Saint Seiya Memórias: História Oculta Do Santuário escrita por Katrinnae Aesgarius


Capítulo 34
Livro 1 :: Destino - Ato 19


Notas iniciais do capítulo

Selene agora é uma Saintia de Prata, protegida pela constelação de Pyxis, mas levantando muitas dúvidas sobre seus segredos e seu passado.



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Ao retornar para a casa de gêmeos, Kanon manteve todo o cuidado para que não fosse visto nem pelos soldados nem por aspirantes, muito menos pelos servos do lugar. Aproveitou somente a distração de todos empolgados e instigados pelo final daquela luta entre Selene e Albion de Cepheus para que pudesse voltar em segurança para o terceiro templo zodiacal, embora estivesse tentado a ver aquele desfecho mais que óbvio após o que assistiu.

Removeu o elmo jogando-o num canto qualquer do monte, caminhando ainda aturdido. Foi até a fonte que havia nos fundos do templo e molhou o rosto, mergulhando a cabeça por alguns instantes e jogando o cabelo para trás. Olhou seu reflexo, a sua imagem pálida e assombrada e mexeu na água, tomando alguns goles e voltando para o interior do templo, um tanto automático. Escorou-se numa pilastra, deslizando até o chão com a mão em seu peito.

Kanon arfava, batendo a cabeça de leve e meneando em negação aquilo que viu não acreditando no que havia acontecido. Jamais sentiu seu cosmo responder com um pulsar como aquele. Teria Saga também sentido o mesmo? Certamente, pois a expressão dele, do outro lado da arena, era tão estarrecida quanto à dele deveria estar agora ao ver-se no reflexo da água por aquele momento.

Quanto tempo ele ficara ali, perdido em pensamentos e repassando aquele momento, ele não sabia. Despertou de seu devaneio apenas com os passos pesados promovidos pela armadura e vendo a luz dourada passar próximo onde ele estava, fazendo-o se levantar de imediato e chamar por Saga, ainda com um olhar assombrado.

— Você também sentiu aquilo, não foi? — indagou Kanon ao irmão mais velho, vendo-o confirmar com um aceno. aos e voltar para ele — O que acha que foi aquilo? Ela... Ela explodiu seu cosmo num instante e depois...

— Estava pensando nisso a caminho daqui, e lembrei de quando a encontramos... — disse Saga com o olhar perdido, ainda arfando como Kanon quando chegou ali. — Quando sentimos aquele cosmo nos chamando, Kanon. Lembra-se? Foi mais fraco, mas... foi o mesmo daquele dia.

Kanon piscou aturdido, lembrando-se daquela tarde chuvosa quando se abrigaram na marquise de um prédio abandonado e percebeu, junto de Saga, uma sincronia com seu cosmo. Ficaram tão indignados com o que encontraram e o desespero de Selene que, na época, ambos acreditando se tratar de um garoto de rua qualquer, não se importaram com aquilo.

Ao menos não até aquele momento.

— Acha que Selene despertou seu... — comentava Kanon intrigado.

— Sétimo Sentido naquele dia assim como nós dois naquela época? — completou Saga levando a mão aos cabelos e assentindo. — Sim, e tenho a certeza disso agora.

— Mas, por que ela escondeu isso? Por que nunca desconfiamos no treinamento...? — e Kanon interrompeu suas palavras, baixando a cabeça e fechando os olhos por um instante praguejando. — Droga! — Socou a pilastra e deu às costas, caminhando num mesmo lugar, levando a mão aos cabelos ainda úmidos. — Como ela poderia suportar nossos golpes... sem contar que ela sempre parecia saber exatamente o quanto estávamos empregando de poder em nossas técnicas...? Claro...!

— Ela guardava isso, e por alguma razão ele explodiu violentamente naquele momento como se estivesse despertando pela primeira vez... como naquele dia, mas... muito... muito mais intenso! — comentou Saga ainda perdido e franzindo o cenho e voltando-se para o irmão.

— E o que acha que foi isso que sentimos? — questionou Kanon ainda intrigado. — Parecia que nossos cosmos...

— Tinham se tornado um. — disse Saga se voltando para o irmão que assentiu, e ambos olhando perdido para o templo de Gêmeos.

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A urna prateada estava ao seu lado, reluzindo o último raio de sol daquela tarde que recaía sobre o anfiteatro. Havia conquistado, após quase cinco anos, sua indumentária sagrada. Embora nada tivesse ouvido do discurso de sua sagração como Amazona pelo Patriarca, mesmo lendo parcialmente seus movimentos labiais, sabia que falava de suas obrigações e deveres a partir daquele momento. Estava selado ali seu destino.

