem de moscas avançar sobre ela. A sombra de um sorriso nasceu, discretamente, no rosto da Prata.

No instante que os braços da Amazona Negra desceram, de Selene elevou-se com as mãos abertas, com uma cosmo-energia concentrada que pulsou violenta e silenciosamente quando fechou o punho, emitindo uma onda que fez a o enxame explodir, igualmente aconteceu quando foi atacada, e expelindo uma nuvem esverdeada que envolveu Chade por completo.

— Idiota! A toxidade dessa nuvem não tem efeito sobre... — dizia quando sentiu a garganta secar, acompanhada de um forte impacto em seu corpo. — M-Mas... o que é isso...?

Na tentativa de se esquivar daquela nuvem, percebeu estar presa em uma espécie de redoma invisível que parecia comprimi-la junto a névoa tóxica altamente concentrada naquela gaiola invisível.

"Como diabos isso aconteceu...?", pensava ela quando arregalou os olhos ouvindo as palavras da Prata ecoarem em sua cabeça.

"Como bem me disse... Tão previsível...", ouviu a Prata falar com ela através da telepatia, o que fez Chade praguejar enquanto abria os braços buscando 'empurrar' aquelas paredes, mas em vão. Questionava-se como seria possível estar sendo envenenada por suas moscas. "Achei que gostaria de provar do seu próprio veneno...".

Foi uma ideia arriscada da qual não sabia que obteria o efeito esperado. Embora sua primeira investida daquela técnica aconteceu em Jamir quando ajudava na restauração das armaduras, observando e entendo o funcionamento do pó de estrelas.

Ainda desconhecia os limites sobre até onde seria capaz de manipular as moléculas, algo que somente era capaz de fazer quando concentradas em um espaço fechado como precisou fazer utilizando da redoma cristalizada 'emprestada' de Mu.

Porém, aquilo exigia duas vezes de Selene por empregar duas técnicas simultaneamente e ainda sentia os efeitos do envenenamento. Isso acabou ajudando Chade a se soltar explodindo a redoma com uma forte corrente de ar e dissipando aquela nuvem tóxica.

Selene apenas cobriu o rosto descoberto pela máscara por conta da explosão dos cristais de sua redoma e do cosmo  intenso da Amazona Negra.

— EU VOU ACABAR COM VOCÊ, MALDITA! — e avançou contra Selene com extrema agilidade, golpeando a Prata de modo a fazê-la recuar para segurar o golpe.

Selene precisou agir rápido criando um escudo para se defender do avanço da Mosca Negra contra ela. Conseguiu se esquivar nos primeiros golpes, bloqueando com os braços, mas seus reflexos ainda estavam lentos. Restava usar seu escudo telepático, embora o ataque se tornasse cada vez mais rápido e intenso.

"Como ela pode ter tamanha força e agilidade após aspirar todo aquele veneno concentrado...?"

— EU VOU ARRANCAR A SUA CABEÇA E SERVI-LA NUMA BANDEJA DE PRATA, EM OFERTA AO SR. HALFETI POR MINHA FALTA COM ELE, MALDITA! — gritou, com seus golpes aumentando consideravelmente em força, conseguindo atingir Selene e arremessá-la a metros de distância, abrindo uma vala no chão.

 “Eu não vou aguentar muito tempo...", pensava enquanto se levantava, limpando a boca suja do sangue, ferida pelo golpe, e seus olhos percebendo algo que, até então, passara despercebido. "É isso...!", e lembrou-se das palavras de Chade sobre 'drenar energia', percebendo de onde estava a tirar forças e sua agilidade.

Olhou mais uma vez para Aiolos, o seu cosmo já se tornando tão translúcido como do aldeão, e colocando-se de pé. Naquele momento, seria tudo ou nada.

— Ainda não entendeu que não pode contra mim? — e preparou-se para uma nova investida. — É o seu fim, Amazona de Pyxis! — e avançou contra Selene num voo veloz.

Selene aguardou até o último instante e criando novamente uma barreira que fez Chade sorrir e frear seu avanço, mas não tão rápida quanto ver Selene desaparecer e apagar todo e qualquer vestígio de seu cosmo, deixando a Mosca Negra momentaneamente perdida.

Quando menos percebeu, sentiu um impacto sobre sua cabeça, como um golpe invisível que fez as orbes douradas de seu elmo trincarem e se quebrarem.

