Saint Seiya Memórias: História Oculta Do Santuário escrita por Katrinnae Aesgarius


Capítulo 31
Livro 1 :: Destino - Ato 17


Notas iniciais do capítulo

Tem início as provas para sagração de novos Cavaleiros no Santuário. Selene é uma delas e muitas surpresas estão por vir.



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Duas semanas haviam se passado. Os testes anteriormente marcados tinham sido adiados em consequência da chuva que caiu sobre o Santuário, quase inundando Rodório. Um mutirão envolvendo de soldados a aprendizes aos próprios Cavaleiros foi movido para a recuperação da área afetada.

Inicialmente as provas aconteceriam em uma semana, mas em virtude dos atrasos nos trabalhos, uma semana a mais de adiamento, provocando maior ansiedade por parte dos escolhidos, inclusive pela própria Selene.

Ao longo daqueles dias, ela dividiu seu tempo entre ajudar os feridos no templo da Fonte de Athena, algumas vezes com a presença de Shaka e seus conselhos espirituais, a aos treinamentos com aspirantes como Marin, como também com Milo desde o ensaio no anfiteatro.

Evidentemente buscou conciliar isso com seus encontros com Saga, hora na câmara secreta de um templo abandonado, ajudando-a a relaxar sobre a sua prova. Podia disfarçar essa ansiedade com todos, menos com mestre Arles.

— Mu ainda não voltou? — indagou ela frente algumas urnas de armaduras empilhadas.

— Deve voltar nos próximos dias... — respondeu Arles enquanto orientava aos soldados sobre quais urnas a serem levadas para o anfiteatro. — Devido às últimas semanas, o Grande Mestre adiou sua viagem, mas precisava enviá-lo para Jamir. — e se voltou para a aprendiz e notando-a inquieta. — Gostaria dele aqui, não é mesmo?

Selene sorriu por baixo da máscara, mas Arles apenas pôde ouvir seu suspiro. Era verdade que o queria ali naquele dia tão esperado para os dois. Imaginava o quão chateado ele deveria estar por sua ausência naquele momento. Ela confirmou com um aceno e voltando-se para seu mestre.

— Ele estava tão ou mais ansioso que eu por hoje. Conversamos tanto antes dele partir e ele esperava chegar a tempo... — e lamentou pela ausência de seu ‘irmão’.

— Sinto uma insegurança? — questionou Arles se aproximando, sempre com sua expressão serena. — Não imaginei vê-la assim quando ansiava por esse dia.

— Todos aqui aguardam por anos por esse dia, mas... — ela hesitou em continuar por alguns instantes, pensativa. — Quando esse dia chega, nem parece que demorou assim, tantos anos. Tudo parece acontecer num piscar de olhos!

— O tempo passa rápido, é verdade. Eu me pergunto se o mesmo tempo foi para o Grande Mestre Shion, frente ao Santuário há mais duzentos anos... — e Arles olhava as armaduras que estavam ali, empilhadas. Algumas com seus espaços vazios. — Sagrando gerações e gerações de Cavaleiros, preparando aqueles para zelar pela Terra ao lado de Athena.

— Seria este o tempo de Athena, não é mesmo, mestre Arles? — perguntou Selene mantendo as mãos para trás. — Em alguns anos um ciclo será fechado... — comentava, chamando a atenção de Arles. — E ele despertará mais uma vez para uma nova Guerra Santa, não é mesmo?

— E por isso devemos estar preparados, Selene. Não somente por ele, mas tantos outros que não desistiram. Esse é o nosso dever diante de Athena em que o Patriarca de seu Santuário mantém, guiando como Grande Mestre dos seus 88 Cavaleiros. — e sorriu, tocando em seu ombro. — Não é para isso que chegou até aqui?

Ela assentiu, vendo um sorriso iluminar a face de seu mestre antes de dar-lhe às costas por conta dos soldados que indagavam quais outras urnas levar. Selene mordia os lábios, pois o que verdadeiramente temia era decepcioná-lo.

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— Não tem por que se preocupar com isso, Selene. — disse Saga limpando seu rosto desmascarado, levando a mão à face da aspirante que tinha o olhar levemente triste. — Deve se concentrar em sua prova por hora.

— Eu sei, mas é que... — respondia Selene fechando momentaneamente os olhos, reabrindo para fitar um Saga tão paciente e atencioso. — Eu apenas me pergunto onde ele poderia estar, se está bem, entende? Eu me sinto tão mal ainda com isso.

