Saint Seiya Memórias: História Oculta Do Santuário escrita por Katrinnae Aesgarius


Capítulo 12
INTERLÚDIO :: Van Quine


Notas iniciais do capítulo

Dando um pequeno corte na história para apresentar um pouco mais do Quine e sua personalidade, seus interesses e voltamos com nossos protagonistas no próximo capítulo.



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A noite caiu sobre o santuário. Alguns poucos aprendizes emendavam ao período noturno, mas logo cediam ao cansaço estafante de um longo dia quente de treinamento. Era tempo para uma ceia, um passeio pelas proximidades de Rodório até que, por fim, todos se retiravam para descansar nos templos que funcionava de alojamentos.

Poucos eram aqueles que possuíam alguma residência dentro dos limites do Santuário, alguns em companhia de seus mestres e ou companheiros de aprendizado. As propriedades eram rústicas — de pedras e cobertas por espécie de sapê com um único cômodo suficientemente grande para caber cama, mesa para atividades e refeições, cadeiras e um fogão à lenha que também servia de lareira para as noites frias — e as noites era bem fria por sinal.

Alguns templos antigos que havia dentro do Santuário funcionava para alojamentos para soldados e aprendizes mais experientes — estes prontos para embates para receber suas armaduras. Havia também alojamentos exclusivo para Cavaleiros conforme sua graduação, embora alguns também residissem em Rodório.

Com todos se retirando para o descanso, o patrulhamento era reforçado por soldados que ficavam a fazer ronda em pontos estratégicos, sempre comandados por algum cavaleiro designado para a segurança. Corredores e outras pequenas localidades eram vigiados em chão e em torres próximas, estendendo-se até o vilarejo que dormia 1h mais tarde que no Santuário.

Por outro lado, os patrulhamentos tinham demarcações, como soldados jamais terem permissão de entrar no Campo das Amazonas que tinham suas próprias vigilantes escaladas entre Amazonas e aprendizes mais experientes como sendo parte de seus treinamentos.

Teoricamente o Campo das Amazonas era parte do Santuário, mas sua localização estava pouco fora do ponto central. O anfiteatro funcionava como ponto zero do Santuário, dele partindo os templos adjacentes com alguns funcionando como bibliotecas e um pátio público que levava a torre do Relógio de Fogo com as Doze Casas Zodiacais, apagadas.

Somente uma vez suas chamas arderam naquele tempo quando cinco Cavaleiros de Bronze atravessaram as Doze Casas dando fim aos tempos sombrios no Santuário.

Entre corredores e ruínas, a entrada para o Monte Zodiacal que guardava as Doze Casas Zodiacais que protegiam o Templo do Patriarca e de Athena. No sentido contrário, corredores que levavam à Fonte de Athena com alojamentos onde muitos recebiam cuidados após danos sofridos em treinamentos.

Após a torre, as demarcações de invasão a este território eram marcados por algumas características peculiares: o rio que corta Rodório até outros vilarejos mais distantes que desembocava no grande lago que levava à Ilha dos Curandeiros, a Grande Árvore de Oliveira que diziam datar da Era Mitológica e presente da própria Athena  localizada próximo à Rodório e acompanhada uma parede de arbustos alta e extensa até a Pedra Caracol — exatamente lembrando um caracol petrificado por conta de sua forma trabalhada pelos ventos.

Diferente do centro do Santuário onde havia grande presença de ruínas e templos, essa área restrita às Amazonas era mais arborizada, ainda que houvesse um grande pátio de pedras onde era feito provas para graduação de níveis de aprendizado, mas bem mais para dentro do campo.

Isso poderia facilitar mais a invasão de intrusos no Santuário, mas o patrulhamento feito por essas mulheres era bem rígido, atuando como verdadeiras vigilantes. A vegetação permitia melhor esconderijos e camuflagens e, aqueles que invadissem o território sem a permissão, estavam passíveis a agressão das Amazonas.

Qüine pouco se importou com essa periculosidade.

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Com a lua alta e cheia, a iluminação do campo parecia maior com aquele céu limpo e estrelado. Ele saltou sobre a pedra caracol até a copa de uma árvore onde assustou uma coruja que espreitava sua presa pronta para o voo do ataque. Ele estudou o terreno buscando referências e desapareceu, surgindo no chão metros abaixo onde iniciou sua corrida por entre arbustos e árvores 'fechadas' daquele campo — sem perceber um brilho de um fio sob o luar escondido numa sombra próxima.

