Saint Seiya Memórias: História Oculta Do Santuário escrita por Katrinnae Aesgarius


Capítulo 28
Livro 1 :: Destino - Ato 15


Notas iniciais do capítulo

Muito está para acontecer nos próximos capítulos. Selene recebe a notícia que, finalmente, fará sua prova para se tornar uma amazona, quando uma forte chuva cai sobre o Santuário. Capítulo leve para as tensões futuras.



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Chovia naquela tarde, e após uma manhã fazendo o trabalho burocrático que o levou do Templo Bibliotecário ao Templo do Patriarca, Saga recebeu novos documentos para serem analisados e expedidos, alguns a serem entregues ao Aiolos. Por sorte conseguiu chegar a Gêmeos na estiagem, e aguardava uma nova para seguir de volta com os documentos. Folheou algumas páginas por distração, havendo um que mais chamou sua atenção. Finalmente havia chegado o dia.

Caminhava distraído pela Casa Zodiacal, com a toga aberta até altura do peito, quase a removendo de verdade. Exceto quando chamado em urgência, e uma vez que ele e Aiolos exerciam outras atividades no Santuário, exigia-se certa formalidade enquanto no Templo Patriarcal: ou vestido com suas armaduras ou com as togas.

Uma vez que seu trabalho naquele dia já tinha chegado ao fim, deixou-a no corrimão da escada e seguiu para a entrada de Gêmeos, com um único envelope em mãos que lia com total atenção, abrindo um discreto sorriso.

Saga observava as gotas caírem calmas sobre as Doze Casas e correndo por suas colunas milenares. Mordia os lábios pensativo, sua mente perdida em algum lugar que não aquele Templo Zodiacal ou suas tarefas como Guardião. Em sua mão, um papel, o motivo de estar tão distraído. Aquela era a lista dos candidatos que disputariam as Armaduras de Prata e de Bronze, e o nome de Selene estava lá. Seria uma ótima desculpa para vê-la, e com uma boa notícia, que o fez sorrir de maneira contida.

— Sabe, eu tenho percebido o quanto anda distraído ultimamente. — dizia Kanon de braços cruzados às suas costas, recostado numa pilastra e olhando o irmão com certo desdém. — A vida de Cavaleiro de Ouro é assim tão chata? Parece que sai de uma grande furada.

— E eu percebi que você tem dado muito na cara nesses últimos dias, deixando as servas daqui bem confusas... — disse Saga se voltando para o irmão, voltando-se para dentro do templo. — Precisamos resolver essa situação, Kanon. Eu posso falar com o Grande Mestre...

— Sem chances! — cortou Kanon de imediato. — Não serei jogado numa cela ou escorraçado como um cão sarnento após anos treinando porque Selene achou que...

Não continuou silenciando-se. Virou o rosto, nem percebendo que Saga, ainda que de costas, engolia a seco ao ouvir aquilo. Olhou para o irmão por cima dos ombros, vendo-o caminhar e chutar algo qualquer.

Já haviam conversado sobre aquilo, de que Selene havia assumido a responsabilidade e afastada por um mês do Santuário e que o mesmo poderia acontecer com ele, ou somente ser preso por simplesmente desaparecer. No entanto, Kanon mais parecia querer se manter invisível, esquecido nas sombras.

— Chegou o dia da prova dela. — disse Saga mostrando apenas o envelope em mãos, desconversando daquilo. Olhava para o irmão e respirando fundo. — Não sei... Não sei com quem e por qual armadura.

— Ela nem mesmo precisava de uma prova. — Kanon engoliu a seco, voltando-se para o irmão com um sorriso cínico no rosto. — Eu tenho pena com quem vai duelar com ela após ter treinado conosco, não acha?

Saga nada disse, apenas assentiu. Havia de concordar com Kanon, ao menos quanto aquilo.

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O salto foi alto. Elevou os braços como uma ave e sua queda era como de um predador para apanhar sua presa: uma perna dobrada e outra esticada pronta para golpear seu alvo. Porém, assim como nas outras vezes, foi impedida por uma barreira que surgiu impedindo o contato, refletindo seu golpe e jogando-a longe. Marin, a jovem de cabelos ruivos e ondulados caindo até os ombros, novamente era atirada ao chão lamacento da chuva que caia sem trégua. Socou o chão injuriada com ela mesma e se voltando para sua oponente, de pé, os braços cruzados.

