— Você espera aí, – Apontei para o sofá – Eu vou ao quarto conversar com ela.
   — Como preferir –Gil falou – Mas eu ainda não entendi o que está acontecendo...
   E eu entendia perfeitamente. Ju estava com ciúmes e eu sabia exatamente como era isso. Não que ela tivesse motivos, mas eu também sei como é ver o seu namorado próximo de outra garota, mesmo que essa seja apenas a melhor amiga do dito cujo. Afinal, quantas vezes eu não tive ciúmes de Bruno com ela, Mel, Lia e até com a Malu? Sem falar na Emily, é claro.
   —Ju – Falei ao entrar no nosso quarto.
   — O que é? – Soltou ríspida – Cansou de ficar na rua com o Gil? – Questionou irônica. 
   — Você está insinuando o que? Que eu estou me jogando em cima dele? – Perguntei ofendida.
   — Eu não disse nada.
   — Mas pensou! E isso já é o decepcionante o suficiente.
   — Ah, fala sério, Fatinha! Há quanto tempo vocês são amigos? São tão íntimos que eu fico apavorada!
   — Você e Bruno também são amigos há anos e eu não fico dando crises de ciúmes.
   — Vocês. Já. Namoraram. – Ela falou pausadamente e com os dentes trincados.
   — E daí? Você e o Bruno já transaram! Inúmeras vezes! Acha que é legal saber que o seu namorado já transou com a maioria das suas amigas?
   — Deve ser tão bom quanto ver o seu namorado e a sua ex, amigos de longa data, cheios de intimidade.
   — Cheios de intimidade? Que estranho, Ju, eu pensei que você soubesse que eu sou fiel ao meu atual namorado. Mas, mais importante, fiel à minha amizade com você.

  Ela abaixou a cabeça e se sentou em uma das camas.
   — Me desculpe – Murmurou tão baixo que se não estivéssemos só nós no quarto, eu nem teria escutado.
   — Olha, eu entendo você. Entendo de verdade – Sentei-me ao seu lado.
   — Eu não sei o que deu em mim, Fatinh. Eu não sou assim, mas aquela proximidade de vocês... – Me abraçou quase chorando.
   — Ah, imagina. Agora vamos lá fora, seu namorado está lhe esperando – Sorri.
   — Vamos! – Retribuiu o sorriso, ajeitou o cabelo e fomos até o saguão.
   — Ju! – Gil exclamou aliviado – Por Deus, o que deu em você hoje mais cedo?
   — Nada não... Foi só uma dor de cabeça momentânea – Deu um sorriso fraco.
   — Ah, entendi! Então foi por isso que você não quis ficar no jardim conosco? – Perguntou confuso.
   — Foi, foi sim – Respondi rindo.
   O resto do dia foi calmo, ficamos conversando no saguão. Na verdade, o resto da semana se passou assim. Eu estava completamente feliz com a minha vida, afinal, ela não poderia estar melhor. Tudo que é bom dura pouco... Por que esse ditado não saía da minha cabeça?

 — Fatinha! – Malu exclamou assim que entrou no meu quarto.
   — Hey – Sorri.
   — Sabe o que eu acabei de descobrir? 
   — Não.
   — Meus pais se mudaram para Nova Iorque e nem me avisaram antes! 
   — Ah... Nossa, Malu, que... Legal? – Perguntei confusa e tentando entender o porquê de ela estar me falando isso.
   — Nem tanto. Eles me convidaram para ir morar com eles, e...
   — E você disse que não, certo? – Trinquei os dentes.
   — Na verdade... Eu disse que ia pensar. Ah, para de me olhar assim, Fatinh! Você sabe que Nova Iorque é praticamente o berço de moda dos Estados Unidos, eu teria muito mais chances de ser uma estilista com sucesso se terminasse minha faculdade lá.
   — Eu sei, mas... Eu sentiria a sua falta – Fiz beicinho.
   — Quem disse que você se livraria de mim? Eu viria visitar vocês toda semana – Riu.
   — Uou! A vida está fácil assim para você atravessar o país toda semana? – Brinquei.
   — Se eu for uma estilista famosa, estará.
   — Mas já está decidido?
   — Não, eu ainda tenho que ver se passaria para alguma faculdade de lá... E para isso vou ter que prestar mais um vestibular. Eu não agüento mais estudar!
   — Você é inteligente, sabe que consegue...
   — O problema nem é esse. 
   — E qual é?
   — Eu e Fera... Como seria daqui para frente? Eu sei que ele não continuaria o nosso relacionamento se nos víssemos pouco. Mas eu também não quero terminar com ele, não agora que está tudo bem. Não agora que eu já me apeguei a ele... 
   — Oh, que fofa – Ri.
   — Por isso eu estou o convencendo a fazer a prova do estágio.
   — Hã?

— Assim,Fera está na terceira fase da faculdade. Da segunda em diante, você já pode fazer um teste que indica se você já pode começar a trabalhar em alguma empresa como estagiário. E nem sempre essa empresa é na mesma cidade em que você está cursando, então você é transferido para outra faculdade do mesmo ramo. Esse ano, os testes são exatamente para a cidade de Nova Iorque. Já pensou se ele passa? Seria perfeito – Deu um sorriso bobo – E, agora que Bruno decidiu que faria o teste, eu tenho mais chances ainda de convencer Fera a fazer também!
   — Espera! Como assim o Bruno vai fazer o teste? Ele não me falou nada!
   — Relaxa,. Ele vai fazer apenas para testar o conhecimento dele.
   — Ah... Acho bom.
   — Você tinha que ver a sua cara – Gargalhou.
   — Muito engraçado, Maria Luiza.
   — Eu sei. Eu sou hilária.

