Saint Seiya Memórias: História Oculta Do Santuário escrita por Katrinnae Aesgarius


Capítulo 38
Especial :: Saga & Kanon


Notas iniciais do capítulo

Para abrir o Ciclo Três, Dualidade, farei com um extra dos dois irmãos que ajudará entender os caminhos para essa nova fase. Pretendo fazer algo mais sombrio que os anteriores, pois assim começa os caminhos para o Saga que todos conhecem no anime/mangá. Espero que gostem. :)



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Era início de tarde quando Selene seguia para o anfiteatro onde se encontraria com Aiolos para a sua primeira viagem em missão pelo Santuário. Encontraria o Sagitariano deixando as últimas instruções com seu pequeno irmão Aiolia, sentado sobre sua urna no chão. Ele usava blusa de manga longa dobrada na altura dos cotovelos e uma calça escura e coturnos de couro.

Ela também mantinha um visual formal com uma blusa de mangas longas dobradas e compridas suficiente para dar aparência de um vestido, preso com um trançado sobreposta a uma camiseta preta e calça escura justa ao seu corpo, fechando com uma bota de cano médio substituindo as habituais sandálias.

Enquanto fazia essa ação, olhava mais uma vez para o anfiteatro, com seus olhos subindo para o monte zodiacal e percebendo um brilho dourado vir do terceiro templo. Saga a observava de longe e ela sentiu um desejo de acenar para ele, mas somente ajeitou o lenço que trazia em mãos e dando voltas em seu pescoço.

Os lenços eram um artífice das amazonas de sempre carregar um caso a máscara se quebrasse para envolver o rosto e cobri-lo. Aquele havia sido um presente de Saga naquela manhã quando voltaram de Star Hill, após uma noite juntos vendo as estrelas, compartilhando confidências que levou ao assunto de filhos de maneira tão natural que não deixou os dois tão desconfortáveis no momento, deixando fluir ocasionalmente.

Contudo, quando sozinha, ficou a pensar sobre o assunto e de que sua relação com Saga seria sempre um segredo. Era um sonho distante, para não dizer impossível.

Antes de partir, deixara, também, recomendações às meninas, principalmente à Marin com quem estava treinando exaustivamente nos últimos dias. Aelia as ajudaria no que fosse possível juntamente com Illyria, a Prata de Lix.

Não escondia que tinha certo receio de seguir para aquela missão, mas aquela seria sua prova de mostrar a eficiência de suas habilidades e não se permitiria fracassar nem mesmo decepcionar qualquer um, sobretudo ao mestre Arles e ao Saga que tanto se mostrava contrário.

— Selene... — ouviu Aiolos chamar, com um sorriso simplório e acenando. — Vamos?

Ela assentiu, acompanhando-o a passos firmes após bagunçar os cabelos do pequeno Aiolia que acenava para o irmão que partia. Ela arriscou em olhar mais uma vez para o Monte Zodiacal, com a certeza que viu Saga estava lá, imaginando-o esboçar um sorriso, ainda que triste como o viu naquela manhã. Agora se encontrariam após algumas semanas se fossem bem-sucedidos. Precisariam ser. Foi a promessa feita a ele junto às estrelas.

E realmente ele estava a sorrir, acompanhado de um longo suspiro enquanto fechava os punhos. Ainda acreditava ser cedo demais ver Selene partir para uma missão externa, mas também compreendia que suas habilidades eram únicas para o cumprimento daquele dever não concluído anteriormente.

Por outro lado, aquilo o preocupava, principalmente após a crise da qual a deixou desacordada por dias, sem contar sobre estar se recuperando do seu teste com Albion. Contudo, precisava dar um voto de confiança.

Selene era forte, apenas muito hesitante. Cruzou os braços sobre o peito e pôs-se a lembrar da explosão de cosmo que Kanon e ele sentiram quando a encontraram fugindo daqueles garotos, de como os guiou até o Santuário quando ele e o irmão tinham fugido de casa para chegarem ali. Lembrar-se daquilo o fez fechar os olhos sobre aqueles últimos dias com seus pais...