Entre saltos e corridas, com rápidas paradas para observar o campo, Qüine chegara até onde avistou uma árvore frutífera da qual seu tronco crescera curvada e deitada quase ao nível do chão, com grandes raízes que se estendiam por alguns metros e muitos cipós presa em seus galhos, datando ser centenária.

Ele sorriu por finalmente encontrá-la e correr, saltando até ela onde permitia subir de uns 30cm até pouco mais de 1,5m em altura em seus 3m de extensão do tronco inclinado. Baixara o capuz da capa que vestia e cerrou os olhos para avistar um casebre perdido nas brumas da noite.

O casebre seguia o estilo rústico, mas parecia abandonada, com trepadeiras cobrindo quase toda as paredes, as janelas fechadas, mas com uma lamparina presa próximo à porta. Toda área era de grama, havendo parte com terra batida e pedras próximo à entrada.

Ao redor da casa, havia um pequeno jardim tomado pelo mato, mas guardando ainda algumas rosas que se mantinham ali, resistentes. Eram brancas e vermelhas, bem diferentes das convencionais. Mesmo aparentemente abandonadas, mantinham-se belas e de cores bem vivas, bastante atraentes. Suspirou, piscando aturdido e olhando para a porta onde intencionou tocar quando seus olhos arregalaram com uma terrível sensação.

A sua ação foi 'desaparecer', surgindo no alto com um salto até o tronco da árvore, caindo de pé e dobrando os joelhos devido à queda para não perder o equilíbrio. Junto à porta viu a marca de três pontos que lembravam de uma agulha que ainda emanava certa energia, mas não viu a presença de qualquer um.

Seus olhos varreram a área e foi preciso agir rápido criando um escudo para se proteger de duas  outras em sua direção, não permitindo teleportar-se como na primeira vez. Porém, naquele momento, pudera encontrar seu agressor por conta do fio que brilhou de encontro a luz.

— Hey, tá louco!? Como vai atacando as pessoas assim? Isso pode machucar. — disse Qüine um tanto contrariado e descendo do tronco, se colocando de pé enquanto assistia a figura se aproximar mais da luz, notando o fio brilhante em suas mãos. — Uma Amazona? Não deveria estar dormindo?

— Acho que a intenção é exatamente essa, idiota! Você não tem permissão de invadir esse campo. Se não conhece as regras, vai pagar... POR NÃO CONHECÊ-LAS! — respondeu ela sem hesitar e deferindo mais golpes na direção de Qüine.

Qüine arregalou os olhos mais uma vez e desapareceu, teleportando-se para outro ponto. Porém, não pareceu ter sido rápido suficiente porque sentiu uma fina picada em sua perna, na altura da coxa, o que fez surgir ainda no alto e não calcular a queda, caindo no chão com uma dor excruciante que o fez cerrar fortemente os dentes.

"Mas que dor essa!? Senti como se picado por uma agulha...!"

Pensou Qüine olhando o furo em sua perna quando se levantou, ainda com o joelho dobrado apoiando o corpo e a outra perna esticada. Observou a Amazona se aproximar, as mechas caindo sobre seu rosto mascarado. Nem era preciso ver seu rosto para ver que sorria com satisfação por conseguir acertar um golpe.

— Até que você é bem rápido, mas não o bastante para fugir da minha agulha... E essa é apenas uma das muitas, minha preciosa presa!

— Olha isso... Falando assim me deixa muito excitado me chamando de 'minha presa'. — e sorri de modo sacana, não agradando muito a Amazona.

Não havia engano. Qüine sentia uma perversidade e excitação naquela voz enquanto a observava se aproximar a cada instante, parado, com os dentes cerrados pela dor e pela raiva que crescia dentro dele por seu vacilo. Ele a viu preparar mais uma vez seu ataque e avançar, e ele sorriu de canto.

O que a Amazona viu foi uma luz no punho do rapaz e esta explodir em sua direção quando ele esticou os braços e abriu as mãos, criando uma pressão tão forte que a sua reação foi cobrir o rosto e ser jogada longe, sem conseguir impedir que sua máscara se quebrasse em mil pedaços antes de cair ao chão.

"M-Maldito... Filho da puta! Como ele ousa..."

Pensava ela enquanto se levantava, o cabelo caindo sobre sua face levemente escoriada e um filete de sangue escorrer pelo canto da boca pelo corte provocado em seus lábios. Ainda estava desnorteada com aquele golpe explosivo. Não sentiu qualquer emanação de seu cosmo e de repente viu apenas a luz vir de seus punhos.

