Saint Seiya Memórias: História Oculta Do Santuário escrita por Katrinnae Aesgarius


Capítulo 15
Livro 1 :: Destilo - Ato 6


Notas iniciais do capítulo

Saga retorna ao Santuário, acompanhado de alguém que muito influenciará em Dualidade. Comenta brevemente de sua missão na Itália que poderá ajudar explicar muitos dos acontecimentos futuros.



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Caminhar sob aquele sol numa região inóspita da Grécia exigia bem mais que resistência física, mas também conhecimento. Há muito os pequenos vilarejos haviam ficado pra trás e dado lugar a zonas áridas com terra e rocha, sem indício de vegetação ou mesmo um rio — ele também havia ficado para trás, mas foi suficiente para encherem seus cantis de água para seguir viagem.

Pararam somente para um descanso na encosta de uma parede rochosa que oferecia uma sombra. Depositaram o volume que carregavam às costas no chão e sentaram-se sobre ela. Usavam roupas claras, mas de mangas e capuz para proteger-se do sol que castigava a região naquela época do ano. A água que haviam tomado tão fresca, estava quente, mas suficiente para matar a sede.

— Cazzo! Ainda falta muito? — perguntou um deles com forte sotaque italiano, mantendo a cabeça baixa após bebericar a água e jogar um pouco nas mãos e direto na nuca. — Sério... Diga que está perto porque não vejo outro vilarejo próximo, exceto atrás dessas muralhas rochosas e não espere que escale mais nada, Saga.

— Não estamos muito longe... Estamos a algumas horas de Rodório, o único vilarejo que cerca o Santuário. Devemos chegar antes do meio-dia. — respondeu o Geminiano de pé, diante do companheiro de viagem, retirando o capuz e revelando longos cabelos castanho entre médio a claro (azul, se preferir). — Muito cansado para continuar?

— Se não se importar, nem que seja alguns minutos... Eu sabia que o clima grego era quente, mas não imaginei que fosse tanto, mesmo vivendo naquela ilha. — respondeu ele retirando um cantil de água que carregava atravessado em corpo e bebericando pouco mais.

Por sorte haviam enchido suas reservas, mas cada vez que a hora passava se tornava mais quente e ele bebia mais e mais água em curto intervalo de tempo. Era o verão grego.

Não havia rio próximo, somente rocha e areia, além de um sol escaldante. Enquanto bebia a água, olhou para Saga, ainda de costas, percebendo o quanto parecia ansioso, nervoso. Riu baixinho, fechando o cantil e soltando uma risada cínica que chamou sua atenção, virando-se para olhá-lo intrigado perguntando do que ele ria.

— Não é nada, apenas estou curioso... Está ansioso demais para chegar ao Santuário desde que partimos da ilha... — dizia brincando com a garrafa. — Por que a pressa? Bom, se me permite perguntar, claro...

Saga o olhou hesitante, desviando o olhar e se sentando sobre o volume que trazia consigo, assim como seu companheiro que parecia bem mais relaxado agora. Ele tinha a pele morena e os cabelos eram um castanho escuro volumoso para cima com caimento na altura da nuca. Os olhos amendoados redondos e expressivos, num tom acobreado intenso.

— Assuntos pendentes que preciso resolver. — disse brevemente, bebendo de sua água sem maiores detalhes. Manteve-se em silêncio, a mente distante quando percebeu que seu companheiro ria. — O que disse?

— Le donne e la loro bellezza... — ele sorriu, percebendo que o grego não entendera nada do que disse.  — 'Mulheres e suas belezas'. Eu disse que tem mulher na jogada! Somente elas para deixar-nos assim... — e riu em seguida, bebendo mais água. Saga, por outro lado, desviou seu olhar, mantendo a seriedade. — Relaxa! Sei bem o que é isso... É bonita?

— É melhor irmos andando se quisermos chegar antes do meio-dia. O sol esquenta bem mais à tarde e precisamos nos apresentar ao Grande Mestre, apresentar o relatório da missão... — desconversou, já se levantando e fazendo alongamento com o braço. Saga percebeu que ele ainda o olhava, como se esperasse responder e bufou. — Ela é uma amiga minha. Viajávamos juntos vindo para o Santuário, e um incidente nos separou por alguns anos e nos reencontramos. Nada mais que isso.