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— NÃO ME INTERESSA! — gritou uma mulher com uma mecha de seus cabelos longos ondulados e alourados da qual prendia atrás da orelha. — Não quero mais aquele velho nessa casa!

— Pelo amor de deus... Histórias de um velho. O que isso pode ser tão preocupante? — dizia um homem removendo a gravata e jogando numa cadeira qualquer. — Está criando uma tempestade desnecessária!

O homem caminhava de um lado a outro no escritório, removendo em seguida o paletó enquanto seguida da mulher que buscava sua atenção a todo o custo. Tinha um corpo esguio e os cabelos mais escuros e aparados, profundos olhos amendoados.

Já ela usava uma blusa de mangas longas brancas com babados na gola e descendo pelo tronco, presa numa saia azul-marinho até altura dos joelhos. Em sua mão, havia um terço católico da qual ela segurança com afinco.

— Tempestade? O seu pai fica contando histórias de ‘Santos de Athena’ e que eles descendem de um guerreiro que luta por uma deusa... Misericórdia! — disse ela fazendo sinal da cruz. — Você sabia que fui chamada hoje à escola pela professora porque eles disseram que seriam esses ‘santos guerreiros’?

O homem parou para ouvir a mulher, ficando paralisado e questionando sobre o que ela havia dito. Percebendo que tinha a atenção do marido, ela apenas confirmou que dissera exatamente aquelas palavras.

— Os seus filhos realmente estão acreditando nas besteiras ditas por seu pai, nessa história de... Santos de Athena! — dizia ela ofegante. — E quando falei com eles, sabem o que me disseram? Que era isso que queriam ser quando crescer... e o seu pai alimentando essa fantasia na cabeça deles.

— Coisa de criança... — tentava justificar, mas interpelado pela mulher.

— O Kanon ‘ameaçou’ de explodir um amigo com seu... seu... cosmo... sei lá! O garoto ficou tão apavorado que se escondeu no banheiro e não saiu até que sua mãe chegasse! — dizia a mulher em desespero. — Não consegue ver a gravidade de tudo isso?

Nenhum dos dois percebia uma silhueta escondida entre as grades da escadaria. Kanon mantinha-se agachado, ouvindo toda a discussão acolhido pelo vaso de planta do andar superior enquanto assistia os pais discutirem. Cuidadosamente foi ao quarto e nada falou, somente puxou Saga que estava na escrivaninha estudando enquanto o irmão mais novo pedia que ele fizesse silêncio e fosse até onde escutava a discussão, ouvindo a exaltação dos pais na sala.

— Quer proibir deles verem seu avô? Eles adoram o avô deles... — dizia o homem.

— Claro que gostam. Enche a cabeça deles com essas besteiras... — e ela andava de um lado a outro pela sala. — Eu apenas... apenas não quero que... que fique a influenciá-los com isso...

— Logo eles irão para o internato... — disse o homem enfático. — ... e isso tudo não passará de fantasia pra criança!

— É bom mesmo! Já não bastam essas notícias absurdas desses grupos neopagãos aparecendo por aí. Não quero meus filhos metidos com essa gente herege! — a mulher falou, ainda agitada. — Quero os meninos naquele internato católico!

— Tudo já foi providenciado. — comentou o pai. — Não tem o que se preocupar. Tão logo partirem, vão esquecer essa coisa de... Athena, Santuário...

Kanon e Saga trocaram olhares conciliadores antes de voltarem para o quarto, onde se fecharam e ficaram a encarar um ao outro por longo tempo sobre o que ouviram. Sabiam que estavam para seguir para o internato aonde voltariam somente nas férias e feriados de Natal, terminando esse ciclo quando prontos para a universidade onde cursariam Direito e continuaria a tradição da família.

Entretanto, os meninos já tinham outros planos.

