Saint Seiya Memórias: História Oculta Do Santuário escrita por Katrinnae Aesgarius


Capítulo 32
Livro 1 :: Destino - Ato 18


Notas iniciais do capítulo

Começa a prova de Selene. O seu oponente se mostra forte, digno da indumentária que recebeu. Porém, durante a luta, algo surpreende alerta o Grande Mestre de um grande perigo.



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A expressão de Selene foi de surpresa. “Não é possível! Por que ele?”, indagava Selene ao ouvir seu nome. Ninguém poderia vê-la através da máscara, mas ela tinha os olhos arregalados e a boca entreaberta pelo Grande Mestre chamá-lo. Ela se levantou buscando não encarar qualquer um diante dela, principalmente Saga que se encontrava próximo ao Grande Mestre e ao mestre Arles.

“Por que um Cavaleiro de Prata quando todos os aspirantes se enfrentaram? O Mestre está confiando tanto assim em mim a ponto de...”, e engoliu a seco, sentindo a garganta secar.

— Albion de Cepheus será seu oponente nesta luta. — disse o Grande Mestre, levantando um burburinho de comentários por todo o anfiteatro.

Saga mantinha-se surpreso ainda por aquela escolha, mas não era o único. Kanon também se mostrava atônito, diferente dos outros soldados que agiam com a mesma naturalidade de antes. Afinal, pouco sabiam o funcionamento dos combates. Apenas se mostraram eufóricos porque um aspirante lutaria contra um cavaleiro já sagrado, diferentes dos combates até então.

Quem realmente não escondeu o descontentamento foi Jisty que fechou o punho, mantendo um olhar incisivo para Selene já assumindo a sua posição na arena do anfiteatro. As suas meninas se questionavam o porquê daquilo, buscando entender o sentido de um combate de uma aspirante contra um Cavaleiro.

— Mas por quê? Por que essazinha tem que enfrentar um Cavaleiro de Prata?  — questionou uma delas se voltando para sua mestra, ainda compenetrada em sua desavença.

Enfrentar um Cavaleiro de Prata em uma provação como aquela só poderia significar uma coisa, e aquilo era algo no qual ela mesma se recusava a pensar. Alguém como Selene não poderia nunca estar naquele nível de combate. A certeza disso fazia com que a Amazona rangesse os dentes furiosamente por debaixo da máscara.

Aquilo não estava certo. Não era justo.

Selene apenas aguardava por Cepheus no centro da arena, vendo-o caminhar a passos lentos e suas correntes ressonarem junto com sua indumentária em prata e tons azulados. Ela o protegia todo o tronco e descia num saiote de placas protegendo o quadril.

O foco da aprendiz, no entanto, estava em suas correntes presas ao seu braço, com a direita trazia em sua ponta uma esfera com cravos, enquanto da esquerda era uma cruz de malta.

Tivera aula sobre as armaduras sagradas em Jamir, e que algumas que traziam correntes apresentavam defesa e ataque quase que intransponíveis, embora seus comportamentos variassem com seu guardião.

Para Albion o convite também foi espantoso.

Quando chegara ao Santuário para entregar os relatórios de missão, o pedido do Grande Mestre soou como uma surpresa quando solicitado na prova de um aspirante. Apenas não imaginava que seria com Selene, alguém que tivera pouco contato em seus dias de treinamento, mas que compartilharam um mesmo propósito de defender os estrangeiros hostilizados no Santuário. Ganhou sua admiração quando soube dela ser uma grega com descendência com os lemurianos, algo da qual a colocava numa posição privilegiada.

— Ah, olhem só, a boa menininha vai enfrentar um Cavaleiro de Prata! — Ouviu alguém zombar, atraindo um discreto olhar de reprovação daquele homem.

Tão logo foi chamado pelo Grande Mestre, ouviu chacotas das quais simplesmente reprovava. Lançou um olhar de canto para um grupo de garotas que acompanhavam uma Amazona que ele sentiu denotar uma agressividade em seu cosmo. Por hora, nada fez. Não faria nada frente ao Grande Mestre.