Selene voltou-se para uma pequena cascata próxima a uma nascente. Era um dos poucos lugares bucólicos no Santuário. Alguns chamavam aquele lugar de 'Ninho das Ninfas' por conta da beleza antiga preservada com a fonte de águas cristalinas, o tapete verdejante daquele pequeno vale com muitos arbustos e árvores que reservavam as mais belas flores.

Ao centro havia as ruínas de um antigo coreto de pedras, onde muitos Aedos deveriam ter contado as epopéias dos antigos Heróis, dos mitológicos Cavaleiros. Porém, nem mesmo aquela beleza era capaz de animá-la, muito menos perceber a expressão de Saga que ficou a fitá-la surpreso por aquilo.

Mesmo após pouco mais de um mês do irmão escondido em Gêmeos, não contara sobre a pedido do próprio, e entendia o porquê. Kanon era orgulhoso demais e ainda não aceitava o fato de ter a vida salvo por Selene, o que o faria admitir que perdeu aquela batalha mesmo sem a interferência dela. E contando à amada, certamente ela o procuraria e resultaria numa discussão. Naquele momento, era a última coisa que Saga queria. Não queria deixá-la perturbada antes de sua prova após tantos anos.

— Saga? — ela o chamava, segurando sua mão, beijando-o. — Está tudo bem? Ficou calado de repente. — indagou ela preocupada. — Desculpe se estou sendo chata com isso.

— Não é nada... — ele buscava pensar rápido, sorrindo ao vê-la beijar sua mão. — E não, não está sendo chata. Apenas imaginando quem seria sua oponente na prova, da pobre alma que vai disputar com você. — mentiu, olhando-a nos olhos.

Selene ouviu aquilo e piscou aturdida, rindo em seguida com aquilo. Quando Saga perguntou do porquê do riso, ela tentou parar, contando sobre ele lembrar o Mu.

— Você e o Mu estão depositando minha confiança em mim... — dizia puxando-o para um beijo, descendo com a sua mão até seu peito. Ele não estava com sua indumentária dourada naquela manhã, somente com suas roupas de treino como ela. — A minha oponente pode ser alguém tão bom ou melhor que eu.

— Não mesmo! Você treinou comigo e com Kanon, e se foi capaz de suportar nossos ataques com tamanha precisão. Não acredito que exista alguém tão bom quanto você, muito menos melhor. — disse Saga com um sorriso confiante. — Já se considere uma Amazona!

— Nossa! Que modéstia a sua... — disse ela rindo, vendo o rosto dele bem próximo ao dela, sentindo seu perfume amadeirado e sua respiração. — Espero que não decepcione qualquer um de vocês.

— Não vai. — dizia ele tocando seus lábios com a ponta dos dedos. — Eu já me orgulho de quem você, Selene. A minha Selene.

— Obrigada! — sussurrou, olhando em seus olhos, um tanto corada.

— Pelo quê? — sussurrou ele de volta, sem tirar os olhos dela.

— Por confiar em mim. — respondeu Selene, tentando sorrir, mas estava nervosa.

Saga acariciou seu rosto, deixando que esta pousasse em sua mão, sorrindo e a abraçando-a após um beijo suave nos lábios, um selo. Afagava seus cabelos, mas a sua expressão era séria.

Verdadeiramente se sentia mal em ter de omitir sobre Kanon, algo da qual ele conversaria com o irmão de apenas aguardar a prova de Selene e falar toda a verdade sobre a relação deles e contar sobre seu retorno.

Isso era algo da qual Saga já havia decidido.

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Nas primeiras horas daquela tarde, o anfiteatro encontrava-se cheio. Havia soldados circulando no nível da arena principal e no ponto mais alto fazendo a ronda do espaço. Outros guardavam as urnas expostas para as provas daquela tarde — Prata e Bronze — pelos Guardiões dos Templo do Patriarca.

Esses tinham vestimentas mais nobre, com vestes brancas com bordados em amarelo na gola alta e sem mangas. A blusa descia em corte reto e criando um V na altura do quadril e fazendo um fechamento na frente, presa com um cinto de couro. As ombreiras e peitoral eram de bronze, assim como a braçadeira e o elmo estilo trácio, com viseira que criava uma sombra no rosto e uma haste com plumas curtas no alto — ausente nos soldados que rondavam o Santuário, estes usando vestimentas mais escuras e proteção em couro com detalhes metálicos.