Era verdade que sempre se encantavam com a história de seu avô paterno que narrava a genealogia da família como de ‘um homem que viveu numa ilha e teria se apaixonado por uma jovem, mas que partiu para uma guerra e deixando-a para cuidar de seus filhos, também gêmeos’. Quando seguiram para uma exposição de Grécia Antiga, foi quando deu início às histórias da deusa Athena, de suas batalhas contra deuses e seus excepcionais guerreiros que afirmava ter conhecido em sua juventude.

Diversas vezes ouviu sua mãe comentar sobre a heresia de deuses pagãos acompanhados de guerreiros ‘santos’, sobre o homem da ilha ser nada mais que uma lenda da Ilha de Canon para onde viajaram uma vez e todos comentarem serem meras ‘histórias’ do povo. De início nada mais eram que história, até que aqueles dois começaram a despertar bem mais que interesse naquelas epopeias.

— O cosmo. Todos possuem um cosmo dentro de si, mas nem todos são aptos a despertá-los. — dizia o velho homem apontando para o peito dos pequenos. — Vocês dois carregam a herança daquele que chamaram de seus antepassados. Vocês estão predestinados!

Isso aconteceu em seus aniversários de sete anos quando ambos os irmãos, naquele ano, já mostravam fagulhas do chamado cosmo, e foi seu avô a orientá-los em como trabalhar naquele poder, em como controlá-los.

Não foi algo tão fácil.

Diversas tardes que passavam com o avô eram para orientação, com Kanon perguntando como ele poderia saber tanto sobre aquilo e ele apenas sorrir de maneira tola.

Quando anunciados que seguiriam para um internato, para onde seriam enclausurados, temeram jamais conseguir cumprir a promessa ao avô, e ao ouvir aquela discussão de proibi-los de o verem novamente os assombrou.

A partir daquela noite, os contatos ficaram limitados e os passeios suspensos. A única aproximação era quando visitavam os netos em casa, e ainda assim sob a presença da mãe ou do pai.

O castigo se seguiu por semanas. Os pais o levavam e traziam da escola, ligações eram restritas e a presença no jantar era um silêncio sepulcral. Quando uma nova exposição no museu da cidade foi anunciada com a presença do historiador Mitsumasa Kido, os dois irmãos se mostraram excitados, mas logo vetados pela mãe de que não poderiam em ‘virtude de uma viagem’, o que revoltou Kanon.

— Eu não quero ir para um maldito Internato! Eu não quero ser advogado... — ele gritou, com Saga a observá-lo em silêncio enquanto assistia sua mãe censurá-lo. — EU ODEIO VOCÊS! — exclamou Kanon antes de seu rosto virar ardido.

— Vocês irão para o internato, quer queiram ou não! — disse a mão recolhendo a mão da qual esbofeteara Kanon.

Saga assistiu a tudo aquilo calado enquanto via o irmão subir as escadas correndo, enquanto a mãe olhava a mão e viu os olhos do gêmeo mais velho e virar às costas seguindo para outro aposento. Somente depois seguiu Kanon e encontrando-o no quarto, enchendo uma mochila com roupas e notando a marca em seu rosto.

A relação dos dois irmãos sempre foi de amistosa à ácido por conta da divergência de personalidades.

Kanon sempre foi mais espontâneo e variavelmente impulsivo com uma língua afiada, enquanto Saga mais analítico e estratégico e escolhendo bem as palavras na hora certa. Fechou a porta do quarto e tentou conter o irmão, sendo ofensivamente contido.

— Por que não corre e conta tudo pra mamãe, Saga? Não é o ‘senhor certinho’? — resmungava e voltando encher a mochila.

— Não pode fazer isso agora. — disse Saga somente olhando para o irmão que estranhou aquelas palavras. — Precisamos nos planejar e só então partiremos, não para o internato. Apenas me dê mais tempo, mas preciso que colabore.

Não tinham contato com o avô como antes, mas foram capazes de fazer um guia para provável localização do dito Santuário descrito pelo avô e pelas amostras numa das exposições acompanhados pelo velho. Para uma viagem longa, era preciso capital suficiente para seguirem até em pontos estratégicos do mapa, guardando dinheiro e recolhendo aquilo que podiam.