Caminhou a passos lentos e centrados, o porte altivo. Era um homem de bela aparência, olhar fundo e analítico que se perdiam meio às mechas claras e longas que somente não cobria sua face por conta da tiara de seu elmo com asas na altura das orelhas. Ao colocar-se diante do patriarca, agachou-se em reverência.

— Será uma imensa honra para mim, Albion, Cavaleiro de Prata de Cepheus, realizar a provação de alguém tão nobre e dedicada. — disse ele, levantando-se após receber a permissão do Grande Mestre. 

Cepheus caminhou a passos lentos de seu lugar até a arena do Anfiteatro, se colocando a bons metros de distância de Selene. Cumprimentou-a com um sorriso suave, mas com um olhar indicava que não facilitaria as coisas em nada para ela.

— Quando estiver pronta, Selene. — disse ele mantendo total calma.

 “Preciso atentar-me as suas correntes...”, pensava ela. Ambos haviam treinado juntos algumas vezes, o que permitia Selene conhecer suficientemente bem suas habilidades de combate, assim como ele também conhecia as suas técnicas. Quanto a isso, ela pouco sabia de Albion uma vez que ele partiu para a Ilha de Andrômeda tão logo foi sagrado um Cavaleiro.

Saga estava focado sobre ela, seus olhos parados buscando adivinhar o que pretendia. Sabia o quanto ela hesitava em iniciar um ataque, mas também poderia estar avaliando seu oponente. Não era um simples aspirante, mas um Cavaleiro de Prata que o Geminiano conheceu com alguém digno de sua indumentária sagrada.

— Quebra a máscara dela!!! — Alguém gritou, mas o local estava tão cheio que seria difícil encontrar o responsável por tamanha falta de respeito.

— Achei ofensivo! — Outro gritou em algum ponto perdido. — Faz mesmo!!!

— Coloca ela no seu devido lugar! — Uma das meninas de Jisty gritou.

Selene foi capaz de ouvir os ultrajes, reconhecendo de imediato alguns deles quando acompanhado de risos, e ficar parada ali apenas a distrairia sobre seu objetivo e optando por tomar a iniciativa. Avançou na direção de Cepheus e executou um salto, mas desaparecendo em sua queda. Ao menos, naquele momento, as agressões verbais deram lugar a ovações por sua ação, principalmente quando desapareceu em pleno ar.

Albion não fez qualquer reação quanto aquela investida, pois já previa o que pretendia fazer. Aguardou o momento em que sentiu sua presença às suas costas, quando a aspirante preparou seu punho para golpeá-lo. O seu único movimento foi erguer a mão esquerda para o alto, fazendo o seu cosmo ascender subitamente. Uma dezena de pilares de luz se ergueram bem ao seu redor, em uma explosão sônica, abafando completamente as vozes da plateia exaltada e gerando fortíssimos ventos.

 “Mas o que...?”, indagou ela mentalmente, sentindo forte rajada de vento e recolhendo os braços, cruzando frente ao corpo na tentativa de criar uma barreira, e conseguiu. Contudo, acabou por provocar um choque de poder com o campo de força, criando um contra-ataque automático que a fez voar metros de distância girando no alto com a explosão sonora criada. Foi preciso usar sua telecinese para se estabilizar no ar e poder cair de pé, deslizando metros para trás e apoiando-se com uma das mãos no chão.

Selene arfava por baixo da máscara, denotado através dos seios a subir e descer por sua respiração acelerada. “Mas o que foi isso? Esses pilares de luz não somente bloquearam como repeliram meu bloqueio...?”, pensava ela buscando entender o que ele havia feito enquanto se colocava novamente de pé, assumindo posição de luta quando um zunido ‘gritou’ em sua cabeça, fazendo-a cair ajoelhada no chão com as mãos na cabeça.

Aiolos de Sagitário e Saga de Gêmeos se comportaram igualmente em se assustarem com a ação de Selene. Kanon mantinha-se onde estava, mas diversas vezes reagindo em correr, mas hesitando. Todos no anfiteatro observavam Selene tentar se colocar de pé, mas que parecia ter perdido o equilíbrio, cambaleando antes de cair de novo.

