Like a Girl escrita por Nerilla


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Primeira vez que escrevo uma Fanfic de Gintama, okay? Por isso, tenha paciência.



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A sala do Yorozuya estava silenciosa naquela noite, coisa bem diferente se comparada às noites normais.

Shinpachi havia saído mais cedo para se encontrar com os outros integrantes de seu fã clube antes de mais um show de sua amada Otsuu, Kagura havia ido brincar a algumas horas com Sadaharu e uns garotos da região, e no cenário tranquilo, Gintoki se encontrava em pleno sossego, deitado no sofá com a JUMP comprada recentemente naquela tarde cobrindo seu rosto adormecido.

Teria sido ótimo se a estranha calmaria tivesse perdurado por mais tempo, afinal, ele não descansava assim há dias. Contudo, algo subitamente interrompeu o estimado descanso do samurai; algo como uma garota chinesa coberta de lama e o adorado sukonbu entre os lábios, acompanhada de seu grande cão latindo animado e derrubando a porta da frente.

— Estamos de volta — anunciou ela ao entrar mastigando o último pedaço da alga seca. Em seguida, sentou-se no outro sofá com uma expressão cansada e pôs os pés em cima da pequena mesa de centro, cruzando-os em seguida.

Sadaharu também foi ao sofá, porém justamente no que Gintoki estava dormindo e se deitou sobre ele que, imediatamente, tomou um susto por conta do peso absurdo que sentiu em cima de si. Ele tentou se levantar, desesperado com a falta de ar, e ao conseguir, estava coberto com os pelos brancos do cachorro.

— Kagura, controle esse animal! — exclamou com uma feição levemente aborrecida, encarando a menina que cutucava o próprio nariz indiferentemente com o dedo mínimo. — Oi, Kagura!

— Cala a boca — respondeu no mesmo instante, inserindo o dedo na outra narina.

— Não me mande calar a boca, pirralha idiota! — Sakata esbravejou irritado, mas logo soltou um suspiro, vencido. Sabia que, mesmo se reclamasse, não surtiria efeito contra o gênio difícil da menina.

Nada podendo fazer, Gintoki sentou-se no mesmo sofá em que a pequena estava e a encarou com seu costumeiro olhar mórbido e braços cruzados. No entanto, um terrível fedor misturando suor, lama e odores não-identificados partindo da jovem Yato invadiu suas narinas de imediato. Em um ligeiro instante, seus olhos se encheram de lágrimas e dois de seus dedos conduziram-se ao seu nariz, tampando-o.

— Kagura, você está fedendo mais que Sadaharu, vá tomar banho — mandou pouco mais irritado por ver o descaso dela com a aparência suja e bagunçada. — Eu estou falando com você, Kagura!

— Cala a boca, Gin-chan. Você fede todos os dias e eu nunca reclamo. — Ela se levantou do sofá e se espreguiçou entre um longo bocejo. Coçou os cabelos e se aproximou do armário onde dormia, seguida do cão que logo se deitou na parte de baixo. — Vou dormir.

— Você não pode dormir desse jeito! Seu fedor está se espalhando pela casa e queimando os pelos do meu nariz! — o chefe do Yorozuya se levantou mais zangado. Sua paciência se tornava mais escassa a cada resposta da menina despreocupada. — Da forma que você vem agindo esses dias, acho até que não é mais uma garota!

Aquelas palavras não puderam deixar de afetar a Yato que, instantaneamente, parou de subir para sua cama. Ao perceber que seu simples comentário a deteve, um sorriso sarcástico se moldou vagarosamente em seus lábios, e ele prosseguiu:

— Que tipo de garota é você, hã?! Fede, vomita quase em todos os episódios, é grosseira, não sabe cozinhar, pouco se importa em limpar e não tem boas maneiras. Pelo que sei, garotas não agem assim! — ele soltou um pequeno sorriso mais irônico. — Se você ainda tivesse corpo... mas nem isso. Kagura—kun, tem certeza de que nasceu para ter peitos?!

Em seguida, uma longa risada partida do homem de cabelos prateados tomou conta do ambiente ao vê-la ainda parada, digerindo tudo o que ele dizia sem ao menos argumentar ou se mover. Todavia, a risada não durou muito. Ela parou no exato momento em que percebeu a outra calada por muito tempo.

— Huh... Kagura... -chan? — Gintoki sentiu-se ligeiramente nervoso com tamanho silêncio.

A Yato fechou a porta de seu closet e se aproximou devagar do antigo Shiroyasha com o rosto abaixado, porém, era possível notar que ela cerrava os dentes e apertava as mãos pouco trêmulas com força.

— Gin-chan... — murmurou; a raiva parecia ter se apoderado até de seu tom de voz que geralmente costumava ser alegre — ...Até você vai dizer isso?

— O que, Kagura-chan? — Agora, ele estava assustado. Era possível ver, inclusive, uma chama quente apoderar-se e emanar do corpo da chinesa à frente. — O quê?! O-O que foi?!

