Saint Seiya Memórias: História Oculta Do Santuário escrita por Katrinnae Aesgarius


Capítulo 16
INTERLÚDIO :: Van Qüine


Notas iniciais do capítulo

Mais um interlúdio com Quine, com uma informação que acredito que vá ajudar entender algo lááááááááaá do início.



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Quem viu o céu estrelado e límpido na noite anterior, não poderia esperar uma chuva forte naquela manhã. Porém, nem mesmo isso parecia suficiente para impedir que os treinamentos continuassem. Mesmo sob chuva continuavam a treinar no anfiteatro.

Raios cruzavam o céu, mas isso não assustava a ninguém. Alguns se mantinham em meditação, outros saltando e lutando contra um inimigo invisível, outros estavam em duplas já banhados de lama e sangue pelos ferimentos. Nem mesmo quando um raio caiu no meio ao pátio pareceu assustar a qualquer um ali.

Qüine ficou a observá-los de longe, com o braço apoiado na pilastra e o corpo jogado um pouco pra frente. Olhou o céu acinzentado e se recolheu num canto qualquer abrindo as páginas do diário. Dentro dele recolheu a flor já seca, abrindo um discreto sorriso quando intencionava se sentar, mas levantou-se em seguida e massageando as nádegas. Não imaginava que, mesmo após dois dias, ainda sentisse tão dolorido.

Praguejou em silêncio, fechando o punho.

— Ah, Kiki, juro que... — dizia o jovem injuriado quando ouviu uma voz às suas costas.

— Você jura o que, Qüine? — Dizia o ariano surgindo entrando no templo, retirando sua capa que o acolhia da chuva e balançando os cabelos molhados. Tinha um sorriso bem cínico no rosto. — Aliás, estava mesmo querendo falar com você e saber como foi lá no... Você sabe onde.

Qüine cerrou os olhos fitando-o. Era impressão dele ou Kiki estava realmente curtindo com a sua cara?

— Fala sério, você sabia que existe uma Amazona por lá, uma louca, digamos assim, que gosta de ferroar os outros? Acho que se esqueceu de mencionar esse detalhe um tanto pertinente, não acha? — os olhos de Qüine brilhavam para Kiki, mantendo os dentes trincados enquanto falava, enquanto o ariano mantinha a serenidade e braços cruzados.

— Ah, você conheceu a Antares? — disse com a mais pura simplicidade e espontaneidade que Qüine poderia esperar. O garoto sentiu o queixo cair, acompanhado de sua 'queda' sem acreditar naquela cara-de-pau de seu mestre. — Não sabia que era turno dela ontem... — e o ariano coçando o queixo displicentemente.

— E AQUILO TEM NOME!? ELA QUASE ME MATOU! — exclamou ficando diante do Kiki, os olhos arregalados. Aquilo não intimidou em nada o dourado de Áries que apenas arqueou o semblante e fazendo-o recuar, cruzando os braços emburrado. — Aquela maldita, não sei bem o que ela fez, mas senti como se uma agulha me acertasse na coxa e doeu pra cacete!

— Se deixando acertar facilmente, Qüine? Pensei que fosse mais rápido... — satirizou Kiki se sentando num espaço qualquer, mantendo as pernas ainda esticadas. — Acho que isso indica que devemos retomar seu treinamento o quanto antes.  Fazendo corpo mole para com uma aprendiz? Não esperava isso de você... Que vergonha!

Havia escárnio nas palavras de Kiki, fazendo Qüine olhá-lo um tanto surpreso. Pelo cosmo que sentiu daquela garota e sua agilidade, esperava que ela fosse uma Amazona já sagrada, mas dizer ser uma aprendiz? Ou Kiki estava realmente tirando com sua cara ou ele a havia subestimado a demais.

— Aprendiz? Sério mesmo que ela é apenas uma aprendiz? Não vem com essa... — Qüine se voltava de frente para Kiki agora, descruzando os braços e mantendo a expressão de ceticismo.  — O cosmo que senti dela a fazia ao menos ser uma Prata, embora até mais que isso. Como ela ainda não poder uma Amazona?

— Assim como você, ela aguarda estar realmente preparada para aquilo que a espera. — disse Kiki fitando-o sem falar além, mas assimilado por Qüine.