O zumbido agudo ‘gritava’ em sua cabeça, como uma forte interferência em seus sentidos. “M-Mas... Mas o que... o que é isso...!? Esse grito em minha mente...”, pensava, e até mesmo seus pensamentos pareciam fazer o zunido ganhar tons mais agudos, a ponto de fazê-la perder a noção de onde estava e o que fazer naquele momento.

— No final, não me parece ser grandes coisas... — comentou uma das aprendizes de Jisty.

Selene nada conseguia ouvir, e até colocar-se de pé, buscando ignorar aquele som que abafava todo o anfiteatro à sua volta. Encontrou dificuldade uma vez que nem mesmo parecia sentir o chão naquele momento até utilizar de sua telecinese e ganhar melhor estabilidade.

“Vai precisar de um pouco mais que isso para me atingir, Selene”, disse ele com tom de seriedade. Falava por cosmo ou estava a ouvi-lo meio aquele zumbido? “E eu sei que você pode”, completou ele, pouco antes de vê-lo erguer sua mão esquerda.

Em um movimento similar ao de quem arremessava algo, um novo feixe de luz se projetou em sua direção, atingindo uma velocidade imensa em tão pouco tempo que gerou uma espécie de explosão e criando uma onda de distorção.

Ela não podia se teleportar no estado que estava, restando somente criar uma barreira cristalina como se fosse um escudo como tantas vezes fez para conter os ataques de Sage e Kanon, assim como também de Milo, mas o efeito foi ainda mais avassalador e recriando o mesmo choque de há pouco.

Entretanto, desta vez não foi arremessada por ter o choque repelido, mas provocar uma explosão sonora que desfez seu escudo meio ao grito em sua mente que ela deixou escapar de sua boca, levando-a novamente ao chão.

— Mas o que diabos foi aquilo? O golpe nem mesmo a atingiu, explodindo em seu bloqueio. — comentou Milo sem entender.

— Ondas supersônica. — respondeu Camus mantendo sua inexpressão. — Cepheus consegue enviar seu golpe numa velocidade tão intensa que é capaz de quebrar a barreira do som, criando uma explosão dessa corrente. Ao chocar-se contra uma barreira cósmica, o estampido se torna muito maior.

— Acha que eu posso golpeá-lo antes dele me atingir nessa velocidade? — questionou Milo se voltando para o francês.

— Talvez. Embora possa alcançarr a velocidade da luz, o golpe dele pode confundirr seus sentidos com a explosão da barreira do som e atrapalharr seus movimentos. — disse Camus de maneira didática, virando apenas os olhos para o amigo. — Além do mais, ele não parrece estar empregando todo seu poder nesse combate.

E era verdade. Caso Cepheus imbuísse mais de seu cosmo naquele ataque, Selene tinha certeza de que não resistiria e teria perdido os sentidos naquele momento — embora estivesse a ponto disso.

Se o zumbido antes a impedisse de ouvir com clareza, agora tudo pareceu emudecer, criando uma distorção muito além de sua audição. E quando tentou se levantar, a dor em seu ouvido foi excruciante, a ponto de parecer que sua cabeça fosse explodir.

A tentativa de se colocar de pé foi ainda pior, foi sentia-se debilitada, sem chão, num completo vazio onde não havia qualquer limite. Os seus olhos lacrimejavam pela dor, e pior. Não conseguir enxergar com clareza, somente distorções em ondas que a impediria de executar qualquer ataque com precisão. Sentia-se completamente desorientada.

— O ataque dele anulou seus cinco sentidos...? — comentou Aiolos ao lado de Saga.

Saga não respondeu, apenas fechava os punhos para conter qualquer ideia de intervir naquela luta. O que fez foi apenas olhar de lado onde estava Kanon, percebendo que ele também estava inquieto com aquela situação. Ambos sabiam que Selene podia ir além, mas estava a hesitar num combate mais firme e decisivo, tomando apenas defensiva apesar de sua iniciativa.

 “Selene...”, ela ouviu alguém chamá-la, por cosmo, mas estava distante, confuso, fazendo-a procurar, até compreender que se tratava do próprio Albion. “Atacar-me diretamente não vai adiantar de nada! Ficar parada muito menos.” Ele falou apenas movendo os lábios de modo amplo, para que ela os lesse, mas a jovem pouco conseguia identificar.

