Meu Querido Meio Irmão - Brutinha escrita por Juliana


Capítulo 75
Capítulo 75




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 — Ah, você quer a verdade? Então tudo bem. Ele disse que até gosta de você, mas um relacionamento sério está totalmente fora de cogitação agora. Tudo o que está acontecendo é novo demais para ele, e enquanto isso ele prefere ficar transando com dezenas de outras garotas. O que acha disso? — Perguntei um pouco irritada, mas logo me arrependi totalmente do que fiz. A expressão de Ju era algo muito além da “surpresa”, ela estava praticamente horrorizada.
  — Eu o entendo — Ela disse com um fio de voz, colocou a bandeja em cima da mesa e saiu rapidamente do refeitório. Não pude ver se ela estava chorando, mas provavelmente estava.
  Decidi deixá-la um pouco sozinha – dizem que é bom para refletir. E sentei-me na mesa em que estavam Bruno, Mel e Malu.

Narração: Juliana.
  Certo. Só há uma coisa pior do que um amor platônico; seu amo saber desse sentimento. E quando se trata de Gil, isso não torna as coisas melhores. Para começar que todas as garotas deste recinto parecem ter elegido ele como o mais novo “príncipe” da faculdade. Justo o Gil! Tudo bem que ele é bonito, simpático, divertido, tem um par de olhos que... Enfim. Vocês entenderam. 
  Eu estava andando pelo pátio e sentei-me em um banquinho, botando minha bolsa ao meu lado – para nenhum inconveniente sentar-se e me incomodar, é claro – e peguei o único livro que havia dentro dela. Eu precisava me distrair e para isso, nada melhor do que um Romance Policial; que de romance não tem nada. Que bom, porque o que eu menos queria neste momento era algo que me lembrasse ele.
  Mas, depois de um tempo, percebi que tem alguém aí em cima que me odeia. Qual é? Eu não sou uma garota tão má assim! Infelizmente, só eu acho isso. Enfim, aconteceu aquilo que eu temia desde que saí do refeitório: cruzar meu olhar com o de Gil.
  Eu já estava um pouco mais relaxada, com as pernas cruzadas como as de índio e ainda lendo o meu livro quando ele se aproximava. E não estava sozinho. Por sorte, quem o acompanhava era Fera. Mas, mesmo assim, eu não deixei de ficar tensa. Eu não sabia de qual modo eu me sentiria pior – ele vindo falar comigo, ou fingindo não ter me visto, como fez. É. Eu sempre soube que Gil não gostava de drama, então teria de me acostumar com ele fugindo de mim por um tempinho. Fugindo da rainha do drama. Eu sei. Eu tenho muitos apelidos por aqui, ha-ha.
 O sinal indicando o fim do almoço bateu e eu não estava com ânimo algum para mais duas aulas. Decidi matá-las, não me fariam mal algum. Como o monitor do corredor dos dormitórios estaria inspecionando o saguão e os quartos a cada meia hora para certificar-se de que não havia ninguém ali, resolvi dar uma volta em uma parte mais isolada do pátio.
  Até este momento eu ainda não havia derramado uma lágrima sequer. Não que eu seja insensível, ou coisa do tipo, eu só não gostaria de chorar na frente de todos. Odeio que sintam pela de mim. Mas, aqui, longe de tudo e todos, eu estava livre para isso. 
  Sentei-me no gramado mesmo, e dobrei minhas pernas, segurando minhas canelas. Afundei minha cabeça em meus joelhos e todo o choro que eu havia engolido há alguns minutos voltou com uma rapidez surpreendente. Eu não deveria estar chorando por Gil. Ou melhor, estar chorando por ele não gostar de mim da mesma forma. Ou ainda melhor, como Fatinha disse, ele gostava de mim. Então por que não vinha logo falar comigo, droga? Ah é. Gil não queria compromisso. Los Angeles é legal demais para tal. Uma pena. Para mim. Para ele. Para nós.
 Ouvi o sinal indicando o término das aulas bater. Eu não imaginava que tinha ficado tanto tempo naquele local. Ainda mais chorando. Levantei-me num pulo e corri para meu quarto. Eu não estava nem um pouco a fim de encontrar qualquer pessoa que fosse – principalmente Gil– e me vissem os meus olhos vermelhos e inchados, por isso tinha que aproveitar o tempo em que todos estariam conversando ou arrumando seu material nos armários. 
  Quando finalmente pude olhar-me no espelho, constatei que não eram somente os meus olhos que estavam diferentes, o meu rosto inteiro estava inchado! Nota mental: nunca, nunca mais chorar espremendo a cabeça entre os joelhos e nunca mais passar tanto as mãos nos olhos para conter as lágrimas. Ou melhor, nunca mais chorar. Isso mesmo. Nunca. Afinal, quem no mundo merece uma lágrima sua? Olhei-me no espero e assenti tudo o que pensei. Parecia que eu estava em uma daquelas consultas de terapia que você conversa com o espelho e aumenta a sua auto-estima, mas eu não estava nem aí.