— Não está ruim, mas sei que pode fazer melhor. — disse Selene, jogando o cabelo ensopado para trás. — Você conseguiu por um instante, Marin. O que a está impedindo de fazer novamente?

A jovem não respondeu. Mantinha a cabeça baixa, o cabelo enlameado caindo sobre o rosto mascarado como se tivesse vergonha de sua falha. Estavam a treinar desde antes da chuva, longe do Campo das Amazonas e do anfiteatro, totalmente isoladas, de modo que ninguém as importunasse e pudessem ter um espaço exclusivo.

Estavam próximas ao Campo Zero, onde dividia o campo das mulheres e do Santuário, bem para o interior do bosque. Mesmo quando a chuva começou. Selene a ajudava com o treino, mas não estava obtendo o mesmo sucesso dos outros dias e aquilo a frustrava.

Percebeu a aproximação de sua mestra, ela se agachando à sua frente e puxando seu rosto suavemente para fitá-la. A maneira como pendeu a cabeça para o lado, Marin teve a leve impressão de vê-la sorrindo por trás de sua máscara. Engoliu a seco, deixando as lágrimas ganharem silenciosamente sua face que sentia corar de vergonha.

— Não está pensando em desistir, não é mesmo? — indagou Selene meio às pesadas gotas de chuva. — Não acha que deveria esvaziar sua mente e concentrar-se aqui? Uma mente cheia tende desviar nosso foco que é seu alvo... neste caso, eu! Busque se concentrar naquilo que quer, como na última vez.

— Por que acredita tanto em mim? — indagou Marin com uma voz chorosa por baixa da máscara, encarando Selene que pareceu surpresa com aquela pergunta. — Todas riem de mim, me acham uma fraca... mas você não. Por quê?

Selene ficou a observá-la por alguns instantes, se levantando e caminhando dois passos para trás. Parecia pensar, hesitando, levando a mão a máscara e a removendo, prendendo em sua cintura. Tinha um semblante sereno, mas os olhos brilhantes acompanhados de um sorriso gentil. Chamou Marin para se levantar, admirada ainda por sua mestra remover a máscara.

— Marin... Sempre haverá pessoas que buscarão implantar a dúvida em nossos corações, inibir nossas capacidades, temer aquilo que podemos fazer. Sabe por que fazem isso? — Selene viu a menina menear negativamente. — Medo! — a menina pareceu se mostrar surpresa, e realmente estava. — Elas buscarão transpor o medo delas para você, intimidá-la ao máximo desmerecendo quem você é para que tenham alguma vantagem. Se ceder, estará se entregando ao inimigo. Em outras palavras, não deve recuar aos obstáculos, mas passar sobre eles por mais difícil que possa parecer. Entende o que digo?

Selene viu Marin concordar, e não somente isso. Aquelas palavras pareceram deixá-la mais determinada que há poucos instantes quando se mostrava hesitante a cada investida fracassada.

Recuava mais alguns passos para deixar que ela ganhasse mais espaço e o tempo que fosse preciso para se concentrar em seu objetivo. Claro que o inimigo não permitiria essa chance, mas não era o caso naquele momento.

Marin se mostrara uma Amazona nata, embora hesitasse demais algumas vezes. Embora seu cosmo tivesse desenvolvido bastante naqueles últimos meses, ainda parecia intimidada a desenvolver algo da qual Selene estava a trabalhar maciçamente com ela às escondidas.

Era uma técnica criada pela garota da qual a destacaria dentre outras aprendizes, mas que ela ainda não tinha pleno domínio. Até maturar isso, mantinha o treino em sigilo, e ao longo daquela semana havia progredido bastante

— Está preparada, Marin? — indagou Selene se colocando em posição de luta. — Lembre-se do que eu disse: concentre-se em seu alvo e naquilo que quer. Sei que é exigir demais, mas já conseguiu fazer isso antes. Se conseguir passar por mim, não será difícil com os outros. Sou o seu pior obstáculo agora... — Marin respirava pesado, mas ambas mantendo o olhar concentrada uma à outra. — Transforme isso do ‘acaso’ uma habilidade inteiramente sua.

Marin assentiu, preparando-se mais uma vez para seu ataque.

Há algumas semanas, durante um treinamento a ruiva conseguiu enganar os sentidos de Selene com um 'golpe falso', numa investida ilusória que acabava por distrair o adversário com um ataque ofensivo. Seriam segundos de vantagens, mas uma técnica bastante proveitosa.