“Está demorando muito a tomar uma decisão e isso poderá ser fatal para você”.

Ela não podia ouvi-lo diretamente. Se havia perdido o sentido da audição permanentemente, não tinha a menor ideia naquele momento. Não conseguia entender o que ele dizia uma vez que não o tinha nítido em sua visão.

“Ele pode prever meus movimentos, e se receber mais um golpe desses será meu fim!”, pensava ela. Precisava ter uma abertura para um ataque direto, mas não usando seus sentidos. Ao menos não os cinco.

Naquele momento lembrou-se quando fugiu de Jamir após ferir o mestre Arles, de como se distanciou e conseguiu se teleportar de maneira segura do castelo para os vilarejos próximos. O mesmo aconteceu em seu subconsciente ao cair daquela ponte conseguindo se projetar para longe da correnteza, ainda que ferindo ao cair nas pedras. Poderia ser uma saída.

“Não posso depender dos meus cinco sentidos, mas acho que sei o fazer apesar dos riscos”. Era um conselho do mestre Arles de jamais usar o teleporte em situações como aquela, até se lembrar de um acontecimento muito recente.

Selene buscava de manter de pé, com uma dificuldade maior que antes. Seria um risco, mas haveria de apostar naquela chance. Colocou-se em posição de luta e ascendia gradativamente seu cosmo.

Lembrou-se do que fizera em Star Hill, quando seus sentidos estavam igualmente confusos, não pela explosão sonora, mas da ilusão que invadia sua mente com sussurros e tormentos. Ela fugiu utilizando de um estratagema, e talvez seria aquilo que precisava fazer.

— Ela enlouqueceu? — indagou Shura vendo Selene avançar novamente contra Cepheus. — Isso é suicídio!

— Não. — disse Mephisto com um sorriso de canto, cruzando os braços. — Ela só precisa ser ágil!

Albion meneou com a cabeça ao vê-la avançar novamente contra ele como na primeira vez. Ataca-lo de frente era inútil. Um suicídio, na realidade, e dessa vez ele não teria outra escolha senão golpeá-la de verdade. Esperou apenas que ela se aproximasse o suficiente para fazer algo. No devido momento, ergueria novamente a sua proteção.

A máscara de uma Amazona propiciava muitas vantagens, a começar de ocultar suas intenções das quais Selene lia no olhar de seus oponentes, mas não naquele momento contra Cepheus. Ela estava a usar além dos seus cinco sentidos para ‘ver’ seus movimentos, para fazer uma leitura de suas ações. Diferente de antes, ela não saltou, mas esticou seu braço como se fosse executar um ataque direto. Ao perceber isso, Cepheus reagiu.

Ele viu o punho dela se aproximar e fechou os olhos. Ergueu sua defesa novamente, mas não contava com o que aconteceria. Os feixes de luz resvalaram em algo invisível que a cercava.

Com um movimento da mão e um comando de seu cosmo, Albion fez com que sua defesa se contorcesse como serpentes e retornasse na direção da garota. Então ela desapareceu bem diante de seus olhos.

O público novamente se surpreendeu com o desaparecimento repentino de Selene, levando todos a procurar onde ela surgiria para o ataque. Ela havia criado uma distorção de equilíbrio que interferiu em sua defesa, usando aquele instante para se teleportar. Aquilo desnorteou Albion, quebrando sua concentração e fazendo com que a luz se desfizesse por um momento.

Olhou ao redor, buscando qualquer indicativo da presença de sua oponente, mas não encontrou nada. Diferente de antes, ela havia inibido seu cosmo de modo a ocultar sua ação e dele prever sua investida até que, subitamente, sua presença retornou, bem às suas costas, mal dando a ele tempo para virar-se.

O punho dela estava erguido, prestes a atingi-lo em cheio, quando ele fez a sua jogada. Foi uma questão de milionésimo de segundos para que ele erguesse a outra mão em sua direção, criando um outro feixe, que desliza a ponta em sua máscara, partindo a parte inferior, como se ela fosse feita de papel, revelando seus lábios.