— Nazar sempre vinha com essa também quando perguntava de como foi parar naquela ilha... velho e sozinho. — disse ele, balançando o cantil enquanto este batia em sua perna dobrada sobre o volume onde estava sentado. Estava recostado na parede rochosa, o olhar perdido mais adiante. — Ele nunca disse nada, nunca foi de falar muito e tive de aprender a lidar com ele. Porém, sabia que tinha alguma coisa, alguém que ele perdeu e não se perdoava disso. E não falo um companheiro de batalha, pois dizia que cedo ou tarde um cairia e outro tinha que seguir.

— Sólon falava dele com muito respeito. — comentou Saga, voltando a se sentar. — Sempre encontrava uma oportunidade de falar de Nazar quando ainda estava no Santuário, do quanto era respeitado, dito como o mais forte de sua época. Imagine o orgulho que deva ter dele.

Ele nada disse, apenas ficou a lembrar de quando chegou naquela ilha, perdido andando na praia até que foi acolhido por aquele homem.

O tato foi bem diferente daquele que estava acostumado, mas ainda assim não foi uma convivência pacífica. Foram anos de adaptação, e no fim achava que nunca se adaptara de fato, que falhara. Ao lembrar daquilo, riu, comentando com Saga sobre.

— Parece que ninguém teve uma convivência assim tão harmoniosa de início. Sólon era bastante exigente também. Quando você falou comigo na ilha e no barco, percebi de onde foi a influência. — comentou Saga, puxando seu cantil e bebendo mais água.

— Ele dizia que sentia falta de duas coisas no Santuário. Uma era o Grande Mestre, a quem chamava de amigo e conselheiro. Ele dizia que eu o lembrava muito em sua juventude sobre ser rebelde e respondão... — dizia o italiano rindo daquilo. — Acho que ele acredita que indo para o Santuário o tempo possa me moldar como fez com ele. Ele acredita que um milagre me ajude com esse meu jeito. — riu, bebendo mais de seu cantil. — Esse outro alguém era Sólon, seu mestre, Saga.

Nada mais foi dito entre eles após aquelas palavras. Ficaram em silêncio por mais alguns minutos até que decidiram continuar a viagem, seguir por debaixo daquele sol até Rodório que Saga explicou estar além de um morro. Não mais teriam que fazer outra escalagem, somente passar por uma garganta rochosa, para o alívio de seu companheiro que cobriu o rosto e a cabeça, assim como o Geminiano e, ambos, jogando o volume que traziam consigo, nas costas.

Saga seguiu na frente guiando-o, por aquela região, mas seu companheiro franziu o cenho, parecendo estudá-lo bem por alguns instantes antes de segui-lo

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Chegaram em Rodório no fim daquela manhã, como Saga havia calculado. Pararam direto na fonte da cidade onde jogaram água sobre suas cabeças e bebendo mais daquela água fresca. Aquela que trazia em seus cantis era não somente pouca como estava quente.

Enquanto descansavam ali, Saga comentou  sobre o vilarejo e de sua existência desde quando Santuário foi erguido e crescendo desde então, mantendo-se naquele clima tradicional e anacrônico. Aquilo soava curioso para o novato tanto quanto foi para Saga no início sobre como a cidade se mantinha.

Rodório era um vilarejo que havia estacionado no tempo, seguindo o modo de vida de uma Grécia Antiga Clássica, mas não tanto no sentido literal. As propriedades eram bem mais modernas quando comparado ao da antiguidade, mas mantendo um estilo simples que lembravam típicas vilas de uma Europa medieval, sem a existência das grandes muralhas fechando a região — ficando a cargo dos montes rochosos.

Era caracterizada com muitos corredores e propriedades com até dois andares e certo padrão: portas estreitas e janelas simples-borboleta — de abrir e fechar suas portas em paredes de pedras. As ruas eram em paralelepípedos e forte presença de arcos para demarcar blocos e esquinas pelo vilarejo.