O problema é que a garota havia cometido essa proeza de maneira acidental, e Selene percebeu que poderia aprimorar isso. Não se tratava de uma espécie de telecinese, mas era capaz de enganar a mente instigando o adversário a ver ações enquanto intencionava outra.

Não era uma prova fácil para a garota. Estavam a treinar aquilo desde então e começava a render alguns frutos, pois algumas vezes Selene sentia certa confusão mental e era 'enganada' pela garota, mas era algo muito momentâneo e ela estava a usar isso mais como defesa que como ataque, e percebia que a jovem oriental tinha capacidade de usar essa técnica em seu favor em ambos os casos. Se conseguisse dominar isso, Marin estaria além de uma Bronze.

Por mais uma vez tentaram, começando com golpes rápidos dos quais Selene conseguia desviar com maestria prevendo suas ações, mas logo começa a sofrer novamente aquelas vertigens, tornando-se mais intensa a cada minuto.

Enquanto apenas bloqueava os golpes, sentiu outras investidas, estas bem mais violentas da qual precisou esquivar-se e mudar sua postura quando a viu saltar sobre ela mais uma vez.

“Quando ela saltou?”, perguntou-se Selene levantando um escudo, mas surpreendeu-se quando Marin desapareceu e surgiu por baixo, golpeando-a forte o bastante para jogá-la para trás, batendo de costas à arvore.

— E-Eu... Eu consegui...!? — disse Marin hesitante, mas com uma voz mais animada. Era a primeira vez que tinha realmente sobrepujado Selene. — Eu consegui!

— Sim... Você conseguiu, Marin. Parabéns! — elogiou Selene se colocando de pé. —  Acha que consegue uma segunda? — desafiou Selene.

A garota aceitou uma revanche, e novamente conseguiu enganar a mente de Selene que apenas teve tempo de bloquear o ataque, e numa terceira se teleportou no último instante, fazendo com que Marin conseguisse pegar sua máscara. Ela não somente havia pegado jeito da técnica como conseguiu dobrar sua velocidade naquela última hora de treino.

Havia sido mais que rentável naquela tarde, mas era hora de voltar. Não que dariam sua falta com aquela tarde chuvosa, mas poderiam tirar o resto da tarde para descansar.

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As duas seguiram juntas até certo ponto comum, separando-se no triângulo onde um levava ao Campo das Amazonas, outro descia para Rodório e o terceiro de volta ao próprio Santuário, onde Selene seguiu com a máscara reposta.

A chuva parecia ganhar cada vez mais força, mas ela precisava seguir de volta para Áries onde tinha prometido ajudar Mu, além de encontrar roupas limpas já que algumas mudas ainda tinham ficado por lá após seus dias de recuperação.

Contudo, se viu impedida de descer a ladeira devido uma correnteza provocada pela chuva. O chão de pedra polida era uma verdadeira armadilha, e Selene estava cansada demais pelo treino para um teleporte próximo à entrada das Doze Casas, restando apenas aguardar por uma estiagem.

O refúgio seria um velho templo abandonado, usado nos intervalos dos treinamentos para descanso. Por conta da chuva, estava vazio. E como se não bastasse, um vento frio cortava naquela área, uma vez por estar num nível mais elevado.

Selene abraçava massageando os próprios braços, encolhida pelo frio. Assustou-se quando sentiu um manto cair sobre seus ombros, fazendo-a se levantar de supetão e ver Saga às suas costas, com aquele sorriso que a encantava. Respirou aliviada, abraçando o manto enquanto ele removia sua máscara, puxando-a para ele.

— Achei que alguém estivesse com frio. — disse Saga vendo Selene rir com aquilo. — O que está fazendo aqui... molhada desse... jeito! — comentou afastando-a um pouco somente e ficando a contemplá-la por alguns instantes.

A roupa de treino de Selene era uma roupa colante preta e cavada nas pernas, com obreira esquerda de couro e metal e outra sendo apenas uma alça, o peitoral desenhando sutilmente os seios. Um cinto de couro fechava-se sobre uma saia curta na altura das coxas num tecido bem fino, com curtas proteções nas laterais. Havia uma faixa presa em sua coxa direita, joelheiras metálicas e tiras da sandália, também em couro, com proteção reforçada nos tornozelos. Apena na perna direita tinha uma polaina vinho até altura do joelho.

