Meu Querido Meio Irmão - Brutinha escrita por Juliana


Capítulo 90
Capítulo 90




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  Ah, finalmente a sexta feira! Agora, com o início do inverno, nada melhor que passar a noite inteira embaixo das cobertas fofocando com as suas amigas ou vendo um filme com o seu namorado, certo?
   Errado.
   Bom, pelo menos pelas tradições dos “anjinhos” da Universidade de Los Angeles, isso está totalmente fora de cogitação. Se no verão eles já faziam festas, quentes, imagem no inverno! Alguém me lembra por que eu saí da minha pacata Arizona, mesmo?
   Nesta noite, a festa seria no mesmo galpão nos fundos da faculdade, aquele onde sempre acontecem as festas que a diretoria nem faz idéia que existem. Ou pelo menos fingem que não sabe, porque, fala sério, o Robert não é nenhum tolo.
   — E então, vocês vão que horas para a festa de hoje? – Lia interrompeu o silêncio que estava na nossa mesa do refeitório na hora do almoço.
   — Eu a Mel vamos o mais cedo que pudermos, não quero agüentar aqueles ataques da Emily do tipo “ai, você acha que o meu vestido está muito comprido?” – Mali imitou a voz dela e os únicos que não riram fora os “amiguinhos” da Emily: Fera e Bruno. Preciso dizer o quanto eu fiquei enciumada? – O pior é eu ainda ter que forçar o sorriso e dizer que o vestido está ótimo, sendo que na verdade eu queria mandar um “nossa... Você está mesmo usando um vestido? Achei que essa era só a sua parte de cima e você ainda colocaria uma calça!” – Rolou os olhos enquanto nós ríamos; ainda com exceção dos dois, mas a Malu ainda não tinha percebido isso, então continuou a brincadeira – Até a Mel parece se vestir como uma freira perto dela...
   — Ei! Mel exclamou fazendo todos nós ríamos, todos mesmo desta vez.

— Mas não se desviem da minha pergunta! Que horas todos vão à festa?
   — Se a Malu vai cedo, eu também vou – Fera deu de ombros.
   — Awn, não vivem sem mim! – Ela brincou rindo e deu um beijo na bochecha dele. Como ela consegue? 
   — Parem de se desviar do assunto! – Lia falou alto e com uma expressão agressiva totalmente forçada, não agüentando e soltando uma gargalhada depois.
   — Eu não vou à festa – Bruno falou como se fosse normal.
   — E eu finjo que acredito – Ju ironizou.
   — É sério! Eu tenho que estudar – Respondeu e todos o olharam confusos – O que foi? Uma hora isso tinha que acontecer...
   — Que meigo, o nosso bebê está crescendo – Ju o abraçou de lado.
   — Eu sou mais velho que você, Juliana.
   — Cala a boca, seu estraga prazeres – Murmurou fazendo com que nós ríssemos. 
   — Ui, Bruno, você está andando muito com a Fatinha, está virando um nerd igual a ela – Malu brincou e eu joguei um sache fechado de mostarda nela. Pensei em retrucar e falar algo sobre ela e Fera, mas percebi que isso sairia do campo de brincadeira, então desisti.