Qüine também se levantara, sentindo forte dor na perna, fazendo-o ranger os dentes e arfar. Olhou a garota se levantando, vendo que sua máscara havia sido destruída, e ficou surpreso em ver que a expressão dela não era de surpresa ou vergonha como era minimamente esperado.

Até onde sabia, uma mulher que tinha a máscara removida era passível de punições ou de um destino cruel: amar ou odiar aquele que viu seu rosto — e até ali a sua sede era de matar desde antes.

No entanto, o que Qüine viu foi uma expressão de muito contragosto e olhos levemente avermelhados por uma ira que refletia em seu cosmo. Ela não parecia se importar nem um pouco de ter perdido sua máscara, muito pelo contrário.

"Agora a porra ficou séria.", pensou Qüine observando aquela expressão. Ele tentaria argumentar, mas sentiu pequenas ondas envolver seu corpo como pequenas correntes elétricas, paralisando-o por completo. Conforme enrijecia seus músculos, a dor em sua perna se agravou, tornando aquela sensação ainda mais incômoda. Voltou-se para a garota e seus olhos brilharem. Sim, ela tinha sangue nos olhos.

— Acha que está doendo? — dizia ela enquanto se aproximava e levantando a mão. Agora Qüine poderia ver melhor aquilo que o atingiu: a unha da garota deveria ter uns 15-20 cm de uma garra que lembrava um grande ferrão escarlate que brilhava intensamente com a luz da lua. — Eu estava sendo piedosa, mas agora eu o farei conhecer a verdadeira dor.

Qüine tentava se mover, mas era impossível. Sentia todo seu corpo paralisado, da cabeça aos pés. Se um único golpe provocava aquela dor excruciante, o que faria uma dúzia delas, e pior! Até onde aquela garota queria chegar? Aqueles olhos não eram apenas de 'intimidação', era sede de matar, como de um predador para com sua presa... e ele era sua presa que a atiçara com seu golpe. Se não se livrasse daquilo, seria devorado!

"Ah, Kiki, juro que te mato! Deveria ter me avisado dessa louca", pensou ele com a cabeça baixa, o cabelo caindo sobre sua face nublada. Tentava inutilmente se livrar daquela restrição, o que provocou risos da garota que lambia seu ferrão, ferindo levemente a língua. Aquilo chegava ser humilhante. Primeiro se permitiu ser golpeado e agora ser aprisionado para ser alvo de uma insana?

— Oh, não fique assim... Cadê sua excitação de há pouco? Vai deixar uma garota na mão?

Qüine trincou os dentes, deixando uma raiva crescer dentro dele e deixou aquilo refletir em seu cosmo, tanto como ele a deixou após quebrar sua máscara — ou depois dela ser surpreendida com seu golpe? O seu cosmo agora não emanava somente em seu punho, mas em todo seu corpo, fazendo a garota arregalar os olhos e dar um salto para trás.

"Que cosmo poderoso é esse? Há pouco sentia nada e de repente isso? Quem é esse cara afinal?", pensou a garota vendo-o fechar os punhos e levantar a cabeça. Os seus olhos eram rubros e sua expressão era sisuda enquanto fitava aquela garota. A restrição que o aprisionava se desfez como se queimado pelo seu cosmo e depois disso ele desaparecia diante de seus olhos.

Tal como sentiu aquele cosmo ascender de maneira tão enérgica, ela desapareceu, como se jamais tivesse sentido algo e mergulhado tudo no mais completo silêncio. O lugar mergulhou no mais completo silêncio.

— Mas que diabo! Como é que... — dizia ela injuriada e intrigada quando ouviu um assovio próximo ao ouvido.

— Achou que a deixaria na mão, linda? — disse Qüine com uma voz bem sedutora, e antes que ela pensasse fazer algo, ele passou os braços por baixo aos da garota e suas mãos ganhando seus seios e puxando o corpo dela pressionando contra o seu. — Vamos dar uma voltinha, que acha?

A garota sentiu foi um grande puxão vir do peito e engoli-la. O que aconteceu naquele milionésimo de segundos foi a sensação mais confusa que jamais seria capaz de um dia imaginar.

A sua mente parecia mergulhar num looping infinito, como se ficasse a dar voltas e mais voltas numa velocidade extrema antes de perceber que estavam em queda e voltar uma, duas, três, dez vezes. O que ouviu foi seu grito antes de perceber que estava no chão, arfando... sozinha.