— Gin-chan idiota! — Kagura levantou o rosto, mostrando seus olhos azuis entristecidos derramarem trilhas de lágrimas e mordendo o lábio inferior com raiva, enquanto um pouco de secreção escorria do seu nariz. — Já não bastam aqueles garotos?!

— O q... — E após um breve soluço do choro, ela rapidamente transferiu um tapa forte no rosto de seu chefe que, tendo a fala interrompida, foi de encontro à parede, enterrando sua cabeça na mesma.

Depois de alguns minutos, Gintoki enfim acordou do desmaio. Ele retirou a cabeça do buraco formado, limpou os cabelos prateados e se levantou tonto, escorando-se na parede enquanto andava devagar pela sala. O fedor havia cessado e o local estava em incrível sossego, o que o fez desconfiar.

— Kagura... — chamou-a com uma das mãos sobre a cabeça, massageando o local que continuava a doer conforme se aproximava do closet. Talvez ela ainda estivesse triste com o que ele disse, e aquilo não fazia parte de seu plano. — Kagura!

Sakata ficou de frente ao armário e deslizou a porta para o lado, esperando ter a visão da jovem ali, abatida, zangada ou qualquer coisa do tipo. Entretanto, nem as emoções ou ao menos a própria chinesa estavam lá, o que o deixou ainda mais preocupado.

— Tsc, onde aquela pirralha de merda se meteu? — indagou para si mesmo em um resmungo levemente aborrecido e subindo no espaço onde a menina dormia diariamente. — Oiii!, Kaguraaa!

— Gin-chan — a Yato o chamou à frente da porta do closet ao vê-lo sobre sua cama, o que o fez se assustar e bater com a cabeça no teto —, o que você está fazendo?

— K-Kagura! — ele se retirou imediatamente do local com o coração acelerado por conta do susto levado e a cabeça novamente doendo. Contudo, ao observá-la, alarmou-se com o visual e com o cheiro agradável que a garota possuia.

Não eram vestes anormais, mas nem por isso deixava de chamar a atenção dos olhos avermelhados de Gintoki. Kagura vestia um kimono vermelho de comprimento curto. A faixa amarela que envolvia sua cintura, definindo-a, também dava destaque aos seus pequenos seios e finalizava-se em suas costas formando um grande e belo laço. As meias com listras vermelhas e pretas cobriam suas pernas, deixando apenas uma pequena parte de suas coxas à vista. Não calçava as botas pretas, prendeu o cabelo ou fez a maquiagem. Estava mais simples do que da última vez que usara aquela roupa em Yoshiwara. Simples, porém, encantadora.

— O-Oi, que é isso?! — ele a fitou surpreso de cima a baixo, um pouco nervoso. — K-Kagura-chan, todo aquele sukonbu finalmente afetou sua cabeça?

Ela mal conseguia manter os olhos abertos para ver o quanto seu chefe estava pouco à vontade com a situação na qual agora se encontrava. Sentia sono, ignorava o que o antigo Shiroyasha dizia e pouco queria falar.

— Vamos logo — pronunciou séria.

— Já está tarde — Sakata mantinha as maçãs do rosto levemente coradas e desviava o olhar das roupas que a garota usava, enquanto coçava o pescoço. — Esqueça essa bobagem e vá dormir, temos que trabalhar amanhã.

Kagura o observou com indiferença e pegou com força o pulso esquerdo do samurai, fazendo a mão dele tomar uma coloração arroxeada. Sua voz não parecia ser de raiva, mas teria se tornado fria o bastante para deixar Gintoki com receio:

— Cala a boca, Gin-chan — dizia puxando-o entre os gritos que ele soltava pela quantidade de força que ela colocava ao segurá-lo —, vou mostrar que sou sim uma garota.

— O-O quê?! — Sakata assustou-se com a fala da pequena que o colocou sentado sobre o sofá, liberando em seguida seu pulso, e se afastou. Ficou surpreso com o quanto suas palavras a teriam afetado e até mesmo começou a sentir certo peso na consciência. Talvez não devesse ter dito aquilo. — Kagura-chan, o que você vai fazer? K-Kagura!

A chinesa voltou pouco tempo depois segurando dois copos de vidro, um pano e uma caixa de leite de morango. Ela se sentou ao lado de Gintoki, pôs os copos sobre a mesa de centro, abriu a caixa da bebida e derramou lentamente seu conteúdo neles.

— Aqui está sua bebida, Gin-chan — falou após tantos minutos em silêncio, colocando a caixa entre os copos.

— A-Ah, você decidiu virar uma hostess a essa hora da noite para provar que é uma garota? Hmph, até travestis fazem isso — ele suspirou cansado fitando a bebida, no entanto, aliviado por não ser o que pensava. — Seria bom um pouco de sake...

— Beba — a Yato colocou a mão atrás da cabeça do chefe e a empurrou contra o copo na pequena mesa que instantaneamente se quebrou devido ao impacto. — Gin-chan, não faça bagunça.