No que condiz a economia em Rodório, ela fluía através da agricultura, o forte da região, com o cultivo de oliveiras — uma graça da própria deusa Athena e sagrado por eles —, do trigo e do vinhedo — embora a alta temperatura do dia, a região tem uma considerável queda à noite.

O artesanato é outro ponto forte na cidade, importando para cidades e vilarejos mais distante através do porto da Ilha dos Curandeiros, o único elo de Rodório para outras regiões.

A produção de cerâmicas, sobretudo de ânforas, é um dos mais tradicionais da cidade, pois eram responsáveis pelo transporte do vinho e do azeite, posteriormente de perfumes através do belo jardim próximo ao vilarejo com as mais exóticas flores da região — que afirmam ser da Era Mitológica.

A economia conseguia fluir bem, sob a supervisão do Patriarca que regia o Santuário e mantinha sua responsabilidade sobre o vilarejo, uma vez que ela ajudava também no sustento do lugar. Assim como a política feudal, parte da produção era separada para o Santuário de Athena, mas não mais que isso.

Armazéns, dentro de próprio Rodório, era responsável pelo armazenamento, sendo distribuído por igual nos campos de treinamento, fiscalizados nos alojamentos e templos. Por isso a presença de soldados e extensão de patrulhamento de cavaleiros no vilarejo, evitando roubos e sabotagens.

A presença de turistas era raridade, geralmente evitada. A presença de pessoas fora da região causaria espanto, primeiro pela limitação da tecnologia eletrônica, segundo pelo modo de vida que remetia qualquer estrangeiro se sentir na própria Grécia Clássica com aldeões com vestimentas que remetiam o período.

Era um bom refúgio para escritores que usavam essas pequenas cidades para inspiração, e isso somente acontecia nos dias de desta de adoração à Athena por se espalhar em muitas regiões. Alguns turistas arriscavam aportar na Ilha dos Curandeiros pelas lendárias ervas medicinais e, alguns poucos, chegavam à Rodório.

Saga passara algum tempo apresentando o vilarejo ao seu colega de viagem: sobre onde comer, vestir-se e outros comércios que pudessem atender suas necessidades ou mesmo 'fugas' do Santuário em quartos a serem alugados. Ao longo do caminho, o Cavaleiro de Gêmeos, como havia se tornado há um mês, era surpreendido pelos aldeões, e mesmo pelas crianças, que o saudavam com o devido respeito. A presença de soldados era grande, assim como de aprendizes e Cavaleiros e Amazonas menores.

Após toda a história e apresentação, era seguir para o Santuário propriamente dito. Muito já havia se passado e precisavam se apresentar ao Grande Mestre e anunciar sua chegada.

A passagem pelas Doze Casas foi tranquila, com uma rápida parada em uma das Casas Zodiacais para que uma urna fosse deixada: Câncer, seguindo adiante até o Templo do Grande Mestre. A grande porta dupla de madeira talhada foi aberta pelos guardas que liberaram a passagem de Saga trajando sua armadura dourada de Gêmeos, seguido do italiano, ainda com os trajes de viagem.

O Grande Mestre estava sentado em seu trono, acompanhado de Arles à sua direita, de pé, observando os dois Cavaleiros que se aproximavam.

Enquanto o italiano se prostrava diante do Grande Mestre, com um joelho junto ao chão e a outra perna dobrada apoiando os braços, Saga se manteve de pé, pedindo permissão para se aproximar.

Trazia consigo uma caixa em madeira escura com entalhes num ouro velho que descascava em muitas partes e deixando um esbranquiçado. Entregou às mãos do Patriarca, recuando dois passos de costas antes de se colocar ao lado de italiano e ajoelhar-se como ele.

— Saga de Gêmeos, vejo-o diante de mim antes do que realmente esperava, e isso mostra que fez um bom trabalho. — comentou o Grande Mestre com serenidade em sua voz enquanto mantinha seus olhos sobre o Cavaleiro e caixa repousando em seu colo.

