Saint Seiya Memórias: História Oculta Do Santuário escrita por Katrinnae Aesgarius


Capítulo 24
Livro 1 :: Destino - Ato 12


Notas iniciais do capítulo

Os caminhos dos destino começam ganhar um tom sombrio. O destino começa a plantar peças sinistras e as escolhas ditarão o futuro de muitos.



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"Desta vez vai prejudicar outros por mera impressão e não interpretação sua"

Saga ainda estava a pensar o que disse à Selene naquela tarde. Uma discussão por algo que, agora, julgava desnecessário. Nem mesmo era sua intenção transformar aquilo em algum desentendimento, mas nem mesmo percebeu que estavam a discutir por algo que, naquele momento considerou tão banal.

Contudo, percebeu que já havia algum tempo que ela se mostrava tão incomodada na presença de Mephisto, mas por quê? Aquilo não havia sido a primeira vez.

Quando a encontrou desperta em Áries, ao lado de Mu, estava acompanhado de Mephisto e notara o quanto ela ficara retraída naquele momento. Naquela ocasião, pensou se tratar de ainda estar se recuperando ou mesmo intimidada com o que aconteceu e estar hospedada numa das Casas Zodiacais. Porém, um segundo encontro aconteceu no anfiteatro, mostrando-se novamente incomodada com a presença do italiano, tanto quanto naquela manhã. Hesitou, mas achava melhor conversar e saber o que estaria acontecendo.

Não que desconfiasse do futuro colega zodiacal, mas era estranho perceber Selene se mostrar tão nervosa em sua presença, a ponto de querer falar algo com Grande Mestre. Em nenhum momento desconfiou do comportamento de Mephisto, nem mesmo quando foi dito pelo próprio que fora responsável de levá-la para Áries, confirmado em igual pelos soldados. Até esse ponto, nada soava estranho. A sua intenção era apenas conversaram saber se havia ocorrido algo a mais que ele desconhecesse, mas nada realmente relevante.

— Você parece muito perturbado. Quando fica quieto assim e olhar perdido, é porque existe algo realmente o incomodando... — disse alguém de braços cruzados recostado numa pilastra de Gêmeos, acolhido pelas sombras. — Ou estou enganado?

Saga respirou fundo, fechando os olhos e se voltando em direção daquela voz. Apenas observava a silhueta. Nem precisava ver aqueles olhos para saber o quanto o fitava de maneira tão incisiva e interrogativa. Quem melhor o conhecia que ele? Engoliu a seco e desviando o olhar novamente para em direção à Casa Zodiacal acima, Cancer.

— Nada relevante, apenas pensando em algumas coisas, apenas isso. Deveria se preocupar com você. Já soube o que aconteceu e deveria tomar mais cuidado... — disse olhando-o por cima dos ombros.

A silhueta descruzou os braços e caminhava em direção da luz do luar cheio daquela noite. Saga ouviu seus passos e se voltou para ele, observando Kanon, seu irmão gêmeo mais novo se aproximando dele.

Tinha as vestimentas limpas, mas com alguns remendos na altura da costela. Não usava os acessórios de treinamento como o peitoral nem as ombreiras e joelheiras, apenas as ataduras nos braços e sobreposta numa munhequeira de couro surrada no pulso.

— Foi um incidente, mas não deu em nada. Pensaram que eu fosse você.  — sorriu de maneira cínica para o irmão.

— Não deve contar sempre com a sorte. Lembre-se que fugiu do Santuário e isso foi deserção! — disse Saga falando mais baixo. — Não precisava ter fugido...

— E ser chamado de covarde por sumir durante nosso embate? — interrompeu Kanon olhando o irmão que fechou os olhos, meneando negativo quanto aquilo. — Para você pode não ser nada, Saga. Sempre foi o preferido, sempre o queridinho de tudo e de todos. Sempre foi assim, não seria diferente aqui.

— Não vamos começar com isso de novo, Kanon!  — disse Saga com ar cansado. — Essa não é a questão.

— E qual a questão então, Saga? Acha que devo me entregar e ser enjaulado como um animal? Ou que devo circular pelo Santuário após me taxarem de covarde? — questionou Kanon injuriado abrindo os braços. — Para você é muito fácil, desfilar com sua linda armadura dourada. — e voltou-se de costas, irritado com aquilo.