Após todo o breve cerimonial, e a saída do Patriarca acompanhado por sua escolta pessoal e do mestre Arles, pouco a pouco todos deixavam o anfiteatro comentando os embates daquela tarde, sobretudo a última luta que sagrou Selene.

Ela ainda arfava pelo esgotamento físico, mas era o seu mental da qual ela mais sentia naquele momento com a forte enxaqueca e desorientação que a forçou continuar ali. Nem bem sabia em que direção seguir tamanha sua confusão mental naquele momento.

Em sintonia com seu cosmo, removeu a armadura, esta ganhando sua forma simbólica antes de se tornar a própria urna, fechando-se por completa. Não a removeu do chão, mas sentou-se sobre ela, levando a mão próxima ao ouvido, mantendo o cuidado de não remover a máscara.

A dor parecia aumentar consideravelmente com o forte zumbido, e os gritos de soldados próximos, embora incompreensíveis e parecendo gerar mais uma distorção aguda, apenas pioravam a situação.

Estava já decidida arriscar seguir para sua casa quando sentiu uma presença muito próxima, levando suas mãos em cada lado da cabeça à altura do ouvido e concentrar um cosmo quente e acolhedor, fazendo amenizar o eco em sua cabeça que lembrava um enxame de abelha. Somente por neutralizar aquilo foi um alívio, pois já podia ouvir com maior clareza, ainda que incomodasse.

— Espero que a pressão em sua cabeça tenha amenizado. — disse alguém às suas costas, e ao se virar, Selene viu Albion recolhendo as mãos e segurando uma das alças que levava sua urna envolta de uma capa de couro. — Não podia partir sem saber como estava e parabenizá-la por sua sagração, Selene... de Pyxis.

Selene levou a mão à fronte, olhando à sua volta, ouvindo ainda com dificuldade os guardas mais adiante, mas com uma clareza muito maior que há poucos instantes. Voltou-se para Albion e assentiu, agradecendo por aquele alívio concedido. Ele não mais trajava sua indumentária, mas vestimenta de viagem de um civil — calças escuras e coturnos, uma blusa de manga comprida dobrada e um casacão escuro comprido aberto. Os cabelos loiros e ondulados estavam presos, com alguns fios caindo sobre o rosto.

— O que fez foi bastante arriscado. — comentou ele cruzando os braços frente ao peito. — Se eu tivesse empregado toda a força teria perdido completamente a audição explodindo os tímpanos!

— Eu sei, mas mesmo sabendo que o dano poderia ser permanente, optei pela investida ousada. — comentou Selene sorrindo, mas até isso parecia incomodar sentindo a cabeça latejar. — Precisava ganhar uma vantagem, da qual eu ainda tinha.

— Sim, e foi capaz de voltar a minha técnica contra mim. — ele descruzou os braços e coçou a cabeça, soltando alguns fios do cabelo alourado presos. — Não imaginei que minha técnica fosse tão agressiva, mesmo eu empregando mínimo do meu poder suficiente para atordoá-la. — e soltou um suspiro, coçando o ouvindo, indiciando que também sentia o que a atormentava naquele momento. — Porém, foi capaz de me surpreender. Não é à toa que se tornou a Amazona de Prata, da constelação de Bússola. Imaginei que recorreria à sua habilidade nata de orientação.

Selene riu ao ouvir aquilo. O mestre Arles estava sempre adiando seus testes, e agora tudo fazia sentido. Durante as lutas que antecederam à sua aquela tarde, Albion comentou que sua chegada ao Santuário era para a entrega semestral dos relatórios de sua missão de guardião na Ilha de Andrômeda. Ambos chegaram a treinar juntos, mas ele foi sagrado poucos meses após sua chegada ao Santuário e incumbido de ficar na mitológica ilha.

— O Grande Mestre foi ardiloso... Agora entendo do porquê ele sempre adiar meu teste. — ela sorriu por baixo da máscara, deixando soltar um riso contido. — Ele sabia que sua técnica poderia me atordoar e precisaria usar de outra tática para superar meu oponente. — e se voltou para ele, vendo-o concordar com seu raciocínio. — Nem que fosse por alguns segundos.

— Um milionésimo de segundos faz uma grande diferença no campo de batalha. — alertou Albion com mais seriedade, conseguindo a atenção plena de Selene. — Por isso digo que não hesite, ou isso será fatal. Entende isso?