— Sim, Grande Mestre. Realizei as inspeções como me pediu. Realmente encontramos uma célula da Organização Nero atuando na cidade e utilizando o porto para diversas atividades. — relatou Saga levantando a cabeça e olhando incisivamente para o Grande Mestre, com sua expressão séria e tom forte. — Nazar de Câncer foi quem conseguiu localizar a relíquia em suas mãos e obtendo antes de Jango, o Cavaleiro Negro que comandava a organização na ilha, mas que desapareceu antes mesmo de minha chegada. Infelizmente Nazar veio a falecer pelos seus ferimentos, mas trouxe comigo seu aprendiz de cavaleiro e a urna com a Armadura Dourada de Câncer.

O Grande Mestre manteve-se em silêncio por alguns instantes. Nazar foi um Cavaleiro que acompanhou a última geração e aquela da qual pertenceu mestre de Saga, Sólon de Gêmeos, sendo seu amigo e auxiliar até partir para uma missão fora do Santuário e se mantendo distante desde então.

A presença de Cavaleiros Negros estava crescente naqueles últimos anos desde que o selo foi aberto, e muitos haviam escapado da Ilha da Rainha da Morte e sendo responsáveis por muitas ações terroristas ao redor do mundo. Saga havia sido enviado com o propósito de investigar a presença de uma organização na Itália, uma da qual um antigo companheiro dourado de seu tempo havia sufocado uma vez.

— Entendo... Você seria o aprendiz de Nazar? — o Grande Mestre fez menção para que eles se levantassem. Saga abriu espaço para ele ficar quase ao seu lado, dando a permissão para que se apresentasse.

— Sim, tenho treinado com ele nos últimos sete anos, com quem aprendi sobre o estudo do cosmo e da minha habilidade... especial, digamos assim. Ele esperava um dia retornar ao Santuário para que pudesse... — ele não concluiu, deixando o silêncio reinar por alguns instantes. — Enfim, aqui estou para concluir meus treinamentos para que esteja apto a herdar o legado de Câncer.

— Espero que honre seu mestre, Cavaleiro. Saga o instruirá nos primeiros dias sobre as regras do Santuário com seus deveres. Deverá mostrar-se digno para a armadura. Ela que decidirá se deverá ser o não ser um cavaleiro. — instruiu o Grande Mestre e o italiano assentiu, curvando-se para frente. — Porém, ainda não me disse seu nome.

— O meu mestre, Nazar, me chamava de Mephisto, Grande Mestre.

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Mephisto. Assim que o italiano preferia ser chamado, assentido pelo Grande Mestre que os dispensou em seguida. Desceram pelas Casas Zodiacais, parando em Câncer onde foi permitido, ao discípulo de Nazar, permanecer desde então até que assumisse oficialmente a armadura após o cumprimento de um exercício da qual ainda não tinha total controle. Seria a última lição antes que fosse oficialmente o herdeiro de da armadura. As lições teriam início 'em breve' como foi dito pelo Patriarca, sendo necessário esperar.

Frente à casa de Câncer com descida para Gêmeos, observavam o Santuário, sobretudo o anfiteatro, onde algumas provas eram realizadas e Saga explicava o mapeamento do Santuário, como alojamentos de soldados e dos Cavaleiros de Prata de Bronze, o Campo das Amazonas e zonas de limitação outras regras pertinentes, sem contar outros pontos cegos e neutros do Santuário.

— Realmente, o Santuário é surpreendente. Quem diria que um lugar destes pode se manter escondido assim, desconhecido pelas pessoas. — comentou Mephisto com certa admiração, sem tirar os olhos do anfiteatro.

— Sim, eu também me admirava como até mesmo com grande tecnologia possam desconhecer esse lugar... se é que realmente a desconhecem. — os dois trocaram olhares conciliadores com ceticismo quanto aquilo. — Sei que há muitas partes do Mundo registrados como misteriosos. Sólon dizia que há muitas fendas dimensionais, como Monte Óthris, e o Santuário seria um deles.