— Kanon, será que não entende que... — dizia Saga quando foi interrompido por passos e por alguém chamando-o. Kanon também se voltou para interior de Gêmeos, recolhendo-se para entre as pilastras e acolhendo-se novamente nas sombras.

Do interior de Gêmeos para saída da Casa Zodiacal, surgia Mephisto, a quem Saga estava a pensar antes que Kanon interrompesse seus pensamentos e ambos reiniciarem a velha discussão desde que se reencontraram há algumas semanas. O italiano trazia um cesto com frutas, pães e algumas garrafas de vinho. Estava com sua roupa de treino, carregando a placa peitoral na outra mão e exibindo a blusa um pouco molhada. Isso ajudava a mostrar o peito malhado e definido , assim como o músculo dos braços.

— Pensei que estivesse na ronda de hoje. Não o vi pela Casa Zodiacal. — comentou Mephisto de modo casual. — Curtindo uma noite de folga?

— Mais ou menos... — respondeu Saga fitando-o por alguns instantes. — Voltando para Cancer?

— Sim. Fico mais à vontade de treinar em Cancer, oferece um espaço que preciso para aquela minha ‘habilidade sinistra’ como você mesmo disse... — disse Mephisto enfatizando aquelas palavras de maneira caricata enquanto observava Saga de braços cruzados. — Foi o critério estabelecido pelo Grande Mestre, uma concessão como dado ao Shura, para evitar, digamos... ahn... acidentes.  — e sorriu a contragosto. — Enfim! Além do mais, preciso ver se minhas técnicas funcionam tão bem no outro plano quanto aqui e saber minhas limitações.

— Entendo... — comentou Saga ocasionalmente, sem muita emoção na voz. — O garoto que fica em Virgem, Shaka, também recebeu essa concessão do Grande Mestre, mas ele quase nunca sai de lá. — e olhou rapidamente para o alto, mas soltando um longo suspiro em seguida.

— Verdade... Mesmo o Shura diz que não o vê por lá, e soube que ele tem habilidade de ir e vir entre os mundos. — disse Mephisto acompanhando o olhar de Saga. — Não foi com ele que aquela garota esteve treinando há alguns dias? Ouvi Mu dizer que ele também forte poder psíquico. Será que rolaria dele me orientar em alguma coisa...?

Saga não respondeu, apenas ficou a observá-lo como quisesse encontrar alguma evidência, qualquer algo que pudesse explicar o comportamento de Selene com relação a ele.

Saga o conheceu na Sicília, e não tivera uma boa impressão do italiano à primeira vista exatamente por conta de sua habilidade trabalhar em conexão com o Mundo dos Mortos. Aquilo realmente era algo um tanto horripilante que havia tido o desprazer de conhecer na ilha.

— Bom, não vou ficar atrapalhando suas divagações, apenas sua concessão em me deixar prosseguir. — ele solta um riso bem cínico e aguardando a resposta do guardião de Gêmeos. Não houve uma resposta. Saga parecia com um olhar perdido, mas logo abriu espaço para sua passagem. — Saga, está tudo bem mesmo? Parece como naquela vez quando teve problema com a tal mulher da outra vez... Enrolado com ela de novo?

Aquelas palavras pegaram Saga de sobressalto, fazendo-o piscar aturdido pela maneira direta como Mephisto abordou aquilo, e não poderia ter isso num momento mais inoportuno. Seus olhos rodaram o ambiente, sobretudo em direção às pilastras onde estava Kanon, a última pessoa que esperava ouvir aquela conversa.

E, de fato, até então o gêmeo mais novo mantinha-se desinteressado até ouvir a menção de 'mulher'. Aquilo causou estranhamento em Kanon, pois Saga sempre se mostrou centrado demais nos treinamentos e seguir as regras do Santuário, ao contrário dele que sempre se mostrou avesso. De imediato, apenas estranhou aquilo, até começar somar alguns fatos, e aquilo fez o escondido gêmeo ligar a alguém.