Toda a energia áurea e cósmica ali acumulada libertara-se, e a Amazona Negra gritou desesperada enquanto caía, quase sem forças. Ela agora, tal como Selene, sentia as sequelas do gás tóxico que aspirou. Estava derrotada, humilhada por uma Amazona de Prata bem diante dela.

— Ainda há tempo de se redimir, Chade... — dizia Selene a fitando. — Não precisa terminar assim. Acredito que todos tem uma segunda chance.

— Sim... — dizia Chade a fitando, percebendo a garganta seca, a voz ficar rouca. — E a minha chance será... ACABAR COM VOCÊ... — gritou avançando contra Selene com longas garras que surgiram de seu punho, mas rapidamente esquivado por Selene que sofreu um arranhão no rosto. — E REDIMIR-SE COM SENHOR HALFETI MATANDO-A ANTES DE EU MORRER! — e investiu mais uma vez, com Selene segurando sua mão e jogando-a para o alto para desvencilhar-se.

Aproveitando a defensiva da Prata, Chade reuniu a última de suas forças para ganhar velocidade e avançar contra Selene que arregalou os olhos, fechando-a em seguida.

Com um movimento, a Amazona Negra sentiu o corpo totalmente fora de seu controle e cair mais rápido do que calculava. Quando entendeu o que acontecia, era tarde demais e impossível de desviar do golpe deferindo pela Pyxis. A sua armadura havia sido completamente destruída, fazendo-a desintegrar-se e se tornar poeira quando levada a uma queda violenta com seu corpo desprotegido.

O choque fora inevitável. Os músculos não conseguiram amortizar o impacto de Chade contra o chão duro, de terra batida. Os ossos de seus ombros e costelas se partiram como galhos secos, perfurando órgãos e rompendo músculos. As vértebras do pescoço e coluna se comprimiram e racharam, esmagando aquilo que deveriam proteger.

— S-Se-Senhor... H-Ha-Hallfeti... P-perdõe... me...! — dizia Chade antes de desfalecer completamente.

Até mesmo Selene caiu ajoelhada no chão, apoiando-se com as mãos quando o corpo pendeu para frente. Levantou a cabeça somente para ver a aura do aldeão sendo revivida, ganhando uma tonalidade mais forte igualmente ao de Aiolos com seu cosmo manifestando-se e tornando-se intensa. Aquilo a fez ficar calma, ainda que sentindo-se incomodada ainda pela queimação em sua garganta.

Seus olhos buscavam algo em especial nas proximidades e vendo um pequeno poço artesiano. Levantou-se e foi ao encontro desse, puxando a corda com um balde de madeira que havia ali. Sentiu forte alívio ao refrescar-se com a água, e somente ao ouvir a voz de Aiolos, percebeu que estava sem sua máscara. Ela havia deixado cair quando se esquivava dos golpes de Chade.

— O que... O que foi que aconteceu aqui...? — indagou Aiolos ainda com a mão na cabeça, mas percebendo algo passar diante dele e Selene apanhar a máscara. — Selene...? — e ela se virou para ele, com um dos olhos à mostra devido a máscara se quebrar ali. — Sei que é uma pergunta idiota, mas está tudo bem?

Era impossível ignorar as marcas da batalha que havia ali, muito menos o corpo da Amazona Negra com o pouco que restou de sua armadura de Mosca Negra. Voltou-se para a Prata, já mais bem recuperada.

— Nada que tenhamos que nos preocupar mais. — disse se voltando para o Sagitariano e sorrindo com os olhos. — Apenas me lembre de uma coisa. — e Aiolos franziu o cenho pela seriedade repentina dela. — De trazer um cantil na próxima missão.

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— Halfeti? — questionou Arles para Shion com um semblante preocupado, mas também com certa perplexidade no olhar. — Não posso acreditar que seja ele a estar liderando os Cavaleiros Negros.

— Não somente liderando como reunindo outros banidos e exilados para suas fileiras, o que torna tudo ainda mais preocupante. — comentou o Grande Mestre com sua voz levemente cansada. — Mas isso será apenas uma questão de tempo.

Arles observava o semblante pesado e cansado de Shion sentado naquele Trono Branco, no salão principal do templo que vigiava o Santuários nos últimos 200 anos.

— Não teria sido melhor enviar Saga de Gêmeos junto com Aiolos de Sagitário? Não é uma ordem muito comum enviar dois Cavaleiros de Ouro, mas... — comentava com certo cuidado, mas nem mesmo foi preciso concluir seu raciocínio.