  — Por que está chorando? — Comecei — Você é Juliana. E ele quem é? Só mais um garoto. Ele não merece suas lágrimas, nenhuma sequer. Isso. Apenas mais um garoto... Que eu amo — Desisti e me joguei em uma das camas. Tudo bem, isso não saiu como eu esperava. Vamos, levante-se novamente e repita tudo o que falou antes de estragar tudo. Vamos logo, Juliana! 
  Isso não está dando certo.
  Resolvi parar de falar comigo mesma e ir fazer alguma coisa mais útil do que chorar por alguém. Entrei no chuveiro para que as gotas de água levem todas as minhas lágrimas ralo abaixo. Quem disse que eu não posso me recuperar rapidamente? Onde está tudo aquilo de “a antiga Juliana está de volta”? Sim, ela está. Mais viva do que nunca... Eu espero.
  Saí do banho com a minha mente mais limpa e clara. Chega de todas essas promessas de mudanças de comportamento e de que eu conseguiria esquecer Gil, chega de tudo isso. Eu já sabia o que iria fazer, o que eu tinha que fazer. Mesmo se todos os meus sentimentos e desejos não fossem recíprocos, eu saberia que pelo menos tinha tentado. Chega de fugir. Hoje, ainda hoje, eu iria falar com ele. Expor tudo o que sentia e pensava, ter a resposta de todas as minhas perguntas, e, se for possível, ter Gil ao meu lado também. Olhei-me no espelho tendo a certeza de que meus olhos não estariam mais tão vermelhos depois de toda maquiagem que coloquei. Eu estava certa – eles ainda estavam levemente inchados, mas provavelmente se eu dissesse que era por causa de uma alergia, ele acreditaria. Isso se ele me perguntasse. Ou melhor, isso se ele percebesse algo diferente nos meus olhos. Se ele for olhar nos meus olhos...
  Fatinha e Lia entraram no quarto e pararam automaticamente de andar quando me viram. O olhar delas era um misto de pena e receio.
  — Eu estou viva, se acalmem — Sorri levantando os braços.
  — Você é tão imprevisível...
  — Só não gosto que os outros me vejam sofrer, Fatinha. E, além do mais, eu não tenho mais motivos para estar triste.
  — Por quê? — Os olhos delas dessa vez brilhavam — Você e Gil se acertaram?
  — Não... Ainda. Eu estou indo agora mesmo falar com ele.
  — Eu não quero desanimar você, mas... — Interrompi Lia.
  — Ele sente. Não quer admitir, mas sente. 
  — Tudo bem, isso não foi nem um pouco humilde — Ela riu.
  — Desde quando eu sou humilde? — Sorri e virei-me novamente para o espelho, terminando de pentear meus cabelos.
  — E não é que é verdade? — Fatinha brincou.
  — Desejem-me boa sorte, beijos, meninas — Joguei a escova em cima da escrivaninha e saí do quarto. Onde Gil estaria? Bom, isso de fato não importa... A única coisa importante é se ele estaria sozinho. Ou com uma garota. Não, tudo menos com uma garota.
Eu estava em frente à porta de seu quarto. Sabia que assim que eu batesse nela, não teria como voltar atrás. Será que não é melhor deixar tudo como está? Afinal, eu realmente não quero que minha amizade com Gil seja prejudicada, mas sei que depois de tudo isso nada será igual. Levantei minha mão tremula, e aproximei-a lentamente da porta. Eu estava prestes a bater... Quando ela se abre.
  Se eu estivesse de fora da situação, eu com certeza estaria me acabando de rir.Gil e eu nos encarávamos estáticos. E então, de repente, tudo o que eu tinha planejado fugira de minha mente – eu já não me lembrava mais de nada. Só estava viva ainda porque depois de tantos anos, minha respiração já é algo que eu não controlo mais, é automática. Eu já tinha aberto e fechado a boca diversas vezes, sempre procurando as palavras certas. Ele, então, pareceu ter acordado do transe mais rápido do que eu. 
  — Sim? — Ele deu um sorriso fraco.
  — Eu... Nós temos que conversar — Falei entrando no quarto.
  — Oh, Ju você quer entrar? — Ele ironizou rindo.
  — Desculpe. 
  E então eu não consegui falar mais nada. Todos os meus pensamentos estavam dirigidos à somente uma coisa: Gil. E não ao que eu deveria falar com ele. Eu tentava encarar aquela linda imensidão que ele chama banalmente de olhos, mas eu simplesmente não conseguia. Desta vez, a covarde era eu. Seus olhos  estavam com um brilho incomum, mas ao mesmo tempo indefinido. 
  — Então... — Ele começou para que eu desse continuidade.