O que diabos havia acontecido? Estava presa numa ilusão? Quanto tempo havia se passado?

Olhou à sua volta em busca daquele maldito, levantando-se ainda desnorteada, zonza com aquela viagem dimensional — e ela conseguia ver ainda pontos brilhantes à sua volta e certo enjôo — até notar a iluminação no interior do casebre. Ela cerrou os dentes possessa e afiou suas garras, mais enfurecida que antes.

───────.∰.───────

Qüine empurrou a porta do casebre e olhando para seu interior engolindo a seco. A perna ainda doía como se tivesse levado uma ferroada, mas não tinha o que se preocupar por hora. Caminhou, mancando, observando alguns jarros de flores que pareciam ter sido colocados recentemente ali, sobre a mesa, do antigo fogo à lenha e até mesmo alguns ramos sobre a cama.

Era uma diversidade de flores dentre hortênsias, violetas, azaleias, orquídeas, deixando até um perfume agradável para um ambiente sempre fechado — mas não impedido de ser tomado pela poeira. Mesmo sobre a cama havia alguns ramos de flores, e ele abriu um discreto sorriso.

Caminhou alguns passos pela casa enquanto afastava a capa que vestia e revelando uma bolsa de couro que trazia com ele, e dele tirando o diário de sua mão. Folheou algumas páginas até onde uma flor seca marcava o capítulo e observando o chão. A poeira não ajudava muito, deixando tudo muito esbranquiçado. Isso o fez bater de leve naquele chão buscando algum som específico até encontrar um oco. Sim, deveria ser ali.

Guardou o livro de volta a bolsa e se agachou, soltando um gemido de dor ainda pela agulhada e praguejando, xingando aquela garota. Agachou-se com dificuldade e removeu aquele assoalho de madeira e tateando em busca de algo até encontrar, puxando com certa dificuldade. Tinha em mãos um embrulho envolto de uma amarra de tecido já amarelado com o tempo, e um pequeno broche dourado que o prendia.

 Ele caminhou até à mesa, onde depositou cuidadosamente o embrulho como se fosse uma joia rara. Removeu o broche e desfez o nó que prendia o tecido e revelando uma caixa ornamentada de madeira com fios dourados. Na tampa havia um S&S talhado em ouro.

Qüine sentia os olhos queimarem naquele momento, tocando aquilo com a ponta dos dedos e pronto a abrir quando ouviu um forte baque na porta, mas não se moveu, apenas recolheu os dedos.

— SEU GRANDE FILHO DA PUTA! EU VOU ACABAR COM VOCÊ E ENFIAR ESSAS AGULHAS ONDE NEM IMAGINA! — dizia já avançando contra ele quando sentiu chocar-se com algo invisível. Ela não entendeu nada, tocando com as mãos e recuando, sentindo outra parede às suas costas e aquilo a surpreendendo. — Mas que merda é essa? — dizia, sentindo outras duas paredes que a fechavam dentro de uma área em que mal poderia dar um passo. — MAS QUE MERDA É ESSA!?

— Nossa, o que tem de linda tem de uma boca... Pff! Será que pode ficar quieta? Estou querendo me concentrar aqui. — disse Qüine com ar entediado e puxando uma cadeira, voltando sua atenção à caixa.

"O quê!? Me tira daqui!"

A voz dela soava abafado por conta de estar enfornada numa caixa de cristal, mas Qüine desligou-se completamente dela e abrindo a caixa que se revelou de música, deixando ecoar pela casa.

A garota, que já socava a parede, ameaçando explodir com aquilo, se calou ao ouvir a música, franzindo o cenho e observando o semblante do rapaz: sereno e sonhador. Por alguns instantes ela percebeu que ele estava longe dali, e não estava errada.

Foram quase dois minutos até que a música cessasse e ele tocava na caixa. A garota também se calara, olhando-o ainda desconfiado, irada por sua ousadia, mas não sentia qualquer agressividade dele. Viu-o tirar algo da caixa, mas por estar de costas e seu corpo cobrindo maior visibilidade, somente viu um brilho antes de ouvir um baque surdo da caixa se fechando e se levantar, com dificuldade pela dor que se agravava a cada instante, e guardando o embrulho de volta à bolsa. Quando se voltou novamente para a garota.