Selene assentiu. Já ouvira diversas vezes aquilo de Saga e de Kanon quando treinava com os dois irmãos, sendo repreendida muitas vezes até mesmo pelo Mu e pelo mestre Arles.

— Partindo agora... para a Ilha de Andrômeda? — indagou ela, ainda sentindo levemente nauseado por conta da enxaqueca e falta de orientação. — Pensei que... fosse partir amanhã de manhã.

— A minha partida seria no início dessa tarde, mas fui convidado a ficar para testar as habilidades de um aspirante a pedido do Grande Mestre... — e sorriu para ela. — Posso esperar sua visita qualquer dia em Andrômeda?

— Pode ter certeza que sim. — responde Selene confiante, estendendo a mão num cumprimento de despedida.

Olhar o anfiteatro à sua volta, já vazio, com alguns poucos soldados fazendo sua ronda rotineira, a fez soltar um longo suspiro. Tomou a urna e a jogou nas costas, sentindo-a mais leve do que habitualmente sentia movendo diversas outras de um lado a outro após restaurá-las, e riu por isso. Mesmo quando trajou a indumentária, não sentiu qualquer diferença, senão ao fim da luta quando percebeu estar com a armadura sagrada.

Ao olhar para o céu, buscou por Pyxis, sua estrela guardiã, brilhante, como se a iluminasse naquele início de noite. Levou a mão ao peito, juntando os pés e fechando os olhos por baixo da máscara. "Prometo honrá-la até meu último suspiro, ser digna de representá-la, Pyxis, como uma verdadeira guerreira em nome do amor e da justiça pela paz da qual Athena acredita".

— Foi simplesmente impressionante, para não dizer espetacular! — comentou alguém interrompendo Selene em seu juramento pessoal. Era Mephisto, sentado nas arquibancadas do anfiteatro, com os olhos caídos sobre ela. — A sua tenacidade foi digna de uma grande guerreira, algo da qual me desperta grande admiração.

Selene mantinha-se parada onde ela estava, com as duas mãos nas alças de couro existente na urna para seu transporte. Algo naquele homem muito a incomodava, mas, como havia conversado com Saga, poderia ser um reflexo das suas habilidades com o Mundo dos Mortos que lhe provocava uma cisma sombria — mesmo com seu sexto sentido dizendo ser algo a mais nisso.

— Obrigada! — disse somente, sem muita emoção na voz como quem falou com Albion há poucos instantes. — Em breve será o seu teste, não...? Embora já seja considerado um Cavaleiro da quarta Casa...

— A armadura já me reconheceu. — disse ele orgulhoso se levantando, caminhando em direção da jovem que engoliu a seco. — Será apenas uma questão de... — e sussurrou próximo ao ouvido. — Formalidade, entende? — e riu contidamente.

Selene arregalou os olhos quando o rosto daquele homem passou bem próximo ao seu. Por um instante ela viu os olhos dele se tornarem rubros como sangue, e a fitando como se perscrutasse sua alma. Ela se voltou imediatamente para ele após aquelas palavras e vendo-o franzir o cenho. Os seus olhos, somente escuros, nada avermelhados.

— Está tudo bem? Ainda se sente atordoada... — dizia se aproximando, mas Selene desvencilhando, afirmando estar bem que estava apenas cansada. — Eu só queria ajudá-la, calma! Tenho a impressão de que não gosta muito de mim, não é?

Aquelas palavras a tomaram de surpresa, e o olhar dele parado sobre ela, sem piscar, apenas deixava Selene ainda mais nervosa e incomodada.

— Não, não é isso. É que... Ahn... — dizia tentando se justificar. — Eu... Eu estou bem. Apenas cansada, eu... eu exigi mais de mim mesma hoje. Não é nada.

— Tudo bem. Não precisa criar desculpas. — disse ele naturalmente levando as duas mãos à cintura e curvando um pouco o corpo para frente, rindo. — É natural. Eu carrego uma mácula por conta de minhas técnicas um tanto... sombrias! — e piscou para ela. — Descanse e... parabéns. — e deu a volta, acenando enquanto seguia em direção contrária pelo anfiteatro.

Selene ainda se manteve parada ali por mais alguns instantes, antes de seguir em direção ao Campo das Amazonas. Ao remover sua máscara, já em sua casa, percebeu que suava frio e suas mãos estavam trêmulas. Recostou-se na mesa e colocou-se a rever a imagem formada em sua mente por trás daqueles olhos vermelhos e o brilho de morte que ele emanava.

