Meu Querido Meio Irmão - Brutinha escrita por Juliana


Capítulo 86
Capítulo 86




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— Tudo bem, vamos mudar de assunto – Ele falou um pouco sem jeito.
   — Vamos. Ele já está indo para o lado constrangedor – Disse e ele riu. Voltei minha atenção para os cadernos enquanto Fera foi até a mesa onde ficavam expostas as comidas e constatou que ainda tinha alguns biscoitos do café da tarde. Pegou um, colocou na boca, o deglutiu e andou até mim.
   — Eu já vou, não quero mais atrapalhar os seus estudos – Ele riu.
   — Imagina. Mas tudo bem – Levantei-me.
   — Ah, já estava quase me esquecendo! Você vai à festa hoje à noite? – Ele perguntou provavelmente sem perceber o quanto seu rosto estava perto do meu e o quanto minha respiração estava falha.
   — Não sei. Se eu for eu vou ficar meio deslocada...
   — Por quê?
   — A maioria vai estar em casais e, bem, eu não – Fiz uma careta e ele riu.
   — Ah, eu também não estarei. Nem Mel.
   — A diferença é que vocês vão à “caça” – Fiz aspas com os dedos – hoje, eu ficarei sentada e provavelmente incomodando Ju e Gil ou Dinho e Lia
   — Não vou à “caça” – Fez aspas com os dedos também, satirizando – Eu tenho respeito pela minha esposa e pelos meus cinco filhos – Ele brincou.
   — Tudo bem, eu vou.
   — Ótimo – Sorriu – Eu passo no seu quarto às oito.
   — Hã? – Perguntei, mas foi tarde demais. Fera se aproximou ainda mais de mim, colando os nossos corpos e selando seus lábios nos meus. Suas mãos apertaram as minhas costas e as minhas foram automaticamente para o seu ombro. Ele começou a afastar os nossos lábios, porém eu o puxei novamente, aproveitando o espaço para aprofundar o beijo. Pude senti-lo sorrir. 
   Após sentir os meus pulmões arderem em busca de ar, parti o beijo. Meus olhos ainda estavam fechados, e eu sabia que os dele me encaravam. Só quando senti meus nervos e coração pararem de pulsar o sangue tão rapidamente que eu os abri e me deparei com ele sorrindo maliciosamente para mim.
   — O que foi isso? – Perguntei confusa. Ele riu.

Narração: Fatinha



   Hoje devia ser sexta. De fato, eu não sabia, mas já suspeitava enquanto via o movimento do pátio em função da “super festa” de hoje à noite. Se eu ia? Claro que não. Mas era surpreendentemente divertido observar como adolescentes ficam animados com festas. 
   O pátio estava incrivelmente mais alegre hoje. Eu podia ver alguns casais se beijando no banco, outros descansando sentados na grama. Finalmente, o final de semana. Sem provas e estudos por três dias. De longe, vi Ju e Gil rindo sobre alguma coisa, ambos caminhando pelo pátio. Logo vi Dinho e Lia. Como sempre, eles provavelmente estavam falando sobre algo romântico, pois Lia tinha o sorriso mais bobo e apaixonado do mundo reinando em seus lábios. Ah, e eu não sei se vocês souberam da última, mas Fera e Malu são um casal, agora, também. Depois de fazer as pazes com ela, Malu me contou tudo. Detalhe sórdido por detalhe sórdido. Resolvi dar uma trégua para Fera. Enquanto ele ficava fora do meu caminho, é claro. Ah, e se ele a magoar...
   — Fatinha! – Mel interrompeu meus pensamentos sentando-se ao meu lado. Ah, sim. Ela ainda estava solteira. E é claro que permaneceria assim por um bom tempo. Se eu esqueci de descrever como está a vida de alguém agora? Eu sei que vocês responderam “sim, Bruno". Mas eu realmente não sei como ele está agora. 
   — Oi, Mel – Sorri fraco.
   — Preparada para festa de hoje? – Ela perguntou e eu ri ironicamente.
   — Você sabe que eu não vou.
   — Por quê? E se você falar que é por causa de um individuo e começa com B, prepare-se para ser ignorada – Falou fazendo-me gargalhar.
   — Você também sabe que é por causa dele.
   — Pois não devia. Vai aproveitar sua vida, garota. Você está se martirizando enquanto Bruno se diverte. Isso não é justo, certo?

