— fatinha... – Bruno tentou chamá-la inutilmente enquanto andava pelos corredores logo atrás dela. Infelizmente, a mesma o ignorava e continuava a andar em passos firmes, até chegar na porta do seu quarto, abri-la rapidamente e fechá-la com força, fazendo um barulho notável para algumas pessoas que estava naquele corredor observando a cena. Bruno revirou os olhos e bateu na porta – Abre, por favor.
   — O que aconteceu? – Dentro do quarto, Ju e Gil estavam assustados com o fato de a garota ter entrado com mais lágrimas do que a outra vez.
   — A Emily aconteceu, o Bruno aconteceu, eu ter vindo pra essa merda de cidade aconteceu – Gritou e se jogou em cima da sua cama. Logo, voltou a escutar as batidas frenéticas em sua porta.
   — Explica isso direito – Gil falou um pouco assustado. Selena não respondeu. Estava ocupada demais chorando. Passaram-se alguns segundos, e nada. Bruno já parecia ter desistido de tentar falar com ela. 
   Fatinha estava se sentindo no inferno. Não era para isso ter acontecido! Era para ele ter ido falar com ela, e não com Emily. Era para ele ter dito que amava ela, e não Emily. Sempre essa garota para estragar tudo... De fato, a pior coisa do mundo é ver a garota que você mais odeia com o garoto que você mais ama. 
   Ela parecia ter se desligado do mundo em sua volta. Provavelmente já havia passado minutos, mas ela não se importava. Tentava entender o porquê de tudo aquilo acontecer, porém a única resposta para isso era a que ela mais temia: Bruno não a amava mais. Ou melhor, nunca amou como ela imaginava.

 Abriu os olhos lentamente, já inchados de tanto chorar, e observou o quarto em que estava. Encarou uma Ju a olhando apreensiva, e Gil a observando cauteloso. 
   — Eu acho melhor deixar vocês conversando – Juh falou – Gil conhece melhor você... Mas se precisarem de qualquer coisa, eu estarei ali fora. Mais tarde eu converso com você, fofinha – Sorriu fraco e saiu do quarto. Lá fora, Bruno estava com o celular nas mãos, pronto para tentar ligar para Fatinha – Ela não vai atender.
   — Ju! – Exclamou ao vê-la. A mesma sentou no chão e indicou para que ele sentasse ao seu lado – Você pode me explicar o que aconteceu?
   — Não. Porque eu mesmo não sei o que aconteceu! Em um minuto eu estava conversando com a Emily, que estava chorando feito louca, e no outro eu estava sozinho no saguão, encarando fatinh chorando por algo que eu nem faço idéia.
   —Bruno, sobre o que exatamente você estava conversando com a Emily? – Perguntou. Ele soltou o ar pausadamente. Contou sobre todas as palavras que foram ditas no diálogo dos dois, enquanto analisava o que poderia ter deixado Fatinha triste.
   —... depois nós nos abraçamos, ela agradeceu e saiu. Provavelmente foi falar com Mel e Fera, ela estava mal de verdade...
   — Você ainda pergunta o que deixou ela triste? – Trincou os dentes. Ju odiava Emily mais que tudo e qualquer um poderia perceber isso – Você disse que “amaria ela para sempre”, seguido de um abraço. O que você acha que deve ter passado na cabeça da fatinha, cara?
   — Só se... Ah, não. Droga! Ela entendeu errado...
   — Entendeu, mesmo. Ela está desesperada ali dentro!
   — Você acha que eu deveria falar com ela agora?
   — Não, agora não. Ela está nervosa, vai se recusar a entender. Gil já está ali tentando acalmá-la, amanhã vocês conversam.
   — Gil está ali? Por quê? – Revirou os olhos.

 — Porque ele sabe o que fazer – Deu de ombros – Eu estava entrando em pânico! Nem quando ela tirou C em uma prova chorou tanto assim! – Brincou e os dois riram fraco.
   — Mas eu queria conversar com ela...
   — Amanhã você conversa – Sorriu compreensiva ajudando-o a se levantar. Bruno se despediu dela e foi para o seu quarto. Passou a noite toda pensando no que falar, enquanto se agoniava só na possibilidade de Fatinha estar chorando por causa dele. 
   E ela estava.

Ju tinha razão de não querer que Fatinha e Bruno ficassem brigados. Afinal, como Lia conseguia dormir entre todos os choros da garota, todos os gritos repentinos? Por Deus, Fatinha estava assustando-a! Nunca pensou que a sua amiga ficaria tão mal por uma simples briga, um simples mal entendido, que logo com certeza seria resolvido. Ou melhor... Seria resolvido, não seria? 
   — Fatinh... – Tentou chamá-la, mas não obteve respostas. Por um minuto, achou que ela finalmente estivesse dormindo. Engano dela. Fatinha apenas começou a se sentir culpada por não deixar suas amigas dormirem, mas continuava a chorar silenciosamente. 
   Como era possível? Nem havia tantos motivos para tamanho desespero! Ah, ela falou que estava sentindo... Falou que sabia que ia acontecer algo ruim naquela noite. Mas achou que seria algo menos agonizante. Estava cega. Cega pela dor, agonia e pelo medo. Como assim Bruno sempre amaria Emily? Era para ele sempre amar a ela, e não aquela destruidora de relacionamentos. E aquele abraço? Ele parecia estar tão... Tão meigo com Emily. Ela sabia que isso não era de fato uma traição, mas sentia como se fosse. Sentia que aquela situação não seria resolvida. Era pior que a última briga dos dois, muito pior. Pela primeira vez Fatinha estava ciente de que realmente poderia perdê-lo. Não importa se fosse para Emily, ou para o mundo, o simples fato de não tê-lo mais consigo já a fazia gritar. Oh céus, ela estava amedrontada! Sentia que Bruno estava naquele exato momento com outra garota, ou até mesmo dormindo. Devia estar totalmente despreocupado. Afinal, a dependente naquela história era ela e todos sabiam disso.
   Mas... Não, ele não estava. Bruno estava sozinho em seu quarto – acordado – e pensando no que falar no outro dia. No fundo ele achava que Selena realmente estava sendo um pouco infantil, mas isso não importava. Afinal, ele a amava. E não conseguia mais se imaginar sem ela.