— Ah, ainda está aí? Já tinha me esquecido já que parou de grunhir. — e riu baixinho, cerrando os dentes ainda pela dor. — Tá mais calminha, linda?

— Quem é você e o que veio fazer aqui? Aliás, o que diabos fez comigo que fodeu com a minha cabeça, desgraçado!? — dizia ela já evidenciando sua unha escarlate.

— Se eu fosse você eu não tentaria nada com essa unha, ou vai provar do próprio veneno. — aconselhou ele caminhando com dificuldade, apoiando-se em alguns móveis, olhando mais uma vez o ambiente. — E apenas a distraí, não queria mais perturbação. Além do mais... — ele sentia pouco mais a dor, levando a mão na perna. — Não tinha a intenção de te matar... ainda! — caminhou em direção da porta sem responder outra pergunta.

A garota apenas o acompanhava com os olhos, virando-se para ele e vendo-o sumir na porta. Naquelas condições, ele não ia muito longe. O seu instinto mandava fazer uma coisa, mas sua consciência exigia fazer exatamente o contrário, e ela bufou em raiva pelo conflito bagunçando os cabelos e cruzando os braços e recostando onde haveria de ter aquela maldita parede invisível, mas sentiu deslizar para o lado e ir direto ao chão.

Qüine apenas ouviu um baque surdo acompanhado de um palavrão. Queria rir, mas sentia tanta dor por uma única ferida na coxa que o impediu. Inclinou o corpo para frente, tocando na coxa e vendo o ferimento que poderia ter sido feito por uma agulha.

Praguejava lentamente quando sentiu uma tapa na bunda seguida de um apertão que encheu as mãos de alguém. Qüine se levantou rápido com aquilo, os olhos arregalados pela surpresa.

— Até que tem uma bundinha bem máscula! Seria demais enfiar 15 agulhadas bem caprichadas nela e te deixar sem sentar-se por um looooooooongo tempo. O que me diz? — diz ela dando a volta por ele e olhando sua perna e cruzando os braços. — Não respondeu o que roubou lá dentro.

—  Eu não respondi o que vim fazer aqui porque não é da sua conta... — disse olhando para ela e caminhando até a árvore, onde intencionou se sentar. — Se já gostou de apreciar minha bunda, não se importar de me sentar, não é? E posso dizer que seus peitos são bem macios por sinal...  — diz gesticulando com as mãos e fazendo cara de sacana e se sentando, sentindo um incômodo pela tapa, puxando a bolsa de couro para seu colo.

— Olha como fala comigo, idiota! Se não fosse da minha conta eu não estaria perguntando. — respondeu ela de maneira ríspida e olhar um tanto psicótico que fez Qüine encará-la por alguns instantes impressionando. Baixou o olhar, maneou negativamente.

Nem imaginava que hora seria aquilo, mas deveria ser tarde. Ficou calado alguns instantes observando o lugar sob o olhar desconfiado da garota que ainda o olhava cismada, de braços cruzados sem nada dizer, mas seu sorriso de pouco havia desaparecido.

— De quem são aquelas flores? — indagou ele se voltando pra ela, fazendo-a arquear as sobrancelhas com aquela pergunta. — Bom, há quem diz que elas são ótimas para acalmar as tensões, ajudar no autocontrole... Talvez o perfume delas tenham ajudado a te acalmar. — sorriu de maneira sacana.

— Ainda te devo 14 agulhadas e tenho uma mira impecável, e estou olhando para um alvo nesse momento se não me falar de uma vez... — dizia cruzando os braços.

— Mas também representava o primeiro amor. — Interrompeu ele com tom calmo e sereno.

Aquele tom desconcertou a jovem, tal como quando a música tocou no casebre e vendo-o limpar o rosto. Naquele momento ele se mostrou tão emotivo quanto, o que a deixava ainda cismada, mas não tanto.

Por mais sacana que fosse, não podia negar que era um rapaz bonito em traços fortes como se fosse uma obra grega esculpida. A aparência dele era muito familiar. Ele tirou o diário da bolsa e abriu a página onde tinha uma flor seca usada para demarcar o livro.

— Íris! Eu não vi uma íris naquela casa, e era a flor preferida dela, a flor que ele sempre presenteava minha mãe.

— Sua mãe? — a expressão dela mudou e descruzara os braços, recolhendo as unhas. Ela se voltou para a casa e arregalou os olhos, se voltando para ele.  — Você disse... sua mãe? Peraí! Está me dizendo que Selene de Pyxis... é a sua mãe?