Selene não podia enxergá-lo, mas estava a ler seu cosmo e perceber sua investida. Ele estava contra-atacando-a com sua corrente. Ela não podia ver antes por conta dos pilares de luz que confundia seus sentidos, mas agora ela podia ‘ver’ claramente suas correntes através do arranjo molecular, e percebendo pontas rodopiantes seguir em sua direção. Ela somente tivera tempo de esquivar, mas não impedindo de sentir um corte em sua pele ao quebrar parte de sua máscara.

Um sorriso se insinuou no rosto de Albion ao perceber que Selene estava conseguindo compensar a falta de equilíbrio pelos danos causados aos ouvidos e fazer frente a ele. Honraria seu esforço.

Albion concentrou seu cosmo e, novamente, ergueu o braço. Dezenas de feixes de luz surgiram circundando-o, rodopiando furiosamente, até sua aproximação. Então ele ergueu os braços em sua direção, ordenando que suas correntes de cosmo, a atacassem.

 “Obrigada, Albion!”, pensou Selene naquele momento.

As correntes envolveram o braço da jovem, levando-a a executar uma manobra, com uso de sua telecinese, de modo a ganhar o chão caindo de pé. Ainda estava física e mentalmente debilitada devido às duas explosões sonoras, mas buscava concentrar-se em sua técnica de localização nata, usando o cosmo dele como um campo ‘cósmico’ magnético, e estava recebendo os resultados esperados.

Selene novamente ascendia seu cosmo, e Albion sentiu um estranho comportamento vindo de sua corrente. Conhecia os poderes cinéticos de sua oponente, então, teoricamente não deveria haver algo que o surpreendesse. Foi então que ele sentiu suas correntes retesarem e reagirem com mais força, como se algo as estivesse atraindo, enquanto as mesmas tentavam se soltar.

— Mas o que?! —  Ele indagou surpreso com aquilo.

Selene concentrava sua psicocinese nas correntes, mantendo preso junto à ela, e não apenas isso. Cepheus podia sentir sendo atraído até ela, puxado contra sua vontade, como se as correntes tivessem a obedecer às ordens da jovem diante dele.

Porém, aquilo estava exigindo muito além dela, levando-a a arfar por conta da dor em sua cabeça, e o esforço que estava a executar naquele momento elevava mais e mais o zumbido em seu ouvido como se uma interferência aumentassem gradativamente de volume.

Ele agitou as correntes manualmente, tentando soltá-las. Sentia que elas tentavam atender às suas ordens, mas algo as impedia de retornarem. Num impulso, tentou saltar para trás, usando a impulsão para soltar-se e notou o corpo mais pesado do que deveria, dando-se conta do que estava acontecendo. Sorriu discretamente por isso.

“Boa, garota!”. Ele comemorou mentalmente.

— O que ela está pretendendo fazer? — indagou Aldebaran coçando a cabeça. — Se ele decidir usar aquela técnica de novo, assim tão perto...

— Talvez seja exatamente isso que ela quer que ele faça. — respondeu Mephisto, ao se virar para a sombra que se projetou sobre ele e Shura e vendo o gigante às suas costas. — Conhecem aquele ditado... o feitiço virou contra o feiticeiro?

Aldebaran e Shura olharam para Mephisto franzindo o cenho, voltando-se para arena do anfiteatro aguardando para o que poderia ser a decisão daquele combate.

Saga mantinha-se focado naquela luta, nem parecendo piscar. Estava achando loucura aquela ação de Selene, mas não podia duvidar de suas intenções naquele momento. Mesmo Aiolos estava curioso para saber o que ela pretendia, tanto quanto Arles. O Grande Mestre apenas a observava, mas com outros olhos.

Albion elevou seu cosmo um pouco mais, gerando outras duas correntes e fazendo-as avançar contra Selene, em altíssima velocidade. Esperaria o momento certo para fazê-las romper a barreira do som e gerar novamente aquela explosão sônica.

Todos aqueles presentes olhavam assustados para aquilo, já esperando para o que aconteceria naquele momento. Enquanto todos assistiam tomados pelo suspense, Jisty abria um sorriso esperando pela derrota daquela ultrajante garota ‘protegida do mestre’, apenas aguardando que ela fosse esmagada pelo cavaleiro de Prata.