— Não exatamente... — respondeu Saga lançando rápido olhar às pilastras e se voltando para Mephisto. — Pretende descer novamente? Falo, hoje ainda.

— Não, não descerei. Ficarei por aqui por hoje, não se preocupe... — e piscou para Saga, deixando subentendido suas palavras e assentindo pelo Geminiano que logo partiu.

Kanon saiu detrás das pilastras com um semblante sério, olhando Mephisto subindo as escadas cantarolando uma música em italiano e os passos de seu irmão sumindo no interior do templo. o gêmeo mais novo apenas baixou o olhar e deu um murro na pilastra, antes de se acolher novamente nas sombras.

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Apenas um som ecoava numa das salas iluminadas daquele velho templo da montanha. O som vinha de uma ágata azul, uma pequena pedra lustrada e cortada ao meio que batia insistentemente sobre uma mesa de madeira pelas mãos de Selene. Embora seus olhos recaíssem sobre a folha, os seus pensamentos estavam bem distantes dali, repetindo-se a cada momento.

"Nem mesmo você sabe explicar, Selene, e poderia comprometê-lo tanto quanto fez a Kanon há alguns meses por (...) algo que acreditou que pudesse acontecer"

Ela soltou um longo suspiro e fechando os olhos. Soltou a pedra que deslizou pela mesa com certa força. Por muito pouco não se chocou contra um tinteiro, batendo numa pilha de papéis próximo. Porém, Selene nem mesmo viu isso, pois levantou-se de imediato e caminhando por aquele templo transitando por entre aquelas colunas antigas. Estava sozinha, mergulhada em seus pensamentos que insistiam na conversa daquela tarde com Saga.

— Por que tinha que acontecer isso de novo... Por quê...!? — sussurrava para si mesma, atormentada por aquelas palavras. — Por que tenho de absorver tanto essas coisas...

Como acordado com Mestre Arles, uma vez na semana pernoitaria em Star Hill para o estudo e interpretação das estrelas e compreensão das constelações. Isso não seria qualquer problema, pois era algo da qual realmente apreciava e que também perdia a noção do tempo enquanto estudando antigos documentos do campo estelar da Era Mitológica e de como se encontrava atualmente, sobretudo das divisões e extinção de estrelas, muitas influenciadas pelas Guerras Santas e criando lendas tristes e fantásticas. Porém, aquilo que mais a interessava de fato era ao que remetia aos Cavaleiros Mitológicos — quem foram e como originou as constelações protetoras.

Contudo, naquela noite, a sua mente estava dispersa demais para qualquer coisa, não conseguindo se concentrar como gostaria. Não estava conseguindo assimilar nada, preferindo sair e arejar a mente, e nada melhor que um passeio, pelo templo e contemplar sua beleza rústica que aquele lugar proporcionava.

Uma das paredes do pequeno saguão daquele templo era da própria montanha, oferecendo uma simples fonte natural que acabou por criar uma bacia na grande pedra, posteriormente adornada com inscrições gregas já quase apagada com o tempo.

Selene tomara aquela água cristalina em suas delicadas mãos, sentindo o quanto estava gelada. Ficou a contemplar seu reflexo naquele espelho d'água por alguns instantes mais, tremulante com as gotas que caía. Estava com seu semblante triste, os olhos levemente marejados com a vontade de chorar, mas segurando-se. A última coisa que queria era se desentender novamente com Saga, e por conta de um 'achismo' seu. "Algo que acreditou que pudesse acontecer", repetia-se em sua mente.

— Talvez ele esteja certo. Nem mesmo soube explicar o que sentia daquele homem, mas... — Selene virou os olhos para o alto, perdida. — Mas eu senti... Eu vi! Por que quando o vejo sempre sinto aquilo...? Aquela aura... maligna...! — dizia para si mesma, enquanto brincava com a água da fonte. — Eu deveria contar ao Grande Mestre, mas... e se eu estiver realmente enganada como Saga disse? Eu posso realmente prejudicá-lo por algo que nem mesmo tenho certeza?