O rapaz tinha um objetivo, estava preparado para cumprir seu destino segundo o velho mestre. Porém, havia algo que precisava fazer e havia cumprido a primeira parte disso seguindo até o Campo das Amazonas e tomando a pequena caixa de música guardada no alojamento. Havia ainda algumas demarcações no diário e seguiria cada um daqueles passos.

Por outro lado, conhecia as regras e não poderia ficar somente passeando. Os seus treinamentos sempre foram mais restritos, e àquela noite deixou evidente que realmente subestimara seu oponente. Mesmo que não tivesse sido pra valer poderia ter sucumbido facilmente.

— Tudo bem. Concordo com os treinamentos. Já que estou aqui, creio que será bem mais divertido que simples bonecos ou ilusões. — ele sorriu de modo sacana.

— Não deveria levar tudo... na brincadeira. — comentou Kiki fraquejando na voz, o que levou Qüine fitá-lo e perguntar se estava tudo bem. Embora o ariano dissesse que sim, não era totalmente verdade.

Kiki tinha um semblante cansado. Havia passado mais uma noite restaurando armaduras daquelas necessárias apenas com pó de estrelas e remodelando suas fissuras. Era um trabalho que exigia cuidado e precisão. As armaduras não eram apenas vestimentas dos cavaleiros, mas que guardavam memórias de seus antigos portadores, com sentimentos, eram órgãos vivos.

Enquanto Jamir, Qüine o ajudava com algumas de Bronze, mas era no Santuário que se concentrava muitas dela, principalmente as douradas. Estas eram que estavam em pior estado, exigindo meses de trabalho. Nos últimos 10 anos dividiam seu tempo entre restaurar armaduras e treinos, e isso exigiu demais mesmo dele.

— Passou mais uma noite em claro, não é? Descanse por hoje e restauro as que deixou. — disse o garoto. Ela conhecia bem o ofício. Nos dias que chegara ali, estava tão focado nas páginas do diário que se desligou de todo o restante. Aproximou-se do ariano e ficando o seu lado, recostado, quase se sentando.

— Está tudo bem, Qüine. Estive cumprindo outros assuntos a pedido do Grande Mestre estes dias além de cuidar das armaduras. Não se preocupe. — comentou Kiki com intenção de não preocupar o garoto.

— Você precisa descansar, Kiki, está exigindo demais até mesmo de voc... — dizia se sentando, mas se levantou de imediato.

Havia se esquecido do leve hematoma em suas nádegas, praguejando mentalmente. Mesmo Kiki estranhou aquela atitude, percebendo a veia na têmpora de Qüine latejando injuriado com aquilo.

— Eu pensei que tivesse dito que recebeu uma ferroada na coxa, ou estou enganado... — Kiki franziu apenas uma sobrancelha e arqueando a outra pela desconfiança. — Aconteceu algo mais que não estou sabendo? Parece que a ferroada causou um bocado de dano pelo que vejo...

— NÃO ACONTECEU NADA DEMAIS! — respondeu Qüine de imediato ainda com a mão nas nádegas, massageando. — Acontece que... bem, ela interpretou mal a minha investida.

A cara de cinismo mesclado à malícia de Qüine não passaria despercebido por Kiki que franziu o cenho, indagando sobre a tal 'investida' mencionada pelo rapaz que tentava desconversar. No entanto, o ariano foi ainda mais incisivo.

— Qüine, eu te conheço suficientemente bem para ler esse seu sorriso. Você por acaso... — Começou falar Kiki, abruptamente cortado por Qüine que se voltara para ele.

— Opa, opa! Calma aí, não aconteceu nada demais! A minha única razão de ir até lá foi para...

— Espionar as meninas, seu ladrão de calcinhas.

A voz que ecoou na sala cortou a atenção dos dois, fazendo-os se virar em direção da entrada e ver uma garota de longos cabelos azulados caindo sobre os ombros e costas, uma franja cortando sua face coberta por uma máscara. Ela tinha os braços e pernas cruzados, o que indicava que estava ali escutando a conversa faz algum tempo.

— COMO É? LADRÃO DE... — exclamava Qüine, controlando o tom de voz e olhando a garota daquela noite, a quem Kiki disse se chamar Antares. — Aqui, não te ensinaram que é feio escutar conversas dos outros não, garota?