   Já que Bruno não iria à festa, eu também não iria. Aproveitaria que eu tinha algumas lições de casa para fazer e já as adiantaria. Apesar de Bruno ter insistido para eu ir, que ele não via problemas, eu não queria. A verdade é que eu nunca fui muito fã de festas, só ia para fazer companhia a Malu, mas agora que ela tem o Fera, não me vejo mais na obrigação de ir, e quem estamos tentando enganar? Eu só ia para cuidar do Bruno mesmo! Não que eu não confiasse nele, mas a segurança nunca foi uma de minhas características mais abundantes. Acho que isso já ficou claro até para o ajudante da moça do refeitório... E olha que eu só o vi uma ou duas vezes! Argh, como eu consigo ser e aparentar ser tão frágil?
   Passada a tarde, as garotas estavam se arrumando no nosso quarto – incluindo Mel e Malu, numa tentativa de ficar “longe” da Emily. Todas estavam lindas, mesmo que estivessem vestindo só calça jeans e jaqueta. Estava muito frio naquela noite... Tudo bem, nem tanto, mas o suficiente para Mel e Ju largarem as suas saias curtas.
   — Tem certeza que não quer ir? – Malu me perguntou enquanto abria a porta para elas irem. Assenti com a cabeça.
   — Se divirtam, garotas! – Sorri e elas saíram.
   Eu estava com pijamas de shorts curtos e blusa de alçinha – calças e blusas de manga comprida me deixavam com sensação de asfixia enquanto eu tentava dormir! –, então tratei de correr para debaixo das cobertas, desistindo totalmente de fazer a lição de casa quando percebi que estava confortável deitada. Resolvi por ficar apenas lendo um livro...

 Já eram quase dez da noite e eu estava completamente entediada. Tédio este que passou assim que o meu celular começou a tocar.
   — Cansou de estudar? – Brinquei e sorri após ouvir a risada de Bruno.
   — Estudar é chato, enjoei. Você quer ir à festa agora?
   — Ah, agora? – Perguntei fazendo uma voz exausta.
   — Pelo visto você não quer – Riu.
   — Não é isso... Mas chegar no fim da festa não tem muita graça.
   — Fim? Ainda são dez horas, mal começou... Vamos, Fatinha! – Fez uma voz totalmente convidativa. E eu sabia que ele era irresistível... Mesmo quando não era a intenção, como agora.
   — Eu não estou com muita vontade. Você pode ir, se quiser – Falei torcendo para que ele dissesse não.
   — Imagina. Então, você quer vir aqui?
   — Desde que eu não seja surpreendida por Fera e Malu chegando bêbados aí... – Ri pelo nariz.
   — Nah, isso não vai acontecer.
   — E desde que você não tenha segundas intenções, é claro – Brinquei.
   — Pode deixar – Gargalhou.
   — Ok, então eu vou.
   — Até mais.
   — Beijos! Eu amo você...
   — Eu também. Não demore ou quando você chegar, eu já estarei morto de tédio.
   — Claro, Bruno claro! – Ri e desligamos.


   Lembra quando eu disse que eu estava com pijamas minúsculos? Então. Ir com eles para o quarto de Bruno? Nunca. 
   Coloquei uma jaqueta por cima e olhei-me no espelho. Dava para disfarçar. O short nem era tão curto assim, o maior problema – já resolvido – era a parte de cima, mesmo.
   Andei pelos corredores incrivelmente vazios, tirando um casal que estavam praticamente transando no saguão... Mas eles com certeza não perceberam a minha presença. Logo, cheguei ao quarto dos meninos. Bati apenas uma vez na porta e já obtive respostas:
   — Pode entrar – Falou sem abrir a mesma e eu obedeci.
   — Você não devia fazer isso, Bruno. Já pensou se eu fosse um ladrão? – Brinquei.
   — Que tipo de ladrão bateria na porta antes de assaltar? – Retrucou ainda sem olhar pra mim, enquanto guardava seus livros nas gavetas – Seria a mesma coisa que ele pedir licença para roubar, e... Wow, você vem com esse short curto e diz que eu quem tenho segundas intenções? – Riu após receber um tapa leve no braço. Dado por mim, é claro.
   — Pare com isso! Eu estava com preguiça de trocar de roupa, então vim com pijamas.
   — Você andou pelos corredores de pijamas?
   — Bruno, você vai me desculpar, mas eu só vou lhe responder quando você estiver olhando na minha cara. Isso. Um pouco mais em cima, Bruno! – Corei apontando para o meu rosto.
   — Desculpe, me distrai – Gargalhou.