— A Morada dos Deuses. Eu conheço a lenda. Foi a morada dos Titãs antes da Titanomaquia até a tomada dos Olimpianos que declinou a segunda geração de deuses. — Mephisto cruzou os braços ao fim daquela breve história e suspirando. — Faz parte da lição as epopeias gregas?

Saga riu daquele comentário, acompanhado por ele. Silenciaram-se por alguns minutos enquanto observavam as provas no anfiteatro onde dois aprendizes se digladiavam sem hesitar o uso de suas forças e habilidades com o cosmo. Os poucos presentes que assistiam, vibravam e condenavam a postura de um ou de outro, com seus mestres cavaleiros assistindo silenciosos o confronto.

— Como funciona a comunicação aqui, Saga? — Mephisto alternou seu olhar para o geminiano que mantinha o olhar fixo ainda no Anfiteatro. — Quero dizer... Imagino que haja muitos estrangeiros aqui como aquele oriental brigando lá embaixo. Eu sou italiano. Falo o grego por conta de Nazar que me ensinou, mas...

— Línguas é um critério que se aprende aqui com o tempo. — respondeu Saga dando de ombros. — Embora existam aqueles interessados a ensinar a língua grega... primeiro por ser oficial do Santuário e segundo por muitas inscrições existentes nos templos. A maioria comunica-se pelo cosmo, da qual parece que a língua é única! Não me pergunte como, é algo que nem mesmo eu sei explicar.

Aquilo poderia soar absurdo para quem quer que ouvisse, mas fazia sentido aqueles dois. A comunicação pelo cosmo, tão comum aos cavaleiros, parecia 'traduzir' as palavras de seus cavaleiros para com outro, criando uma linguagem única assimilado por ambas as partes. Claro, porém, o conhecimento da língua seria essencial.

Os templos mantinham inscrições e documentos antigos escritos em grego, relatando os antigos heróis do Santuário, e isso acabava por levá-los ao conhecimento do idioma de maneira quase inconsciente, assimilando num curto tempo.

— Por outro lado, a convivência não me parece muito pacífica... — comentou Mephisto ao avistar uma discussão que nasceu ao fim do teste e a maneira pejorativa que um aprendiz se dirigiu a outro como 'meteco' — um termo usado pelos atenienses na Grécia antiga aos estrangeiros.

— Isso tem sido mais comum que imagina. — explicou Saga respirando fundo. — A entrada de estrangeiros no Santuário nunca foi impedida por nenhum Patriarca, justificando que todos lutam pelo mesmo objetivo... Lutar pela justiça e paz na Terra.

Aquelas últimas palavras foi acompanhada também pelo italiano, acompanhado de ‘Dio mio!' e uma risada contida.

— Nazar sempre dizia isso, sendo parte de um juramento que me fez declamar tantas vezes. — e riu novamente, lançando um olhar ao céu, vendo o azul ganhar tons alaranjados enquanto levava a mão às costas. — Acho que começo a sentir o cansaço real da viagem... Mas confesso que essa tarde grega tem sua beleza.

Saga apenas piscou aturdido, olhando o céu por alguns instantes e descendo os olhos, a cabeça, 'desligando-se' momentaneamente de Mephisto que estava a falar algo e perdendo-se ao vento.

Por fim, moveu-se e dando às costas em direção às escadas, despedindo-se do italiano que o olhou sem entender daquele comportamento repentino. Foi algo que tivesse dito?

— Não, apenas um assunto ainda pendente. — comentou, virando-se para o companheiro de sua viagem e acenando, voltando a descer as escadas com sua capa esvoaçando e sumir de sua vista.

Mephisto cruzou novamente os braços, cerrando os olhos. Quando o viu desaparecer, sorriu de maneira cínica, levando uma das mãos na altura do queixo, coçando-a de leve com o indicador, rindo baixinho.

— Ainda não esqueci aquela sombra que vi em seus olhos, Saga... Huhuhu. — e seguiu até para dentro de Câncer, olhando a urna dourada brilhando e acioná-la, revelando a armadura dourada que reluzia em sua forma de caranguejo.

A última imagem que tivera dela ainda estavam na Ilha de Sicilia.