— Não há pelo que se preocupar com sua aprendiz, Arles. — disse Shion buscando tranquilizar o 'irmão' que abaixou a cabeça com o rosto levemente corado por aquilo. — Além do mais, precisamos ter certeza de algo da qual somente ela será capaz de perceber. Se nossas suspeitas estiverem certas, serão duas questões resolvidas nesta missão.

— Ainda acho isso arriscado demais. — disse Arles preocupado. — Se estiver certo sobre ela, o que será feito de Selene?

— Por hora, vamos somente aguardar pelos resultados. — disse o Grande Mestre finalizando aquele assunto, compreendido por Arles, apesar de contrariado. — Fez o que lhe pedi?

Arles assentiu e se retirando por alguns instantes. Quando retornou, era acompanhado por um homem de pele morena e cabelos platinados cheios que caiam por ombros e costas.

Tinha uma expressão dura com um olhar amendoado firme com incisivos olhos castanhos e queixo quadrado. Um pequeno corte nos lábios, mas que não interferia necessariamente em sua dicção. Trajava roupas de treinamento básico de couro, com joelheiras e braçadeiras, cinto e peitoral sobre uma blusa branca já amarelada e calça escura.

Quando diante do Grande Mestre, curvou-se em respeito, mantendo a cabeça baixa até ser chamado pelo mesmo quando foi pedido que se levantasse.

— Guilty, há muito chegou aqui ao Santuário e treinado arduamente desde então. Está pronto para assumir seu legado? — questionou o Grande Mestre com seu olhar sobre aquele homem.

— Sim, Grande Mestre. Eu, Guilty, estou pronto para assumir o legado incumbido ao meu clã junto a Ilha da Rainha da Morte. — respondeu ele com o mais gentil sorriso que alguém podia expressar. 

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— Halfeti... foi um Cavaleiro no Santuário? — indagou Selene com surpresa, vendo a confirmação de Aiolos. — E você... o conheceu?

— Quando cheguei ao Santuário, ele já era um Cavaleiro sagrado, mas pouco tempo depois acabou por ser banido. — comentava Aiolos com seriedade na voz enquanto seguia o caminho pela qual Selene estava a guiar pelo rastro de cosmo. — Soube que... a sua armadura... o abandonou.

— A armadura... o abandonou...? — repetiu Selene engolindo a seco, parando seus passos mais adiante. Manteve-se de costas para o Sagitariano que a alcançava. — Sabe o que isso significa, não é mesmo?

A Amazona de Prata se voltou para o Dourado, com seus olhos pesarosos visíveis pela parte da máscara destruída em sua luta com Chade de Mosca Negra, a mesma pela qual dissera que estava a macular sua estrela guardiã ainda que não soubesse se ela havia se sagrado uma Amazona.

Halfeti, no entanto, era um Cavaleiro reconhecido do mais alto patente do exército de Athena, mas renegado por sua armadura sagrada.

— Como uma restauradora de armaduras, imagino o quão surpresa deve estar ao dizer-lhe isso. — comentou Aiolos lamentando. — Eu deveria ter lhe dito antes.

— Quando restauramos as armaduras, estamos ajudando-as a lidar com as feridas das batalhas, tanto quanto cuidamos das nossas. Podemos senti-las... — e Selene tocava em sua própria indumentária sagrada, fechando os olhos por alguns instantes. — Elas compartilham lembranças, histórias, as memórias de cada um da qual assumiu o legado de sua estrela.

Selene olhou para o céu e percebeu Pyxis mais no alto, brilhar intensamente para ela, tal como tantas vezes a viu quando criança de sua janela e a acompanhando desde então, até aquele momento.

— As armaduras não são meras proteções, elas estão vivas! É ela quem elege o Cavaleiro digno de continuar o legado de seus antecessores, e cabe ao seu portador honrar essa escolha. — e ela suspirou. — Para ela abandonar aquele que um dia escolheu, este infringiu o mais grave dos pecados que é a quebra de seu juramento para com Athena.

Tal como Selene, Aiolos também levou a mão ao peito de sua armadura, tocando com a ponta do dedo a pedra incrustada em sua indumentária sagrada, fazendo a mesma brilhar como se um universo se manifestasse naquela gema de topázio imperial. As asas de sua armadura se abriram, mas logo pareciam se fechar como se quisesse abraçá-lo.

— Quando fui sagrado Cavaleiro de Sagitário, jurei honrar o legado de cada um daqueles que lutaram ao lado de Athena, aceitando herdar aquilo deixado por meus antecessores... — declamava Aiolos fechando o punho e batendo de leve no peito. — Nesta vida e na outra.