Selene expulsava o cabelo molhado para trás quando viu Saga lhe entregar uma toalha, agradecendo por aquilo e perguntando como sabia que a encontraria ali.

Não que estivesse reclamando daquilo, mas apenas surpresa dele trazer aquilo num momento tão oportuno. Uma roupa limpa seria demais, mas havia trazido uma túnica em que ela podia fazer um quiton.

— Eu a vi de Gêmeos na verdade. — disse sentando-se e apoiando com os braços nas laterais, vendo-a se enxugar. — Tenho uma visão melhor da saída para Câncer, e foi quando a vi entrar aqui e me perguntei o que estava fazendo nesse tempo. — e a chamou mais para dentro do templo, longe da entrada e do vento frio. — E é melhor tirar isso... — dizia falando dos acessórios de treino.

— Ah! Estava treinando com a Marin... aquela ruivinha... — dizia removendo as ombreiras, permitindo assim tirar o peitoral e deixar num canto. Isso deixaria o desenho dos seios mais evidentes, apesar da roupa escura. — Fomos para um espaço mais isolado, onde poderíamos treinar... sem a intervenção das meninas da Jisty e...  fomos pegas pela chuva. Bom... — e abriu os braços rindo. — Eis o resultado.

— Me parece bom... o suficiente. — Ele comentou com aparente desinteresse na voz.

Sem todos aqueles acessórios, era impossível para Saga evitar de contemplar suas curvas, tão delicadas e ao mesmo tempo tão definidas pelos exercícios frequentes dos treinamentos.

De repente veio em mente àquela noite, quando a despiu de sua túnica, as mãos descendo pelos seus ombros e braços, puxando-a pela cintura. Isso o fez engolir a seco e perder-se por alguns instantes. Nem bem escutava o que ela dizia sobre seu treino com a menina que nem lembrava o nome naquele momento.

— Então estava treinando com aquela... menina? — dizia Saga balançando a cabeça, pigarreando. —  A que tem a máscara limpa, sem desenhos... Marin. Não é esse seu nome? — fingiu interessar-se.

— Sim! Ela despertou um bom potencial e... — ela removia os acessórios da cintura e apoiava a perna num banco próximo ao Saga, removendo a polaina. Conforme se abaixou, deixava o colo do seio quase à mostra, mas logo se levantou, secando os cabelos. — Estava a ajudando com uma habilidade que é simplesmente sensacional, mas ela estava muito insegura. Ficamos treinando na chuva até ela ganhar mais confiança.

— Mesmo?! — Ele perguntou tentando manter a concentração no que ela dizia, e não no que ela fazia. — Que... que bom!

— E ela comentou que, ouviu das meninas de Jisty, que uma nova seleção deveria acontecer... — comentou Selene acabando de remover as braçadeiras e percebendo o olhar perdido de Saga, chamando-o. — Saga? Tá... tudo bem?

— Tudo! Tudo ótimo! — Ele falou piscando algumas vezes, como se despertasse de um sonho desperto, e olhou para o outro lado, um pouco sem graça — Hum... e você? O mestre... mestre Arles comentou algo sobre seu teste... sobre quando seria?

O sorriso dela desapareceu, e ficou brincando com a toalha em mãos, descendo até altura de seu colo enquanto dizia que nada foi dito, apesar de encontrá-lo algumas vezes naquela semana.

— E eu não fico perguntando, embora... — ela soltou um suspiro, dando os ombros. — ... eu tenha jogado um verde pra ele tão logo Marin me contou no início da semana, mas não tocou no assunto.

— Nadinha? —  Ele perguntou, deixando transparecer propositalmente de que sabia de algo. — Nada mesmo?

Selene piscou estranhando aquilo, franzindo o cenho, voltando-se para Saga e percebendo sua expressão, seu sorriso de quem sabia de algo. Uma vez que executava alguns serviços burocráticos no Santuário, evidentemente tinham privilégio daquelas informações. Era algo que nem mesmo ela pensou perguntar-lhe na ocasião, mas a maneira como deixava transparecer isso aguçou sua curiosidade, controlando-se para não rir.

— Você... Você sabe de alguma coisa, Saga? — indagou ela, engolindo a seco, umedecendo os lábios. — Diga, o que você...