Todo o processo demorou pouco mais de um mês, sendo preciso esperar o momento oportuno para a fuga, e aconteceu num jantar na casa da família aproveitando a distração dos pais para iniciarem sua jornada.

Em seus quartos, apenas deixaram uma carta de despedida encontrada na manhã seguinte, quando os dois irmãos estavam longe suficiente para cumprir seus destinos. Ao avô, somente uma ligação.

— Estamos seguindo, vovô. Honraremos o legado de nossa família. — disseram os dois alternadamente.

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Saga soltou um suspiro quando abriu os olhos. Já havia se passado sete anos desde que chegaram ali no Santuário, de quando fugiram de casa. Jamais souberam da repercussão que causaram, do que se sucedeu a fuga dele e de Kanon para aquele lugar que avistava de seu templo zodiacal. Estavam a cumprir a promessa feita ao avô, da qual o Geminiano sempre se perguntou de como ele sabia de todas aquelas histórias.

Quando olhou para o horizonte, não mais via Selene. Já havia desaparecido com Aiolos. Apenas esperava que ela pudesse guiá-lo tão bem quanto ela havia guiado ele e Kanon ao Santuário, e que pudesse retornar em segurança para seus braços. Por hora, apenas restaria esperar.

 

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— Acha mesmo que foi uma boa ideia enviar Selene em missão com Aiolos? — questionou Arles para Shion na sala principal do Templo do Patriarca, vendo-o sentado no trono de mármore. — Talvez Saga de Gêmeos estivesse certo sobre não a enviar tão cedo...

— Não podemos perder mais tempo. — respondeu Shion recostado no trono, pensativo.  — Sabe tanto quanto eu que isso é um dever a ser cumprido, nossa total responsabilidade. — e Arles o olhou com pesar, assentindo aquelas palavras. — A ameaça dos Cavaleiros Negros é crescente, embora muitas já tenham sido seladas ou mesmo destruídas ao longo de todo esse tempo...

— Mas nunca parece ser suficiente. — comentou Arles complementando as palavras de Shion. — Ainda não consigo acreditar que foram capazes de fazer isso. Nem temos conhecimento de quantas destas armaduras existem. Quanto mais seladas ou destruídas, tantas outras aparecem.

Ouviu-se um suspiro pesado vir de Shion quando jogou um pouco seu corpo esguio para frente. Removeu momentaneamente o elmo e olhando para ele em suas mãos. Os sinais da idade eram presentes, e os cabelos ganharam um tom platinado com o logo do tempo.

— Quando meu mestre me contou, fiquei tão perplexo quanto você. Não é algo da qual devemos nos orgulhar. — dizia ele, ainda olhando o elmo e seu reflexo nele. — Nossos conhecimentos sobre a forja dessas indumentárias sagradas mais soam como maldição quando assistimos para o que estão sendo usadas. Buscou-se corrigir esse erro, mas acabou por levar a cometer outro terrível erro.

Arles apenas o observava. Tivera conhecimento daquela história do próprio Shion, sendo um assunto restrito ao Santuário. O conhecimento dos lemurianos com a forja levou a criação das Escamas para os Marinas de Poseidon, desde os Generais aos Tenentes Marinas e Comandantes.

Com a Guerra Sacra, visando equilibrar a guerra — e pelo mau uso das Escamas que foram, inicialmente um presente aos seus filhos — os lemurianos atenderam ao pedido de Athena e criaram as 88 armaduras de seus Cavaleiros.

Foi uma escolha da qual pagaram caro e da qual revoltou muitos, levando-os a criar aquelas réplicas maculadas enegrecidas pelo ódio, pela ambição, pela vaidade. Foi um dever de comprometimento dos lemurianos em destruí-las, um dever que se arrastava por séculos.