Qüine se voltou para ela piscando aturdido, fechando o diário junto com a flor e assentindo em concordância. A expressão de surpresa daquela garota que parecia se recuperar de um choque — levando-a se sentar ao lado dele e rindo daquilo. Agora foi a vez de Qüine não entender absolutamente nada, piscando aturdido pra ela.

— Tá, agora eu que não entendi. O que exatamente perdi?

— Selene de Pyxis é uma das Amazonas mais respeitadas dentre nós, e muitas garotas teriam se espelhado no seu senso de justiça, de honra e coragem... e está me dizendo que é filho dela?  — Qüine a olhava com surpresa por aquelas revelações enquanto a via apontar para ele não com ameaça como nas outras vezes. — E bem, as Amazonas prestam uma homenagem a ela com flores roxas porque seriam a cor de seus olhos, aqueles capazes de interpretar as estrelas como dizem.

— Sim, ela era capaz disso. — dizia ele com orgulho olhando o céu estrelado e fechou os olhos, levando a mão a nuca e mordendo a língua de lado de um jeito bem moleque. — Infelizmente não herdei esse dom dela. Ela foi capaz de ver Pegasus e o surgimento de muitos cavaleiros, incluindo de... — e  parou de falar, baixando os olhos, fazendo a garota arquear o semblante curiosa. — Ela viu tantas coisas, mas jamais conseguiu ver o que estava diante dela porque o amava.

Houve breve momento de silêncio, acompanhada de um suspiro de Qüine que tocava a capa do diário e guardando na sua bolsa. A garota observou aquilo em silêncio sem perguntar do que se tratava aquele livro.

Viu que ele queria se levantar, mas dificultado pela dor na perna e forçando-se a se sentar. Ela revirou os olhos e colocou a mão sobre sua coxa, fazendo-o gritar de dor pela maneira como apoiou as mãos.

— Hey! Olha... Eu sei que avançamos algumas etapas, mas não estou moralmente bem para...

— Ah, cala a boca! — disse ela cortando-o abruptamente e ele vendo seu cosmo emanar em sua mão e sentir um calor na perna. A dor estava aliviando, até sumir. Mantinha apenas levemente dolorido, mas sem mais aquela dor de antes. — Eu deveria deixá-lo mancar até de volta ao Santuário e chutando sua bunda, mas vou relevar em consideração à sua mãe. Mas só desta vez!

Ele mexeu a perna, sentindo grande alívio e sorriu.

— E veio aqui para se tornar um cavaleiro? Porque, bem... Hei de admitir que aquele seu cosmo foi surpreendente...  — ela precisava admitir aquilo, pois ele foi capaz de anular a restrição imposta a ele.

— É mesmo, é? — disse ele se voltando para ele com olhar bem malicioso, notando a mão dela ainda em sua perna. — Eu sou uma caixinha de surpresas e certamente se surpreenderia com outras coisas.

Ele viu a unha dela crescer de novo e apontar para o meio de suas pernas, vagarosamente, e os olhos dela cerrando-se enquanto o fitava sem piscar, a expressão séria. Qüine engoliu a seco e se ajeitou no tronco desviando os olhos e limpando a garganta.

— Ahn, sim, mas apenas uma armadura me interessa. Ela já me reconhece como seu cavaleiro, mas não estou preparado para recebê-la. Não estou à altura dele, não daquele considerado o mais poderoso... — dizia de maneira confiante, retirando novamente a caixa de dentro da bolsa. — Eu preciso antes conhecê-lo, saber quem ele foi... Aí então estarei preparado para sucedê-lo.

— Sei... E quem seria esse cavaleiro 'tão poderoso'? — indagou ela com certo ceticismo.

— Saga, o Cavaleiro de Ouro de Gêmeos... o meu pai.

Disse Qüine com naturalidade e abrindo a caixa, deixando a música ressoar mais uma vez.


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Notas finais do capítulo

Ah sim, uma personagem nova em colaboração de uma amiga que, em breve - influenciada por mim, fará uma fic dessa amazonas psicótica. E verdade, sue nome não foi apresentado porque quero deixar uma ponta de curiosidade para o próximo interlúdio. Não existe muitos segredos aí, mas sua história e esses dois será deveras interessante. Nos próximos capítulos, o que podemos esperar por Selene e Saga? Será que desatam de vez? E já aviso que novos (velhor) personagens finalmente mostram sua cara.



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