— Então... um passarinho me contou... que uma linda jovem de lindos cabelos escuros... — Começou ele, fazendo suspense, olhando para outro lado e se forçando a não rir. Pegou a Amazona pela cintura e a trouxe mais para perto de si, o suficiente para um abraço. — ... ia fazer o teste. Essa linda guerreira, de grande poder, vai finalmente mostrar seu valor para todo o Santuário... — ele via os olhos de Selene brilharem, fitando-o incisivamente enquanto ouvia aquilo. — ... e calar algumas bocas que não sabem a hora de ficarem fechadas... Mas foi só um passarinho que me contou, ok? Eu não falei nada!

Selene levara as duas mãos à boca ao ouvir aquilo, sem conseguir acreditar. Após seis anos, estava para conquistar a sua armadura. Abraçou Saga, beijando-o no rosto inúmeras vezes.

Ele, por sua vez, ria daquilo, subindo as mãos por suas costas, sentindo seus cabelos molhados, ainda assim perfumados e macios como sua pele que sentia na ponta de seus dedos. Virou somente um pouco o rosto para que um de seus beijos escapasse e ele pudesse roubar-lhe um beijo, que a tomou de surpresa.

— Eu sabia que isso te deixaria feliz... — murmurou, tocando de leve a sua face, puxando-a para mais perto dele. — Mas... se o mestre Arles falar sobre... não sabe de nada, ok?

— Eu não vou contar... — dizia animada, abraçando-o pelo pescoço. — Mas não posso esconder o quanto fiquei feliz saber disso. A-Acho que... que se eu o visse agora... Não seria capaz... Uau!

— Que bom que gostou... — disse Saga sorrindo, descendo com a mão em seus ombros. — Mas... tipo. Se continuar com essa roupa molhada vai acabar ficando doente e... Bom! Não poderá fazer a prova, se é que me entende.

Selene entendeu bem aonde ele queria chegar, corando com aquilo e fazendo-a desviar o rosto dele que foi puxado de volta por Saga buscando novamente por seus lábios, num beijo mais longo. Soltou-a com leveza, deixando suas testas se tocarem.

Ambos respiravam pesado, com Selene mordiscando os lábios pela excitação que crescia. Porém, ela parecia ainda muito temerosa por conta de onde estavam e serem descobertos, principalmente por estarem dentro dos limites do Santuário.

— Saga... Alguém pode nos ver aqui...! — ela disse, tentando afastar as mãos dele.

— Não tem ninguém... Eu disse, ninguém, nos campos de treinamento. — falou ele, puxando-a de volta para si, buscando o pescoço da jovem. — Eu conferi bem antes de vir.

— Saga... — Selene arquejou de desejo, mas ainda sentia medo.

E se ele tivesse deixado escapar algum lugar? E se fossem pegos ali, juntos? A repreensão seria o menor dos problemas para eles. O Cavaleiro parecia não se importar com o risco, contudo, ela não se sentiria nada bem se algo acontecesse e ele fosse prejudicado.

O que aconteceu a Kanon ainda pesava demais em sua consciência, e Saga era quem ela menos gostaria de comprometer. Não podia negar o desejo que sentia, mas não se sentia à vontade, não ali, e o Geminiano percebeu seu conflito, a tensão em seu corpo. Respirou fundo, levando uma mão aos cabelos molhados dela, afagando-os.

— Tudo bem se não... quiser... n-não tem problema. — Ele disse com um sorriso tranquilizador para ela, tocando seu rosto suavemente, respirando fundo. — Não precisamos ter pressa, ok? Teremos outras oportunidades. — E beijou sua testa com ternura. —  Mas faço questão de que tire essa roupa molhada e coloque a roupa seca que eu trouxe! — dizia buscando seus olhos, apontando para a muda que estava ali próximo. — Não pode adoecer por causa de um... de um descuido. Não agora, estando tão perto do seu grande dia.

— Não vai ficar... chateado? — Selene questionou, preocupada, embora confortada com aquele sorriso que ele mostrava.

— Nem um pouco. — Foi a resposta que ouviu, voltando-se para ela.

— Desculpa... — ela forçando um sorriso.

Ele entregou a roupa a ela, vendo-a se encaminhar para fundo do templo, meio às ruínas. Saga continuou sentado, apoiando-se na perna e curvando um pouco o corpo para frente, pensativo.

A chuva não somente continuava como parecia aumentar, ficando mais escuro e criando uma parede d’água que fazia o anfiteatro sumir tamanha a intensidade, mesmo estando pouco mais de 100m de onde estavam.