— Muitos banidos do Santuário encontraram, nessas armaduras, meio de atingir seus objetivos egoístas, tornando-se igualmente uma ameaça como espectros ou os próprios Marinas e sendo combatidos. — continuou Shion, desta vez olhando para Arles. — Tive conhecimento disso quando me recuperava e ouvi meu mestre orientar um Cavaleiro para uma missão contra alguns destes Cavaleiros Negros que se escondiam na Itália.

— Quando pretende nomeá-lo? — indagou Arles. — Guilty é um Cavaleiro leal e de boa índole. Acredito que a Ilha da Rainha da Morte ficará em boas mãos.

— Ele é o único que pode vigiar o selo das armaduras na Ilha da Rainha da Morte, uma vez que a Máscara somente respondeu a ele. — disse Shion.

— Não tem como destruir todas essas armaduras? — questionou Arles apreensivo, vendo Shion acenar em negação.

— Não pense que não tentaram, mas ela somente pode ser destruída quando derrotado junto com aquele que a escolheu para ser seu guardião, tal como qualquer outra indumentária sagrada. — respondeu Shion com a voz cansada. — Por hora, apenas devemos mantê-las seladas e esquecidas. — e recolocou o elmo, levantando a cabeça e mantendo sua postura igualmente imponente. — Para a segurança de tudo e de todos. Temo que estes Cavaleiros possam alinhar-se aos inimigos de Athena... como há muito já aconteceu.

 

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Embora o dia tivesse transcorrido em sua normalidade, com exceção de alguns acidentes durante treinamentos, Saga ficou mais nos serviços burocráticos, sem muita concentração. Tentara desligar-se daquilo quando voltou para Gêmeos e tomando suas roupas de treino pouco antes da partida de Selene.

Buscou ocupar sua mente com relatórios e outras legislações, mas sua mente mantinha-se focada na questão de Star Hill, sobre o que tinha visto e sentido naquele templo. Não se tratou de um pesadelo, embora não soubesse explicar de como fora parar deitado naquele pátio. Aquela sombra se projetando sobre a sua acompanhada daquela voz ecoando em sua mente. Tudo era muito real.

Por fim, levantou-se tirando a sua túnica azul e deixando sobre a cadeira. Não teria cabeça suficiente para lidar com aqueles documentos. Apenas faria uma última ronda nas proximidades do Santuário e se recolheria em Gêmeos, onde pediria que preparassem um banho e uma boa refeição para então tirar um merecido descanso.

Contudo, parou próximo ao pátio e olhava as estrelas que já ganhavam o céu para aquele início de noite. Sorriu de maneira tola ao lembrar-se da surpresa de Selene em Star Hill e quando falavam das constelações de Gêmeos e Pyxis, e novamente lembrou-se daquele templo, o que o fez despertar de seu devaneio... ou foi a voz surgir às suas costas de maneira incisiva e objetiva?

— Há quanto tempo estão juntos? — questionou Kanon, com os braços cruzados e olhando para o irmão próximo a uma das pilastras, amparado parcialmente nas sombras. Ainda assim o seu semblante era bem sério e seu olhar bem firme. — E nem ouse dizer que não há nada, pois tenho notado há algum tempo a troca de olhares de vocês... — e saiu caminhando das sombras, coçando o queixo. — Inclusive, já os vi saindo de um prédio daqui, além de chegarem hoje pouco antes do amanhecer.

— Há alguns meses. — disse Saga sem rodeios, olhando para o irmão sem desviar. — Pouco depois que desapareceu... — e o Geminiano viu a inquietação do irmão. — Quando ela retornou de sua punição afastada do Santuário, quando voltei da Sicília.

— Eu nem deveria ficar surpreso... — disse o mais novo engolindo a seco, forçando um riso. — Como sempre você tendo tudo, Saga. Sempre você...

— Não começa com seus jogos, Kanon. Não hoje. Não estou com cabeça para suas provocações gratuitas... — dizia Saga buscando manter a calma.