A devoção nas palavras de Aiolos fez Selene baixar a cabeça em respeito por aquelas juras tão sinceras. A própria armadura ressonava em resposta, ouvida pelo Cavaleiro que não pôde deixar de sorrir ao perceber aquilo quando respondeu juntamente com seu cosmo.

Quando os olhos de ambos se voltaram para a construção alguns metros à frente, sabiam que teriam que lidar com um forte e perigoso oponente. Era uma espécie de templo incrustado na montanha que datava do final da Idade Antiga, mas mantendo uma arquitetura tipicamente grega.

— O que podemos esperar de Halfeti de Peixe Negro? — questionou Selene mantendo o olhar firme para o templo diante deles.

— Alguém digno de um Cavaleiro de Ouro que foi um dia. — disse Aiolos com seu semblante novamente sério.

— Não sinto qualquer outra presença aqui, senão daqueles que nos guiou até então. — estranhou Selene. — Será que ele está realmente aqui?

— Sim, ele está aqui, aguardando por nós dois. — e Aiolos se voltou para Selene, chamando-a, segurando em seus ombros. — Haja o que houver, quero me deixei sozinho com ele. — pediu, percebendo o olhar aturdido da Prata. — Vá até aquele que nos guiou até aqui... sem hesitar. Isso é uma ordem direta! — disse antes que ela protestasse como pareceu querer fazer. — Entendeu, Selene? Não importa o que aconteça, deixe que eu cuido de Halfeti.

Selene assentiu, seguida de um suspiro.

— Apenas se me prometer que voltaremos os dois para o Santuário. — disse ela impondo uma condição, assentido por Aiolos que sorriu em concordância.

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Os dois Cavaleiros adentraram no templo e chegaram a primeira câmara, uma redoma rochosa com teto alto sustentado por grandes pilares que demarcavam o centro com um desnível de três degraus feito pelas próprias pedras daquela montanha. As paredes guardavam apenas as sombras de antigas inscrições já apagadas pelo tempo.

O local era apenas ruínas, com alguns pilares quebrados e parte do teto a esquerda cedido. Algumas colunas estavam tombadas, o que permitia promover um pouco de luz durante o dia e até mesmo a formação de limos e alguma vegetação nas paredes daquele lado por conta de eventuais chuvas.

O outro lado era seco e mais escuro, também com outro amontoado com marcas visíveis de batalhas com a parede desenhando o que seria um corpo quando jogado. Havia também uma elevação que denotava ter existido algo, como uma estátua já que havia somente o desenho que lembravam pés. No chão havia um grande buraco, fundo e escuro, com fissuras que chegavam quase ao centro daquela câmara.

— Como pode existir um lugar destes em uma região como esta? — questionou Aiolos descendo até o centro da sala e observando tudo com atenção, tocando nos pilares que guardavam ainda algumas inscrições, mas indecifráveis. — Parecem...

— Templos gregos. — completou Selene tocando em um destes pilares, mas ainda próximo da entrada. — E não é um templo qualquer, mas um templo sagrado que ainda guarda alguma energia bem singular.

— Não parece tão abandonado quanto aparenta. — dizia Aiolos vendo pegadas no chão de poeira e marcas no limo.

— Não creio que os aldeões soubessem desse lugar. — comentou Selene cética quanto àquela possibilidade. — Esse vale parece não existir para eles.

— Como podem não saber deste lugar? — indagou Aiolos voltando-se para a Prata. — Não fica assim tão longe do vilarejo.

— É como o próprio Santuário. — dizia ela soprando para uma marca existente na pilastra, mas sendo impossível reconhecer o hieróglifo devido ao dano na pilastra. — Milhares de pessoas visitam as ruínas gregas, mas jamais chegam próximo aos limites do Santuário devido a barreira feita por Athena. Em outras palavras, o Santuário é invisível aos olhos de humanos comuns.

— Está me dizendo que esse templo possui uma espécie de barreira divina? — comentou Aiolos soltando um longo suspiro e meneando negativamente. — Isso não faz sentido. Por que os Cavaleiros Negros, aqueles que renegaram Athena e todos outros deuses, tomariam como refúgio um lugar com uma proteção divina?

Era uma questão intrigante que deixara os dois pensativos por alguns instantes até que o som de asas ecoou. Dois corvos voaram num rasante sobre Aiolos e ganharam o alto daquele templo, pousando nas falhas mais acima do que sobrou de uma pilastra. Selene os olhou e cerrou os olhos enquanto os observava.