O próprio Grande Mestre dos Cavaleiros de Athena estava presente no anfiteatro. Em sua chegada, todos se levantaram em respeito. Fossem aprendizes ou mesmos os Cavaleiros e Amazonas já sagrados, todos prestaram a devida reverência. Ao seu lado estava o mestre Arles acompanhado também dos dois Cavaleiros de Ouro, Gêmeos e Sagitário. O burburinho se calou, permitindo apenas que o Grande Mestre iniciasse o pronunciamento.

— Em exercício a mim concebido por Athena, temos início as provas para a sagração dos Cavaleiros. Cada um de vocês deverão provar seus valores, prezando a moral e a honra, assim como nossa Deusa nos ensina. Athena, deusa da sabedoria e da guerra estratégica, guiará aqueles os quais julgar serem mais aptos a se tornarem seus guerreiros e que passarão a viver em função de seu amor pela humanidade.

Todos ouviam o discurso silenciosos, embora alguns sussurrassem entre si sem que isso interferisse em seu pronunciamento. Aelia mesmo estava ao lado de Selene, a todo momento, estalando os dedos da mão em sinal de sua ansiedade e notada pela amiga ao lado.

— Diga que está nervosa... não. Apavorada como eu estou. — comentou ela num sussurro, inclinando o corpo para a amiga.

— Sim, estou. Ansiamos por esse dia, não é mesmo? E não somos as únicas. — comentou Selene olhando outros aprendizes à sua volta.

Muitos se mostravam inquietos, apresentando tiques como bater com os pés no chão ou ficar dedilhando no assento ou na perna, mexendo nos cabelos soltos ou trançados. Selene mesmo estava a contar mentalmente em P.A. — 1, 2, 4, 8, 16, 32, 64, 128, 256, 512, 1024, 2048...

Saga a observava de longe e sabia bem o que ela fazia quando percebeu ela mover os dedos como se estivesse a contar. Era algo que sempre fazia quando ansiosa com algo, exatamente como a encontrou naquela manhã. Ela estava na casa dos milhões em sua contagem até perceber sua presença. Ficaram a conversar naquela manhã, além da troca de carícias até ela precisar voltar e se preparar para sua prova naquela tarde. Saga, por outro lado, voltara para Gêmeos onde encontrou Kanon, avisando-o sobre ‘o dia da Selene’...

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— Eu vi os preparativos daqui. Sabe quem será a oponente dela? — indagou Kanon cruzando os braços, mas vendo o irmão negar.

— O Grande Mestre apenas repassou o dia com a lista dos aspirantes, mas não criou nenhuma tabela. — Saga sorriu de canto. — Uma jogada estratégica.

— Sim. Isso cria o elemento surpresa e não criar uma preparação prévia. Digno de um Grande Mestre. — disse Kanon caminhando para fora de Gêmeos após verificar a ausência dos servos da Casa Zodiacal. — Ela vai se sair bem. Precisa apenas ficar esperta. Seria interessante revelar a todos ali.

— Está pensando o mesmo que eu? — Saga se colocou ao lado do irmão, vendo-o sorrir de modo sacana. — Não acho que ela faria isso.

— O que é uma pena! Mas, veremos como ela se sai. Ela não poderá esconder isso por muito tempo. — e riu contidamente.

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Saga compreendeu bem o que Kanon queria dizer, mas duvidava que Selene fosse usá-la naquela prova. Ela permitiu manifestar em dois momentos, sendo o primeiro quando a encontraram e a segunda em seu confronto com Kanon naquele mesmo anfiteatro movida pelo seu emocional, o que gerou suspeitas dos dois irmãos. Quando anunciou da prova de Selene, comentaram sobre aquele dia, de suas suspeitas. Ambos estavam ansiosos mais para tirar a prova daquilo.

A primeira chamada foi feita, com duas aprendizes que se posicionaram na arena e aguardando apenas o sinal para o início de seus confrontos meio a ovações e entusiasmo dos presentes.

Saltos e corridas sobressaiam, apresentando a tecnicidade das jovens até começarem a utilizar suas técnicas pessoais. Era o que mais animava o público.

O segundo embate seguiu aos moldes do primeiro, mas desta vez entre dois rapazes, um deles de pele negra que se destacava por sua agilidade e uma luta mais limpa, mas hostilizado unicamente por ser um estrangeiro já que seu oponente era um genuinamente grego e recebendo o apoio da maioria.

— Parece que as origens aqui ganham mais peso que o que foi dito há pouco pelo Grande Mestre. — disse alguém às costas de Selene.