— Si-Sim... — assentiu trêmulo ao erguer o rosto que agora tinha, além de um sorriso nervoso, dois finos rastros de sangue mesclados com o leite que pingavam ao se encontrarem em seu queixo.

— Beba — ordenou outra vez ao limpar a mesa e servir o leite no segundo copo.

“Merda...”, o chefe do Yorozuya pensou, pegando o copo. “É melhor terminar logo com isso para que eu possa finalmente dormir”.

Gintoki bebeu o leite de morango em apenas três rápidos goles. Colocou o copo vazio sobre a mesinha e soltou um suspiro entre um grande sorriso para ao menos tentar agradá-la.

— Ahh... Pronto! Agora... — sua fala foi subitamente interrompida ao ver a Yato colocar mais leite em seu copo. — K-Kagura?

— Beba — mandou.

— S-Sim!

Aquela situação, infelizmente, perdurou por diversas caixas de leite de morango. Sempre que o copo era esvaziado, não demorava segundos e ele já estava cheio novamente. O que parecia que duraria cinco ou dez minutos no máximo, durou horas silenciosas que deveriam ter sido gastas em um bom sono. Por fim, Sakata estava esgotado, sonolento, e se não desse logo um fim naquilo, era só uma questão de tempo para a décima e última caixa de seu estoque chegar.

— Kagura, já chega. — O homem reclinou a cabeça para trás até que a encostasse no sofá e encarou o teto, exausto, e com o estômago cheio. Seus olhos pesavam e sabia que em algumas horas teria que acordar, caso estivesse dormindo. — Não precisa agir feito a péssima hostess que é para provar nada.

A Yato ficou calada, segurando a nova caixa da bebida. Ela fechava os olhos algumas vezes e seu corpo cambaleava, no entanto, logo tornava a acordar toda vez que lembrava de que teria que servi-lo.

— Me escute, Kagura. Você é sim uma garota — Gintoki disse abaixando a cabeça e voltando as íris cansadas para a menina. Não sabia muito bem o que dizer, contudo, falaria qualquer coisa que lhe viesse à mente para acabar com aquilo, ou não terminaria nunca. — Mesmo que não cozinhe, não limpe, não tenha maneiras, seja grosseira e vomite, você não deixou de ser uma garota. Essas são as características que definem tanto você como Kagura, quanto como a garota heroína da JUMP. Orgulhe-se disso, já que é o que a torna exclusiva.

— Gin-chan... — os olhos azuis despertaram mais um pouco com as palavras ditas pelo seu chefe em um tom de voz firme. — M-Mas os outros...

— Você não deve se preocupar com as coisas que os outros dizem, ou terá rugas cedo — interrompeu-a. Ele colocou uma das mãos sobre os cabelos rubros da menina e os acariciou gentilmente, exibindo um sorriso reconfortante. — Entendeu?

— Entendi, Gin-chan! — a pequena o fitou com um pouco de lágrimas nos olhos emocionados, mas nada que ofuscasse o belo sorriso que se abriu em seus lábios.

— Ainda bem... — o homem retirou a mão da cabeça dela e coçou seus próprios cabelos. — Agora, troque de roupa e vá dormir. Falta de sono prejudica garotas em crescimento.

— Sim! — contente, Kagura se levantou do sofá com os olhos brilhando de alegria e se afastou para ir ao banheiro e mudar as vestes. Agora, ela se sentia bastante animada, não só por ter feito o antigo Shiroyasha mudar de ideia, mas sim, pelas coisas que ele dissera.

Com o sorriso da pequena, até Gintoki sentiu-se melhor. Parecia que aquele sorriso pueril eliminou todo o peso que as lágrimas dela tinham depositado em seu coração. Era bom vê-la feliz, e melhor ainda, era deixá-la feliz.

— Ah, Gin-chan! — chamou-o assim que voltou para a sala, usando o pijama para dormir.

— Hã? — ele virou a cabeça para trás, repousando-a nas costas do sofá novamente, e teve uma singela surpresa.

A pequena Yato afastou os bagunçados cabelos prateados com cuidado e deu um beijo delicado no meio da testa do samurai, que permaneceu imóvel, apenas sentindo a suavidade dos finos lábios rosados em sua pele.

— Obrigada! — agradeceu sorrindo com a voz alegre de sempre ao término do beijo e, em seguida, tomou distância.

Ele ficou em silêncio, somente mantendo os olhos sem expressão fixos na Yato até mesmo quando ela entrou em seu closet e fechou a porta.

— Pirralha idiota... — comentou após olhar por quase meio minuto a porta fechada do armário.

Sakata bocejou, levantou-se, e coçou a barriga. Não tardou em se arrastar em direção ao seu quarto, contudo, com o diferencial de um pequeno sorriso destacando-se em sua expressão exausta e, inclusive, pouco corada.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenha ficado boa.
Obrigada por ler, baby.
Bgs desu ♥