Eram um pouco maiores que corvos comuns, e seus olhos possuíam um brilho peculiar: um brilhava vermelho em seu olho direito e outro em seu olho esquerdo, e mantinham sua atenção voltando aos dois Cavaleiros.

— Selene, tudo b... — dizia Aiolos caminhando até ela quando sentiu o chão sob seus pés ceder e uma fenda se abrir. Porém, dele, dois tentáculos envolveram seus pés e o puxaram violentamente.

Selene observou aquilo e gritou por seu nome, vendo-o sumir no buraco e seguindo em seu encalço até o centro do salão. Porém, foi preciso jogar-se no chão ao ouvir um assovio e algo cortar o vento em sua direção, provocando uma fissura a mais em sua máscara próximo aos olhos, no lado intacto da máscara. Eram como duas pequenas lâminas prateadas fincadas na pilastra.

— Pétalas.. de rosa!? — disse ela ainda no chão, rolando para o lado quando novamente ouviu aquele assovio.

Foram três novas investidas de ataque até que ela se teleportou para outro ponto da sala. Não sentia qualquer presença naquele lugar, nem mesmo um resquício de cosmo, o que ela achou muito estranho. Avançaria até onde Aiolos foi tragado quando viu um brilho dourado e um rastro de luz diante dela. Era o Sagitário voltando e abrindo suas asas.

Selene nem teve tempo de dizer algo, pois sentiu tentáculos de visgo envolverem suas pernas e braços, um último em seu pescoço e puxando-a contra uma pilastra e a envolvendo por completo. Tudo acontecia rápido demais, com Aiolos percebendo após o barulho de impacto do corpo da Prata.

"Use seu golpe luminoso!", disse a Prata telepaticamente para Aiolos que arregalou os olhos com aquele pedido. "Confie em mim. Rápido!", disse convicta. Aiolos hesita, mas concentra seu cosmo em seu punho e lança em direção de Selene.

— TROVÃO ATÔMICO!

Centenas de rajadas golpearam os visgos que secaram e tornando-se cinzas, soltando a Prata que foi ao chão tossindo por quase ter sido sufocada por aqueles tentáculos. Aiolos pousou à sua frente, ajudando-a a se levantar. Concentrara o suficiente de seu cosmo para não a ferir, mas o bastante para destruir aquilo.

Conseguiu observar quando algumas delas se recolheram nas fendas das paredes e do chão. Por hora, no entanto, apenas se preocupou com sua companheira de missão. Conhecia bem o autor daquilo e sua presença logo foi sentida pelos dois. Naquele momento, não havia qualquer razão mais para ocultar seu cosmo.

— Ele... tem um cosmo... digno... de um Cavaleiro de Ouro... — comentou Selene, ainda rouca, vendo a figura se revelar das sombras.

Os passos metálicos de uma indumentária negra se fizeram ouvir no salão. Tinha um porte imponente e um corpo esguio com uma distribuição muscular bem definida como era visível nos braços e pernas apesar da roupa reforçada. Não usava elmo, deixando os cabelos escuros caindo sobre as ombreiras da armadura em pequenas ondas. Apenas algumas mechas caiam sobre sua face, mas permitindo o vislumbre de um rosto oval.

Era um homem de uma aparência atraente, ao mesmo tempo rústica, delicado e agressivo. Tinha uma pele morena que contrastava com seus olhos verdes como do oceano, mais destacados pelo formato amendoado de seus olhos caídos, que pareciam desenhados por um lápis escuro. Entre os lábios, ele trazia uma rosa negra de bordas vermelhas com qual removeu com a ponta dos dedos.

— Halfeti...! — disse Aiolos seco e com um tom amargo enquanto se levantava, colocando-se a frente da Prata.

Selene conhecia Aiolos como alguém calmo e muito centrado, mas naquele momento via alguém transbordando raiva e com uma aura intensa manifestada em seu cosmo. Ele fechava os punhos com força e aquilo impressionou a Amazona.

— Cavaleiros de Athena... — dizia Halfeti com seu tom forte, ao mesmo tempo aveludada enquanto fitava os dois. — Não poderia deixar de vir pessoalmente e dar as minhas boas-vindas.


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Notas finais do capítulo

Nos próximos capítulos:
Interlúdio com Van Quine e o misterioso diário encontrado no Templo de Gêmeos. Em seguida, a batalha entre Halfeti de Peixe Negro contra Aiolos de Sagitário!



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