A dúvida a atormentava. Já deveria ser a terceira vez que caminhava por aquele templo somente naquela noite. A primeira vez ficara caminhando pela sala, na segunda ficou na entrada do templo e contemplando a lua entrando em sua fase cheia e mantendo-se brilhante no céu enquanto buscava ajuda das estrelas para alguma resposta. Estas se mantiveram somente silenciosas. retornara a sala buscando ler os pergaminhos, mas mais uma vez se levantara e estava agora ali, apenas olhando sua imagem.

"Não, eu não posso fazer isso sem uma certeza. Já prejudiquei Kanon com minha intromissão e, desde então, nunca mais o vi...", pensava Selene, e uma gota na água a fez perceber que deixou escapar uma lágrima. Afinal, lembrar do Kanon sempre a deixava triste, pois sentia-se responsável por seu desaparecimento.

Ninguém mais falava dele após meses, mas pensava sobre onde ele estaria e como estava vivendo desde então. Comentava com Saga, mas aquilo o deixava tão preocupado e angustiado como ela, mesmo garantindo que o irmão estaria bem. Contudo, ela percebia seu semblante pesar ao comentar sobre aquilo.

"O que eu poderia dizer ao mestre Arles? O que poderia dizer sobre aquele homem senão...", continuava a pensar sobre, e aquilo a enfureceu a ponto de mexer na água e seu reflexo sumir. Levou a mão ao rosto, respirando fundo antes molhá-lo algumas vezes para lavar das lágrimas. Enchia as mãos juntas em forma de concha com intenção de sorver aquela água quando algo, mas algo a assustou, fazendo-a se virar e se levantar de imediato.

— Quem está aí? Mestre Arles...? — deixou-se falar, arrependendo-se em seguida e xingando-se mentalmente.

Ocasionalmente Arles surgia em Star Hill, mas Selene perceberia sua presença da qual ele sempre anunciava comunicando-se em cosmo, além de que ela o notaria chegar no saguão uma vez que estava ali e era o único acesso à todas as salas. Porém, não havia qualquer evidência de sua presença, o que a deixou preocupada. Percebeu as chamas dos archotes na sala onde estudava trêmulos, e nenhum outro som se ouvia senão aquele vindo da fonte. A sua reação foi levar a mão à cintura para vestir sua máscara, mas não encontrou. Havia deixado sobre a mesa de estudos.

Seguiu a passos cautelosos até à sala. Mantinha-se alerta e atenta, mas não sentia qualquer ameaça próxima. Chegando na porta, tudo parecia muito normal, senão a chama trêmula devido uma corrente de ar que tomou a sala, fazendo algumas folhas voarem se não fosse o peso de papel, a outra metade da pedra que havia jogado sobre a mesa. Alguns passos mais para dentro da sala e ouviu um estalo, olhando em direção aos seus pés ao perceber que pisara em algo, reconhecendo sua máscara.

Havia sido sua máscara que caíra da mesa criando o eco, partindo ao meio. Estava tão absorta em pensamentos que o som pareceu maior do que realmente era. Selene respirou aliviada, abaixando-se para recolher os cacos da máscara e analisando o estrago. Conseguiria restaurá-la. Colocou sobre a mesa e começou a juntar os papéis espalhados, certamente responsável por empurrar sua máscara ao chão, mas parou sua ação mediante um forte pressentimento, uma sensação realmente incômoda, o bastante para falhar sua respiração.

As chamas dos archotes tremularam com mais força, até que alguns se apagaram e mergulhando a sala num breu. Selene estava estática, impedida de se mover. Apenas sua respiração era ouvida, mas logo acompanhada de sussurros que ecoavam distantes.

Embora tentasse buscar a origem daquelas vozes, não havia qualquer indício de onde, apenas que ressonava por toda a sala, provocando tontura, desnorteando na jovem aprendiz. Precisou apoiar-se na mesa, levando uma mão à fronte. Até mesmo seus olhos pareciam pregar uma peça.

Toda a imagem à sua frente parecia estar se distorcendo, e por mais que piscasse buscando 'despertar' ou simplesmente manter-se 'acordada', o cenário à sua volta se transformava, e num piscar de olhos.