Saga e Kanon trincaram os dentes ansiosos, e foi quando sentiram um pulsar em seus cosmos, como se algo despertasse dentro deles.

Selene ainda tinha o seu foco distorcido, mas ela podia ver não a luz, mas as correntes avançando em sua direção. Assim como o próprio Albion, ela aguardava o momento exato de agir, e foi quando ele assim o fez.

Os seus olhos violetas brilharam intensamente, criando um pulsar violento no momento que suas mãos, do braço com as correntes presas, criou uma explosão de luz criando um choque cósmico bem mais forte que os anteriores. Porém, criando um efeito inverso não esperado por Cepheus.

No sexto templo Zodiacal, Shaka percebeu um forte conflito no cosmo, uma força considerável se expandir naquele momento a ponto de quebrar sua concentração e colocar-se de pé sobre a grande flor de lótus onde se mantinha em sua meditação.

“O que foi  esse cosmo tão poderoso? Pareceu uma energia divina desperta...”, pensou ele, voltando-se para a saída de Virgem como se olhasse em direção ao anfiteatro, de onde sentiu emanar aquele forte poder.

Albion sentiu seu corpo ser puxado com mais força, como que atraído por um forte campo gravitacional. A explosão sônica aconteceu, mas seu efeito voltou-se contra ele, fazendo com que seus ouvidos fossem severamente afetados. Mais por impulso que por estratégia, desfez as correntes, contudo não conseguiu recuar ainda.

O ouvido zumbia e seu equilíbrio havia sido comprometido, embora não tanto quanto os dela estavam. Porém, diferente de Selene, Albion não se dispunha de telecinese para ajudar a se manter equilibrado.

E ainda tinha aquele cosmo, o qual ele nunca havia visto ou sentido se manifestar daquela forma. Era como se, durante todos aqueles anos de treinamento, Selene tivesse se contido ao máximo e, ainda assim, algo lhe dizia que aquele não era todo o seu potencial. Apenas pensar nessa probabilidade fez um arrepio correr por sua espinha.

Percebendo que seu plano havia saído como esperado, sentiu as correntes soltarem seu braço, pois assim ela também permitiu. Não mais hesitaria naquele momento e avançou contra ele concentrando a força em seus pés para um salto e depois em suas mãos.

Atordoado, sem equilíbrio pelo desnorteamento dos sentidos, nem mesmo poderia prever sua ação naquele momento. Albion perceberia tarde demais a investida da Amazona que o atacou diretamente, conseguindo realizar um salto e cair com um joelho no chão.

Todo o efeito seria muito rápido, onde apenas olhos bem atentos poderiam ler a velocidade daqueles movimentos naqueles segundos ininterruptos entre o ataque de Cepheus, o bloqueio e contra-ataque de Selene num único golpe seguido de uma investida. Quando ela se levantou, ela tinha trazia consigo a tiara de sua armadura, jogando aos pés do Cavaleiro de Prata antes de cair, mais uma vez, ajoelhada pela dor dos ataques anteriores.

Caído ao chão, Albion olhou para sua adversária, com um sorriso no rosto ferido. Ela havia superado o seu cosmo de uma forma que ele nunca imaginou ser possível.

Todos no anfiteatro mergulharam primeiro no silêncio buscando entender o que aconteceu, até perceberem o Cavaleiro de Prata caído. Viram ele se levantar, com alguma dificuldade, levando uma mão ao ouvido, enquanto a outra mão apanhava sua tiara. 

Com o máximo de cuidado com seus passos, aproximou-se dela e tomou-lhe o pulso. Respirou fundo antes de erguer o braço dela para o alto, deixando ainda mais claro o que tinha acontecido ali. Somente então o anfiteatro explodiu em ovação.

Jisty mantinha-se perplexa, paralisada, com os punhos tremendo pela raiva. Pareceu despertar para aquela realidade quando uma das meninas comentou de Selene vencer um Prata. “Ela agora é também uma Amazona de Prata?”, comentou outra, fazendo com que sua mestra virasse para sair dali. Não aguardaria pela sagração de sua rival.

A urna que guardava a armadura de Prata, desmontou-se e recriando uma nova imagem de uma bússola com não mais que 1,20m de altura e emanando um cosmo que sincronizou com de Selene, vestindo todo o seu corpo.