“Os olhos... a janela da alma...!”, lembrou-se naquele momento. Respirou fundo, buscando manter o máximo da calma após aquela breve visão.

"Cada vez que sentir isso, quando for tomada pela Visão, precisa aprender a domá-la de modo que a mesma não a aterrorize, mas que aprenda com elas. Não se deixe levar pelo emocional, mas pelo seu racional", disse Shaka nos dias de meditações em Virgem. Não podia se deixar levar pelo medo, mas confrontá-lo e interpretá-lo, e para isso, seguiria os ensinamentos de Buda orientados por Shaka.

Após banhar-se e limpar os ferimentos e escoriações daquele dia de seu teste e sagração, vestiu um peplos com uma amarra na cintura com uma corda fina e seguiu para junto de uma árvore de tronco torto que desenhava um L deitado. Estava uma noite fresca e tranquila, somente com o som do vento de farfalhar das árvores. Sentir aquela brisa já soava reconfortante.

Caminhou olhando o céu limpo e estrelado, observando Pyxis ainda brilhando intensamente, tal como Pollux e Castor, ambas da constelação de Gêmeos. Gostaria de ver Saga ainda naquela noite, pois somente o vira deixando o anfiteatro e perceber um sorriso discreto em seu rosto acompanhado de um olhar caloroso. Aquela lembrança a fez sorrir, soltar um suspiro e centrar em sua meditação. Somente despertou ao perceber os tons alaranjados do sol anunciando uma nova manhã.

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— Você não me parece nada bem, Selina. — comentou Aelia acompanhando-a pelos corredores do Santuário.  — Tem certeza de que não precisa descansar? A sua prova foi complicada, exigiu muito além do seu normal.

— O quê...?  — comentou Selene parando pouco atrás, ainda com uma mão no ouvido. — Eu... Eu estou apenas com uma enxaqueca, mas logo ficarei melhor e... — e suas palavras sendo interrompidas pelo som de quedas ecoadas num templo próximo fez Selene levar as duas mãos ao ouvido, deixando escapar um gemido de dor.

Enquanto no Campo das Amazonas, sentia somente a cabeça dolorida quando se recolheu após toda uma noite em meditação, ajudando conter os temores daqueles olhos sinistros do italiano.

Tudo parecia estar relativamente bem, apesar da enxaqueca, até chegar ao Santuário. Albion havia somente amenizado o ruído em sua cabeça, causado pelos danos aos seus tímpanos.

Entretanto, ainda estava sensível aos sons frequentes no Santuário que soavam mais intensos aos seus ouvidos. Todos os seus sentidos estavam a reagir aquilo, e sua exposição sobre as luminosidades das armaduras refletindo o sol ainda fraco da manhã e o tilintar dos metais soavam como tambores ao seu ouvido, gerando uma dor excruciante a ponto de seus olhos lacrimejarem.

— Selina, como vai lidar com treinamento das meninas gritando e te questionando a todo o momento? — questionou a amiga preocupada. — Precisa descansar! — insistiu Aelia.

Selene nem mais parecia ouvir, mas desligar-se momentaneamente, e quando mais objetos caindo ecoou novamente sentiu vontade de gritar, mas se conteve ralhando os dentes. Aelia saiu de perto um momento somente para saber o que aconteceu, já que ouviu gritos dos soldados e temendo alguém ter se machucado. Naquele breve momento, não percebeu que Selene acabou por caminhar, desorientada, aproximando-se de um declive que levaria ao anfiteatro.

Aiolia, o pequeno irmão de Aiolos que estava próximo à base do rochedo com seu irmão, apontou em direção ao topo. Parecia-lhe que alguém ia cair, levando o Cavaleiro, que estava trajando a sua indumentária sagrada de Sagitário, a erguer os olhos observar que aquela a quem o pequeno estava vendo era Selene. E logo percebeu que algo muito errado estava acontecendo. Ela estava para cair, caminhando perdida.

Foi preciso agir rápido, voando ao seu encontro quando ela perdeu a direção e caiu, sendo apanhada ainda no alto. O som das asas que batiam suaves, quase sem fazer qualquer ruído, a incomodaram ainda mais, pedindo para que parasse.

— Acho que alguém precisa se recuperar antes de assumir seu posto. — comentou Aiolos pousando e colocando Selene no chão, apoiada por Aelia que retornara ao ouvir a chamada dos soldados. — Aelia, leve Selene de volta. Eu mesmo reporto ao mestre Arles de suas condições. Ela precisa se recuperar depois de ontem.