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Após pouco mais de uma semana que partiu do Santuário, Saga chegava à Ilha de Sicília, através do Mar Jônico que banhava o noroeste da Grécia — permitindo uma viagem rápida e sem escalas. Havia tomado uma embarcação pequena no porto da Ilha dos Curandeiro até o porto comercial de Mileto — como os estivadores preferiam chamar por sua antiga história com a batalha entre Lade e os Persas no século V a.C — com destino a Ilha de Sicília, na península itálica, tomando quase uma semana de viagem. Uma vez ali, tinha início sua missão que tinha o nome de Nazar.

Segundo as orientações do Grande Mestre, Nazar havia seguido para a região há quase 20 anos para investigar uma antiga organização, responsável por algumas ações terroristas e ligação com Cavaleiros Negros que fugiram da Ilha da Rainha da Morte após a morte de seu Guardião.

Nazar, apesar da idade avançada para um Cavaleiro de Athena — na ocasião, já em seus 50 anos — conseguiu sufocar a Nero, a organização mafiosa que se iniciou nas mãos de outro renegado conhecido por Shion como Don Avido e contido por outro Cavaleiro de Ouro de Câncer. Porém, novamente a organização dava sinal de vida.

Nas três semanas que se seguiram enquanto na ilha, Saga teve como dever encontrar-se primeiro com o velho cavaleiro como orientado pelo Grande Mestre, sendo possível através de seu aprendiz, o italiano que voltaria com ele mais tarde para o Santuário levando a urna de Câncer.

Embora tivesse sido chamado de o 'mais poderoso cavaleiro de seu tempo', a sua saída do Santuário deveu-se a cumprir um último dever que lhe custara quase 20 anos no pequeno vilarejo, agora subjugado pelos Cavaleiros Negros.

O porto havia sido a porta de entrada, pois era um dos poucos acessos no mundo a trafegar nas águas daquela ilha. Tráfico e contrabando era o comércio que imperava na região, além de muitas mortes e investidas terroristas que se espalhavam pela Europa naquela ocasião.

Durante as investigações teve ajuda de Mephisto. Chegaram ao que seria a base da organização, derrotando muitos cavaleiros, mesmo para o jovem italiano sem sua armadura, apenas utilizando de uma técnica que Saga chamaria de 'sombria' por remover a alma dos inimigos — chegando a acompanhar um pequeno grupo até próximo ao Yomotsu Hirasaka.

Ainda que não tivesse destruído a organização sem a prisão de seu líder, conseguiram ao menos fechar uma célula e recuperar uma relíquia que havia levado Gêmeos àquela ilha. Infelizmente, Nazar não resistira à batalha e sucumbido naquelas terras com seu dever de recuperar a relíquia há tanto perdida.

Após a saída dos dois cavaleiros, Shion se levantou com a caixa em mãos, chamando por Arles que observava o selo de Athena fechando a urna, perguntando do que se tratava aquilo. Somente havia uma razão para aquele selo.

— Isso é o que estou pensando, Shion? Essa urna é...

— Sim. Nazar o encontrou após quase 20 anos, e servindo de imã para os Cavaleiros Negros que a buscavam na ilha siciliana. — respondeu o Grande Mestre soltando o ar aliviado ao confirmar aquilo. — Tem ideia do que poderia acontecer se a encontrassem?

Shion observava a caixa em suas mãos, notando alguns respingos de sangue de alguém que deu sua vida para protegê-la. Sentiu-se tentado para algo, mas entregou de imediato a Arles que estava próximo e a recebendo sem hesitação, dizendo que a guardaria em Star Hill com outras relíquias.

— Não quero nem imaginar. O último vestígio foi o que... anos 30, 40? — indagou Arles vendo Shion concordar com aquilo. — Não podemos permitir que isso caia nas mãos erradas. Isso seria trágico!

— Ninguém deve saber sobre isso, Arles. — alertou Shion vendo o 'irmão' que assentia. — Mantenha guardada de maneira segura em Star Hill. Sabe onde deve ficar.

Só havia um destino para objetos como aquele: Sala das Relíquias. Era uma pequena sala onde diversos documentos e outros objetos místicos eram guardados.