Levou a mão aos cabelos e jogou-os para trás, recostando na parede, olhando por onde Selene foi. Tratou apenas de juntar seus acessórios, recolhendo-as. Caso surgisse alguém, não queria que vissem aquilo e dar margem a interpretações. Depois até riu daquilo quando pensou no que poderiam estar fazendo até há pouco tão despreocupado.

Mais ao fundo, Selene buscava onde colocar as roupas quando percebeu uma claridade peculiar de onde estava, contrário do restante da sala, como se algo fosse refletido de uma pequena entrada existente ali. Caminhou alguns passos e percebeu um acesso, escondido entre algumas pilastras caídas, para uma escada que levava a um nível inferior.

Não havia entrada de chuva. Se na antessala as janelas eram altas, naquela câmara era ainda maior, mas oferecendo alguma luz ao ambiente ajudado por alguns metais espelhados, foscos pela poeira e abandono nas paredes. Desceu um curto lance de escadas e buscou um lugar onde colocar a manta e sua roupa molhada. Estavam realmente ficando frias.

Aquela parte do prédio parecia não ser visitada há décadas, mantendo-se empoeirada e repleta de teias, diferentemente da área onde era mais comum aos aprendizes e os Cavaleiros permanecerem.

Ficou a observar o lugar por algum tempo, tentando entender o que seria ou o que foi aquela câmara. Foi quando encontrou uma bancada que tinha uma espécie de pia batismal oval. Removeu uma placa que havia ali, gerando um eco com o barulho. Soprou para tirar o excesso de poeira, limpando com a polaina molhada para que então pudesse colocar o manto e a roupa trazida por Saga.

"Selene? Selene! Tá tudo bem? Onde você está?", indagou Saga não muito longe, num tom preocupado por conta do barulho que ela tinha provocado. Aproximou-se perto das escadarias, chamando-o, vendo ao menos a silhueta na parede, tranquilizando-o.

Saga parou ali surpreso. Jamais imaginou haver um acesso para o subterrâneo naquele templo, mas aguardou, recostando-se na parede e cruzando os braços.

Selene despiu-se de suas vestes encharcadas, terminado de se enxugar e olhando à sua volta enquanto secava os cabelos. Aquilo muito lembrava uma câmara ritualística, e embora o dia estivesse escuro, oferecendo a mínima luminosidade, era perceptível desenhos no chão que, num melhor dia, certamente reconheceria. Um antigo altar deveria ter existido num passado remoto, mas agora nada restava senão um vazio e pilastras rachadas.

Vestia o quíton trazido por ele, soltando os cabelos e fazendo a amarra na cintura quando ouviu algo a deixando alerta, percebendo uma sombra na parede do outro lado da sala. Sentiu um leve arrepio lembrando do que houve em Star Hill. Virou-se em direção da bancada onde deixara suas vestes e somente viu grandes asas serem abertas. Um gritou ecoou na câmara.

Saga estava caminhando pela antessala quando ouviu o grito, o som de queda acompanhado de algo se quebrando. Sem pensar duas vezes, voou pelas escadas e vendo-a caída, a saia do vestido suspenso, da qual ela puxou rapidamente, e buscando ver o que a tinha assustado.

Ambos viram um morcego ganhar o alto, buscando um lugar escuro para se esconder. No chão, apenas um vaso antigo que estava na pia e que se quebrou na queda. Por conta da câmara grande e vazia, o eco foi maior que o normal.

— Selene! Tá tudo bem com você!? — Saga perguntou, indo em sua direção, amparando-a em seus braços. — Você se machucou?

— Não, tudo bem! Eu... Ah! — dizia, rindo em seguida por aquela cena, praguejando por conta do morcego. — Com nossos punhos podemos rasgar os céus e abrir fendas na terra... e eu me assusto com um morcego! — disse rindo, apoiando-se nele. — Desculpe se assustei você.

— Ahn... Tudo bem! Tem certeza de que não se machucou? — dizia ajudando-a se levantar.

Conforme a levantou, a saia foi novamente suspensa, mostrando pouco além de suas pernas, algo da qual Saga não pôde evitar de olhar, umedecendo os lábios. Selene puxou novamente o vestido, corada, e percebeu a inquietação do Geminiano que levou a mão à cabeça, coçando, olhando para o outro lado como se estudasse a câmara — e até estava.