— Eu sei, mas...
   — Sem mais, nem menos – Ela me interrompeu – Você vai e eu vou escolher a sua roupa – Sorriu maliciosa.
   — Não! Você, não – Gargalhei.
   — Ou você vai por bem, ou vai por mal, ué.
   — Tudo bem, eu vou... – Falei totalmente vencida e ela ergueu os braços para o alto.
   — Aleluia. Então vamos, já faltam duas horas para começar.
   — Vamos.
(...)
   — Nossa! – Ju exclamou enquanto se olhava comigo no espelho do nosso quarto. Estávamos terminando de nos arrumar – Alguém vai arrasar corações hoje – Riu.
   — Até parece. Eu até diria o mesmo para você, mas você já arrasou um... Gil, Gil? Onde ele está? – Brinquei.
   — Viu? É só colocar uma saia mais curta que qualquer pessoa fica com bom humor – Sorriu – É bom ver você brincando com as pessoas de novo.
   — Eu só estou tentando superar – Sorri fraco.
   — Opa! Não vamos levar o assunto para esse lado melancólico, vamos voltar a falar sobre como estamos lindas – Lia falou saindo do banheiro e rindo.
   — Isso. Mas agora eu já vou, combinei de encontrar com Gil antes. 
   — Hm, vai lá, apaixonada – Falei. Ela deu de língua e saiu do quarto.
   — Resolveu voltar à ativa? – Lia falou.
   — Nossa, que expressão horrível! – Ri.
   — Fazer o que? Agora me conte o motivo por ter se arrumado tanto – Sorriu fraco.
   — Mel me ajudou a escolher a roupa, e...
   — Já entendi.

  A festa estava totalmente agitada. O salão estava praticamente cheio e meu coração já estava quase pulsando o meu sangue de acordo com o ritmo da música extremamente alta. Depois de já estar cansada de dançar, sentei-me em um sofá qualquer e comecei a observar o que acontecia a minha volta. Tinha uns cinco casais se amassando perto de mim, e um deles eram Gil e Ju e. Lia e Dinho, como sempre, sumiram. Mel estava totalmente bêbada, dançando em cima de uma mesa. Alguns – ou vários – garotos estavam em volta dela, incentivando-a a tirar a blusa. Que bom que ela ainda tem um pouco de bom senso e não a tirou. Vi Fera ir até a mesa de bebida e pegar duas garrafas, Malu ainda estava dançando. Ah, Emily também estava. A diferença é que ela estava agarrada em um loiro qualquer. 
   E então, olho para o lado e vejo que não estou mais sozinha. Havia um garoto ali totalmente desconhecido por mim. 
   — Quem é você? – Perguntei rindo.
   — Não importa quem eu sou, gata. E sim o que eu faço.
   — Ah – Olhei-o escandalizada. Preferi não saber o que ele fazia. E acho que essa era, literalmente, a melhor opção.
   — Quer? – Ele empurrou a sua garrafa de cerveja até mim e eu recusei, apenas a empurrando de volta para ele – Ah, qual é? Vi que você não bebeu a noite inteira. 
   — Noite inteira? A festa começou faz um pouco mais de uma hora... Ei, você estava me observando?
   — Estava – Falou como se fosse normal. Hm, pelo jeito ele já estava alterado com a bebida. 
   Isso vai soar estranho, mas eu sentia que havia alguém me vigiando. E não, não era o garoto bêbado na minha frente. Sentia algum olhar queimar sobre o meu rosto. Olhei por todo o salão e então o encontrei. Alguém que eu não fazia questão de ver hoje, alguém que eu tentava esquecer.
   Claro que sem sucesso algum.