Era um homem caucasiano, de cabelos longos e cheios alourados e olhos serenos azulados, mas ainda assim profundos. Tinha um leve sotaque hispânico, mas não como de Shura. Selene o conhecia de seus treinos conjuntos e se surpreendeu com sua presença ali.

— Albion? Quanto tempo não o vejo. — disse ela se voltando para o homem que abriu um sorriso, descendo um degrau e sentando-se ao seu lado. — Quando voltou?

— Ontem, mas fiquei a fazer os relatórios para o Grande Mestre e depois ele me liberou para descanso em virtude da viagem. Volto depois de meses e vejo que não mudou muito. — comentou ele com um rápido olhar à sua volta.

— Não, não mudou muito. Para ser sincera, tem ficado pior apesar dos avisos sobre punições. — lamentou Selene evitando olhar para os lados. — As hostilidades têm sido frequentes e se restringindo aos treinos onde buscam desestimular os outros ao máximo.

— Uma pena. Acreditava voltar e ter uma conscientização maior. — comentou ele com um semblante mais sério. — Não podemos ser divididos pela ignorância com ameaças tão eminentes. Isso pode dar a vitória ao inimigo.

— Isso tem sido comum para onde foi enviado? — indagou ela se voltando para ele. — Soube que o Grande Mestre o promoveu, e confesso que achei digno e merecedor.

— Obrigado, Selene. — disse um tanto desconcertado. — A Ilha de Andrômeda possui uma forte ligação com o Santuário desde a Era Mitológica. Confesso que estremeci ao ser incumbido de ser o guardião da ilha quando fui sagrado o Cavaleiro de Cepheu. Existem os conflitos, claro, mas não essa hostilidade como vejo aqui.

Albion soltou um pesado suspiro enquanto olhava em direção da arena, ouvindo as ofensas veladas ainda que o estrangeiro se destacasse e mostrasse digno de vestir uma indumentária sagrada.

Selene lembrava de Albion não sofrer a mesma perseguição porque sua aparência muito assemelhava ao estereótipo grego, ainda que fosse originalmente argentino e seu sotaque latino denotasse isso.

Tudo era visto com mera conveniência.

Os dois buscaram manter neutralidade e até ajudar o entrosamento dos estrangeiros, com Albion cuidando dos rapazes e Selene das jovens no Campo das Amazonas. Claro, cada um recebendo apoio de outros cavaleiros já sagrados e contrários àquela hostilização. Após sua sagração como Cavaleiro de Prata e enviado à Andromeda, Selene pouco sabia o que acontecia fora de sua área. Vê-lo ali, mantendo a mesma carisma e mentalidade de quando um companheiro de treino, apenas despertava mais sua admiração.

Saga apenas assistia os dois à distância, do quanto Albion se inclinava para falar com Selene em virtude da balbúrdia instaurado no anfiteatro por conta da luta. Por um instante seus olhos se mantiveram focado nos dois, até ouvir Aiolos falar-lhe, e fingiu não ouvir por conta da ovação que explodiu naquele momento.

— Eu disse que depois queria te mostrar algo... daquela pesquisa das armaduras. — comentou Aiolos se voltando para o Saga. — Que cara é essa?

— Não é nada. — mentiu ele desviando de volta para arena. — O teste para os novos Dourados acontecerá esse mês ainda ou serão adiados para a Panatenaia?

— Eu não sei ainda. — respondeu Aiolos. — Quando voltar de uma missão, mas que dependerá dos Cavaleiros de hoje.

Saga o olhou de soslaio sobre aquilo. Não havia sido informado de missão, e quando perguntaria, uma derrota era declarada. A luta do jovem chegara ao fim e com ele conquistando a armadura de Bronze de Lebre. O próximo embate cabia a Aelia, estremecendo ao ser chamada. Voltou-se para Selene que assentiu e inspirando confiança, assim como também de Albion que a conhecia há mais tempo que a própria aspirante à Amazona ao seu lado.

Ao posicionar-se na arena do anfiteatro, aguardou por sua oponente, sendo ninguém menos que uma das meninas de Jisty que saltou diante de Aelia, fazendo muitos vibrarem.

Ela tinha os cabelos castanhos escuros com corte em V descendo até o pescoço e assim como sua franja na frente, sendo com duas mechas maiores mais claras caíam nas laterais. A sua máscara tinha uma divisória escura acima do nariz em verde escuro, e ao contrário da maioria, não havia desenho para os lábios. A de Aelia era simplesmente lisa por sua escolha. Ambas tinham alturas similares, com suas vestimentas sendo completo contraste de uma para a outra. Ela atendia o nome por Kyra.