— Bom, ao menos aqui não está tão frio como lá em cima e... — dizia Saga ainda de costas, desconcertado, para Selene, dando-lhe um tempo para que ela pudesse se recompor. — E a chuva não vai passar tão cedo, até ficou mais forte.

— Eu notei... — dizia Selene batendo na roupa e nos braços e ouvindo a chuva que caia com força fora dali. — Saga, você... conhecia essa câmara? Quero dizer...

— Não, não sabia. — dizia se voltando para ela tímido, vendo-a recomposta e sorrindo, voltando-se de frente para ela. — Eu já vim muitas vezes aqui, mas não me lembrava de existir esse espaço. Acho que ninguém sabe desse lugar.

— Sabe o que lembrei agora? — dizia Selene, sentando-se num dos três degraus que levava ao pequeno altar destruído. — Quando você, Kanon e eu seguíamos para cá, para o Santuário e... — ela riu ao lembrar-se daquilo, vendo Saga sentar-se ao seu lado. — E eu sempre conseguia encontrar uma gruta, um lugar qualquer para pernoitarmos. — e riu daquela lembrança. — É como se fosse atraída, me chamasse, sabe? Como seu eu fosse uma...

— Uma linda bússola... — Ele gracejou, não mais resistindo e olhando para aqueles olhos púrpuras.

Selene assentiu, corada por aquele lisonjeio, voltando-se para ele que ainda a fitava. Ele abriu os braços para que ela se acolhesse em seu corpo, e ela se inclinou para ele. No entanto, Saga fez mais que isso. Ele a puxou para seu colo, buscando seus lábios mais uma vez para um beijo calmo, brincando com seus lábios seguido de alguns selinhos.

— Essa chuva parece que vai demorar passar... — comentou ela tocando em sua face com a ponta dos dedos, rindo após dizer aquilo que a fez mordiscar os lábios.

— Sim... — dizia Saga sem desviar seus olhos verdes sobre aquela garota em seu colo, envolvida em seus braços. — Estamos presos aqui... até segunda ordem...

— E... ninguém vai sair para treinar nessa chuva, não é? — dizia fitando seus olhos, murmurando como se temesse que alguém mais os ouvisse. — Quero dizer... Quem sairia nessa chuva...

Saga entendia aonde ela queria chegar, e puxou seu rosto. As suas mãos já apertavam suavemente sua cintura, descendo para suas coxas de maneira tímida. Não tinha pressa. Queria deixá-la à vontade. Apenas sorriu, umedecendo os lábios e respondendo-a de imediato.

— Senão eu por conta de você...? — respondeu Saga com seus lábios bem próximos ao dela. — E não me arrependo nem um pouco!

Ela riu contidamente ao ouvir aquilo, deixando seus lábios roçarem ao dele. A respiração de ambos era pesada. Selene podia ouvir seu coração batendo forte, tal como naquela noite no lago, e não era única. Com a mão no peito do Geminiano, sentia que seu coração também estava tão acelerado quanto o dela.

— E ninguém vai sair de onde estiver... não é mesmo? — sussurrou ela fechando os olhos, sentindo os lábios dele em seu pescoço, uma mão subindo por baixo de sua saia, causando-lhe arrepios. — Muito menos vir aqui...

— Quer fazer as honras? — ele completou, sussurrando como ela, tomando seu rosto e aproximando-o ao dele, com seus olhos a encarando.

Ela sorriu de maneira tímida, beijando-o suave, mas aumentando a intensidade pouco a pouco. Logo suas mãos estavam a remover a blusa do Geminiano, descendo por seu peito e abdômen até sua calça, mas sem que seus lábios desgrudassem.

A manta trazida por Saga foi forrada naquele chão onde os dois trocaram carícias e se amaram intensamente, sem medo e sem culpa. Apenas se deixaram levar pelo desejo, pela paixão.

Ninguém os julgaria, muito menos seriam condenados pelas duas estatuetas de anjos com suas asas quebradas na parede do velho altar. Estavam acolhidos num velho templo, com apenas a chuva abafando os dois amantes naquela câmera secreta.


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Notas finais do capítulo

Nos próximos capítulo:
As chuvas trazem novos eventos, novos personagens à essa história que começará a entrar em terrenos perigosos. E Van Quine surge em cena mais uma vez para uma provação pessoal.



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