— Jogos? — interrompeu Kanon de imediato e aproximando-se de Saga, sem qualquer receio de ser visto por alguém. — Não fosse por ela, eu não estaria nessa condição e a decisão do nosso embate poderia ter sido diferente!

— Não fosse ela, Kanon... — dizia Saga se voltando para o irmão com forte seriedade. — Você estaria morto e sabe disso! — e viu irmão arregalar os olhos. — Ainda que Selene tenha agido mal e infringindo as leis, ela... salvou... a sua vida! Poupou a mim da culpa de matar meu próprio irmão. Não fosse esse seu orgulho, sabia que não seria punido por isso, mas preferiu fugir como sempre fez...

Kanon puxou Saga pela gola da armadura. Seu semblante era duro e seus olhos denotavam raiva, acompanhado de uma pela respiração pesada. Soltou o irmão empurrando-o, meneando negativamente e rindo nervoso. Limpava a boca com o braço e respirava fundo.

— Sempre sendo o certinho... Agora faz todo o sentido querendo que eu saia daqui. — dizia Kanon com acidez naquelas palavras. Saga apenas o olhava intrigado, piscando aturdido. — Não, nem vem dizer que não é isso. Aquele papo seu de que eu procure o Grande Mestre... Quer que eu saia daqui para ter mais liberdade com ela. Como sou idiota...!

— Não é nada disso, Kanon... — dizia Saga entendendo onde o irmão queria chegar. — Eu quero apenas ajudá-lo e posso fazer isso. Não quero que viva fugindo, se escondendo pra sempre...

— Ah, claro. Você é o mais velho e blá-blá-blá... Já chega, Saga! — Kanon estava para explodir. — Ela sabe que estou aqui? Contou a ela? — questionou, vendo o irmão fechar os olhos e coçar entre os olhos. — Claro que não. Sempre me viu como uma ameaça sua. Aposto até que combinou com ela para armar aquele teatro.

— Kanon... — disse Saga se voltando pra ele, sendo mais incisivo em suas palavras. — Não deturpe as coisas. Não aconteceu nada disso, não planejei nada com ela. Combinamos de não contar nada a ela. Nem você nem eu.

— E que garantias me dá que não contou a ela, Saga? — desafiou Kanon encarando o irmão. — Ela interfere na nossa luta, você consegue o que queria, eu desapareço e agora estão juntos? Muito conveniente... — As palavras de Kanon ganhavam um tom malicioso demais a ponto de Saga já respirar pesado enquanto olhava para o irmão. — Talvez ela não seja quem pensa que é, maninho...

— Kanon... Não diga nada... que vá se arrepender... — alertava Saga enquanto fechava os punhos e o assistia rir.

— E vai fazer o quê? Vai me entregar ao Grande Mestre, ‘senhor certinho’? — e ria, andando pelo pátio. Era um riso nervoso, debochado. —  Ela apenas está encontrando costas bem quentes, mas acho que ela já encontrou bem mais que isso, não é mesmo...?

Kanon não percebeu quando Saga avançou contra ele e deferindo um soco que o atingiu no rosto, fazendo-o cuspir sangue e rodar. Apenas não caiu por conseguir se equilibrar. Percebendo o que tinha feito, Saga recolhe o punho e vai de encontro do irmão que estende o braço em bloqueio. Cuspiu mais um pouco de sangue e se voltou para o mais velho.

— Já deu, Saga. É cada um por si. — disse Kanon com filete de sangue no canto da boca. — Era como deveria ter sido desde o início.

E deu às costas, afastando-se dali mesmo sob os chamados de Saga que levou a mão à cabeça, jogando a franja para trás e praguejando em silêncio enquanto via Kanon sumir nas sombras entre as pilastras.


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Notas finais do capítulo

Primeiramente agradecer a todos que tem acompanhado até aqui. Agradecimento especial para Draconnasti pela revisão e na ajuda no desenvolvimento das idéias confusas e de 'emprestar' Antares. S2

Nos próximos Capítulos:
A viagem de Aiolos e Selene guiados pelo perfume das rosas negras.



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