E foi Aelia quem levou Selene de volta ao seu abrigo no Campo das Amazonas. Conforme se afastavam do centro do Santuário, mais tranquila a Prata de Pyxis ficava pela ausência frequente dos barulhos de metal, e quando removeu sua armadura, sem mais ter o reflexo do metal voltado pra si, sentiu um grande alívio. Porém, isso não a impediu de vomitar o pouco do desjejum tamanha náusea que sentia.

— Ainda bem que o Sr. Aiolos providenciou as folhas para te fazer um chá... — dizia Aelia colocando Selene na cama, levemente abatida. — Fica aí sentadinha e preparo rapidinho.

— Tudo bem, Aelia, eu posso... — e as sucessivas quedas dos utensílios de cozinha caíram, e Aelia pedindo desculpas quase aos gritos pelo desastre. Selene teve a impressão de ver estrelas. — Aelia... AELIA! Tudo bem, tudo bem!!! Apenas... não grite.

Aelia se desculpou mais uma vez, e apesar de movida em sua ansiedade, deixou mais que um simples chá de hortelã, acrescido de um pouco de mel, mas também um almoço reservado: caldo verde. Quando partiu, incumbiu Marin de levar pães e frutas, mas garantindo que retornaria para saber seu estado no fim do dia antes de se recolher. Só o fato de estar longe dos barulhos excessivos, conseguia manter a mente leve e sua orientação mais centrada. Precisaria apenas... descansar.

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— Quanta diferença de ontem para hoje. — comentou Saga olhando pela janela da sala, por breve momento, enquanto arrumava alguns documentos numa estante. — Nessa hora estávamos todos no anfiteatro assistindo sagração de novos Cavaleiros.

— E olhando agora, nem parecia que tínhamos tantas pessoas nesse Santuário. — completou Aiolos trabalhando numa planta com diversas marcações. — Pelas minhas contas, no momento somos... — parava e fazia uma contagem mental. — Dois Cavaleiros de Ouro, quatro de Prata e três Bronze. Não é muito, mas logo seremos mais Dourados se contarmos o italiano e o espanhol, embora Aldebaran está digno de somarmos cinco.

Seis se contarmos Mu, o garoto que conserta as armaduras. — disse Saga se aproximando da mesa do amigo. — Sete com aquele restrito ao sexto templo zodiacal...

— Com aqueles outros dois que vivem brigando... — comentava Aiolos não conseguindo conter o riso do evento há algumas semanas.

— Fala dos dois que apostaram sobre um que criou uma pista de gelo no anfiteatro? — apontou Saga numa questão certeira e sendo apontado pelo Sagitariano. Ambos riram por algum momento daquilo. — Seríamos nove. Uma soma bastante interessante.

— Dez se contarmos o antigo Cavaleiro que dizem estar nos Cinco Picos de Rozan, na China. — comentou Aiolos olhando para seu mapa. — Não sei se devemos considerar aquele que dizem ser um remanescente da última Guerra Santa. Mas... — larga a pena e se joga numa cadeira próxima. — Desde que esteja conosco, talvez entregue seu legado a alguém.

— Ao menos estamos aumentando nossas forças. — comentou Saga olhando o mapa em que Aiolos trabalhava, mas logo voltou-se para uma estante próxima e guardando outros rolos de documentos.

— Temos um Cavaleiro de Bronze para cada Prata atualmente sagrado, sendo que um deles foi incumbido de ser Guardião da Ilha de Andromeda... — disse Aiolos soltando um longo suspiro.  — E até que Selene esteja recuperada, ficamos ainda dois Prata em atividade aqui.

— Como é? — indagou Saga se voltando de volta para Aiolos. — Como assim? Do que está falando?

Aiolos já estava retomando seu projeto quando piscou aturdido por aquele questionamento do Saga. Foi quando lembrou não ter mencionado sobre o que aconteceu.

— Ah, eu pensei que tivesse te contado...  —  dizia Aiolos se inclinando pra frente. — Cheguei atrasado aqui hoje porque fui reportar ao mestre Arles sobre as condições de Selene ainda serem impróprias para assumir seu posto. Ela ainda está muito debilitada pelo que aconteceu.

— Ela teve outra crise daquela? — indagou Saga frente à mesa, demonstrando tamanha preocupação que causou estranhamento em Aiolos.

— Não... Ahn, na verdade acho que ela ainda está atordoada por conta do golpe de Albion. — comentou Aiolos pensativo. — Aquele golpe a deixou totalmente atordoada, sem orientação. Soube que ele amenizou as sequelas, mas... — Aiolos deu os ombros voltando-se para Saga. — Não acho que se recuperaria da noite para o dia.