— E não te ensinaram que não se deve gritar com as pessoas? Que voz mais irritante! — disse ela num tom bem debochado. — Aliás, aviso que se pisar naquele campo de novo vai receber bem-merecidas ferroadas onde nem pode imaginar, idiota.

— Quem está chamando de idiota, sua louca? — Qüine desfez a cara brava e sorriu de canto, acompanhado de uma risada maliciosa e sacana quando a viu de corpo inteiro. — O quê...? Acaso aquela pegada virou sua cabeça, foi? — e ao dizer aquilo, nem precisava ver a expressão que seu rosto ganhou, pois ela logo desfez sua postura.

— Ah sim, virou tanto que não resisti em dar uma boa resposta. Aliás, já está conseguindo sentar-se ou precisa de ajuda? — o tom de Antares saiu impregnado de sarcasmo, fazendo Qüine fechar a cara novamente.

— Por que a pergunta? Podemos repetir a experiência numa noite dessas se gostou tanto. — respondeu ele no mesmo tom.

Por um momento os dois pareciam ter ignorado a presença de Kiki ali, que apenas assistia aquilo surpreso e piscando aturdido para aquela discussão. Ele soltou um suspiro e se levantou, puxando sua capa e olhando-os.

Ambos nem pareciam perceber sua presença, nem mesmo quando pigarreou. Sorriu de canto, discretamente e comentou de modo tão simplista que isso pareceu chamar mais a atenção dos dois que pararam de discutir e o fitaram com uma expressão de que não entenderam o que ele havia dito.

— Eu disse que vocês se conhecem há apenas dois dias e já estão assim... tão amigos. — Repetiu, mantendo os braços cruzados e vendo os dois trocarem olhares e se afastarem com aquela típica expressão de desprezo — ao menos visível por parte de Qüine, enquanto Antares apenas cruzava os braços.

— Nada haver! Ela chega na calada, escutando conversa dos outros... — Qüine numerava contando nos dedos, percebendo que ela balançava a cabeça como se o remendasse. Isso o faz parar e dar alguns passos em sua direção. — Aliás, não deveria estar ferroando alguém, mulher-cavaleiro?

Aquelas palavras soavam notoriamente pejorativas, ofensivas às Amazonas. Era uma maneira até um tanto 'machista' de se dirigir às mulheres que buscavam se tornar guerreiras, tantos quanto os homens, suportando os mesmos treinamentos rígidos, não havendo qualquer distinção de classe e sexo num embate.

Porém, mesmo após séculos e tanto a mentalidade humana ter se transformado, ainda havia o estigma que fazia muitos homens se dirigirem daquela maneira às mulheres aprendizes de cavaleiros.

Mesmo Kiki não esperava aquilo de Qüine, chamando sua atenção e se voltando para Antares quando viu sua unha carmesim crescendo e ela levantar a mão na altura do rosto, enquanto ele concentrava o cosmo em seu punho. Aquilo não seria bom para nenhuma das partes.

— JÁ CHEGA! Ou se comportam como futuro cavaleiro... — disse o dourado de Áries fitando Qüine incisivamente — ... e Amazona... — voltando-se para Antares. — ... ou tomarei as devidas providências como mestres de vocês dois para acalmar esses seus ânimos. Compreendido?

Se estavam a acalmar seus cosmos moderadamente, após aquelas palavras, ambos pareceram apagá-lo por completo. Os dois, Antares e Qüine, entreolharam-se mais uma vez e perguntaram um ao outro, mas mais para o próprio Kiki que para o outro.

— VOCÊ É APRENDIZ DELE? — gritaram juntos.

— Antares, tem a minha permissão para prosseguir. — disse Kiki incisivamente, prontamente atendido pela garota que o cumprimentou, desculpando-se e passando pelo ariano e o próprio Qüine que nada entendeu dali. O rapaz até a impediria, mas foi interpelado pelo ariano de modo bem ríspido. — Qüine, deixe-a ir.

Qüine apenas a assistiu atravessar o templo que era como um 'portão' para a entrada das Doze Casas Zodiacais. Ele assistiu sem entender o acesso que Kiki dava à garota, meneando negativamente, acompanhando-a subir as escadarias até o primeiro Templo, Áries, aquela guardada por seu então amigo e mestre.

— Espere aí. Você é mestre daquela garota e nunca me disse nada? — Qüine indagava Kiki um tanto contrariado, apontando com o braço direito em direção às escadas, enquanto o próprio ariano mantinha o olhar e a expressão sérios.