Embora o templo fosse de acesso único aos Grandes Mestres, a sala mantinha seus segredos. Havia falsas paredes e livros nas cavidades rochosas que asseguravam objetos como aquela urna, camuflada por livros e pergaminhos — relatórios de missão e outros testamentos de antigos Patriarcais. Muitos destes datavam da Era Mitológica, sobre as Guerras Sacras e de Athena.

Em um desses documentos Arles encontrou sobre Sage e Hakurei, o último mestre de Shion, muito lembrando entre seus semelhantes.

Enquanto guardava a caixa, sentiu leve mal-estar, uma confusão mental que o fez, por pouco, deixar a caixa cair, mas guardando entre livros e pergaminhos. Precisou apoiar-se na estante de livros, fazendo soltar a urna, e tudo silenciou. Foi por isso que Shion entregou-lhe aquilo? Embora tivesse ouvido falar sobre, não imaginava o quão perigoso se mostrava. Porém, agora, estava seguro. Engoliu a seco e fechou a sala atrás de si e caminhando até fora do templo, mantendo-se bem próximo ao penhasco e com a vista para todo o Santuário.

A noite já avançava, mergulhando tudo na penumbra da noite, iluminado apenas pelas estrelas. porém, o manto azul, naquele momento, dera lugar ao rubro.

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Enquanto subia aquele monte, sua mente se voltou para àquela noite quando a deixou ali sozinha. Tinha ciência do quanto suas palavras tinham sido duras, e aquilo foi que mais o incomodou.

“Eu não quero ter uma ideia mais errada de você”, foi o que havia dito. Não pregara os olhos por toda a noite e estava decidido em encontrá-la naquele mesmo lugar. Tinha certeza de que a encontraria, mas foi abordado por um soldado com um chamado do Grande Mestre para se preparar para sua primeira missão, e ela já havia partido.

Quando a encontrou sentada metros à frente, Saga sentiu-se tentado em abordá-la, mas o que fez foi apenas ficar observando-a de longe enquanto via sua máscara em seu colo, junto com algo que reconheceu ser a flor que havia lhe dado um dia antes.

Não assistiu ao pôr-do-sol, pois seus olhos estavam somente para ela, mesmo que de costas. Conseguia ouvir sua respiração, um soluçar contido. Por algum momento pensou se seu coração não o denunciaria, principalmente quando a viu se levantar, assustando-se com ele ali. Estava mascarada, mas naquela noite, havia um brilho bem diferente.

Primeiro as trivialidades, mas algo o sufocava, impedindo-o de respirar. Sentia que ela queria dizer algo, mas havia medo, hesitação, a insegurança, e foi ele a quebrar aquele clima que estava a crescer, deixando-a sem ação, perdida.

A máscara impedia de ver sua expressão, os seus olhos, mas era como se seus cosmos emanassem silenciosamente e despissem ambos naquele momento permitindo enxergá-la através daquilo e contemplasse seus olhos, e prendeu-se a ele enquanto falava.

Não, não a permitiria interrompê-lo. Ele ensaiara aquilo mentalmente e não deixaria se perder. Estava deixando seu coração, seus sentimentos ganharem voz. Numa noite na ilha compreendeu o que ela havia feito, mas aquilo o deixava ainda mais enraivecido... não, enciumado.

Sim, ele foi tomado por um grande ciúme.

Quando menos percebeu, estava diante dela, tocando a sua face. Quando a viu remover a máscara e seus olhos se cruzaram com os dela... Sim, ele havia sido um idiota. Tomou-a em seus braços e roubava-lhe um beijo apaixonado. Naquele momento tinha a certeza de uma coisa: estavam destinados um ao outro e não permitiria que ninguém nem nada maculassem isso.


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Notas finais do capítulo

No próximo capítulo...
UM novo interlúdio com Quine, e com algumas 'revelações' que podem surpreender a todos com algo láááááá do primeiro. E será que conhecerão a garota misteriosa? E 'Dualidade' ainda não terminou. Sacaram bem a palavra de Mephisto e já sabem quem é ele? Enfim, aguardem!



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