— Tá, mas... O que exatamente aconteceu? — indagou Saga ainda preocupado.

— Ela deve estar com os sentidos muito sensíveis ainda. Quando a tomei nos braços, ela quase surtou... EPA, CALMA! NÃO É NADA DISSO QUE ESTÁ PENSANDO. — exclamou Aiolos se levantando bruscamente da cadeira e estendendo os dois braços para Saga que o olhou com estranhamento. — Ou eu a tomava nos braços ou ela cairia dos rochedos. Ela parecia estar com enxaqueca, sei lá. Sabe como é aqui no Santuário. O barulho deveria estar fundindo a cabeça dela.

— Albion também exagerou... — disse um Saga injuriado caminhando pela sala. — Aquilo era apenas um teste. O que diabos ele achava que estava fazendo ao usar uma habilidade dessa contra ela?

— Saga, ele não usou nem metade do poder dele. — respondeu Aiolos demonstrando mesma preocupação. — Ela só precisa descansar, e longe do centro do Santuário até que seus sentidos estejam recuperados. Já reportei o mestre Arles e ele mesmo achou melhor Selene manter-se longe por hora. Aelia a levou para sua casa no Campo das Amazonas e disse que lá está isenta de toda a algazarra daqui. Em alguns dias ela volta, não é nada grave.

Saga assentiu, mas não escondia sua preocupação quanto a isso. Não a viu de manhã, mas esperava que a encontrasse até o fim da tarde como era de costume dos dois, mas ao ouvir aquilo, deixou-o profundamente receoso sobre seu estado, e não apenas isso.

— Além do mais, ela foi muito além do que esperava. Aquele cosmo... — continuou Aiolos, chamando a atenção de Saga que se voltou para ele quando pensava sobre aquilo. — Jamais senti algo igual. E acredito que nem o mestre Arles esperava isso de sua pupila.

Saga assentiu em concordância, sem mais nada comentar sobre aquilo.

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No primeiro dia, Selene manteve-se deitada, enjoada o bastante até para comer temendo vomitar novamente. A cabeça estava dolorida e o chiado que gritava em sua mente havia se acalmado. Aelia voltara ao fim da tarde como prometera para saber de seu estado e foi ela quem conseguiu convencer a amiga de comer, deixando-a sozinha para descansar e prometendo voltar na manhã seguinte.

A Amazona sabia que o mestre a teria incumbido a Bronze de relatar a sua recuperação uma vez que era impedido de entrar naquela área, mas sabia também que Aelia faria isso sem precisar de qualquer ordem. Outras meninas como Marin foram visitá-la no início da noite, mas pouco conversou em respeito da aflição de sua mestra, e quando a deixou sozinha, Selene sentia o corpo cansado demais e foi tomada pelo sono.

Não sabia por quanto tempo apagou, somente que sentia um vento frio recair sobre seu corpo. A janela estava aberta, com a cortina que improvisada bailando com aquela brisa. Levantou-se com dificuldade para fechar empurrando as portas da janela.

Usar sua telecinese era um martírio, levando-a a sentir uma fisgada que a fez deitar novamente, encolhida. Foi quando sentiu sua manta cobrir seu corpo quente, acompanhada de um toque delicado e perfumado. Ao abrir os olhos, via-o na sua frente, fazendo-a piscar e sentir os olhos queimarem. Seria uma alucinação, ela se perguntou deixando seu pensamento ganhar voz.

— Não. Não é uma alucinação. — respondeu Saga puxando uma cadeira e sentando-se ao seu lado. — Estou realmente aqui... quebrando mil regras para saber como você está... e estava certo em vir. Está com febre! — sussurrou ele limpando sua face das mechas de cabelo.

— Deveria dizer que não pode ficar aqui... — dizia ela sussurrando e estendendo a mão pra ele para tocar em seu rosto. — Mas estaria mentindo pra mim mesma. — e viu Saga tomar sua mão e beijar, enquanto ela abria espaço em sua cama e convidando-o somente com seu olhar, e da qual ele atendeu sem qualquer cerimônia e vendo-a deitar a cabeça em seu peito enquanto brincava com os cabelos da amazona.


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Notas finais do capítulo

Nos próximos capítulos:
O Ciclo 'Vínculos' está se fechando e caminhos tortuosos virão. Um envelope de fita amarela chega as mãos de Selene. O que será?



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