— Sei – Ironizei e me sentei em uma cama que estava vazia.
   — Hm... Essa é a do Fera – Me avisou e eu me levantei em um pulo.
   — Ah, que nojo! – Dei um grito leve e fui me sentar rindo na cama do Bruno. Antes de conseguir completar o ato, ele me puxou, também rindo, e fez com que eu ficasse sentada ao seu lado – Na próxima vez, lembre-se de me avisar antes.
   — Você é muito fresca! – Brincou e eu botei a mão no peito, fingindo que eu estava ofendida.
   — Nunca mais fale comigo – Falei forçando, visivelmente, o drama e me levantei.
   Bruno me puxou novamente, ainda rindo, e eu acabei caindo sentada em seu colo. Sorri enquanto eu não conseguia desviar o olhar dos seus olhos. Mesmo que nossos rostos estivessem muito, muito próximos, ele não me beijou. Mesmo que as minhas mãos estivessem apoiadas em seus ombros e as dele na minha cintura, ele não me beijou. Bem, não do jeito que eu queria. Ele deu um beijo em minha bochecha e me colocou novamente sentada ao seu lado. Olhei-o confusa.
   — O que houve?
   — Eu acho que não seria nada fácil para eu me controlar enquanto você está vestida assim e sozinha comigo em um quarto. À noite. Enquanto todos estão em uma festa... E não devem voltar tão cedo.
   — Foda-se, Bruno – Me aproximei mais dele e selei os nossos lábios. Antes, pude senti-lo soltando o ar de uma forma pesada. 
   Pedi passagem para a minha língua – sim, pela primeira vez eu havia tomado a iniciativa. Alguém me responde se eu estou bêbada? – e ele concedeu, ainda a contragosto. Aos poucos, ele foi aceitando a idéia e colocou a sua mão nos meus quadris, enquanto minhas mãos voavam rapidamente para o seu pescoço. Ele começou a acelerar o beijo e a subir as suas mãos para a minha cintura, apertando fraco e acariciando.

 Com isso, tentei puxá-lo ainda mais para mim. Oh, céus! Eu nunca havia chegado a esses patamares com ele, e dessa vez quem começou fui eu mesma. Eu ainda sou ingênua, tá? Juro! Não sei o que estava acontecendo comigo naquele instante, mas quando vi eu já estava deitada na cama e Bruno estava em cima de mim, forçando para não colocar todo o seu peso sobre mim.
   Socorro! É nesse momento que você se pergunta o porquê de eu não parar isso. E é nesse momento que eu respondo: porque eu simplesmente não quero! Ok, agora você já pode começar a rir e dizer que é brincadeira.
   Que pena que não é.
   Eu queria e não queria que aquilo acontecesse. Eu não tinha força de vontade o suficiente para pará-lo... Ou me parar! E eu sabia que ele também não pararia. Ou, pelo menos, eu achei que não. Porque segundos depois de Bruno levar as suas mãos até as minhas coxas, ele parou de me beijar e saiu de cima de mim, se jogando do outro lado da cama.
   — Desculpe... – Falou com os olhos fechados.
   — Não foi só culpa sua – Respondi com a respiração falha.
   — Eu sabia que eu não conseguiria me controlar. Sabe, eu sempre tento não avançar demais nesses termos, mas tudo conspirava contra. E eu não sou tão forte assim – Falou a última frase com humor.
   — Não tem problema, Bruno Está tudo bem – Sorri levemente.
   — E, cara, foi impressão minha ou há alguns minutos atrás você falou o seu primeiro palavrão? – Brincou.
   — Eu falo palavrões... – Respondi pensativa.
   — Tem certeza? Nunca ouvi – Riu mais um pouco e se sentou ao mesmo tempo que eu. Depois, me deu um selinho e saiu da cama.