Bruno estava logo à frente, conversando com Fera. Infelizmente, ele não olhava mais para mim. Depois que os nossos olhares se encontraram, ele desviou o dele. Mas eu ainda não desviara o meu. Eu sabia que o garoto no meu lado ainda falava coisas sem sentido, entretanto eu não estava prestando atenção.
   — Fatinha? Fatinha... – Ele me chamava.
   — Hã? Como sabe o meu nome? – Perguntei assustada.
   — Ah, a maioria sabe – Deu um gole grande na sua bebida.
   — Sabem? Como?
   — Você era a namorada do Bruno e é amiga da Mel e da Ju. Ah, e eu vi você brigando com Emily um dia desses – Ele sorriu.
   — Ah, aquilo... – Eu ri.
   — Não se preocupe, eu também não gosto dela. 
   — Que bom... Ei, eu tenho que ir, tudo bem? Tchau.
   — Tchau, gata – Disse. Argh...
   Fui atrás de Malu. Nunca, nunca mais eu fico sozinha em uma festa aqui. Nunca. Eu estava procurando-a rapidamente, precisava achá-la logo. 
   Eu já havia esbarrado em pelo menos três pessoas, sendo que uma delas pisara no meu pé. Triste. Dei a volta em todo o salão, ela não estava em lugar algum. O único conhecido que eu tinha aqui – além do Bruno, do garoto bêbado e de Emily – era Mel. Mas ela estava se “divertindo” tanto, que eu não quis atrapalhá-la.
   Decidi, por fim, ir dançar. Eu nunca dançara como hoje, mas... Eu também nunca estive com uma saia tão curta. E, ao dançar, ela parecia mais curta ainda. Eu conseguia sentir alguns olhares em minha direção, alguns diferentes do que eu estava acostumada, por sinal. E eu sinceramente não me importava. Não, eu não estava bêbada. E não, eu não sei o que estava acontecendo comigo. Talvez fosse o fato de eu saber que Bruno estava beijando outra agora, mesmo que eu não tivesse visto.

  Eu estava certa. Só não sabia que a minha reação seria essa; ficar estática, paralisada. Bruno estava, de fato, beijando outra garota. E eu estava vendo. Então... Onde estão as lágrimas? Elas sumiram. Não sei se pelo fato de eu não conseguir mexer um músculo, ou pelo fato de eu já ter gastado todas, mas... Hm, não. Acho que eu ainda não as gastei. Após recuperar os movimentos e a respiração, eu pude perceber os meus olhos molhados. Que meigo, uma pessoa chorando no meio de uma festa. Resolvi sair de lá o mais rápido possível. Felizmente, Bruno não me vira. É, ele estava ocupado demais com outra coisa.
   Por que eu vim nessa festa, mesmo? Para esquecê-lo, certo? Mas, com tudo isso, eu só pensei ainda mais nele. E, vendo aquilo, eu pude perceber como seria a minha vida daqui para frente. Bruno tinha superado... Eu não. Eu não sabia nem para onde eu estava indo, mas sabia que o caminho me parecia familiar. Minha visão estava tão embaçada, que só quando senti um portão em minha frente que eu pude perceber: eu fui para a praia onde Bruno me levou. Ótimo lugar para esquecê-lo, em? Saber o quanto eu era feliz, e, ainda mais, saber que ele já trouxe outras garotas para cá... 
   Suspirei.

 Isso não me parece justo. As pessoas deveriam poder mandar no seu coração. Que idiota se apaixonaria por uma pessoa que nunca se apaixonaria ela? Ah... Eu. A idiota. Talvez se eu fosse menos romântica, menos dependente, e esperasse menos das pessoas... Talvez com isso... Eu ainda tivesse Bruno comigo. Agora, a única coisa dele que eu tenho – além das lembranças, é claro – é a dor. Eu nunca pensei que fosse dizer isso. Sempre achei essa coisa de sofrer por amor, um incrível drama. Eu mesmo já o fizera dezenas de vezes. Mas, de fato, essa foi a primeira vez que doeu de verdade. E se eu soubesse que doesse tanto assim... Se o meu coração soubesse... Coração idiota. Maldito órgão involuntário. O único que, literalmente, está sempre sangrando. Apesar de nos manter vivos, pode muito bem ser um incomodo. E eu não falo da parte da saúde. O aperto que eu estou sentindo agora dói tanto quanto algo medicinal. Ou talvez até mais...

 Eu já não sabia mais o que fazer. Ficar em pé olhando o mar era extremamente cansativo. Sentei-me na areia, não me importando com o vestido, enquanto me matava em pensamento por não ter pegado um casaco. A brisa estava forte, mas não era agradável. No começo, ela servia apenas para levar os meus pensamentos embora junto com o mar, mas agora ela já estava começando a incomodar. Olhei para o céu e, incrivelmente, ele estava estrelado, estrelado demais. Dizem que quando ele fica assim, é porque a noite será feliz. Bem, eu realmente espero que alguém esteja tendo-a. Porque eu não. 

   Sorri fraco em pensar no dia em que cheguei a Los Angeles. Bruno, obviamente, havia mudado comigo desde então, entretanto, agora... Ele já não é mais o mesmo, e isso já ficou bem claro. É incrível como ele consegue mudar da água para o vinho. Um dia, o cara mais grosso e insensível que você pode conhecer. No outro, romântico e fofo. Eu só espero que ele esteja bem.