— Você sabe o que eu vim fazer aqui. Sabe o que eu ando fazendo esse tempo todo, e sabe, principalmente, tudo o que eu sinto. Eu sei que sempre torno as coisas mais difíceis, mas eu juro que nunca passei por um momento como esse... Na verdade, eu nunca me declarei na vida. Então... Como as pessoas fazem isso? Não me diga que eu vou ter que ficar de joelhos, porque eu nunca vi isso em filme algum. — Pensei alto e confusa. Ele riu, mas não disse nada — Gil, olha... Meu Deus, como uma pessoa faz isso? Enfim, tanto faz. Eu já sei o que você pensa de se relacionar fixamente com alguém nesse momento, então, eu vim aqui para dizer que tudo bem, eu... Não, droga! Eu não vim aqui para dizer que está tudo bem, eu vim aqui para dizer que eu estou apaixonada por você, e... — Pausei drasticamente. Com certeza isso não era para ter saído desta maneira. Xinguei-me mentalmente ao ver que a expressão dele não demonstrava ânimo algum. 
  — Ju, não é certo — Ele disse simplesmente.
  — O que não é certo?
  — Isso tudo. Você sabe o que acontece no fim de cada relacionamento. As pessoas sofrem, saem magoadas. E eu não quero magoar você, nunca.
  Se ele soubesse que só falando isso já estava me magoando...
  — Gil, com outras palavras você quer dizer que não quer nada comigo, tudo bem, já entendi. 
  — Não... Não me leve à mal. 
  — Eu já disse que entendi. Não preciso da sua pena... — Falei desanimada e me virando para porta. Andei lentamente até ela, na esperança que ele ainda me chamasse e dissesse que queria, sim, algo comigo. Quando estava encostando a mão na maçaneta, percebi que eu não ia agüentar isso tudo. Andei novamente até ele.
— E só mais uma coisa — Aproximei meu rosto do dele e rocei meus lábios nos dele; e posso dizer que o efeito que isso causou em mim foi melhor do que o esperado — Pronto — Disse me afastando novamente dele —, agora posso me martirizar o resto da minha vida por isso — Me virei novamente para porta, desta vez andando normal; sabia que ele não iria pedir para que eu voltasse. 
  Mas ele fez mais. Com certeza, mais do que eu esperava, mais do que qualquer um dos meus sonhos apresentava. Gil me puxou pelo braço, fazendo com que eu ficasse virada em sua direção e com o rosto a alguns milímetros do seu.
  — Eu nunca disse que não sentia nada por você, Juliana. Você sabe que eu sinto. 
  — Não. Você está amando essa sua nova “vida”. Como disse antes, eu não quero pena.
  — Realmente, ter mais de uma garota não é nada mal... Mas talvez eu não queira nenhuma delas — Ele aproximou rapidamente seu rosto do meu e colou novamente os nossos lábios, fazendo com que eu não conseguisse repreender um sorriso. Ele levou sua mão até a minha cintura, ainda movimentando os lábios. Finalmente, percebi que isso não era um sonho; eu realmente estava beijando Gil ele realmente tinha dito indiretamente que me queria e diretamente que sentia algo por mim. Tomei a liberdade de levar minhas mãos até sua nuca, escorregando algumas vezes por seu ombro e subindo novamente. Abri também os meus lábios, incentivando-o a aprofundar o beijo e assim ele o fez. 
  Muito melhor. Esse momento, com certeza, era muito melhor do que eu pudera imaginar ou sonhar. Não poderia ser mais perfeito.
Narração por: Fatinha 
Já fazia um tempo que Ju tinha saído para falar com Gil. Eu só não sabia se isso era um bom ou mau sinal. Afinal, tudo poderia dar certo e eles poderiam estar juntos agora – por isso essa demora. Mas... E se tudo tivesse dado errado? Ela estaria chorando por algum lugar do campus. Sim, isso foi muito pessimista. Eu estava sentada no sofá do saguão assistindo televisão. Estava passando alguns clipes, mas eu não estava prestando muita atenção. E só depois que saí de meus pensamentos, foi que vi uma pessoa conhecida sentando-se atrapalhadamente ao meu lado.

— Ju! Você demorou...
— Desculpe. Eu estava resolvendo aquelas coisas.
— Hm... Então deu tudo certo com Gil
— Sim! — Os olhos delas brilhavam e ela se segurou para não dar um gritinho, o que me fez rir.
— Vocês estão namorando? — Me ajoelhei no sofá demonstrando animação.
— Erh... Não.
— Como assim? Você disse que tinha dado tudo certo!
— Eu sei, mas não precisamos ir tão rápido, não é, Fatinha?
— Como quiserem — Sorri. 

Depois fomos para o nosso quarto. Afinal, era quinta feira à noite e no dia seguinte ainda teríamos aula de manhã. Claro que não dormimos rapidamente, já que Ju fez a questão de contar cada detalhe do seu momento com Gil para mim e Lia. Fiquei feliz pelos dois. Mais um casal resolvido em Los Angeles.  

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