Nem bem o sinal foi dado e Kyra avançou contra Aelia, sendo rápida e precisa no bloqueio com seu braço cruzado. Não satisfeita, tentou golpeá-la com a outra mão, e Aelia foi igualmente ágil em seu movimento, mas indo além. Segurou seu braço no alto e a puxou por cima da cabeça de modo a arremessá-la longe, e conseguiu. Contudo, ela foi capaz de girar e cair em pé, de frente a Aelia.

Com as duas mãos no chão, a jovem apenas percebeu uma invisível linha em sua direção, sendo preciso ser rápida em saltar antes que uma estalagmite surgisse abaixo de seus pés. Aquilo fez o anfiteatro se levantar admirado.

Aelia caiu alguns metros distantes, vendo a linha avançar novamente em sua direção, e desta vez, a alguns metros, ele se tornou duas, e novas colunas de terra surgiram do chão cruzando no ar, sobre a garota que somente pôde se jogar no chão apoiando-se com as mãos antes que as duas se cruzassem a alguns centímetros de sua cabeça.

A jovem ouviu a risada de sua oponente, e pouco tempo teve antes de se esquivar de outro que surgiu abaixo dela, jogando-a no alto e a fazendo cair no chão, jorrando sangue pela boca.

Selene se levantou, junto de Albion para ver o estado da amiga que tinha a mão na altura da barriga, onde levou o golpe. Levantava-se com certa dificuldade, meio a ovações de todos que gritavam pelo nome de Kyra, orgulhosa de seu feito. Quando viu Aelia se levantar, apenas fez um 'não' com o dedo e sinalizando para que ela ficasse deitada, arrancando risos. Contudo, a jovem de madeixas louras se levantou, com alguma dificuldade.

Aguardou o momento certo e viu quando ela novamente preparou o ataque. Aelia concentrou seu cosmo no momento que viu a linha de cosmo de Kyra. Assim como antes, a linha se dividiu não em duas, mas em diversos pontos como se fossem as raízes de uma árvore. Aelia correu, ganhando uma velocidade incrível. As estalagmites surgiam buscando atingi-la. Outros paredões eram criados para bloquear sua corrida, mas a garota conseguia esquivar-se de cada uma delas, até que ela desapareceu e deixando apenas um rastro de sua corrida.

— Ela é bem ligeirra. — disse Camus com seu sotaque francês assistindo aquilo. — Ela pode alcançar... a velocidade da luz?

— Ela é realmente espetacular! — admirou-se Milo, conseguindo vê-la correr.

Kyra a perdeu de vista num momento, e quando menos percebeu, encontrou Aelia à sua frente, deferindo diversos golpes da qual ela precisou bloquear, mas somente a mão. Aelia aproveitou a distração e a golpeou com a perna num chute que a jogou no alto. Ela tentou girar seu corpo, mas foi surpreendida com o salto de Aelia que a alcançou no ar e caindo sobre ela, derrotando-a ao enterrá-la no chão.

Todos se admiraram ao ver que a armadura de Vulpecula vestiu seu corpo na queda, fechando aquela luta com sua sagração pela própria armadura.

Duas outras lutas ocorreram depois, ambas para Cavaleiros de Bronze. Cada um deles aguardava próximo ao Grande Mestre esperando pelo último confronto daquele dia de provas que tomara toda uma tarde debaixo de forte sol.

O último embate o Saga bem sabia que seria de Selene, mas não tinha ideia sobre com quem ela disputaria a indumentária. Seus olhos correram o anfiteatro e centrou em Jisty, esperando que algumas de suas meninas ou a própria fosse selecionada. Contudo, o Grande Mestre devia ter ciência o bastante dos núcleos conflitantes para uma escolha dessas.

A dúvida deixava o Geminiano inquieto, tanto quanto Selene que buscava manter a calma, embora somente quem a conhecia de verdade era capaz de perceber sua ansiedade coberta por aquela máscara. Percebia a apreensão através de suas mãos, compartilhado pelo próprio Dourado de Gêmeos com um aperto no peito. Aquilo o fez baixar os olhos de modo a desviar sua atenção sobre ela, de não permitir que qualquer um notasse sua preocupação sobre a aspirante que era também sua amante.