   Levei minhas mãos aos meus olhos e percebi que eles ainda estavam molhados, mas eu não fungava mais, eu apenas chorava silenciosamente. Talvez eu já tivesse me acostumado com tantas lágrimas desperdiçadas. O mar estava perfeitamente calmo, e o ruído das ondas quebrando me acalmava. Este era o único barulho que eu ouvia além da minha respiração. A noite estaria sombria e escura, se não fosse a iluminação da lua e das estrelas... Já falei como o céu está estrelado hoje? O quase silêncio me agradava, mas o vento ainda era bem traiçoeiro. 

   Depois de um tempo, eu ouvi o portão ranger, mas constatei que devia ser o forte vendo que passava pela praia. Afinal, quem mais conhecia esse lugar?

 Por outro lado, eu fico feliz de que haja pessoas se divertindo hoje. Mel, Malu, Fera, Dinho, Lia, Ju, Gil... Todos se divertindo como se tivessem vida – o que de fato eles têm. Há alguns dias eu “parei” de sofrer perto deles. Ou, pelo menos, demonstrar sofrimento. Eles não mereciam. Estavam tão felizes que seria hipocrisia minha acabar com isso. Bruno também devia estar feliz. E eu realmente espero que ele esteja. Comigo, ou não, eu o amo o bastante para querer que ele tenha toda a felicidade do mundo, não importa ao lado de quem. 
   Respirei fundo e pesadamente. Desta vez, eu senti um aroma diferente no ar, e ele me queimava por dentro. Fazia com que eu ficasse lentamente embriagada... E só um perfume fazia isso em mim... Meu Deus, eu já estou até imaginando coisas! Se alguém tivesse entrado no portão naquele momento, não teria dado tempo de chegar até onde eu estava – quase à beira da praia. Ou teria? Enfim, não importa. Eu estou ficando louca, e...
   — Eu sabia que você tinha gostado daqui – Ouvi uma voz conhecida. Com o mesmo tom de sempre. Eu abri meus olhos – que estavam fechados em uma inútil tentativa de fazê-los parar de derramar lágrimas – rapidamente. E, novamente, fiquei estática. Minha coluna ficara ereta em um segundo, demonstrando meu espanto. O barulho no portão, o cheiro, a voz... Eu estava realmente louca?
   — É – Eu mais gemi do que respondi. Por que eu estava falando com uma alucinação?
   — Eu também gosto – Falou. Então eu senti o seu cheiro ficando mais forte. Era real.
   — Presumo que você preferisse estar lá.
   — Hã? – O senti ficar logo atrás de mim. Eu ainda não tinha me virado ou sequer levantado – Ah, você viu.
   — Vi – Falei seca.
   — Eu sinto muito.
   — Já estou acostumada.

— Olha só, Bruno, por que você está aqui, em? – Levantei e o encarei pela primeira vez. 
   — Eu quero falar com você.
   — Mas eu não quero falar com você – Cruzei os braços. Sim, eu disse isso. Também não sei de onde tirei forças para isso.
   — “Será mais fácil se você não mentir” – Bruno repetiu a frase do dia em que brigamos. 
   — Como você sabia que eu estava aqui?
   — Me disseram que tinham visto você vir chorando para os fundos do campus. Adivinhei que você estivesse aqui.
   — E viu que eu estou. Agora, acho que você já pode voltar para a sua festinha, não?
   — Eu sei que eu agi errado com você.
   — Ah, jura? – Ironizei.
   — Sim. Mas eu queria que você entendesse o meu lado.
   — Eu entendo totalmente o seu lado. Você nunca mudou, Bruno! – Gritei. Ele pareceu assustado com o meu tom de voz 
   — Mudei, sim. E você sabe que foi por você. Falou olhando nos meus olhos. 
   — Bruno, você estava beijando outra garota agora mesmo – Murmurei com a cabeça baixa. Dizer isso em voz alta foi mais doloroso do que eu pensei que seria.
   — Você tem razão. Mas quer saber de uma coisa? Eu não senti a mesma coisa quando beijava você – Ele disse. Eu fiquei novamente estática por alguns segundos, e logo eu estava tremendo. Ele falando essas coisas fofas não me deixam raciocinar direito, argh.
   — Pare de me manipular dizendo coisas fofas – Revirei os olhos e ele riu.
   — Mas é a verdade.
   — Então por que continuava as beijando?


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