Era uma indumentária prateada, com detalhes lilases e sombreamentos, cobrindo todo o tronco e com saiote no quadril cobrindo atrás, com discreta abertura na frente. As ombreiras eram pequenas descendo pelo ombro, os braços protegidos e uma bota longa. Em sua cabeça, uma tiara simples.

Embora ainda confusa, ajoelhou-se diante do Grande Mestre, prestando seu juramento como uma Amazona de Prata.

— Selene, és agora a Amazona de Prata de Bússola... Selene de Pyxis. — ditou o Grande Mestre, oficializando sua sagração.

Foi somente então que pôde esboçar um sorriso. Havia vencido. Não havia falhado contra Saga e nem ao mestre Arles, muito menos havia decepcionado em todos que acreditavam nela até ali.

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A vela tremulava sobre a mesa com muitos papéis e pergaminhos escritos. As mãos do Grande Mestre estavam espalmadas sobre a mesa. Removeu seu elmo, colocando mais ao lado, algo da qual raras vezes fazia senão em seus banhos e descanso. Estava em sua sala pessoal de seu templo, às portas fechadas com Arles que caminhava de um lado a outro buscando digerir tudo aquilo.

Ambos foram capazes de perceber a força desencadeada por Selene. O próprio Shion tardou em perceber o fim da luta impressionado com o que tinha visto. Em seus mais de 200 anos frente ao Santuário, jamais foi capaz de sentir uma cosmo-energia como aquela partindo de um Cavaleiro ou Amazona. Era algo sentida somente por um deus.

— Tem certeza disso, Shion? — indagou Arles se aproximando da mesa. — Quero dizer, não duvido, mas... Quais as chances de isso acontecer?

— Quase inexistentes. Pensei que o último deles já tivesse... — Shion desviou o olhar para outro ponto. — Pessoas capazes de atingir esse nível são mais raras. As minhas suspeitas sobre ela ser uma pitonisa tornam-se ainda mais certas, principalmente depois de toda essa demonstração de poder.

— Sendo uma pitonisa, por que ninguém do templo de Apolo reclamou até hoje? — questionou Arles sem entender. — Quero dizer... Eu a encontrei aqui nas proximidades do Santuário. Não sei sobre sua origem nem mesmo ela soube explicar senão que cresceu num orfanato.

— Não sei... — falou com uma pontada de receio. — Não tenho respostas para essas perguntas, ao menos não agora. Talvez haja uma pessoa...

Arles o olhou, piscando aturdido buscando compreender o raciocínio de Shion.

— Arles, você tem visto algo de estranho nas estrelas? — Shion interrogou, tornando a olhar para seu ajudante.

Desde que Selene interveio no embate dos Gêmeos, quando ela mencionou sobre as estrelas, eu as tenho vigiado... — dizia ele. — Notei que elas estavam mais brilhantes que de costume. Por quê? Acha que isso pode dizer alguma coisa?

— As estrelas das constelações brilham de acordo com a força e o destino de seus Cavaleiros... Se Castor e Pollux estão bem vivas ao céu, é sinal de que alguma coisa está por vir. Continue atento a isso. —  Ordenou do Grande Mestre preocupado.

— Farei isso de Star Hill, onde a visibilidade é mais clara. — respondeu ele em concordância.

— Certo, mas não a leve com você. A partir de hoje, as lições dela em Star Hill estão suspensas, por tempo indeterminado! — Falou o mais velho com tom alarmista. — Não podemos correr o risco dela encontrar aquela arca ou ser influenciada por ela.

— Depois do que lhe aconteceu, não pensava mesmo mais enviá-la para lá. — disse Arles lembrando do que aconteceu à jovem quando ela o contou, narrando posteriormente a Shion. — Está suspensa desde então, e como uma Amazona de Prata, acredito que seja o último lugar onde ela pensaria ir.


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Notas finais do capítulo

Agradecimentos especiais a DRACONNASTI, a quem já me ajuda demais betando a fic e, especialmente nesse capítulo, ajudou a realizar essa batalha. obrigada. :)
No próximo capítulo... Interlúdio!



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