— Primeiro que não lhe devo satisfações quanto a isso, Qüine. Segundo que terá de me chamar de Mestre daqui em diante. — Qüine se desarmou, assentindo enquanto seus olhava para um canto qualquer da sala e levava as mãos à cintura. — Segundo que retomaremos os treinamentos a partir de amanhã e não vou aceitar desculpas. Estou sendo claro?

Mais claro que aquilo era impossível. Sabia que tinha sido agressivo com a garota, a tal Antares, chamando-a de 'mulher-cavaleiro', e sendo Kiki, também seu mestre, aquilo realmente o havia aborrecido. O tom sério que ele estava a falar naquele momento fez o jovem engolir a seco, fazer desaparecer o sorriso sacana do rosto, desculpando-se por seu comportamento inadequado.

— Melhor assim. — respondeu Kiki, ainda de pé e de frente para ele. — Eu ajudei Antares quando chegou no Santuário, trazida pelo Grande Mestre, ainda muito pequena. Não havia muitos cavaleiros na ocasião e a ajudei no que foi preciso.

Kiki já estava a seguir em direção das escadarias quando ouviu Qüine perguntar a respeito do Grande Mestre.

— Pensei que aqueles que chamam de 'lendários', como ouvi esses dias, ainda fossem cavaleiros de Athena.  — Kiki o olhou por cima dos ombros. Ele sabia a quem Qüine se referia. — Bom, com exceção de Shun. Não deve ser fácil ser ocupar uma posição de Grande Mestre.

Isso fez com que Kiki se voltasse para Qüine, perguntando o que ele havia dito sobre o Grande Mestre e ouvi-lo referir Shun como o próprio. Kiki fechou momentaneamente os olhos e sua expressão séria deu lugar a expressão de antes, fazendo-o rir, ainda que contidamente. Aquilo deixou Qüine, primeiro confuso, depois levemente aborrecido por entender que estava a rir dele.

— Está dizendo que Shun, o Cavaleiro de Andrômeda, é o Grande Mestre? — disse Kiki, confirmado por Qüine que explicava que foi quem o recebeu na Sala do Grande Mestre, no Templo do Patriarca em sua apresentação. — Qüine, acho que você fez confusão. Shun não é o Grande Mestre, mas ajuda nas partes burocráticas, sendo seu auxiliar. — Qüine piscava aturdido. — É verdade que na ausência do Grande Mestre ele assume seu lugar para receber os Cavaleiros. Ao lado de Shiryu, Hyoga, Ikki e Seiya enfrentaram muitas Guerras Santas, razão pela qual seja de total confiança de Athena e deixar o Santuário em suas mãos. Por que não me disse isso?

— Ahn, eu não sei... — Qüine levou a mão à nuca, um tanto envergonhado pela confusão que fizera. Por sorte não havia comentado aquela gafe com ninguém ou seria motivo de chacota. — Apenas me apresentei ao Grande Mestre como disse, e como ele nada disse também... Até fiquei surpreso dele ser o Grande Mestre... Ou será que disse? — e nesse momento ele desce os braços, franzindo o cenho. — Mas, Kiki... Se ele não é o Grande Mestre, então quem é?

— Você já o viu em Jamir, Qüine.

A primeira reação de Qüine foi um estranhamento e perguntando se realmente já o havia visto. Colocou sua memória para trabalhar, piscando na tentativa de se lembrar de alguém quando arregalou os olhos se voltando para o ariano ao se referir ao velho mestre.

— Sim, ele mesmo. O velho mestre, Atla, é o Grande Mestre e Patriarca do Santuário.


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Notas finais do capítulo

No próximo capítulo:
Mais novos antigos personagens entram na história.

[1] Para quem não se lembra, Atla é o pequeno aprendiz de Hakurei na saga 'The Lost Canvas', o responsável por levar toda a tropa para próximo do Castelo de Hades. Alguns chamaram ele de Mu, mas que possivelmente o ariano antecessor de Kiki pode ter sido alguém de sua linhagem - pela forte semelhança entre eles. Portanto, ele foi mantido e ele sim ser o verdadeiro patriarca do Santuário que deveria ter assumido o lugar de Shion. Isso é uma idéia minha, não de TLC ou da série original. Idéia para uma nova fic futura em construção.



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