Ao levantar a cabeça, demorou-se sobre um dos guardas que chegava ao anfiteatro, descendo o corredor das escadarias da arquibancada e escorar-se numa das pilastras e cruzando os braços. Apesar do rosto sombreado e a ausência dos cabelos longos, reconheceria seu porte físico e aquele sorriso cínico, sem contar de um tique nervoso em que ficava a coçar o dedo anelar com o polegar em seus momentos de ansiedade e angústia. Saga apenas desenhou um discreto sorriso ao ver seu gêmeo mais novo ali.

Kanon assistia o embate da Casa de Gêmeos, mas estava igualmente inquieto. Saga havia prometido chegar com resultado independente de ter ou não mostrado interesse quanto a isso. O seu descaso com Selene era uma fachada, e seu gêmeo mais velho sabia disso.

Desceu as Casas Zodiacais, mesmo ciente que corria riscos de ser preso — afinal, Saga era bem conhecido e já se encontrava no anfiteatro. Contudo, queria assistir àquela luta a todo custo, e havia uma maneira de se passar bem discreto por todos. Era preciso apenas tomar as vestes de um soldado qualquer, e não foi difícil conseguir.

Após o anfiteatro preparado, o silêncio se instaurou com um sinal do Grande Mestre elevando as mãos, silenciando a todos ansiosos pela última chamada. O seu braço desceu apontando na direção de uma aspirante de longos cabelos púrpuros, fazendo todos se voltarem para sua direção. Selene apenas engoliu a seco, mas se levantou sem hesitação e caminhando para até o centro da arena.

Ouviu burburinhos à sua volta, algumas provocações, todas ignoradas por ela. Jisty era uma delas, rindo por baixo de sua máscara de maneira maldosa e acompanhada por suas meninas. Estas se mostravam ansiosas em serem chamadas para aquele embate, assim como a própria Amazona, chegando estalar os dedos. Seria um excelente fechamento para aquele dia de combates.

Marin estavam também presentes, junto de outras aprendizes que estavam ansiosas por aquele momento de sua mestra. Nas últimas semanas Selene estava a ajudar a hostilizada oriental com suas técnicas, permitindo ganhar confiança e maior habilidade de combate. Estar ali era o mínimo que ela podia fazer por aquela quem aprendeu ter grande admiração, e odiando as piadinhas que se ouvia das garotas de Jisty. Até mesmo Aelia, estava ansiosa pela amiga, cruzando os dedos para desejar-lhe sorte quando ela, um dia antes, chorara nervosa nos treinamentos e Selene a confortá-la.

— Parrece que sua nôva amiga de treino vai fecharr o combate hoje. — comentou Camus de braços cruzados e olhando para Selene. — Acha que ela tem chance?

— Tá com ciúmes? — provocou Milo para Camus debruçado na mureta próximo ao anfiteatro. Ao perceber o olhar de soslaio do amigo, apenas riu. — Chances ela tem, e muita! Ela não é tão frágil quanto parece. Só peca numa coisa.

Camus franziu o cenho para aquilo, se voltando para o anfiteatro. Selene se posicionava frente ao Grande Mestre, ajoelhando-se diante de sua presença e baixando a cabeça no aguardo da chamada de seu oponente, e esse aguardo pareceu uma eternidade. A chamada somente aconteceu quando todo o anfiteatro, mais uma vez, mergulhou no silêncio, e desta vez a chamada foi sonora.

A expressão de Selene foi de surpresa, fazendo-a levantar a cabeça, mas não suficiente para encarar aqueles à sua frente. O anúncio provocou certo alvoroço dos presentes por ser um tanto inesperado. Kanon mesmo, até então de braços cruzados, se pegou surpreendido por aquilo.

— Isso si foi, no mínimo, inaspettato... — comentou Mephisto enquanto coçava o queixo. — Fechamento digno, não acha?

— Realmente. Será una prueba del fuego! — completou Shura ao seu lado de braços cruzados.

Camus agora estava apoiando no parapeito ao lado de Milo, muito animado com o que estava para acontecer.

Marin e Aelia, cada uma em suas posições, mostraram-se preocupadas, mas sem perder a fé em sua mestra e amiga.

Saga se mostrou perplexo pela estratégia do mestre, mantendo-se paralisado ainda tentando acreditar naquilo. Como não poderia ter previsto isso?

Selene se levantou devagar, buscando se manter firme apesar de estar surpresa por aquilo. Voltou-se vagarosamente para seu oponente, e assentiu. Seria a sua real prova para se tornar uma Amazona de Athena e não recuaria.


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Notas finais do capítulo

No próximo capítulo:
Quem lutará com Selene pela conquista de sua armadura? Uma luta feroz que acabará por revelar algo preocupante.



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