Meio aquele processo, os sussurros pareciam ganhar vozes, e Selene buscava manter-se centrada, mesmo com seus músculos rijos e sua respiração falhasse. Queria entender o que acontecia, mas estava sendo impossível. Fechou os olhos com força, deixando a lágrima, novamente ganhar seu rosto. desta vez, não era de tristeza, mas por sentir seus olhos queimarem.

— Pa-pare...! Pare com isso... PÁRA! — gritou, levando as duas mãos aos ouvidos e fechando os olhos. Seu corpo foi de encontro à parede, e as vozes continuavam a crescer cada vez mais. — Por favor... pare! — implorava.

Quando reabriu os olhos, não mais se via na sala do templo, mas no corredor de seus sonhos, entregue à penumbra, iluminada pela mesma lua cheia, mas com pesadas nuvens no céu que a encobria. Voltou-se para o corredor ao som dos passos que se aproximava, reconhecendo as vestimentas, o elmo rubro e o brilhante objeto que trazia em mãos. Selene mantinha-se estática, apenas observando aquele alguém se aproximar de cabeça baixa.

O seu coração batia tão acelerado que tinha a sensação de que, a qualquer momento, saltaria de sua boca seca, tamanha sua ansiedade e apreensão por aquela imagem que tantas vezes era presente em seus sonhos. Quando estava mais próxima, tentou reagir, mas seu corpo não respondia, e aquilo a deixava ainda mais temerosa, fazendo sua respiração falhar. Jamais havia sentido algo igual. Era como se algo a prendesse, impedindo-a até mesmo de pensar.

Tão logo ele estava diante dela, próximo o bastante para perceber a sua respiração pesada. Porém, aquilo não seria mais assustador que aqueles seus olhos vermelhos incandescentes que recaíram sobre ela, denotando o mais puro ódio num rosto sombreado.

Selene estava tão assustada, que não percebeu quando sua mão se elevou com um brilho dourado em punho. Tentou dizer algo, mas nada saía. Apenas sentia as lágrimas queimarem sua face enquanto parecia hipnotizada por aqueles olhos. Viu sua boca se mover, dizendo algo, mas somente um grito ecoou, apagando todos os archotes e mergulhando tudo na escuridão.

Quando foram novamente acesas, minutos depois, apenas a máscara quebrada ficara sobre a mesa, mas não havia qualquer sinal de presença de Selene naquele templo.

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— Sele tem se comportado de maneira misteriosa, Shion. — Questionou Arles quebrando seu silêncio enquanto arrumava alguns dos livros nas prateleiras próximas. — Sobre esse dom que ela despertou de maneira tão... intensa, e sobre o que ela disse em seu momento de alucinação em Áries por aquela noite...

Shion fechou as páginas de um livro da qual escrevia e levantou a cabeça pensativo. Embora as marcas do tempo fossem fortes, o seu olhar mantinha-se analítico tanto como do jovem que assumiu aquele Santuário após a batalha contra Hades. Era muito jovem na ocasião. Não havia completado nem bem os 20 anos quando foi incumbido daquele dever: reger um Santuário e receber as seguintes gerações.

— O Grande Eclipse. — disse Shion se voltando para Arles que o olhava com preocupação. — Ela revelou um sinal que pode ser o marco da nova Guerra Santa contra Hades, o que indicia que um ciclo se fecha. Já se foram 230 anos.

Arles se aproximou da mesa, deixando os três livros que ainda tinha em mãos e olhando para o Patriarca. Ambos pensavam o mesmo: o retorno de Hades, o que indicava que tão logo Athena renasceria naquele tempo.

— Lembra o que me disse naquela manhã, Shion? Sobre Selene ser...

— Uma pitonisa? — completou o velho Grande Mestre e assentido por Arles. — Sim, eu me lembro. Essas sacerdotisas profetizavam o futuro, mantendo-se estabelecidas no Anfiteatro. Porém, infelizmente, todas foram assassinadas e seus conhecimentos perdidos. — comentou Shion lamentando-se. Ouvira falar do suspeito, mas logo tornando-se um tabu. — Selene pode ser uma herdeira dessas sacerdotisas.

— Acredita então que suas visões estão profetizando os caminhos que a Guerra Santa virá tomar? — questionou Arles preocupado.