   É incrível o poder que algumas pessoas tem de conseguirem mudar. Eu nunca pensei que diria isso, mas nas últimas semanas Bruno estava sendo o namorado mais perfeito que você poderia imaginar. Não que ele estivesse meloso ou muito romântico – eu sabia que isso ele nunca seria –, mas eu conseguia ver o quanto ele se esforçava. E, bem, isso já me era o suficiente. 
   Ele mudara.
   Por mim.
   E era exatamente por isso que eu sorria a cada instante que estava com ou sem ele. Eu já não me preocupava mais com as outras garotas, naquele momento eu sabia que ele era meu, desde a primeira vez em que eu vi nos olhos dele que o seu sentimento era totalmente recíproco ao meu. Totalmente. 
   Devido àquela prova do estágio, Bruno estava sempre ocupado estudando. Mas, na maioria das vezes, ele conseguia arranjar um tempo para dar atenção para mim. Preciso dizer o quanto eu sou felizarda? 
   Hoje era um dia desses. Eu estava no seu quarto observando-o a estudar.
   — Você quer que eu saia com você? – Perguntou de repente e deixou o livro de lado.
   — Não precisa... Eu estou atrapalhando você?
   — Claro que não – Ele riu.
   — Sabe, eu estava pensando... Se você passar nesse teste... Você iria para Nova Iorque?

 — Não sei. Você gostaria que eu fosse? – Perguntou em um tom de humor.
   — Na verdade, nunca – Respondi séria – Mas eu também não quero atrapalhar o seu futuro.
   — Eu posso ter um futuro bom aqui. 
   — Mas você não estudaria tanto para um teste se não quisesse passar nele...
   — E eu realmente quero. Mas isso é só para ver como eu estou, até onde eu poso chegar. 
   — Testar os seus conhecimentos?
   — Isso também. Eu já disse, eu só vou se você quiser que eu vá.
   — Ah, então se prepare para ficar em Los Angeles pra sempre – Ri.
   — Fala sério, você não vive sem mim – Brincou.
   — Não vivo, mesmo – O abracei apoiando minha cabeça em seu ombro. 
   — Oh, que fofa – Riu e enlaçou as minhas costas com seus braços enquanto eu sorria abobadamente.
   — Sabe o que mais me deixa mal? Sua mãe e sua irmã moram em Nova Iorque. Mais um motivo para você supostamente querer ir para lá. Assim não vale, eu fico em desvantagem – Ri pelo nariz.
   — Nah, é diferente. Minha mãe eu posso ver uma vez por ano e ela continua sendo a minha mãe, a nossa relação continuaria igual. Se eu visse você nem que uma vez por mês, não seria a mesma coisa. 
   — Verdade. Já pensou? Uma recaída sua e você me trai com uma nova iorquina gostosa? – Brinquei e ele gargalhou.
   — Eu nunca trairia você – Falou ainda terminando de rir, mas ao mesmo tempo sério.
   — Não estou falando que trairia, mas você acha que conseguiria passar 29 dias sem ficar com alguém?
   — Você ainda não acredita no que eu sinto por você, não é?
   — Acredito. Mas saber que você já ficou com uma boa parte das garotas daqui, além de todas as minhas amigas, não me deixa mais tranqüila. Confesse que, analisando o seu passado e o meu, as chances de traição são maiores para o seu lado...
   — Eu nunca fiquei com a Malu, e... Sim, eu confesso. Mas eu não sou mais assim.
   — Eu sei. Mas vai que você cansa de mim? – Perguntei e ele riu.
   — Por que eu me cansaria de você?

   — Sei lá, eu sou toda boba. Mas não vamos desviar do assunto. Você sabe que eu te amo e confio muito em você, mas nada apaga o fato de que foi só nós darmos um tempo que você já ficou com outras garotas. Por que isso não se repetiria?
   — Você não é toda boba – Riu levemente – E essas são situações diferentes. 
   — Inclusive com uma na minha frente!
   — Tudo bem, tudo bem... Vamos mudar de assunto, isso já faz tempo. Não brigamos há dois meses!
   — Eu sei. E isso me deixa feliz – Sorri e voltei a encostar a minha cabeça em seu ombro. Ele soltou o ar pausadamente, como se o que fosse dizer a seguir o deixasse um pouco nervoso... Algo que era difícil para ele dizer. 
   Minhas suspeitas foram confirmadas quando ouvi a frase que me fez sorrir por horas e horas...
   — Eu nunca deixaria você. Não enquanto você me quisesse aqui. Você sabe disso, nós dois sabemos. Não é porque eu tenha ficado com outras garotas naquela época que eu não estava sofrendo. Eu sentia a sua falta, era óbvio. Aquele dia na praia... Bem, não era nesse dia que eu imaginava voltar com você. Mas talvez eu tenha ficado... Preocupado ao saber que tinham visto você ir para os fundos da universidade sozinha. Preocupado e ao mesmo tempo feliz, porque eu sabia para onde você estava indo. E eu gostei de saber que você aderiu o meu esconderijo – Falou a última frase com humor.
   — Eu te amo – Respondi simplesmente e ele entendeu que eu tinha ficado contente ao saber de tudo isso. Ele devia saber o quanto aquilo era importante para mim, uma idiota romântica e patética – Ah, e o seu esconderijo é ótimo – Ri.
   — Ele é mesmo...