 — Idiota – Ri – Já são que horas?
   — Meia noite, por aí.
   — Nossa! Está tarde – Me assustei.
   — E eu achando que você tinha mudado quando disse o seu primeiro palavrão – Brincou balançando a cabeça negativamente.
   — Não foi o meu primeiro palavrão – Joguei um travesseiro nele.
   — Mas foi o primeiro que eu ouvi...
   — Vamos mudar de assunto – Revirei os olhos e ele riu – Quando é o seu teste de estágio? – Perguntei de repente e a sua expressão ficou séria.
   — Semana que vem.
   — E o resultado sai quando?
   — Não sei... Mas eu não quero falar sobre isso.
   — Por quê? Você, por um acaso, está em dúvida se vai aceitar o estágio se passar? – Perguntei me encolhendo ao pensar na possibilidade.
   — Não... Eu acho.
   — Você acha, Bruno?
   — É, eu não sei se quero ir. Sabe, seria uma grande oportunidade pra mim. Você sabia que o ramo medicinal de Nova Iorque é um dos melhores dos Estados Unidos? Eu, com certeza, teria um futuro melhor lá. Além de que minha mãe e minha irmã estão lá... – Ele falou e eu abri a boca na tentativa de responder, mas ele me interrompeu – Mas, ao mesmo tempo, ficar também seria ótimo para mim. Meu pai está aqui, a sua mãe, que já virou a minha segunda mãe, está aqui. Ju, Lia, Mel, Gil, Dinho, Fera Malu, .. Você... Todos aqui. Eu não sei se conseguiria ir para outro estado, não gosto muito de mudanças... Mesmo que a Malu e Fera fossem também, ainda seria difícil.
   — Eu sei, é uma decisão difícil, mesmo... – Falei com a cabeça baixa.
   — Mas, calma! Eu nem sei se eu vou mesmo passar – Ele riu levemente. 
   — Pois é... E eu seria uma pessoa muito egoísta se eu torcesse pra você não passar? – Franzi as sobrancelhas e ele riu novamente.
   — Não sei...

  Saí do seu quarto alguns minutos depois e, indo em direção ao meu, fui me dando conta de tudo que tinha acontecido naquela noite... 
   Meu. Deus. 
   Eu tinha quase transado com ele! Tudo bem, eu estou exagerando... Nós nem tiramos uma peça sequer de roupa, mas e se ele não tivesse parado? Será que a essa hora eu e ele estaríamos... Ai, que horror! Isso, com certeza, foi o mais longe que eu já fui com um garoto. Provavelmente é por isso que eu estou assustada. Só por causa disso. Porque, mesmo assim, não foi nada demais, certo? 
   Eu estou confusa.
   Fato.
   Eu não quero ir dormir, agora.
   Outro fato.
   Se minha melhor amiga não estiver em seu quarto agora, eu provavelmente terei um ataque cardíaco.
   Mais um fato.
   Tudo bem, eu necessito seriamente de ajuda. Por que eu estou tão nervosa se naquela hora eu estava tranqüila? Droga! Odeio esses surtos de sanidade.
   Bati freneticamente na porta do quarto da Demi. Que cabeça eu tenho? Ela ainda devia estar na festa, assim como todos os outros. E, além do mais, eu tenho uma grande chance de encontrar Emily lá. E isso não seria bom. Na verdade, seria péssimo. Argh, Malu, apareça! 
   Depois de alguns segundos, a porta finalmente se abriu.
   — Ah! Nem acredito que você está aqui! – Falei afobada e entrei no quarto dela sem pedir permissão.
   — O que houve? – Perguntou assustada.
   — Eu estou surtando! Eu... Bruno... Cama... Ah!
   — Se você falasse algo com sentido, eu agradeceria.
   — Emily não está aqui, certo? – Perguntei e ela negou com a cabeça – Ótimo. Então... Eu quase transei com Bruno– Falei como se este fosse o segredo mais sujo que existisse. Nesse mesmo momento, a porta do banheiro abre e eu encontro uma Mel com um olhar reprovador.
   — Eu vou matar você por ter esse “quase” na sua frase,Maria de Fatima – Falou séria e depois sorriu revirando os olhos.


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