— Acredito que ela esteja vendo além da Guerra Santa, Arles. O que quer que ela tenha visto, as suas palavras implicam em acontecimentos que até mesmo antecedem e precedem a Guerra Santa, mas não é somente isso que me preocupa.

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A última coisa da qual Saga queria ouvir de seu irmão, Kanon, eram indagações sobre quem seria a tal 'mulher' comentada por Mephisto, embora soubesse que ele não seria um idiota em não ligá-lo, de imediato, à Selene. Desde que surgiu em Gêmeos naquela noite tem tomado cuidado de mantê-lo em segredo, mas aquilo não poderia se estender por muito tempo. Uma das servas já o havia encontrado e ele contornado a situação, e naquela noite, por muito pouco, não seria flagrado pelo aspirante de Cancer.

Não bastasse ter de esconder seu irmão mais novo de uma punição mais severa, também mantinha em segredo a sua relação com uma aspirante a Amazona, não somente omitindo de Kanon como de todo o Santuário uma vez que era uma violação às suas leis há tanto instituídas.

A lei impedia o envolvimento entre os guerreiros de Athena, algo da qual Saga leu todos os pontos na tentativa de amenizar sua relação com Selene, mas era uma regra fechada, sem qualquer concessão do Patriarca Sileno. Aquilo, de alguma maneira, o perturbava.

Segundo os documentos vistos por Saga, até mesmo comentado com Aiolos, foi o primeiro Patriarca do Santuário após a Guerra Santa contra Ares, responsável pela base das leis que regiam o Santuário. Todas as outras revistas e acrescentadas posteriormente, foram baseadas em suas normas e diretrizes, das quais muitas haviam sido categoricamente enfatizadas. Dentre elas estava exatamente o envolvimento entre os guerreiros de Athena, permitido somente aqueles fora desse círculo.

A sua saída de Gêmeos era evitar qualquer explicação a Kanon. Já tinha a cabeça cheia após o desentendimento com Selene naquela tarde e não queria outro com seu irmão mais novo que pudesse denunciá-lo em Gêmeos. Saga estava verdadeiramente sob forte tensão, envolto de segredos.

Prestara um juramento de servir Athena e lutar ao seu lado em defesa daquele mundo que tantas vezes sobrevivera a ira dos deuses. Ele e Aiolos eram os primogênitos Cavaleiros de Ouro, trabalhando lado a lado para a formação daquela nova geração. Porém, manter aquela mentira, colocava-o como um hipócrita.

Inicialmente tinha intenção de seguir para Rodório, servir-se de um bom vinho... Mas também queria evitar adulações por ser um cavaleiro de Ouro. Mesmo que estivesse sem sua indumentária dourada, todos já o reconheciam como um. Naquele momento apenas queria ficar sozinho com seus pensamentos. Isso o fez mudar seu caminho para o bosque, nos pontos cegos e neutros que cortavam o Santuário entre os campos de treinamento.

Àquela hora, a maioria já havia se retirado para o descanso, e raros aqueles que se aventuravam por aqueles caminhos que podia levá-los ao Campo das Amazonas. Esperava somente que, quando retornasse, Kanon também já tivesse se recolhido — embora fosse pouco provável.

Seus passos ininterruptos cessaram ao ouvir algo como uma queda surda não muito longe de onde estava. No primeiro momento imaginou que fosse algum aspirante treinando, o que ignoraria, ou mesmo que tivesse adentrado no Campo das Amazonas, o que faria dar meia volta por não querer maiores problemas. Porém, o que ouviu foi um soluço, acompanhado de um choro silencioso que o remeteu há alguns anos.

Isso o fez avançar em direção a uma clareira que havia ali, coincidentemente para seu destino que era um lago naquela região. Ainda assim, Saga se aproximou com cuidado, alerta de que poderia ser um inimigo usando um truque barato, mas não havia qualquer presença de cosmo ou presença inimiga. Observou alguém se movendo, parecendo cair e vomitar. Ao se levantar, ficando a favor da luz que cortava a copa das árvores, Saga teve uma surpresa.


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Notas finais do capítulo

No próximo capítulo...
Um Interlúdio com Quine.



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